O Filme Que Está a Dividir Críticos: A Estranha Odisseia de Hamnet

Quando Shakespeare Inspira um Drama Fantástico… e Umas Quantas Gripezinhas Criativas

Hamnet chega envolto numa onda de entusiasmo que quase parece maior do que o próprio filme. Depois de conquistar o People’s Choice Award no Festival de Toronto — um prémio que, curiosamente, tem o dom quase místico de irritar sempre os mesmos críticos — o novo trabalho de Chloé Zhao aterra nas salas com a confiança própria de quem já foi proclamado “o melhor filme de sempre” numa citação publicitária tão hiperbolizada que nem o site que a supostamente escreveu parece saber onde ela está. Convenhamos: é um começo… peculiar.

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Adaptado do romance de Maggie O’Farrell, Hamnet reinventa a história por detrás da criação de Hamlet, imaginando um Shakespeare em modo devaneio espiritual, a transformar a morte real do filho de onze anos numa catarse literária. O problema é que, segundo o texto original que inspirou este artigo, esta transformação cinematográfica não só exige um salto de fé, como um salto ornamental completo — daqueles dignos de competição olímpica.

Zhao anuncia desde o primeiro plano que não está interessada no rigor histórico. Jessie Buckley surge enrolada no chão da floresta, vestida de vermelho vivo, quase como uma divindade pagã caída num postal ilustrado de Terrence Malick. A sua Agnes (o nome pelo qual Anne Hathaway, mulher de Shakespeare, é aqui chamada) é apresentada como uma espécie de criatura mística que conversa com aves de rapina, tem poderes telúricos e transforma um parto numa cheia bíblica. Buckley, sempre impecável, tenta dar humanidade a esta figura mitológica, mas nem o seu talento evita que a personagem oscile entre o excêntrico e o involuntariamente cómico.

Depois temos Shakespeare, interpretado por Paul Mescal num registo tão trapalhão e desarticulado que o espectador fica a pensar se a ausência de eloquência será uma piada interna. A decisão artística é ousada, sem dúvida, mas acaba por ser estranha numa narrativa que gira à volta de um dos maiores escritores da História. Mescal — brilhante em Aftersun — vê-se aqui preso a um papel que insiste em transformá-lo num bobalhão melancólico perseguido por ravinas simbólicas que gritam “DESTINO TRÁGICO” com letras gigantes.

Quando chega a morte da criança, Zhao puxa do manual de melodrama com tanta intensidade que qualquer comparação com E.T. passa a parecer elogio moderado. A encenação do sacrifício do pequeno Hamnet, que supostamente “engana” a doença para salvar a irmã, estica o conceito de realismo mágico para lá da elasticidade possível. Buckley entrega uma performance visceral, repleta de gritos, lágrimas e toda a carga emocional possível, mas o filme parece mais interessado em provocar soluços do que em explorar a dor com subtileza.

O luto dá depois lugar ao ressentimento: Agnes transforma Shakespeare no saco de pancada emocional da casa, acusando-o de estar ausente em Londres, ocupado a escrever algumas das maiores obras da literatura, enquanto devia… assistir à tragédia em directo. A tensão culmina numa cena no Globe Theatre que desafia qualquer lógica histórica e que apresenta Agnes como alguém que, ao ver uma peça pela primeira vez, encontra redenção espiritual no exacto momento em que o argumento o exige.

O texto fornecido afirma ainda que Hamnet adopta uma visão quase simplista do processo criativo, atribuindo a génese de Hamlet a um momento de dor tão imediato que ignora completamente o trabalho, reescrita e complexidade inerentes à criação artística. Shakespeare, tal como aqui apresentado, praticamente tropeça no famoso “Ser ou não ser” entre um abismo e outro, como se as palavras lhe caíssem do céu. É um retrato algo redutor, por mais poético que Zhao o tente tornar.

Também há ecos de Nomadland, com os mesmos enquadramentos poético-rústicos ao pôr-do-sol e um uso intensivo da música de Max Richter — incluindo “On the Nature of Daylight”, peça recorrente em tantas produções que já rivaliza com “Carmina Burana” na categoria “banda sonora incontornável, mas desgastada”.

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No fim, Hamnet pode ser visto como uma tentativa ambiciosa de transformar Shakespeare em mito e dor em fantasia. Mas, segundo a crítica que esteve na base deste texto, é uma obra que procura lágrimas antes de procurar verdade, preferindo adornar a emoção em vez de a explorar. O resultado é um filme que divide, que provoca reacções fortes — nem sempre pelas razões pretendidas — e que deixa no ar uma pergunta: será este épico emocional um poema visual ou apenas um truque dramático à procura de prémios?

🎭 Fantasporto 2024: Dollhouse vence Grande Prémio e Japão domina festival 🎬🏆

Fantasporto – Festival Internacional de Cinema Fantástico voltou a afirmar-se como um dos eventos de referência do cinema de género, destacando-se este ano pelo forte domínio do cinema asiático e norte-americano. O grande vencedor da edição de 2024 foi o filme japonês “Dollhouse”, realizado por Shinobu Yaguchi, que arrecadou o prestigiado Grande Prémio Cinema Fantástico.

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Segundo a diretora do festival, Beatriz Pacheco Pereira, a produção japonesa teve a sua estreia mundial no Fantasporto e irá chegar em breve às salas de cinema de toda a Ásia.

Mas Dollhouse não foi o único destaque. O festival premiou também produções vindas da Europa, América do Norte e outros países asiáticos, numa competição repleta de estreias e surpresas.

🏅 Os grandes vencedores do Fantasporto 2024

Além de Dollhouse, outras produções foram distinguidas nas principais secções do festival:

• 🏆 Prémio Especial do Júri (Cinema Fantástico): Cielo (Reino Unido), de Alberto Sciamma

• 🎥 Prémio do Público (ex-aequo): Cielo e Mister.K (Países Baixos/Noruega/Bélgica), de Tallulah H. Schwalb

• 🎬 Semana dos Realizadores – Grande Prémio: Zero (EUA), de Jean Luc Herbulot

• 🎭 Semana dos Realizadores – Prémio Especial do Júri: Welcome to the Village (Japão), de Hideo Jôjô

• 🎞️ Oriente Express – Grande Prémio: River Returns (Japão), de Masakasu Kaneko

• 🎥 Oriente Express – Prémio Especial: Sana: Let Me Hear (Japão), de Takashi Shimizu

• 🇵🇹 Prémio de Cinema Português: Criador de Ídolos, de Luís Diogo

• 🇺🇸 Prémio da Crítica: Cold Wallet (EUA), produzido por Steven Soderbergh

🎭 Destaques para os melhores realizadores e atores

Na categoria de Melhor Realizador, os premiados foram:

• 🏆 Sam Quah (A Placed Called Silence, China)

• 🎥 Junichi Ishikawa (Honeko Akabane’s Bodyguards, Japão)

Já nas categorias de interpretação, os vencedores foram:

• 🌟 Judy Ann Santos (Scarecrow, Filipinas) – Melhor Atriz (Cinema Fantástico)

• 🎭 Brendan Bradley (Succubus, EUA) – Melhor Ator (Cinema Fantástico)

• 🎭 Yuri Nakamura (Samurai Detetive Onihei: Blood for Blood, Japão) – Melhor Atriz (Semana dos Realizadores)

• 🎬 Tomoki Kimura (Ranshima Bound, Japão) – Melhor Ator (Semana dos Realizadores)

🎬 Curtas-metragens e o impacto crescente do Fantasporto

curta-metragem vencedora foi Happy People (Hungria), recebendo também menção especial o filme português Gosto de te ver dormir, de Hugo Pinto.

Segundo Beatriz Pacheco Pereira, o Japão foi o grande protagonista do festival, enviando algumas das melhores estreias mundiais da edição deste ano. A diretora destacou ainda a presença da atriz filipina Judy Ann Santos, uma das maiores estrelas da Ásia, premiada pelo seu desempenho em Scarecrow.

🎭 Fantasporto em crescimento, mas com desafios pela frente

Com um aumento de público em relação ao ano passado, a organização do Fantasporto já sente a necessidade de mais salas para acolher espectadores, dado que várias sessões esgotaram rapidamente.

Além do crescimento do festival, Beatriz Pacheco Pereira aproveitou a presença do ministro dos Assuntos Parlamentares, Pedro Duarte, na cerimónia de encerramento para alertar para a necessidade de apoios ao setor cultural, nomeadamente para pequenos grupos de teatro, música e cinema.

A responsável também criticou a falta de apoio do Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA), afirmando que o Fantasporto passou de ser um dos festivais mais apoiados do país para um dos que recebe menos financiamento, devido ao surgimento de novos festivais em Lisboa.

🎟️ Fantasporto: um festival essencial para o cinema fantástico

Mais uma vez, o Fantasporto provou a sua relevância internacional, consolidando-se como um dos festivais de cinema fantástico mais importantes do mundo. O sucesso de Dollhouse e o domínio asiático demonstram a força do cinema oriental, enquanto a crescente adesão do público sugere um futuro promissor para este evento icónico.

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Agora resta esperar para ver os filmes premiados chegarem às salas de cinema e descobrir se Dollhouse conquistará o público tanto quanto conquistou o júri do Fantasporto.

The Thing with Feathers – O Horror do Luto Que Nunca Atinge o Alvo 🎭🪶

The Thing with Feathers, a aguardada adaptação da novela Grief is the Thing with Feathers, de Max Porter, estreou no Festival de Sundance com grande expectativa. Contudo, o filme, realizado por Dylan Southern e protagonizado por Benedict Cumberbatch, não conseguiu captar a magia sombria e emocional do material original, resultando num drama convencional que fracassa como metáfora de horror e como retrato autêntico do luto.

Uma Promessa Não Cumprida 🎥

Dylan Southern apresentou o filme como algo fora do comum, distante dos típicos dramas de luto. No entanto, o resultado é surpreendentemente familiar e, em muitos momentos, aborrecido. Enquanto filmes como The Babadook exploraram com eficácia o equilíbrio entre o horror literal e o emocional, The Thing with Feathers falha em ambos os aspetos.

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A história segue um pai (Cumberbatch), devastado pela morte da esposa, enquanto tenta cuidar dos seus dois filhos e trabalhar num novo romance gráfico. A chegada de um corvo falante, dublado por David Thewlis, promete ser um catalisador de transformação, mas a execução torna-se um ciclo repetitivo de sustos ineficazes e diálogos sarcásticos que pouco acrescentam à narrativa.

Personagens Mal Desenvolvidos e Falta de Emoção 💔

Um dos maiores problemas do filme é a falta de profundidade emocional e de construção dos personagens. O protagonista é apresentado através de clichês: esquecer o leite, queimar torradas, gritar ao telefone e recusar ajuda. A sua esposa, descrita apenas como gentil e cheirosa, nunca ganha uma presença significativa, tornando a sua perda pouco tangível para o público.

Enquanto o corvo deveria ser uma figura central que desafia e transforma o pai, a relação entre eles carece de substância ou progresso. Apesar do compromisso de Cumberbatch com o papel, o roteiro limita o seu desempenho a uma repetição de cenas de desespero – gritar, chorar, rabiscar. O resultado é um protagonista emocionalmente exausto que reflete a própria experiência do público.

Um Horror Que Não Assusta 👻

Embora Southern tenha prometido elementos absurdos e ridículos, como Cumberbatch dançando e imitando o corvo, essas cenas parecem datadas e não atingem o impacto esperado. O filme falha em encontrar um equilíbrio entre o grotesco e o emocional, e nunca esclarece completamente o papel do corvo ou as suas intenções, deixando o público mais confuso do que envolvido.

Mesmo com momentos de potencial, como a breve aparição de Vinette Robinson, o filme não consegue sustentar a sua narrativa, tornando-se cada vez mais monótono e desinteressante.

Um Retrato de Luto Que Não Emociona 😞

O maior fracasso de The Thing with Feathers é a sua incapacidade de transmitir a verdadeira dor do luto. Um filme sobre perda deveria envolver-nos emocionalmente, criando um vínculo entre os personagens e o público. No entanto, este filme falha em capturar a tristeza esmagadora ou a complexidade emocional que o material original prometia.

Conclusão: Uma Oportunidade Perdida 🎭❌

The Thing with Feathers tinha todos os elementos para ser uma adaptação poderosa, mas acaba por ser uma experiência frustrante. A falta de detalhes na narrativa, a execução desequilibrada e a ausência de emoção autêntica tornam este filme uma história sobre luto que, ironicamente, não consegue reter o público.

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Enquanto Grief is the Thing with Feathers permanece como uma obra marcante na literatura, a sua adaptação cinematográfica deixa muito a desejar, falhando em encontrar a mesma magia no grande ecrã.

Pamela Anderson Brilha em “The Last Showgirl” e Entra na Corrida aos Óscares

A indústria do cinema pode estar prestes a testemunhar um dos regressos mais surpreendentes dos últimos anos. Pamela Anderson, há muito associada ao seu estatuto de sex symbol, está a conquistar a crítica com a sua performance em The Last Showgirl, um filme que pode levá-la diretamente para a corrida aos Óscares.

O aclamado argumentista e realizador Aaron Sorkin (A Rede SocialThe West WingMoneyball) foi um dos primeiros a elogiar a performance da atriz, descrevendo-a como “uma das melhores do ano, ou de qualquer ano”.

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Uma Nova Pamela Anderson

Realizado por Gia Coppola (Palo Alto), com argumento de Kate GerstenThe Last Showgirl apresenta Pamela Anderson no papel de Shelly, uma bailarina veterana que enfrenta os últimos dias de uma icónica revista em Las Vegas, enquanto reflete sobre a sua vida e carreira.

Muitos comentaram a escolha da atriz em aparecer sem maquilhagem, mas Sorkin aponta que essa decisão, embora ousada, não é o que torna a sua performance notável.

“Ela começa por dominar uma cena caótica no camarim com uma confiança impressionante e, cena após cena, continua a surpreender-nos”, elogia Sorkin.

O desempenho atinge o seu auge numa intensa cena entre Shelly e a sua filha, interpretada por Billie Lourd (American Horror StoryStar Wars: The Last Jedi). Nesse momento, segundo Sorkin, o público percebe que a coragem de Pamela Anderson está no seu talento interpretativo, e não apenas na sua aparência.

Críticas Elogiam e Apontam para Nomeação ao Óscar

A receção crítica ao filme tem sido extremamente positiva, reforçando a possibilidade de Pamela Anderson ser nomeada para um Óscar.

Entertainment Weekly descreve The Last Showgirl como “um réquiem para todas as mulheres que já foram subestimadas pela sua beleza, pelas suas escolhas ou pela sua arte”. Já o IndieWire destaca a performance de Anderson, referindo que “é o produto de uma subestimação profunda do talento prodigioso da estrela”.

Pamela Anderson, que durante décadas foi vista mais como uma personalidade mediática do que uma atriz séria, pode agora estar a consolidar-se como uma das grandes intérpretes do ano. Para Aaron Sorkin, a sua atuação em The Last Showgirl não é apenas surpreendente em relação às expectativas — é uma grande performance em qualquer contexto.

Uma Nova Fase para Pamela Anderson

O reconhecimento por parte da crítica e de figuras proeminentes da indústria sugere que Pamela Anderson pode estar prestes a redefinir a sua carreira. Durante anos, a sua imagem pública foi dominada por escândalos, revistas e reality shows. Mas, tal como The Last Showgirl sugere, talvez seja chegada a hora de olhar para a sua arte e não apenas para a sua persona mediática.

A nomeação para o Óscar de Melhor Atriz seria uma reviravolta inesperada, mas merecida, numa carreira repleta de altos e baixos. Agora, resta saber se a Academia acompanhará o entusiasmo da crítica e dos festivais e concederá a Pamela Anderson o reconhecimento que parecia impossível há poucos anos.

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“Aqui”: Ambição Técnica Perde-se na Falta de Emoção e Coerência

A mais recente colaboração entre Robert ZemeckisEric Roth e os atores Tom Hanks e Robin Wright, responsáveis pelo icónico “Forrest Gump”, tenta captar o espírito da passagem do tempo com o drama doméstico “Aqui”. Contudo, o que poderia ter sido uma reflexão poderosa sobre a memória e a história transforma-se numa narrativa atolada em pretensão e falta de coesão.

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Uma Premissa Ambiciosa, Mas Limitada

Baseado na novela gráfica homónima de Richard McGuire, “Aqui” concentra-se inteiramente numa única divisão: a sala de estar de uma casa construída na era colonial americana. A câmara permanece estática, fiel à ideia original, enquanto os eventos se desenrolam ao longo de séculos, entrelaçando gerações de famílias e acontecimentos históricos.

Essa escolha técnica oferece a Zemeckis uma oportunidade para explorar os limites do cinema. Combinando efeitos digitais convincentese uma direção teatral, o realizador demonstra a sua habilidade técnica ao manipular o envelhecimento dos personagens e criar transições suaves entre épocas. No entanto, essas inovações não compensam a falta de profundidade narrativa e emocional.

A Tentativa de Contextualização Histórica

Tal como em “Forrest Gump”, o argumento de Eric Roth insiste em posicionar os personagens no centro de momentos históricos marcantes. Mas enquanto a abordagem em “Gump” funcionava como uma sátira subtil à insignificância do protagonista perante os grandes eventos, em “Aqui” essa técnica soa forçada e desnecessária. O filme transforma acontecimentos históricos em meros adereços para embelezar a narrativa, mas falha em justificar a sua presença.

Por exemplo, cenas com televisores ao fundo exibindo notícias históricas ou personagens envolvidos em eventos marcantes do século XX parecem mais como adereços decorativos do que contribuições relevantes para a história central. Essa obsessão pela grandiloquência histórica dilui o potencial intimista do enredo.

Interpretações e Reflexões Promissoras

Apesar dos problemas estruturais, o elenco destaca-se no que há de melhor no filme. Paul Bettany e Kelly Reilly, como Al e Rose, pais do personagem de Hanks, oferecem interpretações sólidas, explorando as complexidades das relações familiares e os papéis de género ao longo do tempo. Tom Hanks e Robin Wright entregam desempenhos competentes, mesmo limitados por um argumento que raramente lhes dá espaço para brilhar.

Os momentos que exploram as dinâmicas domésticas e as mudanças sociais ao longo das décadas oferecem um vislumbre do que “Aqui” poderia ter sido: uma meditação íntima sobre a passagem do tempo e o impacto da história nas vidas comuns. No entanto, esses fragmentos são eclipsados pela ambição mal direcionada do filme.

Comparações Inevitáveis

A tentativa de entrelaçar destinos e eras lembra obras como “A Viagem” (2012), das irmãs Wachowski e Tom Tykwer, que abordaram temas semelhantes com muito mais fluidez e profundidade. Em comparação, “Aqui” carece de amplitude narrativa e paixão pela sua própria história. O filme sente-se mais como um exercício técnico do que uma obra com algo significativo a dizer.

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Conclusão: Um Desafio Técnico com Pouca Alma

Embora Zemeckis continue a demonstrar o seu talento técnico, “Aqui” falha em captar o coração do público. A obsessão pela estética e pela grandiloquência histórica prejudica o que poderia ter sido uma experiência intimista e reflexiva. No final, o filme oferece mais pretensão do que substância, deixando-nos com a sensação de que, apesar de todo o seu potencial, “Aqui” nunca encontrou realmente o seu lugar.

The Gentlemen: Um Retrato Carismático e Explosivo do Submundo Londrino por Guy Ritchie

The Gentlemen, lançado em 2020, marca o regresso triunfante de Guy Ritchie ao estilo cinematográfico que o tornou famoso, com uma mistura explosiva de comédia e crime que nos leva diretamente para o submundo londrino. O filme reúne uma narrativa vibrante, personagens memoráveis e humor negro para contar a história de Mickey Pearson, um rei do crime que deseja abandonar o seu império de drogas e vender o negócio. Mas, como não poderia deixar de ser numa obra de Ritchie, o plano rapidamente se complica, levando a um jogo de intriga e traição onde ninguém é completamente inocente.

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Sinopse e Enredo

A trama segue Mickey Pearson (Matthew McConaughey), um expatriado americano que construiu um império de marijuana altamente lucrativo em Londres. Depois de anos a operar nos bastidores do crime, Mickey decide que é hora de se reformar e viver em paz com a sua esposa, Rosalind (Michelle Dockery). Assim, tenta vender o seu negócio a um bilionário americano, mas a notícia do seu retiro atrai a atenção de uma série de figuras duvidosas, que veem aqui uma oportunidade de ouro para tomar conta do império de Mickey.

Entre as ameaças que surgem estão Dry Eye (Henry Golding), um gangster chinês que tenta assumir o controlo à força, e Big Dave (Eddie Marsan), um editor de tabloide que quer vingança pessoal contra Mickey. Paralelamente, surge Fletcher (Hugh Grant), um detetive privado excêntrico e com um talento para o drama, que tenta chantagear Mickey com informações comprometedoras. Fletcher apresenta a história num formato quase de “guião cinematográfico”, adicionando um toque metalinguístico ao filme que subverte as expectativas e acrescenta camadas de humor e ironia.

Personagens e Atuação

O elenco de The Gentlemen é um dos seus pontos altos, reunindo alguns dos melhores atores de Hollywood e do Reino Unido. Matthew McConaughey encarna Mickey Pearson com uma elegância perigosa, misturando charme e brutalidade numa interpretação que equilibra perfeitamente o lado carismático e implacável do personagem. Mickey é o típico “anti-herói” de Guy Ritchie, e McConaughey dá-lhe uma presença imponente que sustenta a narrativa.

Hugh Grant surpreende como Fletcher, um detetive privado excêntrico que rouba cenas com a sua performance cativante e ligeiramente caricatural. Fletcher, com o seu modo teatral e obsessão por detalhes, adiciona um toque de humor e ambiguidade moral que se torna crucial para a trama. Charlie Hunnam interpreta Raymond, o braço-direito de Mickey, com uma calma calculada, oferecendo um equilíbrio perfeito ao protagonista. Michelle Dockery, por sua vez, traz carisma e uma personalidade forte ao papel de Rosalind, tornando-a muito mais do que apenas uma “esposa do gangster”.

Estilo e Realização de Guy Ritchie

Em The Gentlemen, Guy Ritchie retoma os elementos estilísticos que o consagraram em filmes como Lock, Stock and Two Smoking Barrels e Snatch, combinando uma narrativa não-linear, diálogos afiados e uma trama entrelaçada que desafia o espectador a acompanhar cada detalhe. A estética visual é elegante e sofisticada, capturando a essência do luxo sombrio do submundo de Londres, e a edição é rápida e dinâmica, mantendo o ritmo intenso e garantindo uma experiência envolvente.

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A cinematografia destaca-se ao criar uma atmosfera única que espelha o submundo criminal, misturando cenas de ação com momentos de humor e suspense. A banda sonora, cuidadosamente selecionada, acrescenta uma camada extra de intensidade e imersão, usando tanto clássicos como músicas contemporâneas para sublinhar o tom irreverente da narrativa.

Receção Crítica e Sucesso

Apesar de a crítica ter inicialmente recebido o filme com opiniões variadas, The Gentlemen conquistou rapidamente o público, arrecadando cerca de 115 milhões de dólares nas bilheteiras globais, uma prova do seu apelo comercial e da força dos fãs de Guy Ritchie. Para muitos, o filme representa o regresso de Ritchie à sua melhor forma, capturando a essência dos seus primeiros trabalhos e modernizando-os para um público contemporâneo que continua a valorizar a fusão de crime e comédia com toques de ironia.

A popularidade do filme foi impulsionada pela sua habilidade de brincar com os géneros, ao mesmo tempo que oferece uma história inteligente e personagens que, embora moralmente questionáveis, são fascinantes e bem construídos. The Gentlemen destaca-se como uma comédia criminal sofisticada, ideal para quem aprecia o estilo inconfundível de Ritchie e procura um enredo com várias camadas de ação, humor e surpresa.

Conclusão

The Gentlemen é uma celebração de tudo o que caracteriza Guy Ritchie: uma história de crime com um toque de comédia afiada, personagens intrigantes e uma realização estilística que transforma cada cena num espetáculo visual. Mais do que um simples filme de gangster, é um olhar mordaz sobre o lado mais obscuro da alta sociedade, onde o charme e a brutalidade coexistem. Para os fãs de Ritchie e para os amantes do cinema criminal, este é um filme que não se pode perder.

Os 10 Piores Filmes de Drama de Todos os Tempos, Segundo Roger Ebert

O filósofo Aristóteles acreditava que a parte mais importante de um drama era o enredo e a sua capacidade de conectar o público a cada detalhe da história. No cinema, os filmes dramáticos utilizam o simbolismo e o desenvolvimento de personagens para alcançar um resultado que evoca emoções. No entanto, os piores dramas falham em realizar qualquer uma dessas tarefas. O amado e opinativo crítico de cinema, Roger Ebert, seria o primeiro a apontar essas falhas, selecionando uma coleção de dramas que ele acreditava serem os piores de todos os tempos. Alguns desses filmes infames ganharam um lugar na sua lista dos mais odiados, apesar de serem favoritos dos fãs ou clássicos de culto.

Desde dramas históricos classificados como “X” até dramas biográficos e de guerra, as escolhas de Ebert para os piores do género buscaram um público amplo, conquistando alguns, mas nunca Ebert. As suas críticas severas e muitas vezes mordazes destacavam onde esses filmes se tornavam desastrosos, questionando porque alguns espectadores comprariam um bilhete para os ver. Os piores dramas de todos os tempos apresentam ícones de Hollywood e elencos repletos de estrelas, provando que nenhum elenco está a salvo da mordaz opinião de Ebert.

10. ‘Mommie Dearest’ (1981)

Apesar de uma recepção positiva do público e de se ter tornado um clássico de culto, Mommie Dearest recebeu apenas uma estrela de Ebert pela sua representação da relação abusiva entre a estrela de Hollywood Joan Crawford e a sua filha adotiva Christina. Numa performance icónica de Faye Dunaway como Crawford, o filme baseia-se no livro revelador de Christina, que expôs a sua mãe como uma alcoólica egoísta e abusiva. Para Ebert, “o filme nem sequer faz sentido narrativo”, pois carece de ritmo estratégico e estrutura lógica. A crítica de Ebert destacou a falta de profundidade psicológica ao retratar Joan Crawford como um monstro sem explorar as origens do seu comportamento abusivo. O filme é repetitivo e sensacionalista, deixando Ebert e outros críticos desanimados com a sua abordagem superficial ao tema do abuso infantil.

9. ‘The Scarlet Letter’ (1995)

A adaptação de 1995 de The Scarlet Letter ganhou uma crítica de uma estrela e meia de Ebert. Baseado no romance de Nathaniel Hawthorne, o filme tenta transformar uma história de culpa e penitência num romance banal. Hester Prynne (interpretada por Demi Moore) é condenada ao ostracismo na sua comunidade puritana após ter uma filha fora do casamento. O filme toma várias liberdades criativas, incluindo a romantização da relação entre Hester e o Reverendo Dimmesdale, que no livro original é um símbolo de hipocrisia. Ebert criticou duramente as cenas de sexo gratuitas e a transformação de Dimmesdale numa figura mais simpática, perdendo a essência moral do romance e tornando o drama numa narrativa superficial e desprovida de verdadeira carga emocional.

8. ‘Staying Alive’ (1983)

Staying Alive, a sequela de Saturday Night Fever, foi dirigida por Sylvester Stallone e recebeu uma crítica de uma estrela de Ebert. O filme segue Tony Manero (John Travolta) enquanto ele tenta fazer uma carreira na Broadway. Apesar do sucesso comercial, Ebert achou que o filme era uma sombra do seu antecessor, descrevendo-o como uma coleção de clichés sem qualquer substância dramática real. Para Ebert, o filme carecia da autenticidade e do realismo que tornaram Saturday Night Fever um clássico, substituindo o desenvolvimento de personagens por sequências de dança exageradas e um enredo previsível.

7. ‘Purple Hearts’ (1984)

Purple Hearts foi concebido como um drama de guerra, mas acabou por ser um romance de novela. O filme segue a relação entre um cirurgião da Marinha, Don Jardian (Ken Wahl), e uma enfermeira, Deborah Solomon (Cheryl Ladd), durante a Guerra do Vietname. Ebert, que deu ao filme meia estrela, criticou a sua abordagem melodramática e o enredo pouco credível. Em vez de explorar as realidades brutais da guerra, o filme opta por um romance sentimental e previsível, repleto de coincidências impossíveis e diálogos banais. A crítica de Ebert destacou a falta de autenticidade e a forma como o filme banalizou o horror da guerra ao transformá-lo num cenário para uma história de amor simplista.

6. ‘200 Cigarettes’ (1999)

200 CIGARETTES, Ben Affleck, Kate Hudson, Jay Mohr, 1999

Com um elenco repleto de estrelas, incluindo Ben Affleck, Paul Rudd e Christina Ricci, 200 Cigarettes tinha o potencial de ser um sucesso. No entanto, Ebert deu ao filme meia estrela, criticando o seu enredo sem rumo e a falta de desenvolvimento de personagens. Ambientado na véspera de Ano Novo de 1981, o filme tenta explorar temas como o amor e a solidão, mas falha em criar qualquer conexão emocional significativa com o público. Ebert lamentou a falta de química entre o elenco e a má utilização de talentos tão promissores, resultando num filme que, segundo ele, é “vazio e sem alma”.

5. ‘Bolero’ (1984)

Bolero, dirigido por John Derek, é outro filme que Ebert classificou com meia estrela. Este drama romântico segue a jovem Lida MacGillivery (Bo Derek) na sua busca por amor nos anos 1920, envolvendo-se em relações com um xeique marroquino e um toureiro espanhol. Ebert foi implacável na sua crítica, descrevendo o filme como uma sequência de cenas de conteúdo explícito sem qualquer coerência narrativa. Ele criticou o filme por ser uma obra vazia que apenas procura chocar, sem oferecer qualquer valor artístico ou dramático, concluindo que a única utilidade de Bolero seria como um exemplo de como não fazer cinema.

4. ‘Drop Squad’ (1994)

Drop Squad, realizado por David C. Johnson, recebeu apenas meia estrela de Ebert. O filme pretende ser uma crítica social, mas falha na execução. Segue a história de Bruford Jamison Jr., um executivo de publicidade afro-americano que é “reprogramado” por um grupo militante que se opõe às suas campanhas publicitárias degradantes dirigidas à comunidade negra. Ebert criticou o filme pela sua abordagem extremista e simplista ao problema do racismo, acusando-o de promover métodos totalitários como solução. Ele também destacou a falta de subtilidade e nuance no tratamento do tema, tornando o filme mais um exercício de pregação do que uma verdadeira reflexão dramática.

3. ‘The Green Berets’ (1968)

The Green Berets, um drama de guerra dirigido e protagonizado por John Wayne, foi considerado por Ebert como um dos piores filmes sobre a Guerra do Vietname. O filme foi acusado de ser propaganda militarista, ignorando as complexidades morais e políticas do conflito. Ebert deu zero estrelas ao filme, criticando a sua visão simplista do Vietname como uma luta entre “bons e maus”. Ele também apontou a falta de realismo e a glorificação excessiva da guerra, tornando-o, nas palavras de Ebert, “indigno das vidas que foram perdidas naquele conflito”.

2. ‘Mad Dog Time’ (1996)

Mad Dog Time, dirigido por Larry Bishop, é um drama de máfia que também recebeu zero estrelas de Ebert. O filme, estrelado por Richard Dreyfuss e Jeff Goldblum, tenta ser um thriller criminal, mas falha miseravelmente. Ebert criticou o filme pela sua falta de coerência e narrativa, descrevendo-o como uma série de cenas sem sentido onde os personagens simplesmente recitam diálogos sem emoção antes de serem mortos. Para Ebert, o filme foi um desperdício de talento e tempo, uma experiência cinematográfica que ele considerou totalmente desnecessária.

1. ‘Caligula’ (1979)

Caligula, dirigido por Tinto Brass, ocupa o topo da lista dos piores dramas de todos os tempos, segundo Roger Ebert. Este filme histórico e erótico é conhecido pelas suas cenas gráficas de violência e sexo, que incluem desde decapitação até necrofilia. Ebert foi implacável na sua crítica, classificando o filme com zero estrelas e chamando-o de “o pior filme que já vi”. Ele destacou a falta de qualquer valor artístico ou moral, acusando o filme de ser “lixo vergonhoso” tanto em termos de conteúdo quanto de execução. Para Ebert, Caligula não só falhou como drama, mas também como cinema, sendo uma experiência que ele achou repugnante e inútil.

Conclusão

Estas escolhas de Roger Ebert mostram como até os maiores nomes de Hollywood e filmes com grandes orçamentos não estão imunes a críticas severas. A análise de Ebert revela que um bom drama não depende apenas de um elenco forte ou de uma premissa interessante, mas sim de uma execução eficaz que conecte o público de forma significativa.