O novo filme Heretic, dos realizadores Scott Beck e Bryan Woods, vai além da narrativa tradicional ao incluir uma mensagem especial nos créditos finais: “Não foi utilizada Inteligência Artificial generativa na produção deste filme.” Este gesto, uma advertência invulgar no cinema, foi cuidadosamente planeado para gerar uma reflexão sobre os perigos da IA na indústria do entretenimento e os possíveis impactos dessa tecnologia na criatividade humana.

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Heretic, lançado pela A24, aborda a história de dois missionários mórmons (interpretados por Sophie Thatcher e Chloe East) que ficam presos na casa de um homem misterioso (Hugh Grant). A trama é mais do que uma simples ficção; Beck e Woods viram nesta obra uma oportunidade para abrir uma discussão crítica sobre o papel da IA generativa, uma tecnologia que pode criar conteúdos, desde imagens e vídeos até textos, com base em modelos computacionais avançados.

Scott Beck comenta que, embora Heretic não suscite dúvidas quanto ao uso de IA, a escolha de incluir esta mensagem nos créditos finais foi uma forma de alertar o público. “Acreditamos que as pessoas devem começar a refletir sobre o impacto da IA, especialmente na criação artística,” afirmou. A tecnologia de IA generativa, que já foi usada em produções de grande escala como Furiosa e Alien: Romulus, pode modificar praticamente qualquer aspeto da pós-produção, ao ponto de gerar vídeos completos sem intervenção humana. Para Beck, este avanço representa uma ameaça à autenticidade do cinema, sendo “quase um roubo” do processo criativo humano.

Bryan Woods não hesita em expressar as suas preocupações, afirmando que a IA tem potencial para substituir empregos de forma massiva, e que o setor das artes pode ser um dos mais atingidos. “Estamos numa indústria que, por natureza, é motivada pelo lucro, e as decisões são frequentemente tomadas em prol dos resultados financeiros e não do processo criativo,” refere Woods, sublinhando que o problema é agravado pelo facto de a IA poder facilmente preencher lacunas criativas com base em algoritmos, tornando-se uma alternativa mais barata para estúdios.

Os realizadores destacam o papel fundamental da A24, que apoiou a decisão de incluir esta mensagem, respeitando a sua visão artística e as preocupações éticas envolvidas. Segundo Beck, a A24 é um estúdio que valoriza a individualidade artística, o que facilitou a integração desta mensagem. “A A24 é um espaço onde sentimos que trabalhamos com pessoas, não com algoritmos,” acrescenta.

O uso crescente de IA em Hollywood levanta questões profundas sobre o futuro da arte cinematográfica e dos próprios artistas. A parceria recente entre estúdios como a Blumhouse e a Meta, para explorar ferramentas de IA na produção, e a criação de um grupo de supervisão da IA pela Disney, são exemplos de como a tecnologia está a integrar-se rapidamente no setor. No entanto, realizadores como Beck e Woods acreditam que há necessidade de um debate sério antes de se permitir que a IA interfira profundamente na produção cinematográfica.

Para Woods, embora a tecnologia de IA seja uma realização impressionante, há riscos consideráveis envolvidos. Ele cita um estudo da Goldman Sachs, segundo o qual a IA poderia substituir até 300 milhões de empregos a tempo inteiro globalmente. A sua conclusão é, ao mesmo tempo, divertida e alarmante: “A IA é incrível e pode fazer coisas bonitas, mas talvez devêssemos enterrá-la debaixo de ogivas nucleares – pode muito bem destruir-nos.”

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Heretic não é apenas um filme que explora o conflito entre fé e humanidade, mas também um marco para os realizadores que desafiam Hollywood a refletir sobre o papel da tecnologia e a necessidade de manter o fator humano no processo criativo.

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