A minissérie britânica Adolescência, protagonizada por Stephen Graham, tornou-se num fenómeno desde que chegou à Netflix, alcançando mais de 24 milhões de visualizações na sua primeira semana. Dividida em quatro episódios filmados em plano-sequência, a série mergulha numa história intensa e perturbadora que acompanha Jamie, um rapaz de 13 anos acusado do homicídio de uma colega da escola. A produção tem sido amplamente elogiada pela forma realista como retrata a radicalização online e a influência de culturas misóginas sobre adolescentes do sexo masculino. No entanto, esta semana, foi envolvida numa controvérsia inesperada — alimentada por Elon Musk.

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O bilionário e proprietário da plataforma X (antigo Twitter) foi alvo de fortes críticas por ter reagido a uma publicação que promovia desinformação sobre Adolescência. O post, feito por Ian Miles Cheong (@stillgray), alegava que a série era inspirada num caso real ocorrido em Southport, no qual o agressor teria sido um migrante negro. O utilizador acusava a Netflix de “racismo anti-branco” por ter alegadamente trocado a etnia do atacante na ficção. A publicação foi amplamente partilhada, contando com mais de cinco milhões de visualizações.

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Elon Musk, que tem mais de 220 milhões de seguidores, respondeu com um simples “Wow”, amplificando a mensagem e dando-lhe legitimidade. A resposta gerou uma onda de indignação por parte de utilizadores da plataforma, especialistas e fãs da série.

Factos desmentem a polémica

Vários utilizadores vieram esclarecer a origem da série. O jornalista @Shayan86 sublinhou que Adolescência não é baseada em nenhum caso específico, muito menos no trágico ataque de Southport, ocorrido a 29 de julho de 2023. O projeto estava já em produção e em filmagens desde março do mesmo ano, com as gravações a decorrerem entre março e setembro — ou seja, antes do ataque que muitos tentaram relacionar com a história de Jamie.

Além disso, o criador da série, Jack Thorne, e o ator e produtor Stephen Graham têm sido claros sobre as inspirações para Adolescência: uma série de casos reais que envolvem jovens rapazes britânicos responsáveis por crimes violentos com facas. Entre os exemplos citados por Graham estão os assassinatos de jovens raparigas em Londres e Liverpool, incluindo o chocante caso de Brianna Ghey, uma adolescente trans assassinada por dois colegas.

Graham explicou que a série foi pensada ao longo de dez anos e tem como principal objetivo explorar a pressão crescente que os jovens enfrentam, particularmente os rapazes, e como ambientes tóxicos online — incluindo figuras influentes como Andrew Tate — moldam comportamentos perigosos.

O perigo da desinformação viral

A publicação original e a resposta de Musk foram amplamente criticadas por contribuírem para a proliferação de narrativas falsas. Comentadores acusaram Musk de utilizar a sua influência para amplificar teorias conspirativas e fomentar ressentimento racial injustificado. @Sensanetional descreveu o caso como “preocupante” e outros utilizadores apelidaram a plataforma de “inferno digital”.

Este episódio sublinha um problema crescente nas redes sociais: a rapidez com que desinformação se torna viral, mesmo quando factualmente incorreta. No caso de Adolescência, a falsa ligação a um caso real e a acusação de “propaganda anti-branca” ignora o verdadeiro propósito da série — um alerta social e uma análise cuidada do que leva jovens aparentemente “normais” a cometer atos de violência extrema.

Uma reflexão necessária

Adolescência procura não apontar dedos fáceis, mas questionar as causas estruturais por detrás de um fenómeno preocupante: a radicalização de adolescentes através da internet. Mostrando um lar funcional e amoroso, a série desmonta o preconceito de que estes comportamentos resultam apenas de lares disfuncionais.

Stephen Graham sintetizou o espírito da obra numa entrevista: “E se a culpa não for dos pais? E se forem forças invisíveis, digitais, que entram no quarto à noite e moldam mentes sem que ninguém repare?”

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A série é mais do que um thriller — é uma poderosa chamada de atenção para um problema que afeta cada vez mais famílias, e cuja resposta não pode ser enviesada por narrativas simplistas ou preconceituosas. A polémica em torno da sua suposta “motivação real” apenas reforça a urgência de uma discussão informada, baseada em factos e não em desinformação viral.

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