Um regresso perturbador ao universo de Arthur Fleck, agora em dueto
Depois de ter marcado profundamente o cinema contemporâneo em 2019, Joker regressa com um novo capítulo tão inesperado quanto provocador. Joker – Loucura a Dois chega à televisão portuguesa no dia 2 de Janeiro, às 21h30, trazendo de volta Joaquin Phoenix ao papel de Arthur Fleck e juntando-lhe uma parceira que muda radicalmente o tom da narrativa: Lady Gaga. O resultado é um filme inquietante, estranho e assumidamente ousado, que aprofunda o delírio emocional do anti-herói mais desconfortável da DC .
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Arkham, julgamento e uma identidade em fratura
A história retoma os acontecimentos que abalaram Gotham. Arthur Fleck encontra-se agora internado no hospital psiquiátrico de Arkham, à espera de julgamento pelos crimes cometidos enquanto Joker. Preso entre a figura pública que se tornou símbolo de caos e a fragilidade psicológica que sempre o definiu, Arthur vive num limbo identitário, incapaz de separar o homem do mito.
É neste espaço de contenção e ruína mental que conhece Harleen Quinzel, também ela internada. Interpretada por Lady Gaga, esta nova versão da futura Harley Quinn afasta-se do estereótipo da cúmplice caricatural para se afirmar como espelho e catalisador da loucura de Arthur. A ligação entre ambos rapidamente ultrapassa os limites da empatia, transformando-se numa relação obsessiva, intensa e profundamente desequilibrada.

Folie à deux: quando o delírio se canta
O subtítulo original do filme remete directamente para o conceito psiquiátrico de folie à deux, um transtorno raro em que duas pessoas partilham o mesmo delírio. Esse conceito é o verdadeiro motor narrativo de Loucura a Dois. Arthur e Harleen constroem uma realidade paralela onde o sofrimento, a violência e o amor se expressam através da música, num registo que cruza musical, drama psicológico e romance doentio.
As sequências musicais não funcionam como alívio, mas como extensão do colapso emocional das personagens. São fantasias encenadas, números que existem apenas na mente dos protagonistas, reforçando a ideia de que o espectáculo nasce do desequilíbrio e não do entretenimento fácil.
Continuidade autoral e risco criativo
O filme volta a ser realizado por Todd Phillips, que assina o argumento em conjunto com Scott Silver. A abordagem mantém o tom sombrio e opressivo do primeiro filme, mas arrisca ao introduzir uma estrutura menos convencional, recusando repetir a fórmula que garantiu sucesso ao original.
Essa ousadia foi amplamente debatida aquando da estreia em festivais, onde o filme dividiu opiniões, mas confirmou uma coisa: Joker – Loucura a Dois não existe para agradar a todos. Existe para incomodar, questionar e levar mais longe a desconstrução de uma figura icónica.
Um elenco de peso e um universo em expansão
Além de Phoenix e Gaga, o filme conta com um elenco de luxo que inclui Zazie Beetz, Catherine Keener, Ken Leung, Brendan Gleeson e Steve Coogan. O conjunto reforça a densidade dramática de um filme que continua a explorar Gotham como espaço mental antes de ser cidade.
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Uma noite para espectadores sem medo
Joker – Loucura a Dois não é uma sequela tradicional, nem um musical clássico, nem um thriller convencional. É um objecto estranho, híbrido e provocador, que convida o espectador a entrar num dueto onde amor e loucura dançam sem rede. Um filme para quem prefere ser desafiado em vez de confortado — e uma estreia televisiva que promete dar que falar.


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