Cinema português em queda nas bilheteiras: apenas 1% dos espectadores viu filmes nacionais em 2025

“On Falling”, de Laura Carreira, lidera entre as produções nacionais, mas o domínio de Hollywood mantém-se esmagador

O cinema português continua a lutar por atenção nas salas nacionais. De acordo com os dados divulgados pelo Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA), os filmes portugueses ou com coprodução nacional conseguiram apenas 1,1% dos 4,5 milhões de espectadores que foram ao cinema entre Janeiro e Maio de 2025. Em termos de receita de bilheteira, a quota ainda é mais baixa: 0,8%, equivalente a 228 mil euros.

Num período em que as salas de cinema registaram um crescimento global de 13% em espectadores e 16,5% em receitas, com um total de 28,5 milhões de euros, o cinema nacional ficou, mais uma vez, à margem deste entusiasmo crescente. Mesmo com o incentivo da campanha “Cinema em Festa”, que vendeu bilhetes a 3,5 euros em mais de 420 salas durante três dias de Maio, a repercussão sobre os filmes portugueses foi praticamente residual.

Hollywood domina, Portugal resiste

Entre os 172 filmes estreados até Maio, apenas 44 foram de produção ou coprodução norte-americana. No entanto, esses mesmos filmes foram responsáveis por mais de 67% do total da exibição, tanto em receita de bilheteira como em número de espectadores. Ou seja, os blockbusters continuam a dominar por completo a preferência do público português.

O filme mais visto do ano nos cinemas foi, até agora, “Um Filme Minecraft”, de Jared Hess, que somou 498.120 espectadores e três milhões de euros em receitas. Em segundo lugar, surge “Ainda estou aqui”, de Walter Salles, com 383.829 bilhetes vendidos.

O melhor português do ano? “On Falling”

Na frente do cinema nacional está “On Falling”, da realizadora Laura Carreira, que reuniu 12.531 espectadores e cerca de 75 mil euros de receita. Um número modesto face ao panorama geral, mas ainda assim representativo da dificuldade crónica do cinema português em conquistar o público nacional, mesmo quando há reconhecimento internacional.

Apesar do talento e da diversidade de abordagens do cinema nacional, a verdade é que continua a existir uma dificuldade estrutural em atrair público para as salas. O mercado continua polarizado e dominado por grandes estúdios internacionais, com uma capacidade de promoção e distribuição incomparável face à realidade portuguesa.

Reflexões para o futuro

Os dados agora divulgados colocam mais uma vez a questão: como reconquistar o público para o cinema português?Será necessária uma maior aposta na promoção e acessibilidade? Uma revisão das estratégias de exibição? Ou até um questionamento do modelo de financiamento e distribuição?

Uma coisa é certa: há filmes portugueses a estrear e a circular — muitos deles aplaudidos em festivais internacionais —, mas continuam a ser invisíveis para a maioria dos espectadores nacionais. Talvez esteja na hora de pensar não apenas no que se faz, mas também em como se faz chegar o cinema português ao seu próprio público.

🎮 De Leiria para Hollywood: Tecnologia Portuguesa Dá Som a Um Filme Minecraft

Num mundo onde Hollywood raramente olha para Portugal como fornecedor de inovação tecnológica, há uma empresa que está a virar o jogo — com som tridimensional. Chama-se Sound Particles, é sediada em Leiria e a sua mais recente conquista chama-se Um Filme Minecraft, a aguardada adaptação cinematográfica do fenómeno global dos videojogos.

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O filme, que estreou nos cinemas portugueses entre 3 e 6 de abril de 2025, foi o mais visto no fim de semana de estreia, com 104.164 espectadores, segundo dados do ICA. E há ali um bocadinho de Portugal em cada explosão de TNT e cada passo pixelado no universo cúbico da Minecraftlandia.

Sons que nos envolvem — literalmente

Sound Particles desenvolveu um software de som 3D inovador que tem vindo a conquistar os bastidores de Hollywood. Ao aplicar conceitos de computação gráfica ao áudio, a tecnologia permite criar sons tridimensionais complexos e realistas, proporcionando uma experiência auditiva imersiva e dinâmica — ideal para mundos onde a física desafia a lógica, como acontece em Minecraft.

Para o filme realizado por Jared Hess (conhecido por Napoleon Dynamite) e protagonizado por Jack Black e Jason Momoa, esta tecnologia portuguesa foi a escolha natural. A complexidade visual e rítmica do universo Minecraft exigia uma banda sonora rica em texturas e movimentos sonoros — algo que a Sound Particles oferece como ninguém.

Não é caso único: já estiveram em Dune Frozen II e Oppenheimer

Apesar de ainda pouco conhecida fora dos círculos profissionais, a Sound Particles tem currículo de luxo: as suas ferramentas já foram usadas em produções como Oppenheimer (2023), Dune – Duna (2021), Frozen II (2019), Stranger ThingsHouse of the Dragon e A Guerra dos Tronos.

Criada em 2016 por Nuno Fonseca, engenheiro e compositor com ligação ao Instituto Politécnico de Leiria, a empresa conta hoje com mais de 30 colaboradores e um portefólio tecnológico em constante expansão.

Já foi nomeada para os Cinema Audio Society Awards e finalista dos Prémios Científicos da Academia de Hollywoodem 2018. Um feito notável para uma empresa portuguesa com raízes académicas e ambição global.

O que esperar de Um Filme Minecraft ?

Para os fãs do videojogo, o filme promete uma adaptação irreverente e cheia de energia. Com Jack Black no registo cómico que tão bem domina e Jason Momoa a liderar um grupo de heróis improvisados, Minecraft quer ser mais do que um mero filme infantil. E se o som for um dos seus trunfos — já sabemos quem agradecer.


🎬 O cinema é feito de imagem, mas nunca subestimemos o som. E quando esse som é feito em Leiria e escutado nas maiores salas de cinema do mundo, há motivo para orgulho nacional. A Sound Particles continua a provar que Portugal não é só talento criativo — também é músculo tecnológico de primeira linha.

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