Wake Up Dead Man: O Regresso Mais Negro (e Mais Divertido) de Benoit Blanc

Um novo mistério com humor negro e ecos de Edgar Allan Poe

Daniel Craig volta a vestir o fato impecável de Benoit Blanc em Wake Up Dead Man, a terceira entrada da saga Knives Out, realizada por Rian Johnson. Mas desta vez, a surpresa vem de Josh O’Connor, que praticamente rouba o protagonismo ao interpretar o irreverente Padre Jud Duplenticy, um ex-pugilista transformado em padre como forma de penitência após um surto violento.

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O cenário não podia ser mais literário: Chimney Rock, uma aldeia que parece saída de um romance de Agatha Christie, com a sua igreja neo-gótica, cemitério sombrio e um ar de que demasiado sangue já ali foi derramado. Ao lado de O’Connor surge Josh Brolin como Monsenhor Jefferson Wicks, um clérigo selvagem e cínico, que adiciona ainda mais fogo a esta mistura insólita.

O equilíbrio entre o gótico e a comédia

Johnson afirmou que queria regressar às raízes do género policial, evocando nomes como Edgar Allan Poe. O filme mergulha nesse imaginário gótico, entre enterros inquietantes, personagens assombradas pela culpa e até grafitis irreverentes num mausoléu. Mas, ao mesmo tempo, consegue ser a entrada mais divertida e brincalhona da série.

Há diálogos mordazes, humor inesperado e uma autêntica dança entre referências literárias e cinematográficas que tornam esta experiência tão intrigante quanto divertida. A morte (ou mortes) está sempre em pano de fundo, mas o riso surge com naturalidade.

Benoit Blanc como maestro da intriga

Apesar de Josh O’Connor ser o verdadeiro motor narrativo do filme — ora cómico, ora sério, sempre magnético — Daniel Craig continua a dominar o ecrã. O seu Blanc surge com o habitual sotaque do sul, o charme elegante e a confiança descontraída de quem conduz a narrativa como um maestro.

Curiosamente, com cada novo filme, Blanc aparece menos em cena, assumindo o papel de guia, quase como um narrador que nos leva pelas veredas tortuosas de personagens enredadas e suspeitas. Aqui, até recruta o Padre Jud para ajudá-lo a deslindar o que ficou conhecido como o “assassinato de Sexta-Feira Santa”.

Rian Johnson no auge da sua forma

Com Wake Up Dead Man, Rian Johnson demonstra estar mais confiante do que nunca. Consegue pegar nos velhos clichés do género e reinventá-los com frescura, mantendo o mistério vivo e a audiência rendida. O resultado é o filme mais negro, mais ousado e, paradoxalmente, o mais divertido de toda a franquia Knives Out.

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Preparem-se: este é um mistério que faz rir, arrepiar e pensar — muitas vezes em simultâneo.

Amanda Seyfried Brilha em Veneza como Ann Lee: A Feminista Shaker Esquecida pela História ✨🎬

Uma figura quase apagada da memória

O Festival de Veneza abriu espaço para uma das personagens mais improváveis a surgir no grande ecrã em 2025: Ann Lee, fundadora do movimento religioso Shaker no século XVIII e considerada por muitos como uma das primeiras feministas americanas. Em The Testament of Ann Lee, realizado por Mona Fastvold, Amanda Seyfried encarna esta figura que, segundo a cineasta, estava “à beira de ser apagada da memória”.

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Nascida em 1736 em Manchester, Inglaterra, Ann Lee — conhecida entre os seguidores como Mãe Ann — liderou uma comunidade que defendia a igualdade entre sexos, a paz, a empatia e o trabalho manual como forma de oração. Uma proposta radical para o seu tempo, que ainda hoje ressoa com surpreendente atualidade.

Um biopic entre o transe e a espiritualidade

Descrito pela IndieWire como um “biopic especulativo, febril e totalmente arrebatador”, o filme aproxima-se de um musical, dando especial destaque à música e à dança, elementos centrais do culto Shaker. Para os membros deste movimento, o canto e o movimento em transe eram uma forma de ligação espiritual, uma oração física e coletiva.

O compositor Daniel Blumberg, vencedor de um Óscar este ano pela banda sonora de O Brutalista, volta a colaborar com Fastvold, revisitando os hinos Shaker e dando-lhes uma nova vida.

Da investigação histórica ao cinema de autor

Mona Fastvold, que coescreveu o guião com Brady Corbet (seu parceiro e realizador de O Brutalista), descobriu Ann Lee durante uma pesquisa sobre movimentos religiosos nos Estados Unidos do final do século XVIII. Em 1774, Ann emigrou com alguns discípulos para Nova Iorque, fugindo à perseguição religiosa em Inglaterra, e fundou uma comunidade que, no seu auge, chegou a contar com seis mil seguidores espalhados por 19 comunidades.

Hoje restam apenas três membros Shaker, mas o legado sobrevive, sobretudo através da arquitetura e do mobiliário, conhecido pela sua estética minimalista e funcionalidade — peças que ainda hoje fascinam designers e colecionadores.

Um olhar feminino sobre um ícone espiritual

Para Fastvold, a inspiração foi clara:

“Todos os grandes ícones masculinos receberam este tratamento, como Jesus Cristo ou Joana d’Arc. Porque não dar o mesmo a uma mulher desconhecida?”

A realizadora não quis criar propaganda, mas antes tratar Ann Lee com amor e respeito, reconhecendo a sua visão de comunidade, bondade e empatia. Seyfried, pela sua vez, entrega uma interpretação intensa, transformando Ann Lee num ícone cinematográfico tão humano quanto espiritual.

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Com The Testament of Ann Lee, Mona Fastvold reafirma-se como uma das vozes mais interessantes do cinema de autor contemporâneo, recuperando uma figura feminina que, até agora, permanecia quase esquecida pela História.

TIFF 2025: Chris Evans, Sydney Sweeney, Angelina Jolie e Vince Vaughn lideram a lista quente de estreias

Um mercado cauteloso mas esperançoso

50.º Festival Internacional de Cinema de Toronto (TIFF) abre com um ambiente de “otimismo cauteloso”, como descrevem os vendedores no arranque de mais uma temporada de aquisições. As atenções dividem-se entre a secção artística e o mercado, que volta a reunir estúdios, plataformas de streaming e novos distribuidores em busca do próximo grande título.

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Entre os filmes mais aguardados estão projetos com Chris Evans, James McAvoy, Vince Vaughn, Amanda Seyfried, Angelina Jolie e Sydney Sweeney, numa edição repleta de estrelas a tentar seduzir compradores.

Streamers, salas e novas regras do jogo

Depois de anos marcados por negócios milionários fechados a alta velocidade, o cenário mudou. Hoje, tanto streamers como distribuidores analisam cuidadosamente o retorno sobre investimento:

  • Apple prefere desenvolver conteúdos in-house.
  • Amazon foca-se em direitos internacionais.
  • Netflix ainda investe pesado em aquisições globais — pagou 20 milhões de dólares por Hit Man de Richard Linklater e 11 milhões por Woman of the Hour, de Anna Kendrick, no TIFF 2023.

Já os distribuidores independentes enfrentam dificuldades acrescidas, sobretudo aqueles sem parcerias pay-one com plataformas. Ainda assim, players como Sony Pictures Classics (Netflix)Searchlight (Hulu)Focus Features (Peacock)Neon (Hulu) e A24 (HBO Max) mantêm espaço para investir.

Novos compradores em cena

Há também espaço para novidades: Black Bear Finance e Row K, apoiados pela Media Capital Technologies e liderados por Megan Colligan (ex-Paramount), entram este ano no circuito com vontade de mexer no mercado.

Além disso, o “novo Paramount” de David Ellison já assumiu o objetivo de lançar 15 filmes em 2026 e 20 por ano no futuro — um sinal de vitalidade que pode mexer no panorama.

Casos de estudo recentes

Um bom exemplo do impacto de uma compra certeira foi The Brutalist, estreado em Veneza e comprado pela A24 por 10 a 15 milhões. O filme rendeu 16,4 milhões de dólares no mercado doméstico e conquistou 10 nomeações ao Óscar, incluindo Melhor Filme, arrecadando três estatuetas, entre elas Melhor Ator para Adrien Brody.

Em contraste, Eden (de Ron Howard, com Sydney Sweeney, Jude Law e Ana de Armas), após críticas mornas no TIFF, demorou quase um ano a chegar às salas via Vertical Entertainment.

O que esperar em 2025

O festival abre com o documentário John Candy: I Like Me (Amazon MGM), mas os olhares estão também sobre Motor City, de Potsy Ponciroli, com Ben Foster e Shailene Woodley. O gangster thriller, notável por ter pouco diálogo, estreou em Veneza e chega agora a Toronto para testar o seu poder no mercado.

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Outros títulos vão tentar atrair distribuidores com olho no Óscar ou no box office, sabendo que, no pós-pandemia, o sucesso já não se mede apenas pelo número pago no calor do festival, mas pela estratégia de lançamento a longo prazo.

John Candy: I Like Me  abre o Festival de Toronto com emoção e memória de um ícone canadiano

Uma homenagem justa a “Johnny Toronto”

Festival Internacional de Cinema de Toronto abriu este ano com um tributo profundamente canadiano: a estreia de John Candy: I Like Me, documentário realizado por Colin Hanks e produzido por Ryan Reynolds, que celebra a vida e a carreira do ator e comediante John Candy.

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Conhecido por papéis inesquecíveis em Planes, Trains and AutomobilesUncle Buck e The Great Outdoors, Candy foi muito mais do que uma estrela de comédia. Era, como disse Mel Brooks no filme, “um ator total porque era uma pessoa total”.

Ryan Reynolds e Colin Hanks numa réplica do carro de Antes Só, que Mal Acompanhado no original Planes, Trains and Automobiles

O filme e o legado

O documentário, que estreia no Prime Video a 10 de outubro, é o primeiro grande retrato cinematográfico de Candy desde a sua morte precoce, em 1994, aos 43 anos, vítima de falha cardíaca. O título — I Like Me — recupera uma das frases mais marcantes de Planes, Trains and Automobiles, transformada aqui em mote para a vida e obra de um homem que, no ecrã e fora dele, transmitia autenticidade, humor e calor humano.

Reynolds sublinha esse legado com emoção:

“Ele morreu do coração e, ironicamente, o que deixou foi o coração. É isso que permanece.”

Entre família e cinema

O filme conta com testemunhos íntimos dos filhos de Candy, Jennifer e Chris, que recordam como as cassetes de Radio Kandy e a coleção de DVDs dos filmes do pai os ajudaram a lidar com a perda. “Era uma forma de voltar a ouvir a sua voz”, confessa Jennifer.

Para Chris, rever os filmes foi um reencontro tardio mas revelador: “Fiquei espantado com o talento dele.” Ambos descrevem o documentário como uma cápsula do tempo que perpetua a presença do pai.

A visão de Colin Hanks

Hanks, que já tinha assinado o documentário All Things Must Pass sobre a Tower Records, procura aqui ir além da simples homenagem. Para ele, a questão central era descobrir o que fazia de Candy um verdadeiro “everyman”, alguém que parecia ser o tio de todos. O realizador recorda mesmo a sua própria infância, quando o conheceu nos bastidores de Splash, filme em que Candy contracenava com o seu pai, Tom Hanks.

“Ele fazia qualquer pessoa sentir-se importante, até uma criança como eu”, recorda.

O peso da influência

Reynolds, que cresceu a ver Candy em SCTV, admite que o comediante canadiano marcou a sua carreira. Nos filmes de Deadpool, espalhou “ovos de Páscoa” em homenagem a Candy: desde canecas com a frase “I like me” a carros idênticos aos usados em Planes, Trains.

“Gosto de o ter por perto”, afirma Reynolds. “Sinto-me mais seguro, mais honesto.”

Um arranque à altura

A escolha do documentário para abrir o festival foi vista como natural: Candy, apelidado de “Johnny Toronto”, é ainda hoje um dos rostos mais queridos da cultura canadiana. O público da noite de estreia aplaudiu de pé a celebração de um homem que, como resume Bill Murray logo no início do filme, simplesmente não tinha defeitos à altura das suas virtudes.

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Ainda não temos uma versão legendada do trailer, mas o trailer original está aqui

In the Hand of Dante: Oscar Isaac e um elenco de luxo brilham em Veneza no ousado filme de Julian Schnabel

Uma adaptação ambiciosa com duas épocas em colisão

O Festival de Veneza recebeu de braços abertos In the Hand of Dante, a mais recente ousadia de Julian Schnabel(BasquiatAt Eternity’s Gate). O filme adapta o romance homónimo de Nick Tosches (2002) e coloca Oscar Isaac no centro da narrativa, interpretando duas personagens: o poeta medieval Dante Alighieri e o escritor contemporâneo Nick Tosches.

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Na trama, um manuscrito original da Divina Comédia reaparece através do Vaticano e acaba nas mãos de um chefe da máfia nova-iorquina. Tosches é então arrastado para um perigoso submundo ao tentar autenticar o documento, numa jornada onde se cruzam figuras interpretadas por Jason Momoa, Gerard Butler, Gal Gadot e outros.

O filme também reserva surpresas de peso: Martin Scorsese surge num papel substancial como mentor de Dante, enquanto Al Pacino e John Malkovich reforçam o elenco estelar.

De Johnny Depp a Oscar Isaac: uma longa gestação

O caminho até à tela foi demorado. Os direitos da obra foram adquiridos em 2008 pela produtora de Johnny Depp, que inicialmente planeava protagonizar o filme. Schnabel entrou em 2011, mas só em 2023 o projeto avançou, com Oscar Isaac a substituir Depp no papel principal.

Em conferência de imprensa em Veneza, Isaac admitiu que foi precisamente o caráter “impossível” do projeto que o atraiu:

“Ler o guião e não fazer ideia de como seria possível filmá-lo — foi isso que o tornou tão excitante.”

Entre aplausos e críticas divididas

A receção ao filme foi calorosa, mas não unânime. O Hollywood Reporter descreveu-o como “uma extravagância ambiciosa, cativante e por vezes falhada” e “uma viagem louca que não chega totalmente lá”. Ainda assim, poucos negaram a ousadia da proposta, marcada pela grandiosidade visual e pela carga simbólica.

O momento foi ainda mais especial para Schnabel, que recebeu o Cartier Glory to the Filmmaker Award, distinção entregue a personalidades com contributos originais e relevantes para o cinema contemporâneo — honra já recebida por nomes como Ridley Scott, Wes Anderson e Claude Lelouch.

Schnabel, um “herói local” em Veneza

Apesar de nova-iorquino, Schnabel tem uma ligação profunda a Veneza. Expôs cinco vezes na Bienal de Arte e estreou aqui a sua primeira longa, Basquiat (1996). Com Before Night Falls (2000), venceu o Grande Prémio do Júri e, em At Eternity’s Gate (2018), Willem Dafoe conquistou o prémio de Melhor Ator do festival.

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Com In the Hand of Dante, Schnabel regressa à cidade que tantas vezes marcou a sua carreira, desta vez com um projeto que junta literatura, história, crime e fé num mosaico arriscado — e que já se tornou uma das conversas mais vibrantes da edição de 2025 da Mostra

The Voice of Hind Rajab: o filme sobre Gaza que comoveu Veneza com 23 minutos de aplausos

O retrato de uma tragédia real

O 82.º Festival de Veneza viveu um dos momentos mais intensos da sua edição com a antestreia de The Voice of Hind Rajab, da realizadora franco-tunisina Kaouther Ben Hania. O filme recria as últimas horas da vida de Hind Rajab, menina palestiniana de cinco anos morta a 29 de janeiro de 2024 por forças israelitas enquanto tentava escapar da Cidade de Gaza com a família.

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Com o consentimento da mãe, a produção incorpora as gravações reais da chamada em que a criança pediu socorro a um centro de emergência em Ramallah: “Fique comigo, não me abandone”, ouve-se Hind, entre tiros e explosões.

A sessão terminou com uma ovação de 23 minutos, considerada a mais longa do festival, durante a qual vários espectadores ergueram bandeiras palestinianas e gritaram palavras de ordem em solidariedade.

Entre lágrimas e protestos

No final da projeção, a equipa palestiniana do filme não conteve as lágrimas. Mais cedo, vestidos de preto e segurando uma fotografia de Hind Rajab, atores e realizadora desfilaram pela passadeira vermelha acompanhados por Rooney Mara e Joaquin Phoenix, produtores executivos do projeto e raramente vistos juntos em eventos públicos.

O filme conta ainda com o apoio de Brad Pitt, Alfonso Cuarón e Jonathan Glazer, também como produtores executivos.

Apresentado em competição oficialThe Voice of Hind Rajab é um dos 21 filmes que disputam o Leão de Ouro, que será entregue no sábado por um júri presidido por Alexander Payne e que inclui nomes como Fernanda TorresZhao TaoStéphane BrizéMaura DelperoCristian Mungiu e Mohammad Rasoulof.

Cinema como resistência

Em conferência de imprensa, Kaouther Ben Hania destacou o papel do cinema como resposta ao silenciamento:

“Estamos a ver que, em todo o mundo, a imprensa apresenta os mortos em Gaza como danos colaterais. Parece-me muito desumanizante. O cinema, a arte e todas as formas de expressão são fundamentais para dar uma voz e um rosto a essas pessoas.”

Um festival marcado pela guerra

Desde a sua abertura, a 27 de agosto, o Festival de Veneza tem sido atravessado por manifestações contra a ofensiva israelita na Faixa de Gaza. O coletivo Venice4Palestine reuniu duas mil assinaturas numa carta aberta contra a guerra, e vários cineastas aproveitaram a passadeira vermelha para protestar.

A marroquina Maryam Touzani e o cineasta Nabil Ayouche exibiram um cartaz a exigir “Stop the genocide in Gaza”, enquanto a argentina Lucrecia Martel denunciou a devastação diária do território palestiniano.

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O diretor artístico Alberto Barbera sublinhou que Veneza é “um lugar de abertura e debate”, confirmando que a Mostra deste ano ficará marcada não só pelo cinema, mas também pelo peso da atualidade política e humanitária.

Existencialismo e ameaça nuclear: Ozon e Bigelow dominaram a terça-feira em Veneza

O Estrangeiro ganha nova vida pelas mãos de François Ozon

O Festival de Veneza continua a ser palco de estreias de peso. Esta terça-feira, o realizador francês François Ozonapresentou a sua versão de O Estrangeiro, clássico literário de Albert Camus, filmado a preto e branco e protagonizado por Benjamin Voisin e Rebecca Marder.

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A história segue Mersault, um funcionário na Argélia colonial cuja vida sofre uma viragem radical após a morte da mãe. Voisin surpreende ao encarnar um homem apático e recluso, distante das personagens expansivas a que habituou o público.

“Teríamos adorado filmar em Argel, mas as relações entre França e Argélia complicaram essa possibilidade”, admitiu Ozon, que acabou por rodar em Tânger, Marrocos. O cineasta sublinhou que quis oferecer “uma visão atual” desta obra ainda marcada por feridas históricas.

Kathryn Bigelow e a “casa de dinamite”

Do existencialismo ao suspense político, a segunda grande estreia do dia foi assinada por Kathryn Bigelow, realizadora de Estado de Guerra. Em A House of Dynamite, produzido para a Netflix, a cineasta de 73 anos leva o público até à Casa Branca em plena crise nuclear, com um míssil lançado por um agressor desconhecido contra os EUA.

O filme conta com Idris Elba e Rebecca Ferguson nos papéis principais. “Estamos realmente a viver numa casa de dinamite”, alertou Bigelow na conferência de imprensa, sublinhando a urgência de discutir a ameaça das armas nucleares.

Outras propostas do dia: Van Sant e novos talentos

Também na terça-feira, Gus Van Sant apresentou Dead Man’s Wire, um drama baseado na história verídica de Tony Kiritsis, que em desespero tomou como refém o seu credor. Fora de competição, o filme marca o regresso do realizador norte-americano, igualmente com 73 anos, a temas de forte carga social.

Na secção Horizontes, a surpresa veio de Stillz, realizador americano-colombiano conhecido pelos videoclipes de Bad Bunny e Rosalía. A sua primeira longa-metragem, Barrio Triste, transporta o público para a Medellín dos anos 1980, entre violência, fragilidade e a procura de inocência.

Já nas Jornadas dos Autores, o espanhol Gabriel Azorín estreou Anoche conquisté Tebas, sobre um grupo de amigos portugueses que visita termas romanas e acaba por se cruzar com os soldados que as ergueram há séculos.

Uma competição de alto nível

Tanto O Estrangeiro como A House of Dynamite integram a seleção oficial de 21 filmes que disputam o Leão de Ouro, entregue a 6 de setembro. O júri é presidido por Alexander Payne e conta ainda com Fernanda TorresZhao TaoStéphane BrizéMaura DelperoCristian Mungiu e Mohammad Rasoulof.

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Com propostas que vão do existencialismo literário à tensão política contemporânea, Veneza reafirma-se como o festival onde o cinema procura constantemente dialogar com o mundo.

Carmen Maura regressa em grande: “Calle Málaga” celebra a velhice com humor e humanidade no Festival de Veneza

Carmen Maura, uma das grandes damas do cinema espanhol e rosto incontornável de Pedro Almodóvar, está de volta aos ecrãs com “Calle Málaga”, exibido no Festival de Veneza e já apontado como um dos títulos mais emotivos da edição. O filme marca o regresso da atriz a um papel central e faz-se através do olhar delicado da realizadora marroquina Maryam Touzani, que conquistou projeção internacional com O Azul do Cafetã (2022).

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Em “Calle Málaga”, Maura interpreta María Ángeles, uma espanhola que sempre viveu em Tânger e que, prestes a reencontrar-se com a filha Clara (Marta Etura), prepara croquetes e arruma a casa como quem arruma a própria memória. Mas a visita traz consigo uma revelação amarga: Clara quer vender o apartamento e levar a mãe para Madrid. Perante este choque, a protagonista resiste — com fragilidade, mas também com humor e dignidade.

A realizadora explicou que o filme nasceu da perda da sua própria mãe e da memória das mulheres da sua família. É um trabalho profundamente pessoal, entrelaçado com a língua castelhana que partilhava em casa, os cheiros da cozinha e as músicas de María Dolores Pradera. Essa herança cultural atravessa a narrativa e transforma-se em cinema: os grandes planos de Carmen Maura a cozinhar, a intensidade no seu olhar e o modo como encara a velhice sem máscara ou disfarce.

Para se ambientar, a atriz de 79 anos viveu algumas semanas em Tânger antes das filmagens, mergulhando num universo que, para Touzani, é também o reflexo da sua identidade. A cineasta sublinha que quis retratar a velhice de outra forma, sem a sombra do peso social ou a caricatura habitual: “Envelhecer é um privilégio e uma bênção. Queria celebrar os corpos envelhecidos que tantas vezes preferimos esconder.”

Com “Calle Málaga”, Carmen Maura prova mais uma vez que é capaz de unir força e fragilidade, humor e dor, num só gesto. E Maryam Touzani confirma-se como uma das vozes mais interessantes do cinema contemporâneo, capaz de transformar a memória íntima numa história universal sobre identidade, pertença e a coragem de resistir.

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Julia Roberts em “Depois da Caçada”: o filme de Luca Guadagnino que promete incendiar debates em Veneza

O realizador italiano Luca Guadagnino voltou a dar que falar na 82.ª Mostra de Veneza com o seu mais recente filme, Depois da Caçada (After the Hunt), apresentado fora de competição. Produzido pela Amazon e protagonizado por Julia Roberts, o drama mergulha nas tensões morais e éticas de um prestigiado campus universitário norte-americano, expondo feridas ainda abertas no contexto do movimento Me Too.

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Roberts interpreta Alma, professora de Filosofia em Yale, que leva uma vida aparentemente estável ao lado do marido, Fred (Michael Stuhlbarg), um terapeuta respeitado. O casal, símbolo da elite intelectual, organiza regularmente jantares animados, onde se cruzam colegas, alunos e amigos. Mas a harmonia é abalada quando Maggie (Ayo Edebiri), uma aluna promissora, acusa de violação o professor Hank (Andrew Garfield) — amigo íntimo de Alma.

O que se segue é um jogo de tensões que abala relações pessoais, académicas e de poder. Como num efeito dominó, cada personagem reage de forma distinta ao escândalo: Alma divide-se entre a lealdade ao amigo e a empatia pela aluna, enquanto os estudantes expõem visões mais radicais sobre feminismo, justiça e consentimento.

Em conferência de imprensa em Veneza, Julia Roberts descreveu o filme como um espaço para levantar questões e não dar respostas:

“Há um conjunto de velhos argumentos renovados neste filme, de uma forma que gera debate. O que procurávamos era isto: que toda a gente saísse da sala com sentimentos, emoções e pontos de vista distintos.”

A argumentista Nora Garrett reforçou que o objetivo foi trabalhar as nuances: “Não queríamos simplificar. Queríamos que soasse verdadeiro e levasse as pessoas a questionarem-se sobre o que podem fazer.”

Já Guadagnino sublinhou que cada personagem traz a sua própria verdade para a mesa: “Uma verdade não é mais importante do que outra.”

Sem assumir um tom panfletário, Depois da Caçada prefere retratar os dilemas individuais e coletivos que surgem quando o silêncio deixa de ser uma opção. Como salientou Roberts, o filme não procura dar respostas definitivas, mas sim provocar conversas, emoções e até irritações — porque, tal como na vida, as respostas raramente são lineares.

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O filme, que conta também com Chloë Sevigny no elenco, estreia nos cinemas norte-americanos a 17 de outubro

Jude Law veste a pele de Vladimir Putin em The Wizard of the Kremlin: polémica em Veneza

O Festival de Veneza voltou a ser palco de controvérsia com a estreia mundial de The Wizard of the Kremlin, novo filme de Olivier Assayas que mergulha nas origens políticas de Vladimir Putin. Jude Law, que interpreta o presidente russo, garantiu em conferência de imprensa que não sentiu “medo de repercussões” pela sua participação:

“Espero não ingenuamente, mas não, não tive medo. Confiei nas mãos de Olivier e no guião, sabíamos que esta era uma história a ser contada com inteligência e nuance. Não procurávamos polémica pela polémica”, afirmou o ator britânico.

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Putin, “o homem sem rosto”

Law confessou que a maior dificuldade foi interpretar uma figura que revela muito pouco da sua personalidade: “Há quem o chame de ‘o homem sem rosto’. É uma máscara. Como ator, senti a dificuldade de transmitir emoções quando a personagem, em público, quase não deixa escapar nada”.

No filme, é Paul Dano quem assume o papel central de Vadim Baranov, um produtor de televisão que se torna o conselheiro oficioso de Putin nos anos 1990, ajudando a construir a sua imagem pública. Alicia Vikander interpreta Ksenia, a mulher de Baranov, enquanto Will Keen dá vida ao oligarca Boris Berezovsky. O elenco conta ainda com Jeffrey Wright e Tom Sturridge.

Assayas sobre a política moderna

Para Olivier Assayas, a história ultrapassa a figura de Putin e reflete transformações mais amplas:

“Este é um filme sobre como a política moderna foi inventada. Putin foi um caso específico, mas aplica-se a outros líderes autoritários. O mais assustador é que ainda não encontrámos uma resposta eficaz para o que estamos a viver.”

Paul Dano reforçou que o objetivo não era simplificar a narrativa em “bons e maus”: “Se apenas rotulássemos Baranov como vilão, seria uma simplificação perigosa. O cinema deve explorar as zonas cinzentas.”

Já Jeffrey Wright aproveitou para refletir sobre os paralelos com a história norte-americana: “Os EUA também tiveram impulsos para o autoritarismo. A diferença é que sempre existiu a ideia de que podíamos aspirar a ser melhores. Se essa ideia se perde, tornamo-nos no que vemos neste filme.”

Do romance ao grande ecrã

The Wizard of the Kremlin é uma adaptação do romance homónimo de Giuliano da Empoli (2022), inspirado em Vladislav Surkov, conselheiro de longa data de Putin e considerado um dos grandes arquitetos da sua ascensão política. O guião foi coescrito por Assayas e Emmanuel Carrère.

Produzido pela Curiosa Films e Gaumont, com participação da France Télévisions e Disney+, o filme conta já com distribuição garantida em França e pretende marcar presença forte na temporada de prémios.

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Com um elenco de luxo e um tema inflamável, The Wizard of the Kremlin promete ser um dos títulos mais falados de Veneza — e não apenas pelo cinema, mas pelo choque entre arte e política que inevitavelmente levanta.

Veneza: Documentário Revela os Bastidores Tempestuosos de Megalopolis  e o Conflito de Coppola com Shia LaBeouf

Francis Ford Coppola voltou a fazer história em Veneza — mas desta vez não com um épico de ficção, e sim através de um documentário que expõe, em toda a sua intensidade, o processo criativo (e caótico) por detrás de Megalopolis.

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Realizado por Mike Figgis, Megadoc surge como um registo raro e intimista de um cineasta lendário a trabalhar no seu projeto de vida, um retrofuturista drama-parábola sobre a Roma Antiga que Coppola auto-financiou, investindo 120 milhões de dólares após vender parte do seu império vinícola. Mais do que números, o filme de Figgis mostra o realizador a viver e a respirar cinema — seja nos ensaios com os atores, através de jogos experimentais dignos de uma companhia de teatro de vanguarda, ou nos discursos inflamados em que celebra a glória de arriscar tudo pela arte.

Mas nem tudo foi glamour e inspiração. Megadoc não ignora os momentos mais tensos, incluindo a demissão em massa da equipa de efeitos visuais a meio da rodagem e as discussões acesas com Shia LaBeouf, cujo temperamento difícil se tornou quase um personagem secundário da narrativa. Ao lado disso, surgem entrevistas mais serenas com Jon Voight, Aubrey Plaza e Dustin Hoffman, bem como imagens de leituras de guião de 2001, quando Megalopolis quase saiu do papel com Robert De Niro e Uma Thurman.

Há ainda espaço para momentos de ternura, com a presença de Eleanor Coppola — a falecida esposa do realizador, que já tinha sido a cronista oficial do caos em Apocalypse Now através do mítico Hearts of Darkness. A sua aparição no set de Megalopolis dá ao documentário um toque de despedida e memória, lembrando que esta saga pessoal atravessa décadas de vida e carreira.

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O resultado? Mesmo que muitos críticos continuem a considerar Megalopolis um fracasso honroso, Megadoc é já visto como um triunfo. Não apenas pela oportunidade de observar Coppola em pleno ato criativo, mas também pelo retrato humano — vulnerável, conflituoso e obstinado — de um homem que nunca deixou de acreditar que o cinema merece todos os riscos.

Park Chan-wook regressa a Veneza com No Other Choice

O mestre da vingança e da comédia negra volta a desafiar o público

Vinte anos depois da sua última presença no Festival de Veneza, o realizador sul-coreano Park Chan-wook, autor de Oldboy – Velho Amigo, regressa ao Lido com a estreia mundial de No Other Choice. O novo filme, inspirado no romance The Axe (1997) de Donald E. Westlake, é um thriller social e psicológico sobre um funcionário veterano de uma fábrica de papel que, após ser despedido, decide eliminar potenciais concorrentes na corrida por um novo emprego.

A longa-metragem é uma das 21 obras em competição pelo Leão de Ouro, consolidando o regresso de um cineasta cuja carreira é marcada pela coragem em expor os recantos mais sombrios da natureza humana.

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De Oldboy a Decisão de Partir

Park Chan-wook conquistou fama internacional em 2004, quando Oldboy venceu o Grande Prémio em Cannes. O filme de vingança, violento e estilizado, tornou-se um clássico moderno e abriu caminho para o reconhecimento global do cinema sul-coreano. Quinze anos depois, Bong Joon-ho retomaria essa herança com Parasitas, vencedor da Palma de Ouro e do Óscar de Melhor Filme.

O realizador voltaria a Cannes em 2022, onde venceu o prémio de Melhor Realização com Decisão de Partir, um thriller romântico elogiado pela crítica e que confirmou a sua mestria em misturar géneros aparentemente inconciliáveis.

O mestre da comédia negra

Conhecido pela “Trilogia da Vingança” (Mr. VengeanceOldboy e Vingança Planeada), Park explora nas suas obras temas como violência, desejo, culpa e perdão, sem nunca perder de vista uma certa ironia trágica. Para o cineasta, filmar apenas o que é belo e otimista seria uma forma limitada de compreender os seres humanos:

“Só reconhecendo os desejos mais obscuros de uma pessoa é que se saberá de que são feitos os seres humanos”, afirmou no Festival de Busan, em 2021.

Literário por natureza — é leitor ávido de Zola e Philip Roth — Park transpôs para o cinema obras como Thérèse Raquinem Thirst – Este é o meu sangue… (2009) e Fingersmith em A Criada (2016).

Para lá do cinema

O realizador também deixou marca na televisão internacional, com destaque para a minissérie britânica The Little Drummer Girl, adaptação de John le Carré, e para The Sympathizer, série da HBO lançada em 2024 sobre um espião dividido entre duas lealdades.

No Other Choice: mais um mergulho no abismo humano

Com No Other Choice, Park Chan-wook volta a olhar para as desigualdades sociais e a brutalidade da sobrevivência, colocando em cena um protagonista comum que se vê empurrado para decisões extremas.

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Ao regressar a Veneza depois de duas décadas, Park não traz apenas um novo filme: traz a certeza de que continua a ser uma das vozes mais radicais e inovadoras do cinema mundial.

After the Hunt: Luca Guadagnino explica escolha polémica de créditos à Woody Allen no filme com Julia Roberts

Luca Guadagnino voltou a estar no centro das atenções no Festival de Veneza com After the Hunt, o seu novo drama psicológico protagonizado por Julia Roberts, Ayo Edebiri e Andrew Garfield. Mas não foi apenas a estreia mundial que gerou conversa: a decisão do realizador italiano de usar créditos de abertura inspirados no estilo dos filmes de Woody Allen levantou sobrancelhas — e Guadagnino não fugiu ao tema.

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Durante a conferência de imprensa, o cineasta explicou que a opção estética não foi inocente. Segundo o próprio, a estrutura de After the Hunt remete diretamente para obras de Allen entre 1985 e 1991, como Crimes and Misdemeanorsou Another Woman. “Quando começámos a trabalhar no filme, não conseguíamos deixar de pensar nessas obras. Havia uma ligação estrutural àquele universo narrativo”, revelou Guadagnino.

No entanto, o paralelismo ganha outro peso porque After the Hunt aborda precisamente questões de assédio, abuso e poder, temas centrais do movimento #MeToo, enquanto Allen continua a ser uma figura envolta em polémicas relacionadas com acusações de má conduta. Guadagnino admitiu ter consciência dessa camada extra:

“Foi também uma forma de refletir sobre a nossa responsabilidade em olhar para o trabalho de artistas que amamos, mas que enfrentam acusações ou questões sérias na sua vida pessoal.”

Julia Roberts no centro de um dilema moral

O filme segue Alma Imhoff (Roberts), uma professora universitária que vê a sua carreira e vida pessoal abaladas quando uma aluna (Edebiri) acusa um colega (Garfield) de agressão. Ao mesmo tempo, um segredo sombrio do passado de Alma ameaça vir à tona. A narrativa mergulha no confronto entre diferentes versões da verdade e no modo como poder e reputação moldam relações humanas.

Guadagnino contou ter ficado “impressionado” com o argumento de Nora Garrett, sublinhando que a história chegou até si no momento certo:

“Andava a refletir sobre a luta pelo poder: porque o queremos, porque o retiramos a outros, o que significa realmente tê-lo nas mãos.”

A estreia e o peso da polémica

After the Hunt estreou-se em Veneza no dia 29 de agosto, em exibição no Sala Grande, e chegará às salas norte-americanas a 17 de outubro, através da Amazon MGM Studios. O elenco conta ainda com Chloë Sevigny, reforçando o estatuto de filme-evento da temporada.

Embora Guadagnino insista que a escolha dos créditos é também um gesto de apreço estético — “É um clássico, uma fonte que vai para além de Woody Allen”, frisou —, a decisão abre o debate sobre como o cinema deve dialogar com a obra de artistas controversos.

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Com uma história que mistura dilemas éticos, segredos perturbadores e disputas de poder, After the Hunt promete ser um dos títulos mais falados deste outono — tanto pelo que acontece no ecrã como pelas conversas que desperta fora dele.

“Bugonia”: Emma Stone e Yorgos Lanthimos voltam a chocar (e a fascinar) Veneza

Emma Stone voltou a dar que falar na 82.ª edição do Festival de Veneza com Bugonia, o novo filme de Yorgos Lanthimos que mistura thriller de rapto, ficção científica e sátira social. A atriz norte-americana interpreta Michelle Fuller, uma poderosa CEO farmacêutica que é raptada por dois homens convencidos de que ela… é uma extraterrestre.

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O filme, que marca a quarta colaboração entre Stone e Lanthimos — depois de The FavouritePoor Things e Kinds of Kindness — está a ser descrito pela crítica como um verdadeiro “choque de géneros”: ao mesmo tempo suspense, paranoia, comédia negra e comentário político.

Raptores, alienígenas e eco chambers

Na história, Michelle (Stone) é sequestrada por Teddy (Jesse Plemons, nomeado ao Óscar por The Power of the Dog) e Don (Aidan Delbis). Teddy acredita que a executiva é culpada pela doença da mãe e pelo colapso das abelhas, e que a sua captura pode salvar a humanidade. O resultado é um duelo psicológico intenso, passado em grande parte na cave de Teddy, onde a CEO e o raptor entram num jogo de manipulação e poder.

Lanthimos, conhecido por explorar o absurdo nas relações humanas, aproveita a trama para mergulhar no impacto das teorias da conspiração e das bolhas digitais. “Não muito da distopia do filme é ficção. É um reflexo dos nossos tempos”, explicou o realizador em Veneza.

Emma Stone de cabeça rapada e Jesse Plemons em estado bruto

Para o papel, Stone submeteu-se a uma transformação radical: a sua personagem é obrigada a rapar o cabelo pelos sequestradores. “Foi a coisa mais fácil do mundo: só precisas de uma máquina”, ironizou a atriz, que também admitiu acreditar na possibilidade de vida extraterrestre, citando Carl Sagan como influência.

Já Jesse Plemons trouxe profundidade ao perturbado Teddy, que, entre papel de vilão e mártir, encarna o perigo de reduzir pessoas traumatizadas a caricaturas. “Ele é um torturado que só quer ajudar, por mais louco que pareça”, afirmou o ator.

Da Coreia para Veneza

Bugonia é um remake livre do filme sul-coreano Save the Green Planet! (2003), mas Lanthimos imprime-lhe a sua marca pessoal: diálogos desconfortáveis, humor ácido e violência estilizada.

A crítica dividiu-se, mas quase todos concordaram num ponto: a performance de Emma Stone é magnética. O Hollywood Reporter chamou ao filme “um turbilhão de géneros, suspense e humor sombrio”, enquanto o Telegraph lhe atribuiu cinco estrelas pela forma como Lanthimos equilibra o grotesco com o cómico.

Um espelho do presente

Longe de ser apenas um exercício de ficção distópica, Lanthimos garante que Bugonia é um alerta. “Humanidade está a enfrentar um acerto de contas. Se não escolhermos o caminho certo, não sei quanto tempo temos”, disse, referindo-se à guerra, à tecnologia e à nossa crescente indiferença.

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Seja pela sua crítica social, pelo humor negro ou pela coragem dos seus protagonistas, Bugonia já é um dos filmes mais discutidos de Veneza — e confirma que a dupla Lanthimos/Stone continua a ser uma das mais desafiantes e imprevisíveis do cinema atual.

Paolo Sorrentino Abre Veneza com La Grazia: Toni Servillo é o Presidente que Todos Queríamos Ter

O Festival de Veneza abre este ano com o novo filme de Paolo Sorrentino, La Grazia (A Graça), que marca a 10.ª longa-metragem do realizador italiano e mais uma colaboração com o seu ator-fetiche, Toni Servillo. Depois de retratar figuras polémicas como Giulio Andreotti em Il Divo e Silvio Berlusconi em Loro, Sorrentino decide agora mostrar o oposto: um político íntegro, humano e compassivo — aquilo que, nas palavras do próprio, “um político deveria ser”.

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Um presidente com dilemas humanos

Em La Grazia, Toni Servillo interpreta Mariano De Santis, um fictício presidente da República italiana que enfrenta dilemas éticos de grande peso. Entre eles, a decisão de assinar — ou não — uma lei que legaliza a eutanásia num país profundamente católico. Mas o filme vai além da questão política: De Santis é também um viúvo que carrega as suas fragilidades, fuma um cigarro às escondidas do único pulmão e encontra afinidade inesperada na música do rapper italiano Guè.

Sorrentino inspirou-se numa notícia real sobre o atual presidente Sergio Mattarella, que perdoou um idoso que matara a esposa com Alzheimer. A partir daí, nasceu a pergunta central: o que significa, para um presidente, ter o poder de decidir sobre a vida e a morte?

Toni Servillo, o rosto da autoridade

Não é surpresa que Sorrentino tenha voltado a Servillo, ator com quem partilha sete filmes. “Quando penso em figuras de autoridade, penso imediatamente em Toni”, confessou o realizador. Ainda assim, o cineasta pediu-lhe contenção, evitando sentimentalismos excessivos, para que a humanidade emergisse apenas da presença natural do ator.

A relação entre o presidente e a sua filha (Anna Ferzetti) é outro pilar do filme. Inspirado na própria experiência de Sorrentino como pai, mostra um homem que aprende a ouvir uma nova geração em vez de se refugiar no saudosismo. É através dela que encontra a coragem para assinar a lei sobre a eutanásia — não por convicção pessoal, mas por confiança no futuro que pertence aos jovens.

Um filme moral, mas com ironia

Fiel ao estilo que lhe valeu o Óscar com A Grande Beleza, Sorrentino volta a cruzar drama e ironia. O realizador compara La Grazia a obras como O Decálogo de Krzysztof Kieslowski, em que cada dilema moral se torna motor da narrativa. Ao contrário dos retratos cáusticos de Andreotti e Berlusconi, aqui surge um político que exala integridade, mesmo com falhas pessoais — algo que o realizador considera urgente, num tempo em que demasiadas decisões políticas nascem da vaidade e da impulsividade.

Música, perdão e humanidade

A presença do rapper Guè no enredo acrescenta uma nota contemporânea ao filme. Uma das suas músicas, Le bimbe piangono, inclui a frase: “Chiedo dopo perdono, non prima per favore” (“Peço perdão depois, não antes, por favor”). Para Sorrentino, esta ideia ressoa como um mantra: o reconhecimento de que todos, mais cedo ou mais tarde, teremos de pedir perdão pelas nossas falhas.

Veneza como rampa de lançamento

Produzido pela The Apartment (do grupo Fremantle) e pela própria companhia de Sorrentino, Numero 10, em associação com a PiperFilm, La Grazia será distribuído pela MUBI nos EUA e em vários territórios internacionais. A estreia em Veneza confirma a aposta no filme como um dos grandes títulos da temporada, e, à semelhança de A Grande Beleza ou The Hand of God, promete colocar Sorrentino novamente no centro da corrida aos prémios.

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La Grazia é, no fundo, um retrato poético de como o poder político pode ser exercido com empatia e humanidade — um desejo tanto cinematográfico como político, que ecoa muito para lá do grande ecrã.

“Apanhado a Roubar”: Austin Butler levado ao limite num thriller imperfeito mas arrebatador de Darren Aronofsky

Um sonho perdido, um favor fatal

Hank Thompson (Austin Butler) foi, em tempos, uma promessa do basebol, mas um acidente roubou-lhe o futuro. Agora vive uma vida aparentemente tranquila em Nova Iorque: é barman, partilha o dia a dia com a namorada (Zoë Kravitz) e apoia religiosamente a sua equipa favorita. Tudo muda quando o vizinho punk (Matt Smith) lhe pede para tomar conta do gato durante uns dias. De repente, Hank vê-se no meio de uma conspiração violenta com gangsters à perna — e sem perceber porquê.

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Butler no centro da tempestade

Austin Butler é o coração pulsante do filme. A sua interpretação traz camadas de dor, arrependimento e raiva contida, transformando Hank num anti-herói atormentado. Mais do que sobreviver, o personagem parece lutar contra os fantasmas de tudo o que perdeu. Darren Aronofsky, fiel ao seu estilo visceral, transforma cada cena de brutalidade física numa metáfora para as feridas invisíveis da alma.

O olhar cru de Aronofsky

Filmado por Matthew Libatique com uma crueza quase documental, Apanhado a Roubar mergulha-nos numa Nova Iorque suja e claustrofóbica. A cidade é um espelho da degradação interna do protagonista. A banda sonora de Rob Simonsen, gravada pela banda Idles, intensifica a atmosfera sufocante, ora pulsante, ora melancólica.

Violência, humor e o risco do desequilíbrio

A violência é extrema, mas nunca gratuita: traduz a descida de Hank ao seu próprio inferno. Ainda assim, Aronofsky injeta humor negro através de personagens caricaturais, como o mafioso russo de Nikita Kukushkin ou a dupla de vilões insana interpretada por Liev Schreiber e Vincent D’Onofrio. Esse contraste gera momentos de ironia eficaz, mas por vezes choca com o peso dramático da narrativa.

Um final que divide

Depois de tanto caos e intensidade, o desfecho surge surpreendentemente sereno, quase em contraste com a brutalidade anterior. A escolha de Aronofsky pode frustrar quem esperava uma verdadeira tragédia, mas também oferece ao público uma catarse inesperada.

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Apanhado a Roubar é imperfeito, mas fascinante. Darren Aronofsky volta a provocar desconforto e reflexão, confirmando que o seu cinema é sempre uma experiência visceral. Austin Butler assina aqui uma das interpretações mais intensas da carreira, dando corpo e alma a um protagonista em guerra consigo próprio. É um thriller duro, inquietante e por vezes contraditório — mas que não deixa ninguém indiferente.

The Roses: Benedict Cumberbatch e Olivia Colman em Comédia Negra que Chega Já Esta Semana

Benedict Cumberbatch, conhecido tanto por papéis dramáticos intensos como por blockbusters de Hollywood, está de volta ao grande ecrã, desta vez a explorar o género da comédia negra. The Roses, por cá, “Um Casal (Im)Perfeito” o seu novo filme, estreia nos cinemas já a 28 de agosto e promete uma abordagem divertida e cruel sobre amor, casamento e ressentimento.

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Uma História com História

O filme é realizado por Jay Roach, veterano das comédias de Hollywood (Austin PowersMeet the Parents), a partir de um argumento de Tony McNamara, nomeado duas vezes para o Óscar (A FavoritaPobres Criaturas).

A história adapta novamente o romance The War of the Roses (1981), de Warren Adler, que já tinha dado origem ao célebre filme de 1989 com Michael Douglas e Kathleen Turner. Agora, a nova versão reinventa este retrato ácido de um divórcio levado ao extremo, transformando a luta conjugal numa verdadeira guerra doméstica.

Um Elenco de Luxo

The Roses conta com um elenco de peso. Para além de Benedict Cumberbatch, que protagoniza o filme, e da vencedora do Óscar Olivia Colman, surgem ainda nomes como Andy Samberg e Kate McKinnon (ambos distinguidos pelos seus trabalhos em Saturday Night Live), Allison Janney (Eu, Tonya), Ncuti Gatwa (Doctor Who), Jamie Demetriou(Fleabag) e Zoë Chao (Amor de Improviso).

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A Receção da Crítica

Antes da estreia oficial, o filme já chegou às mãos da crítica e estreou com uma classificação de 66% no Rotten Tomatoes, o que indica uma receção maioritariamente positiva. Os elogios recaem sobretudo na química entre Cumberbatch e Colman, cuja dinâmica cómica parece sustentar esta nova versão de um clássico.

Estreia

The Roses chega às salas de cinema no dia 28 de agosto e será uma das primeiras grandes apostas da temporada de outono, logo após o habitual calendário de estreias do verão.

Os Filmes-Acontecimento Que Marcaram 2025 nas Salas de Cinema em Portugal 🎬

2025 já vai deixando claro quais foram os títulos que mobilizaram multidões e geraram conversa em Portugal. Entre blockbusters de Hollywood, produções brasileiras de peso e até uma comédia nacional que surpreendeu nas bilheteiras, o ano cinematográfico foi marcado por momentos de verdadeiro entusiasmo coletivo.

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Mufasa: O Rei Leão — O Rugido Mais Forte do Ano 🦁

A prequela do clássico da Disney tornou-se no filme mais visto em Portugal em 2025, com 219 725 espectadores e 1,38 milhões de euros de receita. O público familiar respondeu em massa à proposta da Disney, confirmando que o universo de O Rei Leão continua a ser um fenómeno cultural incontornável, mais de 30 anos depois da estreia do original.

Sonic 3: O Filme — O Ouriço Mais Rápido da Bilheteira

Outra aposta para toda a família, Sonic 3 acelerou até aos 128 345 espectadores e ultrapassou os 779 mil euros em receitas. Entre nostalgia dos fãs dos videojogos e novos seguidores conquistados pela saga cinematográfica, o ouriço azul mostrou que ainda tem energia de sobra para dominar o grande ecrã.

Ainda Estou Aqui — O Brasil a Conquistar o Público Português

Walter Salles trouxe a sua força dramática a Portugal com Ainda Estou Aqui, que acumulou 122 734 espectadores e 807 mil euros arrecadados. O filme provou que as produções brasileiras podem ocupar espaço de destaque no mercado português, conquistando tanto pelas interpretações como pela proximidade cultural.

O Pátio da Saudade — O Fenómeno Nacional 🌟

A grande surpresa de 2025 veio de casa. Estreado a 14 de agosto, O Pátio da Saudade, de Leonel Vieira, tornou-se rapidamente no filme português mais visto do ano, com 15 000 bilhetes vendidos em apenas quatro dias e cerca de 105 mil euros em receitas.

Mais do que números, foi o entusiasmo do público que transformou a comédia dramática num acontecimento cultural nacional. Em poucas sessões, o filme provou que o cinema português consegue competir pela atenção dos espectadores quando encontra histórias com forte apelo popular.

O Que Nos Dizem Estes Números?

Seja com animações globais de milhões, dramas intensos vindos do Brasil ou uma produção portuguesa a encher salas, 2025 reforça a ideia de que o público ainda responde quando sente que está perante um “filme-evento”. A questão é saber como replicar esta fórmula de forma consistente.

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O futuro imediato aponta para apostas seguras como Spider-Man: Brand New Day (2026), mas em Portugal fica a nota de que há espaço — e apetite — para cinema nacional com impacto popular.

Crise de Super-Heróis: 2025 Fecha com o Pior Balanço de Bilheteira Desde 2011

Acabaram-se os filmes de super-heróis em 2025 — e o veredito não é nada animador. Este foi o ano em que se consolidou a chamada “fadiga de super-heróis”, com os quatro títulos lançados a ficarem todos abaixo das expectativas, tanto nos Estados Unidos como no mercado internacional.

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Um ano sem campeões de bilheteira

Nenhum filme ultrapassou a barreira dos 700 milhões de dólares a nível mundial, algo que não acontecia desde 2011 — com a exceção de 2020, quando a pandemia fechou as salas. Eis os números:

  • Capitão América: Admirável Mundo Novo – 415 milhões de dólares
  • Thunderbolts* – 382 milhões
  • Quarteto Fantástico: Primeiros Passos – 491 milhões
  • Superman – 605 milhões

Embora Superman e Quarteto Fantástico ainda estejam em cartaz, a tendência já é descendente.

Em Portugal, impacto modesto

No mercado português, os resultados confirmam a mesma tendência morna. Superman foi o mais visto, com 179 mil espectadores, seguindo-se Quarteto Fantástico (170 mil), Capitão América (162,5 mil) e Thunderbolts (126 mil). Nenhum entrou no “clube” dos filmes-acontecimento.

Onde estão os tempos de glória?

A comparação com os anos dourados do género é inevitável. Em 2012, Os Vingadores abriu as portas para uma era de ouro, com sucessos que se aproximavam ou ultrapassavam mil milhões de dólares, culminando em Vingadores: Endgame(2019) com uns impressionantes 2,79 mil milhões.

Mesmo a DC viveu o seu auge, de Homem de Aço (2013) ao primeiro Aquaman (2018), que arrecadou 1,15 mil milhões.

De lá para cá, apenas alguns títulos quebraram a barreira do entusiasmo: Spider-Man: No Way Home (2021), Doctor Strange in the Multiverse of Madness (2022), Black Panther: Wakanda Forever (2022), Guardians of the Galaxy Vol. 3(2023) e Deadpool & Wolverine (2024).

Superman: sucesso ou sinal de alarme?

Apesar de ter sido o primeiro filme da DC em 16 anos a superar uma produção da Marvel (o último tinha sido O Cavaleiro das Trevas, em 2008), Superman também traz sinais preocupantes. Quase 60% das receitas vieram do mercado doméstico (EUA e Canadá), quando os blockbusters costumam brilhar sobretudo no mercado internacional.

James Gunn e a Warner Bros. falam em “grande sucesso”, mas os analistas são cautelosos: o público fiel compareceu, mas os espectadores casuais, fundamentais para fazer disparar os números, ficaram em casa.

2026: ano de tudo ou nada?

O futuro imediato do género joga-se já no próximo ano. A Sony aposta em Spider-Man: Brand New Day, embora dificilmente se aproxime dos valores de No Way Home. Todas as atenções, no entanto, estão voltadas para Avengers: Doomsday, o projeto mais ambicioso da Marvel em anos, atualmente em rodagem em Londres e que trará Robert Downey Jr. de volta — mas agora como vilão.

Do lado da DC, a expectativa recai sobre Supergirl, que terá a missão de provar que a “fadiga” ainda pode ser revertida.

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Uma coisa é certa: depois do desastroso 2025, o género precisa urgentemente de um novo fôlego. Caso contrário, os super-heróis podem estar a enfrentar o seu maior inimigo até hoje — a indiferença do público.

Nicolas Cage em “O Surfista”: o regresso intenso que vai abalar os cinemas portugueses

Nicolas Cage não para de surpreender. Depois de incursões no fantástico, no drama e até no terror indie, o ator norte-americano regressa agora às salas portuguesas com O Surfista, um thriller psicológico inquietante que promete deixar os espectadores desconfortáveis na cadeira. O filme, realizado por Lorcan Finnegan (Vivarium), estreia em Portugal a 11 de setembro, com distribuição da NOS Audiovisuais.

De Cannes a Lisboa: um filme que não deixa ninguém indiferente

Apresentado em estreia mundial no Festival de Cannes de 2024 e integrado na seleção oficial do MOTELX no mesmo ano, O Surfista conquistou destaque internacional pela forma como transforma uma história aparentemente simples num estudo sobre pertença, orgulho e alienação.

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A premissa é direta: um homem regressa à praia idílica da sua infância com o filho, pronto para voltar a surfar. Mas rapidamente se vê expulso pelos surfistas locais, que seguem a regra rígida — “não vives aqui, não surfas aqui”. A partir desse momento, o que poderia ser um reencontro nostálgico com o passado transforma-se num espiral de conflito e humilhação, onde a raiva e o calor sufocante do verão empurram o protagonista para o limite.

Nicolas Cage em registo visceral

Conhecido por mergulhar de corpo inteiro em personagens intensas, Cage encontra aqui mais um papel feito à medida da sua entrega visceral. Sem espaço para heróis fáceis ou vilões óbvios, O Surfista propõe uma jornada densa e perturbadora, onde as fronteiras entre vítima e agressor se desmoronam.

O filme destaca-se por evitar explicações simplistas: em vez disso, obriga o espectador a lidar com o desconforto da exclusão, da hostilidade e da perda do lugar que um dia se chamou “casa”.

O peso da crítica social em ritmo de thriller

Para além da tensão psicológica, O Surfista funciona como metáfora poderosa sobre pertença, identidade e o choque entre tradição e forasteiro. É cinema que provoca, que recusa respostas fáceis e que deixa a audiência a refletir muito depois do genérico final.

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Com estreia marcada para 11 de setembro nas salas portuguesas, esta nova aposta de Nicolas Cage promete ser um dos títulos mais falados do outono. Prepare-se para um mergulho em águas agitadas — e nada convidativas.