Regressa Mais Glamouroso, Mais Perigoso e Ainda Mais Ambicioso
Quando The Night Manager estreou em 2016, ficou imediatamente claro que algo tinha mudado no universo das adaptações de John le Carré. A espionagem deixava para trás a penumbra dos cafés enevoados e os diálogos murmurados sobre chá frio, para abraçar um mundo de hotéis de luxo, cocktails caros e conspirações globais ao sol. A segunda temporada, agora prestes a chegar, confirma essa viragem — e leva-a ainda mais longe.
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Realizada por Georgi Banks-Davies, a nova série regressa com Tom Hiddleston no papel de Jonathan Pine, o espião traumatizado que se move entre identidades falsas, lealdades frágeis e uma moral constantemente posta à prova. Ao seu lado surge Diego Calva, como um novo antagonista, num jogo de gato e rato que se desenrola entre a Europa e a América Latina, com passagens por Catalunha e Colômbia.
Uma das grandes novidades desta segunda temporada é o facto de ser a primeira adaptação do universo le Carré que não parte directamente de uma obra do escritor. A narrativa foi desenvolvida por David Farr, a partir das personagens originais, sob a supervisão criativa dos filhos do autor, Stephen Cornwell e Simon Cornwell, através da produtora Ink Factory. A pergunta orientadora, segundo Simon Cornwell, foi simples: como seriam hoje as histórias do seu pai num mundo dominado por novos centros de poder, redes criminosas transnacionais e uma economia global profundamente interligada?
O resultado é uma série que assume sem pudor o seu lado sedutor. The Night Manager continua a ser frequentemente comparada ao universo de James Bond, e não apenas pela escala internacional ou pelo brilho visual. Como observa o escritor Charlie Higson, esta é uma espionagem de “cocktail” e não de “chá”: elegante, cosmopolita e escapista, ainda que sustentada por um núcleo moral mais sombrio do que o habitual cinema de agentes secretos.
Banks-Davies reforça essa abordagem através de um imaginário visual cuidadosamente construído. Entre as suas referências estão Francis Bacon, Federico Fellini e ecos contemporâneos de obras como Sicario, Gomorrah ou ZeroZeroZero. O glamour nunca é gratuito: serve para mascarar — e tornar ainda mais perturbadora — a violência psicológica, a corrupção sistémica e o custo humano da espionagem.
O elenco acompanha essa ambição, com Olivia Colman, Camila Morrone e Indira Varma a acrescentarem densidade e carisma a um mundo onde nada é o que parece. Apesar da estética luxuosa, Simon Cornwell insiste que The Night Manager continua profundamente enraizada na realidade: por detrás da superfície sedutora estão histórias de dor, culpa e consequências irreversíveis — algo que, segundo ele, distingue claramente a série do escapismo puro de Bond.
A nova temporada chega num momento em que o universo de le Carré vive uma expansão notável. Para além desta série, The Spy Who Came in from the Cold está em cena no West End, enquanto a BBC desenvolve Legacy of Spies, projecto que poderá abrir caminho à adaptação integral da saga de George Smiley ao longo da próxima década. Uma terceira temporada de The Night Manager já está, inclusivamente, confirmada.
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Seja servido num copo de cristal ou numa chávena de porcelana, o mundo de John le Carré continua a provar que a espionagem, quando bem contada, nunca sai de moda. Apenas muda de cenário, de ritmo — e, neste caso, de bebida.



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