
Numa carta aberta que já correu o mundo, mais de 500 nomes de peso da indústria cinematográfica — entre eles Joaquin Phoenix, Sandra Oh, Emma Thompson, Ava DuVernay, Penélope Cruz e Richard Gere — assinaram um contundente apelo à Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Em causa está a detenção e alegado espancamento do cineasta palestiniano Hamdan Ballal, vencedor do Óscar de Melhor Documentário 2024 por No Other Land.
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O realizador foi recentemente atacado por colonos israelitas e detido por forças militares na Cisjordânia — um incidente que, segundo vários ativistas e testemunhas no terreno, ocorreu enquanto Ballal estava a ser assistido numa ambulância, após ter sido agredido por um grupo de 10 a 20 pessoas com pedras, paus, janelas partidas e pneus cortados.
Um Óscar que se tornou escudo… e alvo
A carta dos artistas começa com um apelo claro:
“Condenamos o ataque brutal e a detenção ilegal de Hamdan Ballal. Ganhar um Óscar não é fácil, sobretudo sem campanhas milionárias nem grandes distribuidoras. O facto de ‘No Other Land’ ter vencido é prova da sua importância.”
Mas o verdadeiro alvo do protesto é a inércia da própria Academia, acusada de ter emitido uma declaração “vazia”, que não mencionava sequer o nome do realizador nem o filme, optando por uma posição ambígua num momento em que o apoio seria crucial.
“É indefensável que uma organização premie um filme numa semana e falhe em defender os seus realizadores semanas depois.”
A acusação é clara: não se trata apenas de proteger um cineasta, mas sim o direito de todos os artistas a contar histórias difíceis sem medo de represálias.
Um documentário incómodo — e urgente
No Other Land foi realizado por Hamdan Ballal e Basel Adra, dois palestinianos residentes na Cisjordânia, em colaboração com os israelitas Abraham e Rachel Szor. A obra acompanha, ao longo de quatro anos, a demolição sistemática de casas palestinianas na região de Masafer Yatta, após a decisão de um tribunal israelita em 2019 declarar a área como zona militar.
Desde a estreia na Berlinale 2023, os realizadores mantêm presença activa nas redes sociais, denunciando e documentando novos episódios de violência — o que, segundo muitos observadores, terá tornado Ballal um alvo cada vez mais visado.
“O silêncio da Academia é ensurdecedor”
A carta termina com uma declaração contundente:
“A vitória no Óscar colocou a vida desta equipa em perigo crescente. Não iremos ficar calados quando a segurança de artistas está em jogo.”
O caso já suscitou reações internacionais e poderá ter impacto duradouro na forma como instituições culturais se posicionam em contextos políticos complexos. A carta não poupa críticas à falta de coragem da Academia, que no seu silêncio diplomático parece ter esquecido que o cinema documental vive da exposição da verdade, mesmo quando incómoda.
Para os signatários — entre eles alguns dos nomes mais respeitados do cinema mundial —, defender Hamdan Ballal é defender a integridade artística de toda uma indústria.
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