O teaser recém-lançado pela Pixar coloca a eterna pergunta: conseguem os brinquedos sobreviver numa era dominada por tablets?
A Pixar decidiu mexer onde dói — nos nossos sentimentos e na nossa nostalgia — com o primeiro teaser de Toy Story 5, e a pergunta que abre esta nova aventura é incisiva: estará a era dos brinquedos a chegar ao fim? A breve prévia divulgada esta terça-feira posiciona-se numa guerra inesperada, mas muito contemporânea: brinquedos contra ecrãs.
Ao som de “Never Tear Us Apart”, dos INXS, o vídeo mostra uma cena familiar e, simultaneamente, inquietante. Bonnie Anderson — a menina que herdou os brinquedos de Andy em 2010, naquele final que nos deixou meio desidratados — recebe um novo pacote. Woody, Buzz, Jessie, Rex, Sr. e Sra. Cabeça de Batata e o resto da equipa observam com tensão crescente, como quem pressente uma catástrofe silenciosa a caminho.
E a catástrofe chega: o embrulho revela… um tablet em forma de sapo, chamado Lilypad, que cumprimenta Bonnie com um animado “Let’s play!”. O sorriso imediato da menina deixa claro que a ameaça é real. Para estes brinquedos já habituados a sobreviver a mudanças de donos, doações, infantários, antiquários e parques de diversões, este pode ser o maior desafio até agora: continuar relevantes num mundo onde a atenção das crianças cabe num rectângulo luminoso.
O teaser não revela muito mais, mas o subtexto é delicioso — e irónico. Afinal, estes mesmos brinquedos são eles próprios parte de uma saga de cinema com 30 anos, um dos maiores motores da cultura dos ecrãs. Será que o filme vai abordar esta meta-ironía, ou vamos fingir que não reparámos? A Pixar mantém o suspense.
O que sabemos é que o elenco de vozes continua intacto. Tom Hanks regressa como Woody, Tim Allen volta a dar vida a Buzz Lightyear, e Joan Cusack retoma Jessie. A esta equipa veterana juntam-se novos nomes: Ernie Hudson, Conan O’Brien e Greta Lee, que dá voz à recém-chegada Lilypad — a encantadora, mas potencialmente apocalíptica, rival tecnológica.
A Pixar marcou a estreia de Toy Story 5 para o verão de 2026, o que significa que ainda teremos muito tempo para teorizar sobre o destino dos brinquedos, o impacto da tecnologia e se Woody vai finalmente aprender a lidar com o facto de que, às vezes, a concorrência tem bateria recarregável.
Uma coisa é certa: se a guerra entre brinquedos e ecrãs começar, nós estaremos na primeira fila para assistir.
Dasha Nekrasova enfrenta forte reação em Hollywood depois de participar num polémico episódio do podcast Red Scarecom o comentador da extrema-direita Nick Fuentes.
Hollywood tem memória curta para sucessos, mas longuíssima para polémicas — e Dasha Nekrasova está a descobrir isso da pior forma. A actriz, conhecida sobretudo pelo seu papel em Succession e pelo recente trabalho com a A24 em Materialists, viu a sua carreira sofrer um abanão significativo depois de dar uma entrevista ao lado de Nick Fuentes, uma das figuras mais controversas da extrema-direita norte-americana.
A agência Gersh, que representava Nekrasova, confirmou que a despediu após o episódio começar a circular amplamente em Hollywood nos últimos dias. A entrevista, publicada há um mês no YouTube, integra o podcast Red Scare, que Nekrasova apresenta com Anna Khachiyan desde 2018. Se inicialmente passou despercebida, a conversa ganhou novo fôlego quando começou a ser partilhada por executivos, agentes e jornalistas, desencadeando reacções imediatas.
A consequência não se ficou pela perda de representação. A actriz tinha sido recentemente anunciada para o elenco de Iconoclast, thriller que marca a estreia na realização de Gabriel Basso (The Night Agent). No entanto, o contrato — ainda não assinado — foi cancelado. Em poucas horas, Nekrasova perdeu um papel e a sua agência, tudo devido ao conteúdo altamente problemático presente no episódio.
Um episódio carregado de polémica
O vídeo, com mais de 220 mil visualizações, inclui discussões sobre “international jewery”, comentários estereotipados sobre judeus, italianos, asiáticos e outros grupos, além de observações inquietantes sobre o Holocausto e imigração, especialmente no que toca a pessoas de países em desenvolvimento e não-brancas.
Nick Fuentes, convidado do episódio, é amplamente conhecido como líder do movimento “Groyper”, um grupo de jovens activistas de extrema-direita com uma ideologia “America First”, frequentemente mais radical do que aquela defendida por figuras como Charlie Kirk — personalidade conservadora que foi assassinada em Setembro durante um debate em Utah.
Segundo a CNN, Fuentes é um “nacionalista branco e negacionista do Holocausto”, além de assumido opositor de direitos LGBTQ, feminismo e outros avanços sociais. O facto de duas apresentadoras com visibilidade cultural se envolverem numa conversa que ecoa parte deste discurso tornou-se rapidamente um escândalo involuntário — mas inevitável — para Nekrasova.
Reacções e silêncio (para já)
Tanto a actriz como o seu advogado, Mark A. Gochman, foram contactados, mas ainda não emitiram qualquer declaração. Em Hollywood, onde a imagem pública é um activo tão valioso como o talento, o impacto desta entrevista poderá ter repercussões prolongadas na carreira de Nekrasova.
Para já, o episódio serve como lembrete de que, na indústria cinematográfica, tudo o que se diz — especialmente quando gravado durante duas horas e meia — tem potencial para redefinir carreiras inteiras.
Pope Leo XIV recebeu Spike Lee, Cate Blanchett, Greta Gerwig e outras estrelas numa audiência inédita no Vaticano, celebrando o poder transformador do cinema.
O Vaticano já foi palco de muitos encontros improváveis, mas poucos tão cinematográficos como este: Pope Leo XIV recebeu um autêntico desfile de estrelas de Hollywood para celebrar o cinema e a sua capacidade de unir, inspirar e provocar reflexão. Spike Lee, Cate Blanchett, Greta Gerwig, Chris O’Donnell, Judd Apatow, Monica Bellucci e Alba Rohrwacher foram apenas alguns dos nomes que atravessaram os corredores do Palácio Apostólico para ouvir o que o pontífice tinha a dizer sobre a sétima arte.
Numa audiência repleta de frescos e flashes, Leo XIV descreveu o cinema como “uma arte popular no sentido mais nobre, destinada a todos”. Para ele, um filme bom não se limita a entreter: desafia, inquieta e até arranca lágrimas que nem sabíamos que precisávamos de derramar. O pontífice, o primeiro americano da história, cresceu na era dourada de Hollywood e confessou recentemente os seus quatro filmes favoritos: Do Céu Caiu uma Estrela (It’s a Wonderful Life), Música no Coração, Gente Vulgar (Ordinary People) e A Vida é Bela.
Talvez por isso tenha passado quase uma hora — algo muito raro numa audiência tão grande — a cumprimentar e conversar individualmente com os convidados, claramente entusiasmado com o momento. Spike Lee, por exemplo, ofereceu-lhe uma camisola dos Knicks personalizada com o nome “Leo” e o número 14, enquanto explicava que a equipa conta actualmente com três jogadores oriundos da universidade onde o Papa estudou. Blanchett, por sua vez, destacou a sensibilidade com que Leo falou da importância da sala escura, aquele espaço onde desconhecidos se tornam comunidade.
O Papa não ignorou o declínio dos cinemas e alertou para o perigo da sua perda enquanto espaços sociais de encontro. Pediu às instituições que não desistam e reforçou a importância cultural destes locais, que descreveu como pontos essenciais na vida colectiva. As palavras foram recebidas com aplausos, especialmente por quem vive diariamente entre plateias vazias, estreias tímidas e orçamentos cada vez mais apertados.
A audiência, organizada pelo departamento cultural do Vaticano, contou com a ajuda de contactos próximos de Hollywood — incluindo Martin Scorsese — e foi montada em apenas três meses. O maior desafio? Convencer os agentes de que o convite era real. Uma vez confirmada a sua autenticidade, vários nomes até pediram para se juntar à iniciativa, numa espécie de corrida espiritual ao tapete vermelho do Vaticano.
Entre os convidados, as reacções foram de surpresa e inspiração. Sally Potter elogiou o tempo que Leo dedicou a cada artista e a forma como valorizou o silêncio e a lentidão no cinema. Gus Van Sant, sempre conciso, resumiu tudo: “Tinha uma vibração fantástica.” O objectivo declarado do encontro era simples mas ambicioso — reforçar o diálogo contínuo com o mundo da cultura, onde o cinema se destaca como uma das artes mais democráticas e influentes.
Sentados na escuridão de uma sala de cinema, lado a lado com desconhecidos, experimentamos algo raro e precioso: a sensação de que, apesar de tudo, ainda há histórias que nos aproximam. E, se depender de Pope Leo XIV, continuará a haver espaço — literal e simbólico — para essas histórias serem vistas, discutidas e celebradas.
«18 Buracos para o Paraíso», de João Nuno Pinto, estreia em dois festivais internacionais e torna-se o primeiro filme português distinguido com o selo Green Film.
Há filmes que nascem de uma paisagem. Outros, de uma inquietação profunda. 18 Buracos para o Paraíso nasce dos dois. A nova longa-metragem de João Nuno Pinto, inspirada no território alentejano, está a dar que falar muito para lá das fronteiras portuguesas. Ontem estreou na 29.ª edição do Tallinn Black Nights Film Festival, na Estónia, e hoje chega ao prestigiado Mar del Plata Film Festival, na Argentina — o único festival de classe A na América Latina, ao lado de gigantes como Berlim, Cannes ou Veneza.
A obra, com 108 minutos, percorre a ruralidade alentejana através de uma narrativa fragmentada, construída a partir de três olhares femininos. No elenco encontramos nomes como Margarida Marinho, Beatriz Batarda, Rita Cabaço e Jorge Andrade, acompanhados por membros da comunidade local onde decorreu a rodagem. A história passa-se numa herdade assolada pela seca, onde proprietários e trabalhadores relatam os mesmos acontecimentos, cada um segundo a sua visão, como se cada perspetiva fosse um raio de sol a bater de forma diferente na mesma terra.
Além da presença internacional, o filme já conquistou um marco importante: tornou-se o primeiro filme português a receber a certificação Green Film. Este selo reconhece práticas ambientais responsáveis no processo de produção audiovisual — um detalhe particularmente simbólico, tendo em conta o tema central da obra. Afinal, 18 Buracos para o Paraíso é tão sobre o que vemos no ecrã como sobre o modo como o próprio cinema impacta o mundo que retrata.
A produção é da Wonder Maria Filmes, liderada por Andreia Nunes, em co-produção com a italiana Albolina Film e a argentina Aurora Cine. A distribuição internacional cabe à Alpha Violet. Em Portugal, o público terá de esperar mais um pouco: a estreia comercial está prevista apenas para 2026.
As sessões no Mar del Plata decorrem no Auditorium e voltam a repetir-se a 15 de Novembro, às 14h30, no Colon — apresentando a história alentejana a públicos de dois continentes diferentes no espaço de 24 horas.
Uma reflexão nascida da terra
João Nuno Pinto revela que o filme nasceu da urgência de retratar uma realidade que conhece de perto. A viver no Alentejo desde 2020, o realizador tem observado “a seca, a desertificação e as pressões do turismo e da especulação imobiliária”. O filme, explica, procura olhar para a crise ambiental não como um alerta distante, mas como uma presença quotidiana, que molda a vida das pessoas e o futuro da região.
A estrutura tripartida — três mulheres, três narrativas, três formas de interpretar os mesmos factos — reorganiza constantemente a perceção do público, criando uma teia emocional onde cada revelação altera o significado da anterior. Para o realizador, esta abordagem coloca o espectador “dentro dos mundos inquietos e frágeis destas mulheres”, tornando a história simultaneamente íntima e universal.
No fundo, como sublinha João Nuno Pinto, o filme é “uma reflexão sobre fragilidade: da terra, da sociedade e da conexão humana”. Um tema local que ecoa uma realidade partilhada em todo o mundo — e que agora encontra voz em palcos internacionais, onde o Alentejo se revela não apenas cenário, mas personagem viva.
“Playdate” tornou-se um fenómeno global de visualizações, mas os críticos não poupam nas palavras. Afinal, estamos perante um sucesso merecido ou apenas um desastre divertido?
Escolher um filme no streaming pode ser tão complicado como montar um móvel sem instruções: há sempre demasiadas opções, e metade parece prestes a desabar. Ainda assim, há títulos que — por razões misteriosas ou simplesmente porque nos apetece rir sem pensar muito — disparam para o topo das tendências mundiais. É exactamente isso que está a acontecer com Playdate, o filme mais visto do momento na Amazon Prime Video a nível global.
A produção, lançada a 12 de Novembro, mistura comédia e acção num cocktail que parece ter acertado no gosto do público, mesmo que os críticos estejam a preparar tochas e forquilhas. Com Kevin James, Alan Ritchson, Sarah Chalke e Isla Fisher a liderar o elenco, Playdate promete energia, caos e muita correria — e entrega tudo isso com orgulho.
A história segue Brian, um contabilista desempregado que só queria uma tarde tranquila de brincadeira entre crianças. Em vez disso, vê-se perseguido por mercenários, metido em sarilhos absurdos e obrigado a improvisar como se a sua vida fosse um videojogo dos anos 90. A premissa é simples: um pai suburbano, muita trapalhada e uma inesperada descida para o universo dos filmes de acção.
Até aqui, tudo parece inofensivo. Porém, basta espreitar a recepção crítica para perceber o contraste gigante entre o entusiasmo do público e a fúria dos especialistas. No Rotten Tomatoes, Playdate exibe uns modestíssimos 18%, com comentários tão delicados como “um filme incrivelmente estúpido que também acha que tu és incrivelmente estúpido”. No IMDb, o cenário não é muito mais simpático: 5,5 em 10 possíveis.
E, no entanto, milhões estão a carregar no “Play”. Porquê? Parte da culpa — ou mérito — está na tal “vibe de comédia dos anos 90” que muitos espectadores têm elogiado. A dupla Kevin James e Alan Ritchson também parece ter conquistado o público, oferecendo aquele tipo de química que nos faz pensar: “isto é tão parvo… mas estou a gostar.”
Se procuras um filme profundo, inovador e com potencial para ganhar prémios… continua a procurar. Mas se o objectivo é desligar o cérebro, rir de situações absurdas e passar uma hora e meia de boa disposição, Playdate pode ser exactamente aquilo de que precisas. Pode estar a ser arrasado pela crítica, mas o mundo está a vê-lo — e, pelos vistos, a divertir-se à grande.
(Estreia nos EUA hoje; chega à Netflix em todo o mundo a 5 de dezembro)
George Clooney não tem medo de interpretar homens complicados, mas Jay Kelly coloca-o perante um espelho distorcido: o de um actor tão famoso que perdeu quase tudo — principalmente a família — enquanto corria atrás do estrelato. O novo filme de Noah Baumbach, escrito com Emily Mortimer e produzido para a Netflix, estreia hoje nos cinemas norte-americanos e chega à plataforma a 5 de dezembro, também em Portugal.
A premissa é incómoda, quase provocadora: Clooney interpreta um actor cuja fama global é tão avassaladora que engoliu tudo à sua volta, desde amizades até à relação com as filhas. Para muitos, a personagem pode parecer um reflexo suavemente ficcionado do próprio Clooney — uma estrela mundial, omnipresente, acarinhada por várias gerações. Mas Clooney cortou essa ideia pela raiz durante a conferência de imprensa em Los Angeles, onde esteve presente a agência Lusa.
“Dizem-me que estou a fazer de mim próprio”, afirmou, “mas eu não tenho os arrependimentos que este tipo tem. Os meus filhos ainda gostam de mim”. O actor descreve Jay Kelly com uma franqueza quase desconfortável: “Ele é um idiota. O desafio era perceber se conseguiria torná-lo simpático apesar disso.”
Baumbach, com o seu olhar habitual sobre a vulnerabilidade humana, confessa que a intenção do filme é outra: explorar aquele momento da vida em que a mortalidade deixa de ser uma ideia abstracta e passa a ser um facto concreto. É o instante em que a pessoa percebe que não há um segundo tempo, que as escolhas feitas foram as escolhas feitas — e que tudo aquilo que foi adiado pode já não voltar.
O filme acompanha não apenas Jay Kelly, mas também o seu círculo íntimo: Ron Sukenick, o agente interpretado por Adam Sandler, e Liz, a assessora que ganha vida pela mão de Laura Dern. Baumbach sublinha que todos eles gravitam em torno de Jay, como se a sua carreira fosse um sol demasiado quente para abandonar — mas que, com o tempo, começa a queimar quem está demasiado perto.
Laura Dern inspirou-se directamente na sua própria assessora, Anett Wolf, para construir Liz, incluindo o lenço Hermès sempre preso à mala. “Estas pessoas são como família e mentores”, disse. “Têm de ser insuportavelmente pacientes.” Adam Sandler, por seu lado, vê a sua participação como uma espécie de espelho profissional: “A minha fala favorita é quando digo ‘Tu és o Jay Kelly, mas eu também sou o Jay Kelly’. Acho que as nossas equipas sentem o mesmo.”
A verdade é que Jay Kelly promete muito mais do que o típico drama sobre Hollywood. É um retrato da máquina da fama e, sobretudo, das suas consequências invisíveis — aquilo que se perde quando todos pensam que se tem tudo. Clooney, sempre perspicaz, sempre confortável a brincar com a própria imagem, oferece aqui uma performance que parece tanto uma provocação como uma reflexão.
E enquanto o filme chega primeiro às salas norte-americanas, será na Netflix, a 5 de dezembro, que o mundo inteiro — Portugal incluído — poderá ver Clooney desfiar este actor falhado de si mesmo, nesta história onde o glamour, a culpa e a auto-ilusão se misturam sem piedade.
O cinema português ganhou, este ano, um novo campeão de bilheteira — e fê-lo com uma velocidade impressionante. Bastou um único fim de semana para O Pátio da Saudade se tornar o filme português mais visto de 2025, ultrapassando os 15 mil espectadores logo após a estreia, a 14 de agosto. Os números oficiais do ICA ainda não foram actualizados, mas o impacto já é incontornável: este é o título nacional do ano.
gora, o filme entra numa nova fase da sua vida. Desde 14 de novembro, O Pátio da Saudade está disponível na Prime Video, permitindo que o público que não pôde ir ao cinema descubra — ou revisite — a mais recente obra de Leonel Vieira, quase uma década depois do seu êxito com O Pátio das Cantigas.
Uma herança inesperada. Um teatro em ruínas. E o renascimento de uma arte.
A história segue Vanessa, interpretada por Sara Matos, uma actriz de televisão que se vê confrontada com uma herança tão inesperada quanto simbólica: um antigo teatro no Porto, deixado por uma tia com quem tinha perdido o contacto. O edifício está longe dos seus dias gloriosos, mas mantém intacta a memória dos tempos de ouro da Revista à Portuguesa — um género onde humor, música e sátira se misturavam numa celebração muito nossa.
A tentação de vender o espaço é grande — pressionada pelo agente, Tozé Leal — mas Vanessa sente uma ligação profunda àquele lugar. Decide então juntar dois amigos, Joana e Ribeiro, para montar um espectáculo que devolva alma ao teatro e tente recuperar a sua glória perdida. É um plano feito de entusiasmo, sonho… e uma boa dose de ingenuidade.
Mas cada renascimento tem os seus antagonistas. E aqui, o obstáculo atende pelo nome de Armando, dono de um teatro rival que fará tudo para impedir a recuperação daquele espaço histórico. O conflito transforma-se numa batalha pela memória cultural, pela relevância e pelo direito de sonhar num país onde, tantas vezes, o teatro vive entre a paixão e o sufoco financeiro.
Um elenco que une gerações do humor e da ficção portuguesa
Sara Matos lidera o elenco com a determinação de uma protagonista que tenta equilibrar humor, emoção e fragilidade. À sua volta, um verdadeiro desfile de rostos conhecidos garante que cada cena tem vida própria: Ana Guiomar, Manuel Marques, José Pedro Vasconcelos, José Raposo, Gilmário Vemba, José Martins, Alexandra Lencastre, José Pedro Gomes e Aldo Lima dão corpo a personagens que oscilam entre o exagero cómico e a humanidade mais terna.
As filmagens passaram por Lisboa, com destaque para o Jardim do Torel, e recriam uma estética visual que combina modernidade com aquela saudade luminosa que o título promete.
Uma homenagem à nossa memória — e um sucesso merecido
O Pátio da Saudade não tenta reinventar a roda. Faz outra coisa: olha para o teatro português com carinho, humor e alguma melancolia. E talvez seja por isso que o público respondeu tão rapidamente. É uma história sobre a vontade de reerguer o que caiu, de celebrar o que foi nosso, de acreditar que os velhos palcos ainda têm futuro.
Agora, com a chegada ao streaming, o filme pode finalmente encontrar o resto do seu público — aquele que, como Vanessa, sabe que certos lugares só voltam a viver quando alguém acredita neles.
Durante quase uma década, Stranger Things foi mais do que uma série: foi um ritual global, uma máquina do tempo para os anos 80, um fenómeno cultural que transformou um grupo de adolescentes desconhecidos em estrelas internacionais. Agora, com a estreia da quinta e última temporada marcada para o período entre 27 de novembro e o fim do ano, chega finalmente o momento inevitável: a despedida. E, mesmo assim, a sensação dominante é esta — Hawkins pode estar a ruir, mas o seu universo vai continuar a crescer.
A confirmação veio directamente dos criadores, Matt e Ross Duffer, numa entrevista recente à BBC. Quando questionados sobre o futuro, foram surpreendentemente abertos: já está em desenvolvimento uma nova série situada no mesmo universo. Não será uma continuação directa, mas um novo mistério, novas personagens, novas ameaças… e a mesma atmosfera que transformou Stranger Things numa série de culto. A Netflix já tinha dado pistas: há uma sequela animada em andamento e um projecto live-action em segredo. Agora é oficial — os portais não se vão fechar tão depressa.
O clima nos bastidores, no entanto, é outro. Para o elenco original, este adeus traz nervosismo, incerteza e uma nostalgia palpável. Gaten Matarazzo, que cresceu diante dos nossos olhos, confessou estar ansioso com a vida depois de Stranger Things. Aos vinte e poucos anos, vê o fim da série como um salto para o desconhecido. Caleb McLaughlin e Finn Wolfhard partilham dessa insegurança, lembrando as dificuldades de crescer sob os holofotes. As amizades criadas no set tornaram-se essenciais para sobreviver à fama precoce — e agora esse amparo emocional prepara-se para mudar de forma.
Joe Keery, que viveu Steve Harrington com um misto de charme e coragem, descreveu o final das filmagens como “surreal”. Natalia Dyer e Charlie Heaton lembram que só eles sabem verdadeiramente o peso desta jornada — foram testemunhas de cada momento, cada evolução, cada queda e cada redenção.
Por mais caótico que o universo da série seja, os Duffer garantem que o fim sempre esteve planeado. A última temporada decorre no outono de 1987 e mostra Hawkins devastada pelas Fendas, mergulhada numa quarentena militar e com o Mundo Invertido cada vez mais entranhado na realidade. O grupo segue numa missão final para destruir Vecna, enquanto Eleven é perseguida por forças que a querem capturar — ou pior. A cena final, dizem os irmãos, foi imaginada desde o início, muito antes de a série se tornar um fenómeno mundial.
E que fenómeno foi. O impacto de Stranger Things é irrepetível: uma celebração da cultura pop dos anos 80, misturando Spielberg, Carpenter, King, terror, ficção científica e uma sensibilidade profundamente humana. Transformou nostalgias individuais em memórias colectivas e levou milhões de espectadores a apaixonarem-se por bicicletas BMX, arcadas, walkie-talkies e monstros dimensionais. Caleb McLaughlin espera que a série “viva para sempre”, e não é difícil acreditar nisso — Stranger Things não é apenas vista, é revisitada, partilhada, citada, imitada.
A Netflix já divulgou os primeiros cinco minutos da última temporada, revelando finalmente o que aconteceu com Will Byers durante o seu desaparecimento inicial: um encontro imediato com Vecna, uma revelação que promete reconfigurar toda a narrativa futura. Os primeiros quatro episódios chegam a 27 de novembro; os seguintes, no Natal; e o capítulo final aterra na véspera de Ano Novo, como se a série quisesse fechar exactamente no mesmo espírito com que começou: entre luzes tremeluzentes, tensão, e aquela sensação de que algo maior está prestes a acontecer.
Termina a série, mas não termina o mundo. Os Duffer dizem que este é “o fim destes personagens”, mas não o fim do mistério, da imaginação ou das histórias possíveis dentro deste universo. Hawkins pode afundar-se no chão, mas o Mundo Invertido — e tudo o que ele representa — ainda tem muito para revelar.
Há nomes que moldam gerações e há artistas que moldam pessoas — e Eddie Murphy é um desses casos raros. Para quem viveu os anos 80 e 90 com a televisão ligada, Eddie era omnipresente: 48 Hrs., Beverly Hills Cop, Trading Places, Coming to America, Saturday Night Live, a dobragem inconfundível em Shrek.
Era impossível não ser fã.
Ele era energia pura, velocidade cómica, irreverência, carisma — um fenómeno.
Agora, com Being Eddie, a Netflix oferece a Murphy aquilo que já tinha oferecido a Stallone ou Martha Stewart: um palco descontraído, pessoal, quase caseiro, onde a lenda se senta a olhar para a sua própria vida com o humor e a serenidade de quem já viu tudo… e sobreviveu a tudo.
A mansão, a família, as memórias — e um Eddie Murphy muito “Eddie Murphy”
O documentário leva-nos a passear com Murphy pela sua mansão californiana, incluindo um teto retrátil digno de ficção científica. A câmara de Angus Wall apanha-o a fazer aquilo que sempre fez tão bem: observar, comentar, brincar, transformar o banal em comédia — até quando está simplesmente a ver Ridiculousness, que ele descreve com a naturalidade de quem compara MTV a Alejandro Jodorowsky.
De vez em quando, senta-se, abre revistas antigas, lembra os fatos de cabedal e aquela época em que parecia uma estrela rock… mas em modo comediante. O filme acompanha essa subida meteórica, muito antes dos 30 anos, quando Beverly Hills Cop o transformou num dos maiores nomes de Hollywood quase da noite para o dia. Era jovem demais para lidar com tanta atenção? Provavelmente. Mas Eddie, à sua maneira, tratou sempre a fama como se fosse mais uma personagem para representar.
Um legado contado por quem o seguiu: Chappelle, Rock, Hart, Davidson
O documentário tem o cuidado de mostrar como Murphy não foi só um fenómeno — foi um fundador.
Dave Chappelle, Chris Rock, Kevin Hart e Pete Davidson surgem para explicar o impacto profundo que Eddie teve nas suas carreiras.
Ele abriu portas. Ele mostrou o que era possível. Ele ensinou, mesmo sem saber que ensinava.
E há algo comovente na forma como Murphy ouve essas homenagens.
Inclina ligeiramente a cabeça, sorri com aquele ar de surpresa quase tímida e parece, por vezes, um miúdo de Long Island que ainda se pergunta como chegou até ali.
As sombras — e o silêncio sobre elas
O documentário não esconde que parte do passado de Murphy não envelheceu bem. Os anos de Raw e Delirious deixaram piadas sobre mulheres e pessoas LGBT que hoje provocam desconforto, e a própria ausência prolongada de Eddie do stand-up parece carregar um pouco dessa vergonha implícita.
Mas Being Eddie escolhe não mergulhar nos temas mais polémicos.
Assim como também foge aos episódios tensos com John Landis, apesar da presença surpreendente do realizador.
É uma biografia carinhosa, quase uma carta de amor — e, consciente ou não, muito pouco interessada em desconstruir o mito.
A morte como presença constante — e um Eddie feliz mesmo assim
Há algo discreto mas pesado no documentário: a perda.
Murphy fala de quem teve de enterrar, de quem partiu cedo demais, de quem o inspirou e desapareceu — Belushi, Robin Williams, Michael, Prince, Whitney.
A aparição do irmão Charlie Murphy, falecido em 2017, é especialmente tocante.
E, mesmo assim, Eddie recusa qualquer amargura.
Para ele, viver continua a ser uma espécie de bênção cómica.
O homem que outrora varria palcos como um furacão agora caminha devagar pela casa, rodeado da família, absolutamente em paz.
A sua aparição em SNL em 2019 encerra o documentário com a energia de alguém que regressa não para provar nada, mas porque ainda se diverte a fazer isto.
O Eddie de ontem, o Eddie de hoje — e o Eddie que sempre foi nosso
Para quem cresceu com ele, Being Eddie é um reencontro caloroso com uma lenda que marcou infâncias, adolescências e o próprio ADN da comédia moderna.
Osgood Perkins tem construído, quase em silêncio e sem pressas de agradar, uma das filmografias de terror mais sugestivas dos últimos anos. Depois do fenómeno inquietante que foi Longlegs e da recepção calorosa a The Monkey, o realizador regressa com Keeper — um filme envolto em secretismo, promovido pela Neon com a mesma estratégia de sombras e silêncio que transformou o seu nome numa espécie de promessa para fãs de terror psicológico.
E agora que as primeiras críticas chegaram, a pergunta impõe-se: está à altura do hype?
Segundo o Rotten Tomatoes, Keeper estreia-se com 65% de aprovação, baseado nas primeiras dezenas de críticas. É uma recepção intermédia, mas longe de ser um desaire — e, mais importante ainda, confirma algo que já se suspeitava: Perkins continua a ser um realizador fascinante, mesmo quando a crítica se divide.
O score não é o mais alto da carreira do cineasta, que recentemente atingiu os 86% com Longlegs, nem supera os 77% de The Monkey. Porém, supera outros trabalhos anteriores, como I Am the Pretty Thing That Lives in the House, que permanece nos 59%. Há uma oscilação clara, mas também uma evolução: Perkins é um cineasta que arrisca, que experimenta, que não segue tendências. E isso, no terror contemporâneo, vale ouro.
As primeiras críticas sugerem um padrão comum. A narrativa de Keeper pode ser “delgada”, como descreveu o Hollywood Reporter, mas aquilo que parece manter a tensão e a eficácia é o trabalho dos actores — especialmente Tatiana Maslany, cuja performance muitos descrevem como o verdadeiro coração da obra. É interessante notar que Perkins já a tinha dirigido num papel mais pequeno em The Monkey; aqui, ele dá-lhe espaço para respirar, sofrer, comandar a câmara. É visível, nas palavras dos críticos, uma espécie de “confiança absoluta” na actriz, que retribui com um desempenho feroz, íntimo e inquietante.
Há também quem note que a experiência de ver Keeper depende muito do espectador. Britt Hayes, da MovieWeb, escreveu que o filme funciona “se acreditarmos que Perkins usa estes tropos com um propósito claro, se considerarmos que os fins justificam os meios”. É uma observação certeira: o cinema de Perkins nunca foi sobre simplicidade ou gratificação imediata. É sobre atmosfera, silêncio, texturas emocionais — e sobre o desconforto que nasce do que não é explicado.
Independentemente de divisões críticas, há algo que ninguém contesta: Perkins está num ritmo criativo impressionante. Enquanto Keeper chega agora às salas, o realizador já está a meio da produção de The Young People, filme que tem gerado expectativas — não só pela premissa, mas pelo elenco, que inclui Lola Tung, Nico Parker e uma adição sonante: Nicole Kidman. É o tipo de velocidade criativa que poucos cineastas conseguem manter no género, especialmente num mercado onde o terror original luta para sobreviver entre sequelas, remakes e universos partilhados.
Com apenas 1h39 de duração, Keeper promete ser mais uma obra contida, afiada e profundamente estilística — muito à imagem daquilo que fez de Perkins um nome incontornável do terror moderno. E mesmo que não atinja a mesma aclamação que Longlegs, o consenso é claro: este filme tem personalidade suficiente, risco suficiente e densidade emocional suficiente para justificar uma ida ao cinema.
Afinal, o terror precisa de vozes singulares. Mesmo quando essas vozes nos deixam inquietos, divididos ou fora do nosso lugar de conforto. Talvez especialmente por isso.
A disputa que envolve It Ends With Us deixou há muito de ser apenas uma batalha jurídica. Tornou-se um enredo paralelo ao próprio filme, trazendo à superfície tensões profundas entre Justin Baldoni, Blake Lively e Ryan Reynolds. Agora, com a revelação de mensagens privadas enviadas por Baldoni, o caso ganhou uma dimensão ainda mais intensa — quase literária, quase cinematográfica.
Segundo os documentos judiciais divulgados, Baldoni descreve um encontro absolutamente devastador que aconteceu em janeiro de 2024, na cobertura do casal Reynolds/Lively, em Nova Iorque. Ele fala de um momento “traumático”, de uma conversa conduzida com a frieza e a autoridade de alguém que sente estar a defender quem ama, e de uma sensação de paralisia emocional que não experimentava há anos. A noite anterior ao regresso às filmagens do filme deveria ter sido rotineira; em vez disso, tornou-se um ponto de ruptura.
Nas mensagens dirigidas ao actor Rainn Wilson, Baldoni afirma que foi recebido com um tom paternalista que o deixou desconcertado, descrevendo Reynolds a falar com ele “como se fosse uma criança de cinco anos”, lendo, a partir do telemóvel, uma lista de acusações que o apanhou completamente desprevenido. Não eram acusações surgidas do nada: eram queixas que Blake Lively teria partilhado sobre comportamentos que considerou inapropriados no set. Baldoni reconhece que alguns dos episódios descritos tinham correspondência com a realidade, mas diz que tudo foi retirado do contexto e amplificado até parecer uma figura monstruosa.
Entre as acusações, estariam termos como “creepy” e “abuso”, expressões que o deixaram, segundo as suas próprias palavras, “emocionalmente paralisado”. Baldoni descreve ainda o momento em que lhe foi pedido que lesse um pedido de desculpas escrito, ali mesmo, perante Blake e Reynolds, algo que simplesmente não conseguiu fazer. Ele escreve que desejou fugir, explodir o filme inteiro, mas que a única saída real era reconhecer os sentimentos da actriz e do marido, mesmo que acreditasse que todo o cenário era injusto. Sente, até hoje, que nesse instante procurou palavras e não as encontrou — que a sua mente o abandonou, que até Deus permaneceu em silêncio naquela sala.
A origem de tudo, de acordo com Baldoni, é quase absurda na sua simplicidade. O actor afirma ter perguntado ao treinador da produção quanto pesava Blake Lively, porque teria de levantá-la numa cena e sofria de problemas de costas. A pergunta chegou à actriz, que a interpretou como inadequada, e daí escalou para Reynolds, que entendeu a situação como um desrespeito profundo. O encontro de janeiro, segundo Baldoni, foi a erupção final dessa tensão acumulada.
Do lado de Lively, a narrativa segue noutra direcção. Os seus advogados afirmam que a presença de Reynolds foi pedida por ela, que o encontro não foi uma emboscada mas sim uma conversa útil e necessária para abordar comportamentos que várias pessoas tinham percepcionado como perturbadores. A defesa da actriz garante que membros do elenco e da equipa técnica também mencionaram situações desconfortáveis envolvendo Baldoni e o produtor Jamey Heath. Nada disto, asseguram, foi fruto de mal-entendidos; foi um padrão.
Reynolds, por sua vez, não nega que esteve emocionalmente envolvido, nem esconde que falou com dureza. O seu advogado chega a admitir que o actor estava “zangado, firme e impetuoso”, mas recusa a ideia de que tenha “gritado agressivamente” a Baldoni. Afirma simplesmente que um marido zangado não é o mesmo que uma agressão verbal.
A guerra legal, entretanto, avança por terrenos densos. A justiça já rejeitou o contra-processo de 400 milhões de dólares que Baldoni moveu contra Lively, Reynolds e a sua equipa de comunicação, assim como o processo de 250 milhões contra o New York Times. Mas a batalha principal está longe de terminar: a acção movida por Blake Lively contra Baldoni seguirá para julgamento em março de 2026, prometendo meses — e talvez anos — de testemunhos, versões contraditórias e revelações desconfortáveis.
Hollywood observa tudo como quem assiste a uma tragédia moderna, feita de mágoas reais e reputações em risco. Não é apenas um conflito entre artistas; é um choque entre percepções, vulnerabilidades, erros de comunicação, responsabilidades profissionais e dores pessoais. No meio disto, fica uma pergunta que ecoa entre advogados, fãs e observadores atentos: o que é verdade? O que é exagero? O que é medo? E quem, no final, sairá deste turbilhão com a história do seu lado?
Christopher Nolan pode estar no mar com The Odyssey, mas quem anda a correr — literalmente — para redefinir a ficção científica distópica é Edgar Wright. O realizador britânico, mestre da energia cinética e dos filmes cheios de alma, está prestes a lançar a nova adaptação de The Running Man, e numa longa conversa revelou detalhes deliciosos sobre o processo, a colaboração inesperada com Stephen King, e até o motivo (bem-humorado e duplamente meta) para incluir Arnold Schwarzenegger numa espécie de cameo presidencial.
Em 2017, Wright respondeu a um tweet casual dizendo que The Running Man era o remake que mais gostaria de fazer. Era quase uma nota de fã, um comentário solto. Mas Simon Kinberg não se esqueceu.
Anos depois, quando a oportunidade surgiu, ofereceu-lhe o projeto.
Wright tinha lido o livro original — assinado por King sob o pseudónimo Richard Bachman — aos 14 anos. Estava proibido de ver o filme de 1987 nos cinemas britânicos (classificação para maiores de 18), e quando finalmente o viu, percebeu que quase nada do que o tinha fascinado no livro estava no ecrã. A semente ficou plantada: um dia, alguém teria de adaptar The Running Man “a sério”.
Agora, esse alguém é ele.
Stephen King: o pen pal improvável e o crítico mais temido
O detalhe delicioso é que Wright e King já tinham uma relação engraçada de “amigos por email”.
Tudo começou quando o escritor elogiou Shaun of the Dead — um elogio tão improvável que, para Wright, foi como ganhar um Óscar secreto.
Durante anos trocaram mensagens sobre… música.
Wright enviava-lhe vinis de aniversário, falavam sobre bandas psicadélicas, guitarras, rock alternativo. Quase nunca sobre cinema.
E, por isso mesmo, Wright evitava falar de The Running Man.
Se o filme não avançasse, não queria ser “o rapaz que grita lobo”.
Só quando a adaptação estava finalmente a ganhar forma é que enviou o email:
“Como provavelmente já sabes, estou a trabalhar em The Running Man desde 2022”, escreveu, entre risos.
King tinha de aprovar dois elementos cruciais:
a escolha do actor principal,
e alterações estruturais ao enredo.
Wright mandou-lhe um link privado de Hit Man, o filme que Glen Powell co-escreveu e protagoniza.
King viu — e aprovou imediatamente.
Quando finalmente assistiu ao filme, enviou a Wright um email com o assunto escrito em maiúsculas:
“WOW.”
E depois deixou o elogio que qualquer cineasta sonharia ouvir:
“É suficientemente fiel ao livro para deixar os fãs felizes, mas diferente o bastante para me entusiasmar.”
Schwarzenegger no dinheiro… e uma piscadela ao Demolition Man
Embora esta nova versão seja uma adaptação muito mais fiel ao livro do que o filme de 1987, Wright não quis ignorar os fãs do clássico de Arnie.
Assim, há um cameo subtil — mas brilhante:
no futuro distópico de Wright, existe uma nota de 100 dólares com o rosto do Presidente Schwarzenegger.
É ao mesmo tempo:
uma homenagem ao filme de 1987,
e um trocadilho cinéfilo com Demolition Man, onde se menciona que Arnold se tornou Presidente dos EUA.
É esse humor lateral, quase invisível, que separa Wright de tantos outros realizadores do género.
A versão de Wright: mais tensa, mais humana, mais King
Se o filme original transformava Ben Richards num herói musculado, Wright regressa às origens.
Nesta versão, Richards — interpretado por Glen Powell — é um homem comum, esmagado por um sistema corporativo distópico que controla a televisão, o dinheiro e até as narrativas públicas.
A história segue-o sempre na primeira pessoa, tal como o livro.
Não há cenas que ele não testemunhe, não há manipulação da perspectiva — o público acompanha-o tal como acompanha um competidor num reality show mortal.
É uma abordagem mais íntima, mais claustrofóbica, mais imersiva.
O toque Mission: Impossible
Há um detalhe delicioso que liga este projeto à saga Mission: Impossible:
Glen Powell, mal recebeu o papel, fez a mesma coisa que qualquer fã faria.
Ligou ao Tom Cruise.
Perguntou-lhe apenas isto:
“Como é que se corre bem para a câmara?”
É maravilhoso imaginar Tom Cruise a dar masterclasses de corrida cinematográfica — mas faz sentido. Powell queria fazer o máximo de acrobacias possível sem recorrer a duplos, e Wright abraçou essa filosofia.
Um filme sem rede de segurança
Wright revelou ainda que quase não teve sessões de teste com público. O filme foi montado numa corrida contra o tempo, com semanas de trabalho de 16 horas, sempre sem margem para falhas.
A equipa via o filme como um todo apenas ocasionalmente, em sessões internas no pequeno cinema ao lado da sala de montagem.
Era um processo austero, tenso, mas necessário para fazer o filme que Wright imaginou aos 14 anos.
Um remake? Não. Uma nova leitura.
Wright diz que evita chamar “remake” ao projeto porque isso não captura o que realmente fez:
“O livro nunca foi adaptado a sério. Havia outro filme possível — e era esse que eu queria fazer.”
Para ele, os melhores remakes são os que reinventam, como The Fly de David Cronenberg.
Refazer por refazer é karaoke.
Recontar com alma é cinema.
Esta nova versão chega com tudo aquilo que Wright faz melhor:
energia, irreverência, estilo, inteligência visual e um amor contagiante pelo cinema.
A família mais perigosa da televisão regressa ao terreno de batalha — e, desta vez, promete arrastar metade do submundo consigo. A tão esperada segunda temporada de MobLand, a série de gangsters criada por Guy Ritchie e Jez Butterworth, já está oficialmente em rodagem. A confirmação chegou através de uma nova imagem de bastidores que mostra o regresso de Pierce Brosnan, Tom Hardy e Helen Mirren, trio que transformou a primeira temporada num fenómeno instantâneo.
Depois de uma mudança estratégica para a HBO Max — onde a série voltou a explodir nos tops de visualização — a expectativa em torno deste novo capítulo nunca foi tão alta. Afinal, MobLand conquistou o público com a mesma mistura inconfundível que tornou Ritchie famoso: violência coreografada, humor negro, personagens que parecem ter saído de um conto moral escrito a caneta e whisky, e um sentido de estilo tão afiado quanto uma lâmina de barbear.
Uma tragédia à moda de Shakespeare… mas com metralhadoras
A primeira temporada apresentou-nos os Harrigan, uma dinastia criminosa tão poderosa quanto disfuncional. Ao longo de episódios marcados por revelações, traições e golpes que mudaram as regras do jogo, a série revelou-se menos um drama criminal tradicional e mais uma peça de Shakespeare encharcada em sangue e gin.
Pierce Brosnan ofereceu uma performance magnética como o patriarca Conrad, um homem brilhante, calculista e moralmente corrompido até ao tutano. Helen Mirren interpretou Maeve, a matriarca cujo sorriso esconde anos de manipulação, ressentimento e talento para sobreviver em terrenos onde até os mais fortes tremem. E Tom Hardy — sempre ele — trouxe ao conjunto aquela presença bruta, instintiva e enigmática que parece feita à medida de qualquer universo que Guy Ritchie invente.
Não surpreende que a crítica tenha elogiado a série por encontrar “vida extra” sempre que Brosnan e Mirren partilhavam o ecrã. Segundo o Collider, são interpretações que brincam com aquilo que o público espera deles… apenas para virar tudo do avesso. Nada em MobLand é confiável — nem a família, nem os juramentos, nem o poder que tanta gente ambiciona.
O que esperar da 2.ª temporada?
A produção mantém a sinopse em segredo, mas fontes próximas garantem que a série prepara uma expansão ambiciosa: MobLand vai deixar Londres para explorar as ramificações internacionais do império Harrigan, com intrigas que se estendem pelos EUA e pela Europa.
O final explosivo da primeira temporada, que deixou cadáveres enterrados e alianças em ruínas, servirá de ponto de partida. As consequências prometem ser devastadoras, com Conrad e Maeve a enfrentar ameaças externas e, pior ainda, sabotagem interna. Traumático? Sem dúvida. Dramático? Com certeza. Imperdível? Absolutamente.
Ritchie parece pronto para “ir ainda mais longe”, segundo fontes da produção, o que, vindo dele, pode significar qualquer coisa: planos longos de violência estilizada, diálogos afiados como insultos em pub londrino ou reviravoltas que fazem o espectador gritar “eu sabia!” e “não estava nada à espera disto!” ao mesmo tempo.
Um sucesso que voltou a ganhar fôlego
Com a chegada à HBO Max, a série encontrou uma segunda vida. Ganhos de audiência, nova base de fãs e um entusiasmo renovado por uma saga que sabe unir espectáculo, ritmo televisivo e personagens que respiram perigo em cada gesto.
Se MobLand não reinventa o género gangster, como a crítica gosta de sublinhar, também não precisa. Faz algo igualmente valioso: entrega uma história sólida, viciante, imprevisível — e com um elenco que parece ter sido escolhido para incendiar cada cena.
Onde ver
A segunda temporada está em produção.
A primeira está disponível em Paramount+ (Por cá SkyShowtime) e HBO Max.
E com Brosnan, Hardy e Mirren de volta ao leme, uma coisa é certa: os Harrigan regressam preparados para guerra. E nós estaremos a assistir, fascinados, como sempre
Christopher Nolan nunca foi homem de metades. Mas com The Odyssey, o realizador que redefiniu o blockbuster cerebral decide, literalmente, ir contra a corrente. O próprio revelou que filmou mais de dois milhões de pés de película, uma quantidade absolutamente insana mesmo para padrões de Hollywood, durante uma rodagem que o levou a passar meses no mar aberto. Ali, longe de estúdios e green screens, descobriu aquilo que sempre procurou: a fisicalidade do mundo real a testar-lhe os limites.
Ao falar com a Empire, Nolan descreveu a experiência com um sorriso cansado e orgulhoso: uma aventura “primal”, basta ver os actores que interpretam a tripulação de Ulisses — todos obrigados a sentir, na pele, a violência e a beleza imprevisível do mar. O vento, as ondas, a luz que muda de humor de minuto a minuto. Para Nolan, isso era essencial para captar a essência de uma viagem que, nos poemas de Homero, era feita de fé cega, determinação e uma solidão quase mística num mundo ainda por mapear.
Há muito que o realizador ambicionava entrar neste território. Ele próprio admite que, em jovem, esperava ver grandes histórias mitológicas tratadas com a mesma seriedade que os estúdios dedicam a epopeias modernas. Cresceu a ver Ray Harryhausen, mas sentia que faltava uma versão que unisse fantasia, rigor e a escala emocional de uma superprodução contemporânea. Agora, com The Odyssey, quer devolver ao cinema esse peso ancestral, esse sentido de maravilha que se perdeu entre universos partilhados e efeitos digitais demasiado limpos.
No centro do filme está Matt Damon como Odysseus, um homem dilacerado entre o dever e o desejo de regressar a casa. A jornada de dez anos que o separa de Penélope — papel ainda envolto em mistério, mas entregue a um elenco que parece uma constelação inteira — é filmada como um verdadeiro teste à alma. Nolan insiste que esta é menos uma história sobre monstros e mais sobre a persistência humana perante o impossível; menos sobre deuses e mais sobre a fragilidade que nos acompanha, mesmo quando fingimos ser heróis.
E que elenco. Tom Holland, Anne Hathaway, Zendaya, Lupita Nyong’o, Robert Pattinson, Charlize Theron, Samantha Morton, Mia Goth e muitos outros surgem aqui reunidos como se o próprio Olimpo tivesse feito escala em Hollywood. É uma reunião rara, não apenas pela fama, mas pela intensidade que cada um deles promete trazer aos seus papéis. Nolan nunca escolhe actores ao acaso — escolhe-os para os empurrar ao limite. E ao filmar no mar aberto, empurrou-os mesmo.
A estreia está marcada para 17 de julho de 2026, e tudo indica que será um daqueles filmes que só ganham sentido numa sala IMAX: gigantesco, físico, desafiante, feito para que o espectador sinta a vibração do casco no mar, o peso da jornada, o assombro dos mitos. Depois de Oppenheimer, Nolan vira-se para uma história ainda mais antiga, ainda mais universal — talvez a mais universal de todas. E fá-lo da única maneira que sabe: tentando aquilo que ninguém tentou, enfrentando a natureza como adversária e cúmplice, e provando que há cineastas que só sabem trabalhar quando o mundo real lhes empurra de volta
Estreia nas salas portuguesas a 25 de dezembro, com trailer e poster já revelados
Este Natal promete ser mais amarelo, mais vibrante e muito mais… quadrado. Spongebob O Filme: À Procura das Calças Quadradas chega aos cinemas nacionais no dia 25 de dezembro, numa aventura cheia de humor, cor e imaginação — tudo aquilo que os fãs esperam do universo criado por Stephen Hillenburg. A versão dobrada e legendada já tem trailer e poster oficiais disponíveis, abrindo caminho para uma das estreias familiares mais aguardadas desta quadra festiva.
A missão impossível do herói mais optimista do oceano
Na nova história, o eterno entusiasta de Bikini Bottom decide provar uma coisa simples: que é “um rapaz crescido”. Naturalmente, e como sempre acontece quando Spongebob tenta mostrar maturidade, o plano descarrila da forma mais divertida possível.
Ao lado de Patrick, Sandy e do resto da tripulação, Spongebob parte numa missão improvável — encontrar as lendárias Calças Quadradas. Sim, as mesmas que lhe deram identidade, estilo e elasticidade emocional durante mais de duas décadas.
A busca leva-os a enfrentar criaturas misteriosas, obstáculos inesperados e até uma das figuras mais temidas dos sete mares: o Holandês Voador, aqui numa versão tão assustadora quanto cómica.
Dobragens portuguesas e estreias especiais
Uma das marcas distintivas do fenómeno Spongebob em Portugal é a longevidade das suas vozes — a série está há mais de 20 anos em exibição nacional, e o filme mantém essa familiaridade. As vozes portuguesas habituais regressam, assegurando a continuidade que o público tanto aprecia.
E há ainda duas novidades:
Wandson Lisboa, como o Despertador do Spongebob
Maria Morango (Francisca Cabral), como a Empregada do Parque de Diversões — personagem cuja voz original pertence à cantora e fenómeno pop Ice Spice
Ambos fazem aqui a sua estreia no universo de Spongebob, numa participação que promete arrancar gargalhadas.
O espírito vibrante que conquistou o mundo
Com as vozes originais de Tom Kenny, Clancy Brown, Bill Fagerbakke e Mark Hamill, esta nova longa-metragem mantém o ADN que transformou Spongebob num dos maiores fenómenos da animação contemporânea.
Visualmente exuberante, ritmado, cheio de piadas subaquáticas e com aquela energia caoticamente positiva que define o herói amarelo, À Procura das Calças Quadradas é o tipo de aventura que lembra porque é que o universo criado por Hillenburg continua a fazer parte das nossas vidas — mesmo muito depois da infância.
Uma comédia marítima para toda a família
O filme promete ser o destaque perfeito das férias de Natal: divertido para os mais novos, cheio de referências para os fãs de longa data e com um humor tão universal quanto imprevisível.
Na sinopse oficial, Spongebob parte numa missão de coragem para impressionar o Mr. Krabs — e acaba numa jornada épica com o Holandês Voador. Entre águas profundas, explosões de cor e encontros absurdos, é garantido: nenhuma esponja foi tão longe para recuperar um par de calças.
🎬 SPONGEBOB O FILME: À PROCURA DAS CALÇAS QUADRADAS
📅 Estreia nos cinemas portugueses a 25 de dezembro
O TVCine Top prepara-se para estrear um dos dramas judiciais mais aclamados dos últimos anos: The Burial, um filme que mistura tribunal, crítica social, humor mordaz e duas interpretações de peso assinadas por Jamie Foxx e Tommy Lee Jones. A estreia acontece domingo, 16 de novembro, às 22h10, também disponível no TVCine+.
A história — baseada em factos verídicos — segue Jeremiah O’Keefe (Tommy Lee Jones), proprietário de uma pequena empresa funerária da Costa do Golfo que se vê esmagado pelas práticas agressivas de uma gigantesca corporação do setor. Quando percebe que está prestes a perder décadas de trabalho, O’Keefe decide recorrer a um advogado pouco convencional:
Willie E. Gary, interpretado com carisma explosivo por Jamie Foxx, é um advogado brilhante, teatral, excêntrico e com um currículo impressionante de vitórias — mas ninguém esperava vê-lo envolvido num caso sobre contratos de serviços fúnebres.
À medida que o julgamento avança, o que parecia apenas um diferendo comercial transforma-se numa batalha épica entre o cidadão comum e as estruturas de poder económico, revelando esquemas de discriminação, abusos corporativos e décadas de manipulação legal.
Muito mais do que um caso em tribunal
The Burial recusa ser apenas um drama judicial clássico. Realizado por Maggie Betts, o filme explora com inteligência e sensibilidade o impacto do racismo estrutural, a desigualdade social no sistema jurídico americano e a forma como a justiça, muitas vezes, favorece quem tem mais recursos.
Mas Betts equilibra o peso destes temas com momentos de humanismo e humor afiado — grande parte deles graças à química improvável entre Foxx e Jones.
São dois mundos que não podiam ser mais diferentes:
O empresário conservador do sul profundo;
O advogado afro-americano flamboyant e implacável.
E, ainda assim, encontram um objetivo comum. O resultado é uma parceria irresistível, cheia de confrontos, cumplicidade e até um inesperado toque de amizade.
Interpretações que elevam a história
Críticos têm apontado Jamie Foxx como um dos grandes destaques do filme, descrevendo o seu Willie E. Gary como uma combinação de carisma, intensidade e timing cómico absolutamente magnético.
Tommy Lee Jones, por sua vez, oferece um desempenho contido mas profundamente emocional — daqueles que lembram porque continua a ser um dos grandes actores da sua geração.
A química entre os dois é o motor da narrativa, e a forma como Maggie Betts a filma torna The Burial não apenas competente, mas memorável.
Uma história real que continua relevante
The Burial lembra-nos que algumas das lutas mais importantes acontecem longe dos holofotes. Casos aparentemente modestos podem expor sistemas inteiros — e obrigar a sociedade a confrontar-se com as suas falhas.
É um filme sobre justiça, mas também sobre dignidade, comunidade e resiliência. Um lembrete poderoso de que, às vezes, vencer em tribunal é também uma forma de devolver humanidade a quem mais precisa.
O drama histórico que chega aos cinemas portugueses a 4 de dezembro
O cinema regressa a um dos momentos mais decisivos e moralmente complexos da história moderna com Nuremberga, o novo filme escrito e realizado por James Vanderbilt (Zodíaco). O drama estreia a 4 de dezembro, assinalando os 80 anos do fim da 2.ª Guerra Mundial e do início dos Julgamentos de Nuremberga — o ponto zero da justiça internacional tal como a conhecemos hoje.
Baseado no livro The Nazi and the Psychiatrist, de Jack El-Hai, o filme reúne um elenco de peso liderado por Rami Malek, Russell Crowe e Michael Shannon, oferecendo um olhar intimista, psicológico e profundamente inquietante sobre a linha ténue entre humanidade e monstruosidade.
Rami Malek interpreta Douglas Kelley, o psiquiatra norte-americano encarregado de avaliar o estado mental dos principais líderes nazis enquanto aguardavam julgamento. Entre eles está Hermann Göring, aqui interpretado por um Russell Crowe transformado — carismático, manipulador e perigosamente lúcido.
O filme centra-se no confronto entre estes dois homens:
um médico determinado a compreender a mente dos responsáveis por atrocidades inimagináveis,
e um líder nazi que se revela intelectualmente afiado, sedutor até, e capaz de manipular cada palavra como arma.
É um duelo psicológico que ultrapassa a mera análise clínica: é uma batalha pela verdade, pela memória e pela tentativa de perceber o que leva homens aparentemente racionais a cometer crimes indescritíveis.
Michael Shannon surge como Robert H. Jackson, o juiz do Supremo Tribunal dos EUA que ajudou a criar o primeiro tribunal internacional da história — uma figura fulcral num momento em que o mundo precisava de justiça, não vingança.
A actualidade perturbadora de Nuremberga
James Vanderbilt sublinha que o filme não pretende apenas revisitar o passado, mas também alertar o presente:
“O mal nem sempre veste uniforme ou anuncia a sua chegada. Pode ser sedutor, inteligente e até encantador — como Göring era.”
A obra ecoa perigos contemporâneos — da desinformação ao extremismo — e recorda que a democracia só se sustenta quando a verdade é encarada de frente. Vanderbilt, que sempre soube conjugar rigor histórico com tensão narrativa, oferece aqui um filme que é tão emocional quanto intelectualmente desafiante.
Uma história que continua a moldar o mundo
Os Julgamentos de Nuremberga estabeleceram os princípios básicos da responsabilidade individual perante crimes contra a humanidade. Foram o início de um conceito que ainda hoje define o direito internacional e as formas como o mundo responde à barbárie.
Nuremberga quer devolver à memória colectiva esse momento de viragem, lembrando-nos que a civilização se constrói através de escolhas — e que, por vezes, o maior ato de coragem é simplesmente escolher a justiça.
O filme estreou mundialmente no Toronto International Film Festival (TIFF), passou pelo Tribeca Festival Lisboa, e chega agora às salas portuguesas com distribuição da NOS Audiovisuais.
🎬 Nuremberga
📅 Estreia a 4 de dezembro nos cinemas portugueses
🎥 Realização e argumento: James Vanderbilt
⭐ Elenco: Rami Malek, Russell Crowe, Michael Shannon
📚 Inspirado na obra The Nazi and the Psychiatrist de Jack El-Hai
O actor, que interpretou Reed Richards, relembra o desastre de 2015 e diz que “uma pessoa muito importante estragou tudo”
Já passaram dez anos desde que Fantastic Four (2015) chegou aos cinemas… e entrou diretamente para a história como um dos maiores desastres do cinema de super-heróis. Realizado por Josh Trank, o filme arrecadou uma crítica demolidora — 9% no Rotten Tomatoes — e fez a 20th Century Fox perder entre 80 e 100 milhões de dólares. Não admira que a sequela tenha sido cancelada antes mesmo de ser anunciada.
Agora, numa nova entrevista à SiriusXM, Miles Teller, o Reed Richards daquele elenco, voltou a falar do tema com uma franqueza invulgar:
“É uma pena, porque tanta gente trabalhou arduamente naquele filme e, honestamente, talvez houvesse uma pessoa muito importante que lixou tudo.”
Sem nomear ninguém, Teller deixa claro que o fracasso não foi culpa do elenco — nem do esforço da equipa técnica. Para o actor, tudo começou a desmoronar-se bem antes da estreia.
O momento em que Teller percebeu que “estavam em sarilhos”
O actor lembra-se perfeitamente da primeira vez que viu o filme concluído:
“Falei com um dos chefes do estúdio e disse-lhe: ‘Acho que estamos com um problema.’”
E não era só ele. Entre tensões nos bastidores, relatos de reescrições de última hora e uma produção marcada por conflitos entre estúdio e realizador, Fantastic Four tornou-se um exemplo clássico de como uma má gestão criativa pode arruinar até os melhores ingredientes.
E os ingredientes estavam lá:
Miles Teller como Reed Richards
Kate Mara como Sue Storm
Michael B. Jordan como Johnny Storm
Jamie Bell como Ben Grimm
Toby Kebbell como Doctor Doom
Um elenco jovem, talentoso e escolhido para rejuvenescer a Primeira Família da Marvel.
Teller recorda que, naquela fase da carreira, entrar num filme de super-heróis era visto como “a porta de entrada para ser levado a sério enquanto leading man”. E essa era a grande oportunidade deles — uma oportunidade que, segundo ele, “foi arruinada por uma única pessoa com demasiado poder”.
Da ruína ao renascimento: os Fantastic Four no MCU
Passada uma década, a equipa encontrou finalmente o seu renascimento no Marvel Cinematic Universe. A Marvel estreou este ano The Fantastic Four: First Steps, com um elenco aclamado:
Pedro Pascal (Reed Richards)
Vanessa Kirby (Sue Storm)
Joseph Quinn (Johnny Storm)
Ebon Moss-Bachrach (Ben Grimm)
A recepção foi incomparavelmente melhor — e a equipa regressará em Avengers: Doomsday, oficialmente integrados no centro do MCU.
Para Miles Teller, é o fecho de um ciclo: o filme dele pode ter falhado, mas a personagem que interpretou renasceu com força, e o público parece finalmente pronto para abraçar os Quatro Fantásticos como a Marvel sempre quis.
O futuro da Marvel segue em frente
Enquanto isso, o MCU continua a expandir-se. O próximo grande marco é Spider-Man 4, oficialmente intitulado Spider-Man: Brand New Day, com estreia marcada para 31 de julho de 2026.
E quem quiser acompanhar tudo o que vem aí na Fase 6 tem muita matéria para devorar: filmes, séries, crossovers e universos que se aproximam — felizmente sem o tipo de pesadelos de bastidores que assombraram Fantastic Four(2015).
O thriller explosivo que estreia hoje nas salas portuguesas
Chegou finalmente aos cinemas portugueses The Running Man, a nova adaptação do romance de Stephen King (escrito sob o pseudónimo Richard Bachman), agora transformado num thriller distópico cheio de adrenalina pelas mãos de Edgar Wright, o realizador de Baby Driver. Se a versão dos anos 80 com Arnold Schwarzenegger se tornou um objeto de culto, esta nova leitura promete elevar a fasquia — mais sombria, mais política e muito mais alinhada com a visão original de King.
Protagonizado pelo cada vez mais omnipresente Glen Powell (Top Gun: Maverick), o filme chega às salas — incluindo IMAX, 4DX, D-BOX e ScreenX — como uma das grandes estreias do ano e um retrato perturbador de um futuro desconfortavelmente próximo.
Num futuro dominado pela televisão… a morte dá audiências
A premissa continua tão actual quanto inquietante: numa América totalitária, a televisão substituiu a política, o debate e até a justiça. O programa de maior audiência do país chama-se The Running Man, uma competição onde os participantes, conhecidos como Runners, têm de sobreviver durante 30 dias enquanto são perseguidos por assassinos profissionais — e, pior ainda, por cidadãos comuns sedentos de fama instantânea.
A taxa de sobrevivência? Zero.
A recompensa? Milhões.
A moral? Enterrada debaixo dos holofotes.
Glen Powell enfrenta o sistema — e conquista as massas
Powell interpreta Ben Richards, um operário que aceita entrar no jogo como último recurso para salvar a filha doente. O que começa como um sacrifício inevitável transforma-se rapidamente numa inversão inesperada: Richards torna-se o favorito do público e um símbolo de rebeldia numa nação viciada em violência televisiva.
Esta ascensão meteórica desperta a atenção de dois antagonistas poderosos:
Dan Killian, o produtor manipulador interpretado por Josh Brolin,
McCone, o caçador implacável vivido por Lee Pace.
Entre perseguições alucinantes, armadilhas mortais e uma realização que combina espectáculo com crítica social, o filme coloca a pergunta que King tem repetido ao longo da carreira: até onde estamos dispostos a ir por entretenimento?
Edgar Wright dispara em todas as direções
Conhecido pelo seu estilo frenético e sentido de ritmo impecável, Wright traz ao material uma energia visual explosiva, mas também uma dimensão política mais marcada. The Running Man não é apenas acção estilizada — é um espelho desconfortável de uma sociedade que vive colada ao ecrã, disposta a transformar sofrimento em espectáculo.
O elenco secundário reforça essa ambição: Emilia Jones, Colman Domingo, Michael Cera e Katy O’Brian completam uma equipa onde cada interpretação acrescenta densidade à distopia.
Um King mais fiel, mais negro e mais actual
Ao contrário da adaptação dos anos 80, esta nova versão aproxima-se mais do espírito do romance: uma reflexão amarga sobre desigualdade, espectáculo mediático e desumanização. É ação, sim — e muita — mas também é comentário social. É entretenimento de grande ecrã, mas com farpas afiadas.
E, de certa forma, chega num momento perfeito: numa era de reality shows extremos, algoritmos vorazes e polémicas transformadas em trending topics, The Running Man soa menos a ficção científica e mais a aviso.
🎬 THE RUNNING MAN — já em exibição em todas as salas portuguesas
📅 Estreia: 13 de novembro 2025
📽️ IMAX | 4DX | D-BOX | ScreenX | Dolby
🎥 Realização: Edgar Wright
⭐ Elenco: Glen Powell, Josh Brolin, Lee Pace, Emilia Jones, Michael Cera, Colman Domingo, Katy O’Brian
A reinvenção do agente secreto mais famoso do cinema está longe de ser simples
O futuro de James Bond está oficialmente em turbulência. Segundo novos rumores vindos dos bastidores da Amazon MGM Studios, a equipa criativa responsável pelo próximo capítulo da franquia está a enfrentar aquilo que fontes descrevem como uma “enorme dor de cabeça criativa” — tudo graças ao final explosivo de No Time to Die (2021), onde o 007 interpretado por Daniel Craig morreu de forma inequívoca.
O plano inicial parecia sólido: com a saída de Craig, a Amazon MGM Studios assumiu maior controlo criativo da saga, recrutou Denis Villeneuve (da trilogia Dune) para realizar o novo filme e contratou Steven Knight (Peaky Blinders) para escrever o argumento. Mas antes de avançar com casting ou narrativa, a equipa esbarrou num dilema que está a dar volta à cabeça dos escritores.
“Ele não caiu de um penhasco. Ele explodiu.”
De acordo com o Radar Online, o impacto emocional e comercial do final de No Time to Die está agora a transformar-se num problema logístico: como ressuscitar um personagem que foi literalmente pulverizado em cena?
Uma fonte próxima da produção descreve a situação de forma crua:
“Bond não caiu de um penhasco nem fingiu a morte — ele foi reduzido a pedaços. Todos concordam que foi um enorme erro, porque Bond devia ser eterno. Agora estão presos a tentar encontrar uma forma credível de o trazer de volta, e está a revelar-se quase impossível.”
Embora sejam apenas rumores, a tensão faz sentido. Bond, ao contrário de outras personagens icónicas, sempre viveu numa espécie de continuidade flexível — novos actores entravam, o universo prosseguia e ninguém perguntava demasiado.
Mas desta vez, a saga decidiu cortar o fio da tradição: Bond morreu mesmo.
E, como alerta o escritor Anthony Horowitz, autor de três romances oficiais de 007:
“Como é que se ultrapassa o facto de ele estar morto com D maiúsculo? Bond é uma lenda, pertence a todos. Torná-lo mortal foi um erro.”
Horowitz acrescentou ainda que seria incapaz de escrever a continuação:
“Não dá para fazê-lo acordar no duche e dizer que foi tudo um sonho.”
Reinventar? Ignorar? Recomeçar do zero?
Entre as hipóteses que circulam nos bastidores, há três cenários possíveis:
Ignorar completamente o final de No Time to Die e seguir a tradição da franquia: novo actor, novo Bond, sem explicações.
Criar uma justificação narrativa — seja tecnológica, simbólica ou quase mística — para a “ressurreição” de Bond. (Uma solução que, para muitos fans, arrisca cair no ridículo.)
Reboot total, com outro tom, outra era e outra continuidade — algo que poderia entusiasmar Denis Villeneuve, mas que mexeria no ADN da saga.
A verdade é que, apesar da polémica, os fãs continuam a esperar um Bond renovado, mas fiel aos pilares clássicos: carisma, mistério, acção elegante e aquele toque de arrogância irresistível.
O maior desafio em décadas para 007
Com Villeneuve ainda ocupado com Dune: Part Three e sem ator anunciado, há tempo para decisões ponderadas. Mas uma coisa é clara: o próximo filme de Bond não pode falhar.
Entre reconquistar o público, honrar uma personagem intocável por seis décadas e corrigir o que muitos consideram ter sido um tiro no pé criativo, a Amazon MGM Studios tem pela frente uma missão digna do próprio 007.
E desta vez, não há gadgets de Q que possam salvar a situação.