Uma adaptação animada de luxo para um clássico sempre actual
A nova adaptação animada de O Triunfo dos Porcos (Animal Farm), realizada por Andy Serkis, acaba de dar um passo decisivo rumo às salas de cinema. O filme foi adquirido pela Angel para distribuição teatral nos Estados Unidos e tem estreia marcada para 1 de Maio de 2026, com lançamento em grande escala. A notícia foi acompanhada pela revelação do primeiro trailer oficial, apresentado em exclusivo, e confirma que esta versão do clássico de George Orwell está a ser preparada como um dos grandes acontecimentos da animação dos próximos anos.
O projecto conta com um elenco vocal verdadeiramente impressionante, reunindo nomes como Seth Rogen, Glenn Close, Woody Harrelson, Kieran Culkin, Jim Parsons, Kathleen Turner, Laverne Cox e Iman Vellani, entre muitos outros. A produção esteve a cargo da Aniventure e da Imaginarium Productions, com animação da reputada Cinesite, e teve estreia mundial no Festival Internacional de Cinema de Animação de Annecy, onde gerou forte expectativa.
Andy Serkis e a urgência de Orwell em 2025
Andy Serkis, que assina aqui não só a realização como também dá voz a duas personagens — Mr. Jones e Randolph, o galo —, assume esta adaptação como uma obra profundamente política e contemporânea. “O Triunfo dos Porcos nunca pareceu tão relevante”, afirmou o cineasta, sublinhando que vivemos numa era moldada por poder, propaganda e desigualdade.
Para Serkis, esta não é apenas mais uma adaptação literária: é um aviso. Um lembrete de que democracia, liberdade e integridade são frágeis e exigem vigilância constante. O realizador espera que o público saia da sala “comovido, pensativo e inspirado a defender os valores que realmente importam”, reforçando o carácter interventivo do filme.
Um elenco que dá voz à sátira política
No elenco vocal, Seth Rogen interpreta o porco Napoleão, Glenn Close dá voz a Freida Pilkington, Woody Harrelson é Boxer e Kieran Culkin assume o papel de Squealer. Gaten Matarazzo surge como Lucky, Laverne Cox interpreta Snowball, Jim Parsons é Carl, Kathleen Turner dá voz a Benjamin e Iman Vellani interpreta os leitões Puff e Tammy.
A diversidade e o peso dramático do elenco reforçam a ambição do projecto, que procura equilibrar fidelidade ao texto original de Orwell com uma abordagem acessível a novos públicos, sem diluir a força da alegoria política.
Angel aposta forte numa animação com consciência
A Angel, empresa sediada no Utah e anteriormente conhecida como Angel Studios, vê neste filme um projecto com enorme impacto cultural. Brandon Purdie, vice-presidente executivo da área teatral e de desenvolvimento de marca, descreve O Triunfo dos Porcos como “um projecto de enorme coração”, elogiando a visão de Serkis e sublinhando que, apesar de protagonizado por animais, o filme funciona como um espelho inquietante do mundo actual.
Adam Nagle, CEO da Aniventure, destacou ainda a importância da parceria com a Angel, sublinhando a capacidade da empresa para ligar histórias relevantes a grandes audiências, garantindo que esta adaptação chegue ao maior número possível de espectadores.
Um clássico reinventado para o grande ecrã
Com argumento de Nicholas Stoller e uma abordagem visual ambiciosa, O Triunfo dos Porcos promete ser mais do que uma simples adaptação animada de um clássico literário. É uma declaração política, uma sátira feroz e uma obra pensada para provocar reflexão num tempo em que as advertências de Orwell soam perigosamente actuais.
Se o trailer é indicativo do tom final, estamos perante um filme que não foge às suas responsabilidades e que pretende usar a animação como veículo de pensamento crítico — algo cada vez mais raro no cinema de grande distribuição.
No vasto mar de séries lançadas por plataformas de streaming, há títulos que brilham intensamente… mas apenas para quem teve a sorte de os encontrar. Undone, estreada em 2019 na Prime Video, é um desses casos raros: uma obra-prima discreta, experimental, emocionalmente devastadora e, ainda assim, profundamente divertida — e que inexplicavelmente passou ao lado do grande público.
Seis anos depois, vale a pena dizê-lo sem rodeios: Undone é uma das melhores séries de ficção científica do século. E continua a ser um dos segredos mais bem guardados da televisão moderna.
Uma viagem no tempo — e ao interior de uma mente em fratura
Criada por Kate Purdy e Raphael Bob-Waksberg (a dupla por trás de BoJack Horseman), Undone segue Alma Winograd-Diaz, interpretada pela extraordinária Rosa Salazar, cuja vida muda radicalmente após um acidente de viação. A partir daí, Alma percebe que consegue deslocar-se livremente no tempo — e decide usar essa capacidade para investigar a misteriosa morte do pai, interpretado por Bob Odenkirk.
Mas ao contrário de muitas narrativas sobre viagens temporais, Undone não está interessada em paradoxos cósmicos, nem em batalhas épicas. O que a série faz é mais íntimo, mais arriscado e muito mais perturbador: mergulha-nos no caos da memória, da identidade, da dor e da culpa.
A ficção científica é apenas a superfície; o que está por baixo é puro drama humano.
Animação rotoscópica que parece um sonho vivo
Visualmente, Undone é uma experiência singular. Filmada com actores reais e posteriormente animada em rotoscopia — uma técnica que confere aos movimentos um realismo fantasmagórico — a série situa-se num espaço entre o real e o impossível.
A comparação mais directa talvez seja Waking Life ou A Scanner Darkly de Richard Linklater. Mas mesmo estas referências não chegam para descrever o efeito de ver Alma cruzar portas que se transformam em memórias, mergulhar em pinturas abertas como portais e atravessar o passado como quem percorre uma casa familiar.
É como assistir a um sonho lúcido — um que nos quer dizer algo urgente.
Uma interpretação monumental de Rosa Salazar
É impossível falar de Undone sem sublinhar a performance de Rosa Salazar, que oferece um equilíbrio improvável entre humor, fragilidade, ironia e desespero absoluto. A série exige-lhe que mantenha os pés no chão enquanto a realidade desmorona ao seu redor — e ela fá-lo com uma autenticidade quase dolorosa.
Bob Odenkirk, por sua vez, dá ao pai de Alma um magnetismo ambíguo: protector? Manipulador? Mentor? Fantasma? Tudo ao mesmo tempo.
O elenco secundário (Daveed Diggs, Jeanne Tripplehorn, Angelique Cabral, John Corbett) completa uma série onde cada personagem importa — porque cada relação é uma peça do puzzle emocional de Alma.
O que torna “Undone” tão especial?
Porque é que esta série, apesar dos elogios, não encontrou o público que merecia? As razões podem ser várias — estética exigente, natureza introspectiva, marketing discreto — mas o essencial mantém-se: Undone continua a ser uma das experiências mais originais alguma vez produzidas pela Prime Video.
É profunda sem ser pretensiosa.
É experimental sem ser inacessível.
É surreal sem perder o coração.
E acima de tudo, é uma história sobre família, perdão e o modo como o tempo — real ou psicológico — molda quem somos.
Dois anos, duas temporadas, uma obra completa
Undone durou apenas duas temporadas. Para alguns, foi cancelada cedo demais; para outros, disse tudo o que tinha a dizer. O certo é que deixou uma marca indelével: uma série pequena no formato, mas gigante na ambição.
E se há 6 anos muitos a ignoraram, hoje já não há desculpa. Está ali, inteira, pronta a ser descoberta — e a mexer connosco.
Há anúncios que abanam uma fandom inteira — e depois há aqueles que praticamente abalam a internet. A notícia avançada por The Hollywood Reporter e Deadline pertence à segunda categoria: Jennifer Lawrence e Josh Hutcherson estão prestes a regressar ao universo de The Hunger Games. Sim, Katniss Everdeen e Peeta Mellark — os rostos que definiram uma geração de adaptações YA — vão voltar ao grande ecrã.
O novo filme, The Hunger Games: Sunrise on the Reaping, é uma prequela baseada no romance homónimo, e tudo indica que os dois actores reaparecerão numa sequência em flash-forward que faz parte do livro. Não se trata, portanto, de um “regresso completo”, mas sim de uma presença especial que promete deixar os fãs a chorar, a tremer ou simplesmente a berrar para o ecrã — tudo válido dentro da etiqueta emocional da saga.
A produtora Lionsgate preferiu manter um silêncio estratégico, mas as fontes das publicações norte-americanas são firmes: Lawrence, hoje com 35 anos, volta a vestir a pele da icónica Rapariga em Chamas; Hutcherson, 33, regressa como o eterno aliado, cúmplice e tormento emocional dos espectadores, Peeta Mellark.
Um reencontro que os actores sempre desejaram
O entusiasmo dos fãs não podia ser maior, mas a verdade é que tanto Lawrence como Hutcherson já tinham deixado a porta escancarada. A actriz, que ganhou fama mundial com o papel de Katniss, confessou há alguns anos que estaria “totalmente disponível” para regressar ao papel que marcou a sua carreira. Josh Hutcherson, por sua vez, afirmou à Variety — com a candura típica de Peeta — que “seria lá num instante”, caso o chamassem.
Ora, chamaram.
Para milhões de espectadores que cresceram com a trilogia original e com Mockingjay – Part 2, este regresso é mais do que uma notícia cinematográfica: é um reencontro com personagens que ficaram, para sempre, coladas ao imaginário colectivo. E basta dar uma vista de olhos às reacções online para perceber a dimensão do impacto: um fã escreveu que isto “é como a Rihanna voltar à música”, enquanto outro foi ainda mais longe, dizendo que é “basicamente Jesus a regressar à Terra”.
Não está fácil competir com este nível de entusiasmo.
Entre a nostalgia e a surpresa (quase) roubada
Se muitos caíram em euforia completa, houve também quem lamentasse que a novidade tenha sido revelada tão cedo. Alguns fãs defendem que este podia ter sido aquele momento cinematográfico guardado a sete chaves, só descoberto na sala de cinema — um choque emocional digno de distritos inteiros em revolução.
Mas o universo Hunger Games sempre foi feito de antecipação, de especulação e de corações acelerados. E a verdade é esta: saber que Katniss e Peeta vão voltar só aumenta a expectativa para um filme que, por si só, já era um dos eventos cinematográficos mais aguardados do próximo ano.
Resta agora esperar para ver como será este reencontro — e em que moldes a história da prequela irá ligar-se de forma tão directa às páginas finais da saga original. Uma coisa é certa: poucas franquias conseguem provocar esta onda instantânea de nostalgia, adrenalina e emoção. A chama, pelos vistos, nunca se apagou.
Há entrevistas de actores que soam a promoção automática e depois há conversas que parecem uma aula aberta de cinema, empaquetada em confidências pessoais. Foi isso que aconteceu quando Sydney Sweeney, 28 anos, e Ethan Hawke, 55, se sentaram frente a frente para falar de Christy, de Blue Moon, de boxe, de teatro, de filhos e da arte de se atirar de cabeça a um papel.
No meio de histórias de bastidores, cabeçadas reais no ringue, crises existenciais e memórias de Dead Poets Society, ficou uma frase que praticamente resume o tom da conversa: “Man, I wish you were my dad”, diz Sweeney a Hawke, já perto do fim. Não é apenas uma graçola – é a forma mais directa de reconhecer aquilo que a entrevista mostra do início ao fim: um actor veterano em modo mentor, e uma das estrelas do momento a absorver tudo.
Em Christy, Sydney Sweeney interpreta Christy Martin, lenda do boxe feminino e pioneira num mundo dominado por homens. No ecrã, vemos uma campeã invencível no ringue, enquanto fora dele se afunda num casamento-abuso com o marido/treinador. Sweeney não chegou ao projecto por acaso: andava à procura de histórias de combate.
“Cresci a fazer kickboxing, queria algo mais físico”, conta. Quando o argumento sobre Christy lhe chegou às mãos, a meio da leitura já estava em lágrimas. No fim, ligou de imediato ao realizador David Michôd para praticamente implorar o papel: “Disse-lhe: faço qualquer coisa, quero perder-me nisto.”
E perdeu mesmo. Treinou duas vezes por dia, todos os dias, ganhou cerca de 15 quilos de massa, levou socos a sério e acabou com uma concussão de que fala com um orgulho quase perverso. As coreografias de combate foram recriadas a partir das lutas reais de Christy; ela insistiu que as duplas de risco lhe batessem a sério. “Houve narizes a sangrar. Era real”, diz, mais divertida do que arrependida.
Hawke reconhece esse “alto” de desaparecermos dentro de um papel: “Quando é bom, a representação não é sobre ti. É um estado que ando a perseguir há 40 anos.”
Ethan Hawke, pai, mentor e cúmplice cinéfilo
A ligação de Hawke a Christy começou em casa. O actor conta que a primeira vez que viu o filme foi porque a filha de 17 anos, zero impressionada com a carreira do pai, lhe mandou mensagem a perguntar se queria ir ao cinema. “Quero ver o novo filme da Sydney Sweeney”, disse-lhe ela. Ele obedeceu.
Entre hambúrgueres vegetarianos e uppercuts emocionais, saíram da sessão com uma conversa séria sobre abuso, dependência emocional e o labirinto de sair de uma relação tóxica. A filha pediu-lhe para agradecer a Sweeney por ter contado aquela história. É desse lugar de pai que Hawke olha para a colega: com a mistura perfeita de orgulho, respeito e entusiasmo genuíno pelo que ela está a construir.
Ao longo da conversa, Hawke vai alternando entre anedotas de carreira — da vez em que quis ser trompetista de jazz como Chet Baker até ao trauma de ter levado tareia na única luta de boxe em que entrou depois de ver Rocky — e conselhos muito concretos sobre ofício. De como memoriza diálogos (passar tudo à mão, ouvir gravações, atar os atacadores enquanto diz o texto) à forma como, inspirando-se em Paul Newman, tenta ficar com o melhor dos seus personagens e “desligar” os traços que reconhece como sombrios em si próprio.
Christy, Cassie e a arte de não ter plano B
Se Euphoria foi “o início de tudo” para Sweeney, Christy é o papel que, por agora, resume o ponto em que ela está: uma actriz que já provou que sabe ir ao limite e que não tem medo de decisões “malucas” em cena. Com Cassie, diz, teve de aprender a não julgar o que fazia, a atirar-se sem rede, a aceitar que as melhores takes às vezes nascem da improvisação emocional mais arriscada.
Hawke reconhece o método: também Richard Linklater lhe pedia, em Blue Moon, que fizesse uma versão “sem filtro” das cenas, onde dissesse e fizesse tudo aquilo que, noutras circunstâncias, teria vergonha de experimentar. Quase sempre, é daí que vem o ouro.
Sweeney conta ainda que começou a trabalhar aos 12 ou 13 anos e que nunca teve plano B. “Não estou preparada para falhar”, diz. Hawke concorda: quando a vocação aparece tão cedo, mais do que uma escolha, é um facto biográfico. E recorda como percebeu muito cedo que a arte iria salvar a vida da filha Maya Hawke, hoje estrela de Stranger Things e do cinema independente.
De “Dead Poets Society” a “Christy”: personagens que ficam connosco
Há um momento bonito em que Hawke fala do impacto duradouro de certos filmes. Décadas depois de Dead Poets Society, continuam a abordá-lo em cafés para lhe dizer “O Captain! My Captain!”. E é com essa perspectiva de longo prazo que ele diz a Sweeney que, daqui a 10 ou 15 anos, novas gerações lhe vão contar como Christy lhes mudou a forma de olhar para o abuso, o desespero e a resistência.
A conversa também entra em territórios mais dolorosos, como a relação de Christy com a mãe — uma cena que Sweeney descreve como uma das mais difíceis de rodar, por não conseguir compreender um pai ou mãe incapaz de proteger o próprio filho. Hawke pega nesse tema para falar dos pais que projectam nos filhos uma imagem de espelho, em vez de os verem como pessoas autónomas. É aqui que se nota, mais do que nunca, o lado “pai em serviço” de Ethan.
No fim, quando ele a encoraja a experimentar teatro e lhe diz que o nervosismo é só falta de prática, Sweeney solta a frase que já corre as redes sociais: “Man, I wish you were my dad.” Ele ri-se, mas a verdade é que, ao longo da entrevista, funcionou exactamente como tal: a tranquilizá-la, a validar o que ela faz, a lembrá-la de que a vulnerabilidade é uma força e que o mundo responde quando um actor tem coragem de se atirar ao abismo.
Para o resto de nós, que só podemos assistir de fora, fica a sensação de termos espreitado um daqueles raros momentos em que a promoção se transforma em partilha verdadeira sobre aquilo que nos faz amar o cinema: histórias que nos lembram quem somos, quem podíamos ser — e como, às vezes, é preciso levar um murro bem dado para acordar.
A relação entre Hollywood e a inteligência artificial sempre foi um casamento difícil: muita desconfiança, muita negociação, muitas linhas vermelhas. Mas esta quinta-feira, a Disney decidiu atravessar o espelho e assumir, sem reservas, que o futuro passa mesmo por aqui. A companhia anunciou um investimento de mil milhões de dólares na OpenAI e um acordo de licenciamento que permite ao Sora — a ferramenta de criação de vídeo da empresa — utilizar personagens das suas maiores franquias, como Star Wars, Pixar e Marvel.
É um gesto que não apenas altera as regras do jogo: estabelece um novo tabuleiro.
Trata-se de uma parceria para três anos que, se correr como ambas as partes esperam, poderá redefinir a forma como os estúdios criam conteúdos e como o público interage com as suas marcas favoritas. O acordo surge numa altura em que Hollywood ainda digere as polémicas recentes sobre IA e direitos de imagem, mas Disney e OpenAI avançam com o objectivo declarado de “trabalhar de forma responsável”, deixando de fora qualquer uso de semelhanças vocais ou físicas de actores reais.
A partir do início de 2025, o Sora e o ChatGPT Images poderão gerar vídeos com figuras icónicas como Mickey Mouse, Cinderella, Mufasa, Buzz Lightyear, Spider-Man ou Darth Vader — embora sempre com sistemas de segurança que impeçam representações indevidas ou conotações abusivas. É o tipo de controlo que a Disney exige e que a OpenAI, ao que tudo indica, aceitou desde o início das conversações.
Uma conversa que começou anos antes
Segundo fontes próximas do processo, Bob Iger e Sam Altman vinham a discutir esta colaboração há anos, muito antes das ferramentas de IA generativa se tornarem omnipresentes no quotidiano digital. A Disney recebeu versões preliminares do Sora e percebeu rapidamente que havia um potencial criativo difícil de ignorar — especialmente para um estúdio que vive de personagens, mundos e narrativas visuais.
Durante uma chamada com investidores em Novembro, Iger já tinha deixado escapar parte da estratégia: abrir espaço para que assinantes da Disney+ criem os seus próprios conteúdos curtos utilizando ferramentas de IA. Agora, tudo ganha forma concreta. Os vídeos criados pelos utilizadores poderão, inclusive, ser disponibilizados na própria plataforma, tornando o streaming num ecossistema mais interactivo e dinâmico.
Além disso, a Disney terá direito a warrants para adquirir participação adicional na OpenAI, reforçando a natureza estratégica — e não apenas operacional — da parceria.
A revolução interna e os receios externos
O acordo prevê ainda que a Disney adopte o ChatGPT nas suas equipas internas e utilize modelos da OpenAI para apoio em processos de produção, procurando optimizar etapas e tornar certas áreas mais eficientes. Numa indústria marcada por orçamentos gigantes e calendários apertados, esta integração pode significar uma reorganização profunda de fluxos de trabalho.
Mas, naturalmente, há nuvens no horizonte. Agências e sindicatos já tinham manifestado receios sobre o impacto destas tecnologias, especialmente depois de empresas como a Midjourney terem sido alvo de acções legais por uso indevido de personagens protegidas por direitos de autor. Recorde-se que Disney e Universal processaram a empresa em Junho por precisamente esse motivo.
Ross Benes, analista da Emarketer, não vê forma de travar este movimento: “Um gigante do entretenimento a juntar-se a uma empresa de IA vai inevitavelmente gerar reacções negativas, mas os sindicatos têm pouca margem para travar a maré.”
Há também um conflito latente entre estúdios e gigantes tecnológicos: no próprio dia do anúncio, a Disney enviou uma carta de cessar e desistir à Google, alegando infração de direitos por parte de sistemas de geração de imagem.
O futuro do conteúdo já começou
No meio das tensões e euforias, há um facto inegável: nunca um estúdio deste calibre tinha licenciado oficialmente personagens para uma IA generativa. E isso abre portas a um novo território onde criatividade, tecnologia e negócios se cruzam de forma irreversível.
Para os espectadores, poderá significar experiências personalizadas com figuras que moldaram a infância de várias gerações. Para os criadores, um desafio sem precedentes: reinventar-se num mundo onde ferramentas poderosas multiplicam possibilidades… e também responsabilidades.
Disney e OpenAI prometem fazê-lo “com respeito pelos criadores”. Hollywood, entretanto, observa — hesitante, curiosa e, acima de tudo, consciente de que este é o momento em que o futuro começa a ganhar forma concreta.
O TVCine prepara-se para estrear uma das minisséries europeias mais desconfortavelmente pertinentes dos últimos anos. A Fckuldade*, produção holandesa inspirada no impacto do movimento #MeToo no meio académico, chega à televisão portuguesa no dia 15 de dezembro, às 22h10, no TVCine Edition e TVCine+.
Trata-se de uma série intensa, carregada de dilemas éticos, memórias reprimidas e um jogo de poder onde ninguém sai ileso. A narrativa acompanha Anouk Boone, interpretada por Julia Akkermans, uma jovem advogada em ascensão que se encontra à beira do momento decisivo da carreira: tornar-se a sócia mais jovem do seu prestigiado escritório. Mas aquilo que parecia um futuro promissor começa a ruir quando o passado que julgava enterrado regressa com força avassaladora.
O detonador deste processo é o professor Patrick Hartman, antigo orientador de tese de Anouk e figura carismática da Faculdade de Direito onde estudou. Quando Hartman é acusado de conduta imprópria por várias mulheres, no auge da onda #MeToo, a protagonista sente o chão desaparecer. O caso ressoa de forma perigosa na sua própria vida, já que também ela manteve uma relação íntima com o professor durante a época universitária — uma relação que, na altura, encarou como o preço necessário para conquistar espaço num mundo dominado por homens. Agora, percebe que talvez sempre tenha sido algo mais sombrio.
Com o surgimento de novas denúncias, aquilo que Anouk considerava um episódio isolado revela-se parte de um padrão alargado de abuso de poder. A situação complica-se ainda mais quando um jornalista decide investigar os casos de assédio na faculdade. A jovem advogada torna-se, então, simultaneamente testemunha, cúmplice involuntária e potencial vítima de uma verdade que tentou ignorar. O conflito moral torna-se inevitável: poderá continuar a silenciar a sua própria história? E, acima de tudo, está preparada para enfrentar aquilo que realmente aconteceu?
Realizada por Simone van Dusseldorp, A Fckuldade* mergulha nas dinâmicas tóxicas que habitam instituições aparentemente inatacáveis: universidades que se querem progressistas mas escondem hierarquias rígidas; professores brilhantes que usam o estatuto para manipular; estudantes que confundem protecção com dependência; e sistemas legais que, por vezes, erguem barreiras invisíveis entre justiça e reputação.
A série funciona tanto como drama psicológico quanto como comentário social. Convida o espectador a interrogar-se sobre as zonas cinzentas das relações de poder, sobre a forma como a ambição pode distorcer decisões e como o silêncio, mesmo quando explicado pela sobrevivência, pode alimentar ciclos de abuso. É uma obra especialmente relevante num tempo em que o #MeToo continua a revelar as fissuras éticas de múltiplos sectores profissionais.
A Fckuldade* propõe uma narrativa que não procura respostas fáceis. Prefere explorar o desconforto, a ambiguidade e a culpa — elementos que raramente surgem de forma tão frontal em televisão. E, ao fazê-lo, oferece-nos um retrato brutalmente honesto de uma mulher obrigada a revisitar a história que passou a vida a tentar descrever de modo menos doloroso.
Com estreia marcada para 15 de dezembro, às 22h10, e exibição nas segundas-feiras seguintes, esta é, sem dúvida, uma das séries mais desafiantes e pertinentes do final do ano — uma reflexão sobre o poder e as suas fronteiras, sobre o preço do silêncio e sobre o difícil processo de recuperar a verdade quando esta ameaça destruir tudo o que foi construído.
Billie Eilish está prestes a invadir as salas de cinema portuguesas — e desta vez não apenas com a sua voz, mas com uma experiência audiovisual concebida ao milímetro para surpreender. Já foram revelados o trailer e as fotografias oficiais de Billie Eilish – Hit Me Hard and Soft: The Tour (Live in 3D), o filme-concerto que transforma a digressão mundial da artista num espetáculo cinematográfico imersivo. A estreia em Portugal está marcada para 19 de março de 2026.
A produção chega com um detalhe que ninguém esperava: James Cameron assina a realização ao lado da própria Billie Eilish. Se há alguém capaz de reinventar a forma como a música se vê e se sente no grande ecrã, é o cineasta que levou o 3D para um novo patamar em Avatar. Agora, Cameron aplica essa tecnologia ao universo emocional e atmosférico de Hit Me Hard and Soft, álbum e digressão que marcaram um novo capítulo artístico na carreira de Billie — mais maduro, mais íntimo e mais cinematográfico.
O material agora divulgado oferece o primeiro olhar sobre esta experiência: palcos envoltos em néons líquidos, movimentos de câmara que amplificam a presença magnética de Billie e um design sonoro pensado para envolver o público como se este estivesse no centro da multidão. Gravado ao longo da digressão internacional esgotada, o filme pretende capturar não apenas a energia do espetáculo ao vivo, mas também a vulnerabilidade e a intensidade que Billie Eilish transporta para cada atuação.
Em 3D, tudo ganha outra dimensão: as coreografias, os ambientes minimalistas, os jogos de luz que caracterizam a estética da artista e até os momentos de absoluta quietude emocional. Esta não é apenas a transposição de um concerto para cinema; é uma reformulação visual e sensorial da própria linguagem de palco da artista.
O filme-concerto chega às salas portuguesas através da Paramount Pictures, em parceria com a Darkroom Records, Interscope Films e Lightstorm Entertainment, com distribuição da NOS Audiovisuais. É um encontro improvável — e estimulante — entre uma das vozes mais influentes da música contemporânea e uma das figuras mais ambiciosas da história do cinema. Não é descabido imaginar que Hit Me Hard and Soft: The Tour (Live in 3D) poderá redefinir o que significa filmar um concerto para cinema, tal como Cameron redefiniu a experiência 3D em ficção científica.
A sinopse oficial reforça essa intenção: esta é uma viagem imersiva, captada durante uma digressão mundial esgotada, que convida o espectador a entrar na atmosfera emocional que Billie constrói em palco — uma zona onde intimidade e espectáculo coexistem sem contradição.
Se 2026 promete ser marcado por grandes regressos, sequelas épicas e sagas espaciais de milhões, também trará, graças a Billie Eilish, um cinema de proximidade, pulsação e presença. Um cinema que canta, respira e vibra. Um cinema que não pede ao espectador para olhar, mas para sentir.
E com James Cameron atrás de uma das câmaras, não há dúvida: esta digressão está prestes a tornar-se ainda maior do que já era.
Há fenómenos que só Nicolas Cage consegue conjugar: espiritualidade, terror bíblico, excentricidade absoluta e a sensação permanente de que estamos sempre a dois segundos de um clássico de culto. The Carpenter’s Son, o mais recente capítulo da fase avant-garde da carreira do actor, chegou finalmente às plataformas digitais — e, ironicamente, a tempo do Natal. Nada como celebrar a época com um “filme de terror sobre Jesus” protagonizado por Cage como… José, o pai do futuro Messias.
Realizado e escrito por Lotfy Nathan, The Carpenter’s Son é descrito oficialmente como uma história de guerra espiritual numa aldeia remota do Egipto romano, onde José, Maria e o jovem Jesus vivem sob ameaça constante de forças sobrenaturais. É uma premissa que parece saída de um manuscrito apócrifo filtrado por um autor de ficção grotesca. Ainda assim, na prática, funciona como o que Hollywood sempre soube fazer bem: uma fábula sombria sobre fé, identidade e tentação, com uma reinterpretação radical da infância do Cristo bíblico.
O filme acompanha a família enquanto uma paragem num pequeno povoado desencadeia o que se revela ser um confronto directo com o Mal. A responsável por mover as peças é uma jovem misteriosa, interpretada por Isla Johnston, que tenta seduzir Jesus para um mundo proibido — um mundo que José reconhece instintivamente como perigoso. O receio transforma-se em terror quando fenómenos violentos e inexplicáveis começam a seguir o rapaz, até que a verdade é revelada: a “nova amiga” de Jesus tem um nome que dispensa apresentações. Satanás — ou melhor, “Suhtan”, como se tornou viral graças ao trailer — surge aqui numa forma infantil e profundamente inquietante.
No centro desta narrativa está um Nicolas Cage que continua a refinar a sua carreira como sumo sacerdote do cinema arriscado. Depois de títulos como Mandy, Pig, Dream Scenario e o recente Longlegs, Cage demonstra novamente que não tem medo de mergulhar em personagens que desafiam convenções e que, muitas vezes, vivem entre o ridículo e o sublime. Desta vez, interpreta um José consumido pelo pânico e pela impotência, tentando proteger um filho cujo destino parece inevitavelmente maior do que a sua própria compreensão.
Curiosamente, apesar da premissa ousada e do nome de Cage no topo do cartaz, The Carpenter’s Son passou despercebido quando estreou. O filme não recebeu a atenção que títulos mais comerciais do actor têm conquistado nos últimos anos. Agora, disponível em plataformas como Apple TV, Prime Video e Fandango, tem finalmente a oportunidade de encontrar o público que lhe faltou no circuito tradicional — e talvez de se tornar o fenómeno “meme-bíblico-sensação” para o qual nasceu.
Em paralelo, o filme toca também numa sensibilidade muito peculiar da época: a reinvenção irreverente de narrativas sagradas. Nathan não persegue blasfémia gratuita, mas um thriller espiritual deliberadamente desconfortável, onde a proximidade de Jesus à humanidade é confrontada com a inevitabilidade da sua mitologia. Noah Jupe interpreta um Messias adolescente cheio de dúvidas, presságios e medo — um contraste poderoso com o imaginário canónico que conhecemos.
No meio disto tudo, há ainda FKA twigs como Maria, oferecendo uma performance austera e magnética, e uma atmosfera que oscila entre o terror psicológico, o misticismo ancestral e um humor involuntário que emerge sobretudo graças à própria existência de um filme onde Jesus é assombrado por uma versão infantil do Diabo.
Com a chegada do filme ao streaming, o culto pode finalmente consolidar-se. E sim, é quase garantido que a pronúncia “Suhtan” vá ecoar internet fora como o novo grito de guerra dos fãs de Cage — a meio caminho entre a religião e o absurdo absoluto.
Se The Carpenter’s Son será a escolha perfeita para acompanhar o espírito natalício? Isso fica para cada espectador decidir. Mas, para quem aprecia a vertente mais destemida, ousada e deliciosamente estranha de Nicolas Cage, este pode muito bem ser o filme de Natal mais subversivo do ano.
Vinte e cinco anos depois de Gladiator ter arrebatado o Óscar de Melhor Filme e transformado Russell Crowe num ícone moderno da épica romana, o actor decidiu finalmente falar — e não poupou nas palavras. Embora sempre tenha demonstrado apoio cordial a Gladiator II, o actor australiano não participou na sequela por razões óbvias: Maximus morreu em 2000, e Crowe nunca escondeu que preferia deixá-lo descansar em paz. Mas, numa entrevista recente à Triple J, o actor deixou claro que, apesar do sucesso de streaming que o filme encontrou posteriormente, algo fundamental se tinha perdido pelo caminho.
Crowe foi directo ao ponto: segundo ele, Gladiator II não compreendeu aquilo que fez do primeiro filme uma obra especial. E o problema, garante, não está na escala, nos cenários, nem sequer nas batalhas. Está no que Ridley Scott decidiu alterar — ou ignorar.
“O que tornou o primeiro filme especial não foi o espectáculo. Não foram as cerimónias. Não foi a acção”, disse Crowe. “Foi o núcleo moral.” Uma frase que soa quase como um diagnóstico clínico ao que faltou na sequela de 2024, que contou com Paul Mescal, Pedro Pascal e Denzel Washington.
Na mesma entrevista, Crowe criticou especialmente a ideia introduzida por Scott de que Maximus teria um filho ilegítimo, Lucius. Para o actor, essa decisão contraria a essência emocional e ética do gladiador. “Havia uma luta diária no plateau para manter essa integridade moral do personagem”, contou. “A quantidade de vezes que sugeriram cenas de sexo para Maximus… era absurdo. Se ele tinha este amor absoluto pela mulher, como é que ao mesmo tempo estaria com outra pessoa? Isso retirava-lhe poder.”
Crowe contou ainda que, durante as filmagens do original, lutava diariamente para preservar essa pureza emocional do personagem — algo que lhe valeu não só o Óscar, mas também o estatuto de uma das figuras mais icónicas do cinema moderno.
A polémica surge numa altura em que Gladiator II enfrenta uma reputação ambígua: apesar de ter arrecadado 462 milhões de dólares no box office mundial, o orçamento gigantesco — cerca de 210 milhões — fez com que o filme não alcançasse o lucro esperado. Não foi um desastre comercial, mas ficou longe do triunfo unânime que Scott esperava e que o estúdio precisava. Ainda assim, a sequela encontrou um novo fôlego no streaming, onde se tornou um dos títulos mais vistos do pós-lançamento, confirmando que o interesse pelo universo continua vivo.
Mas Crowe não é o único a levantar dúvidas sobre o futuro da saga. Ridley Scott já afirmou que tem ideias para um eventual Gladiator III, mas a questão permanece: poderá a franquia avançar se continuar a afastar-se do elemento humano que definiu a história original? E, ainda mais relevante, estará Scott disposto a ouvir críticas — sobretudo de alguém tão intrinsecamente associado à grandeza do primeiro filme?
A resposta é incerta. Scott nunca foi conhecido por ceder a pressões externas, muito menos por ajustar a sua visão criativa para tranquilizar vozes críticas. No entanto, a recepção mista de Gladiator II e a contundência das palavras de Crowe poderão tornar-se factores decisivos para qualquer nova incursão no império romano.
Uma coisa parece certa: para Russell Crowe, Maximus continua a ser mais do que um gladiador — é um símbolo de honra, amor e sacrifício. E mexer no coração desse legado, mesmo numa sequela onde o actor já não está presente, é algo que ele não está disposto a deixar passar em silêncio.
Depois de mais de uma década sem novidades no grande ecrã, o universo de Sherlock Holmes regressa — mas não como muitos esperavam. Guy Ritchie, responsável pelos dois filmes protagonizados por Robert Downey Jr. e Jude Law, volta agora ao mundo de Conan Doyle com Young Sherlock, uma série que funciona como prequela espiritual do franchise cinematográfico, apesar de não estar formalmente ligada a ele.
A Prime Video divulgou as primeiras imagens oficiais e, à primeira vista, há um detalhe impossível de ignorar: Hero Fiennes Tiffin parece nascer para este papel. Com apenas 19 anos na narrativa — e um visual marcado pela intensidade e inquietação — o jovem Sherlock surge num cenário académico e turbulento da Oxford da década de 1870, prestes a confrontar-se com o que será o primeiro grande teste ao seu génio dedutivo.
A série acompanha um Sherlock ainda bruto, impulsivo e socialmente deslocado, distante do ícone elegante e metódico que se tornará mais tarde em Baker Street. Aqui, ele é um jovem desacreditado, quase à deriva, quando um caso de homicídio ameaça não só a sua reputação mas também a sua liberdade. A investigação leva-o a cruzar-se, ironicamente cedo demais, com aquele que se tornará o seu némesis: James Moriarty, interpretado por Dónal Finn.
O elenco inclui ainda Natascha McElhone como Cordelia Holmes, Max Irons como Mycroft, e Colin Firth num papel de autoridade académica, Sir Bucephalus Hodge. Zine Tseng surge como a misteriosa Princesa Gulun Shou’an, figura que promete expandir o enredo além dos limites britânicos. A série não se contenta com os espaços fechados da academia: prepara-se para levar Sherlock numa conspiração de escala global, marcada por intriga, política e aventura.
Apesar de não existir qualquer ligação oficial entre esta nova produção e os filmes de Ritchie protagonizados por Downey Jr., a Prime Video garante que Young Sherlock preserva o mesmo espírito estético — a mistura de irreverência, ritmo acelerado e humor seco que marcou o universo cinematográfico. A ausência de conexão formal deve-se, ao que tudo indica, a questões de direitos, mas também oferece liberdade criativa à equipa para reinventar o detective numa fase da vida ainda pouco explorada.
Guy Ritchie descreveu a série como uma oportunidade para “abrir” a personalidade enigmática de Holmes e mostrar o que o transformou no génio que a cultura popular adoptou. A promessa é simples mas ambiciosa: revelar o que existe antes da lenda, antes da lupa, antes do chapéu-deerhunter. O Sherlock que aqui encontramos está longe do método clínico que definirá o seu futuro — é emocional, imprudente, por vezes até caótico. Mas as sementes da genialidade estão lá, prontas a rebentar.
Adaptada dos livros Young Sherlock Holmes de Andrew Lane, a série conta com Ritchie como realizador e produtor executivo, e com Matthew Parkhill como showrunner. O lançamento está previsto para 2026, embora ainda sem data concreta.
Tudo indica que Young Sherlock será uma peça central da oferta da Prime Video no próximo ano, sobretudo para os fãs que há muito esperam um renascimento do detective, mas que acabam agora por receber algo ainda mais raro: a oportunidade de ver o mito a construir-se — uma dedução de cada vez.
O espírito natalício ganhou uma nova… interpretação. Silent Night, Deadly Night, a reimaginação sangrenta do clássico de terror de 1984, tornou-se viral nas redes sociais graças a uma sequência que dificilmente deixará alguém indiferente: um Pai Natal assassino a eliminar, à machadada, uma sala cheia de nazis. Sim, leu bem. E sim, o público está a devorar cada segundo desta loucura festiva.
Tudo começou com um pequeno excerto partilhado por Discussing Film, que rapidamente acumulou milhões de visualizações. No vídeo, vemos Rohan Campbell — que muitos reconhecerão de Halloween Ends — vestido de Pai Natal e prestes a “punir os malcomportados”: neste caso, um grupo de extremistas a celebrar um grotesco “Natal da Supremacia Branca”. Bastaram poucos segundos para que a cena se tornasse sensação global.
Com a viralidade a disparar para mais de oito milhões de visualizações, a equipa do filme decidiu não desperdiçar o momento e divulgou a sequência completa, com mais de sete minutos de violência estilizada. Nela, Campbell encarna Billy, um anti-herói sanguinário que, como faz questão de explicar, recusa usar armas de fogo — “as armas são para maricas”, diz ele — e opta antes por um machado para eliminar vinte nazis num desfile de golpes, cortes e respingos digno de uma epopeia slasher natalícia.
A ousadia da cena não é gratuita: encaixa-se na nova abordagem do realizador Mike P. Nelson, responsável também por Wrong Turn (2021), que decidiu reinterpretar o clássico de 1984 com mais brutalidade, mais ironia negra e um Pai Natal vingador com motivos profundamente traumáticos. Nesta nova versão, Billy testemunhou o assassinato dos pais na véspera de Natal e cresceu com uma necessidade compulsiva de ajustar contas com aquilo que considera “os malcomportados”. A cada ano, a sua “missão” transforma-se num ritual de violência festiva — mas, desta vez, o destino cruza-o com Pamela, interpretada por Ruby Modine (Happy Death Day), que o força a enfrentar a própria escuridão.
Não é exagero dizer que este novo Silent Night, Deadly Night está a ser vendido como um delírio sanguinário com plena consciência da sua própria loucura. E a cena divulgada confirma o espírito do projecto: estética slasher dos anos 80, energia irreverente, violência que ultrapassa os limites do absurdo e uma comicidade macabra que transforma o grotesco em espectáculo.
O filme estreia a 12 de dezembro de 2025 nos Estados Unidos e UK, precisamente no pico da época natalícia, como manda a tradição dos títulos mais ousados do terror. E, pelo que se vê, a campanha ganhou vida própria antes mesmo de o Pai Natal assassino chegar às salas de cinema. É difícil imaginar um marketing mais eficaz do que um vídeo de sete minutos em que um assassino vestido de vermelho desmantela um grupo de neonazis ao som do espírito de Natal.
Tom Cruise esperou décadas para subir ao palco e receber um Óscar — e, quando finalmente o fez, não foi por um papel específico, mas por um prémio que celebra uma carreira inteira dedicada ao cinema. O actor de 62 anos recebeu o Óscar Honorário, atribuído pela Academia a figuras cuja contribuição para a arte cinematográfica é considerada excepcional. Um momento histórico, sobretudo porque Cruise, apesar do seu estatuto de superestrela global, nunca tinha sido distinguido pela Academia.
Mas o que verdadeiramente marcou a noite não foi o prémio, mas sim o discurso que se seguiu: dez minutos intensos, emocionados e, acima de tudo, repetidos vezes sem conta por espectadores que viram o vídeo no YouTube mais de 1,7 milhões de vezes. O motivo? Cruise repetiu a mesma expressão — “thank you” — mais de vinte vezes. E fê-lo com tal sinceridade que especialistas em liderança e psicologia já o destacam como um exemplo raro de inteligência emocional aplicada ao poder.
Cruise abriu o discurso a agradecer ao realizador Alejandro Iñárritu, com quem está actualmente a trabalhar num novo filme ainda sem título. Depois, desviou o foco para os outros homenageados da noite: Debbie Allen, Wynn Thomas e Dolly Parton. O actor usou a maior parte do seu tempo a celebrar o trabalho de colegas, criadores e equipas que, segundo ele, formam o coração do cinema. Foi isso que impressionou tantos espectadores: um dos homens mais poderosos de Hollywood preferiu partilhar o holofote.
O que se tornou evidente à medida que Cruise continuava foi a forma como tratava a gratidão — não como formalidade, mas como acto. A cadência da palavra “obrigado”, repetida com o mesmo peso emocional desde o início até ao último minuto, transformou o discurso numa espécie de homenagem colectiva ao cinema e aos que o constroem. Cruise agradeceu aos artistas, argumentistas, realizadores, equipas técnicas, duplos, montadores, directores de fotografia, designers, exibidores e até aos proprietários de salas, sublinhando que sem eles, e sem o público, “nada disto teria significado”.
Num dos momentos mais inesperados, Cruise pede à audiência que se levante — não para o aplaudir, mas para que fossem reconhecidos todos aqueles com quem já tinha trabalhado ao longo da carreira. Metade da sala ergueu-se. Cruise, de mãos juntas, repetiu o seu mantra: “Thank you. Thank you. Thank you.” Para muitos, foi um gesto simples; para outros, um lembrete poderoso de que liderança também é saber reconhecer quem nos acompanha.
A psicologia organizacional tem vindo a reforçar esta ideia: expressar gratidão de forma autêntica contribui para criar ambientes mais saudáveis, aumenta a confiança e fortalece as relações hierárquicas. Estudos recentes demonstram que quando um líder agradece com genuinidade, a atitude espalha-se — primeiro pela equipa, depois pela cultura alargada da organização. Talvez por isso o discurso de Cruise tenha ecoado tanto dentro e fora de Hollywood.
Os comentários ao vídeo vão na mesma linha. Houve quem descrevesse o discurso como “um acto de classe”, sublinhando que Cruise dedicou metade do tempo a elogiar outros vencedores e o restante a valorizar quem constrói a indústria. Outro espectador escreveu: “Ele usou o discurso para elevar todos à sua volta — é a marca de um verdadeiro cavalheiro.” E houve ainda quem brincasse que o actor merecia um segundo Óscar, só pela forma como falou.
A apresentação do prémio ficou a cargo de Iñárritu, que fez o melhor resumo possível do fenómeno Cruise: “Todos os que já trabalharam com ele contam a mesma história. Ele agradece-te todas as manhãs. Exige excelência e dá-te coragem para a igualares. E sabe o teu nome.” Não é preciso muito mais para compreender a chave do seu impacto.
No fim, a lição que fica do primeiro Óscar de Tom Cruise é estranhamente simples: dizer “obrigado” não diminui ninguém — pelo contrário, engrandece. Uma carreira com dezenas de filmes de acção, recordes de bilheteira e façanhas físicas aparentemente impossíveis acabou por destacar algo ainda mais raro: a humildade de um actor que retribui ao cinema tudo o que o cinema lhe deu. E que, depois de tantos anos, sabe que as duas palavras mais importantes da sua carreira continuam a ser as mesmas. Obrigado.
A temporada de prémios arranca com força e com várias surpresas no cinema e televisão
Os nomeados para os Golden Globes 2026 foram anunciados esta sexta-feira, antecipando uma cerimónia que promete ser uma das mais concorridas dos últimos anos. A grande força desta edição é o filme de acção “One Battle After Another”, protagonizado por Leonardo DiCaprio, que lidera na secção de cinema e se posiciona como um dos títulos mais fortes da temporada.
No universo televisivo, o destaque volta a ir para “The White Lotus”, presença habitual entre os favoritos e novamente a produção mais reconhecida nos Globos, confirmando o domínio continuado da série antológica da HBO.
As categorias deste ano revelam uma competição diversificada, onde filmes de autor, super-produções internacionais, musicais, animação e projectos independentes disputam espaço em pé de igualdade. Nomes como Leonardo DiCaprio, Timothée Chalamet, Cynthia Erivo, Jessie Buckley, Jennifer Lawrence, Michael B. Jordan, Oscar Isaac e Ariana Grande surgem entre os candidatos mais mediáticos.
Em televisão, a luta promete ser apertada entre títulos aclamados como “Severance”, “Slow Horses”, “The Diplomat”, “The Bear” e “Only Murders in the Building”, além do regresso triunfante de “The White Lotus” com um elenco renovado.
A cerimónia decorre em Janeiro e marca o arranque oficial da temporada de prémios, funcionando como barómetro antecipado para os Óscares — especialmente nas categorias dramáticas e de comédia/musical, onde a diversidade de nomeados é maior do que nunca.
Seguem-se agora todos os nomeados, categoria a categoria.
Um duelo corporativo que pode redefinir o futuro do cinema
Se a proposta da Netflix para comprar a Warner Bros Discovery já tinha causado ondas sísmicas na indústria, a resposta da Paramount transformou o cenário num autêntico terramoto. Estamo-nos a aproximar rapidamente daquela que poderá ser a maior batalha corporativa da história de Hollywood — e as consequências podem alterar profundamente todo o ecossistema audiovisual.
Esta segunda-feira, a Paramount lançou uma oferta hostil de 108,4 mil milhões de dólares pela totalidade da Warner Bros Discovery (WBD), ultrapassando de forma agressiva o acordo de 72 mil milhões firmado dias antes entre a Netflix e a empresa liderada por David Zaslav.
A decisão marca uma escalada dramática: em vez de negociar apenas com o conselho de administração, a Paramount decidiu ir directamente aos accionistas da WBD, pedindo-lhes que rejeitem o acordo com a Netflix e abracem uma proposta “superior, mais rápida e mais segura”.
O que a Paramount está a oferecer — e porque diz ser melhor
A oferta rival faz-se valer de um argumento simples: mais dinheiro, menos incerteza.
Enquanto a Netflix propõe uma combinação de dinheiro e acções, a Paramount oferece 30 dólares em numerário por cada acção da WBD, um valor significativamente superior aos cerca de 27,75 dólares totais (entre dinheiro e acções) da proposta do serviço de streaming.
Segundo a Paramount, a sua oferta representa:
18 mil milhões de dólares a mais em liquidez imediata para os accionistas,
uma conclusão mais rápida,
menor risco regulatório (apesar de também existir risco),
e a aquisição da empresa inteira, incluindo o segmento Global Networks — algo que o acordo da Netflix não inclui.
David Ellison, CEO da Paramount, foi taxativo:
“Os accionistas da WBD merecem a oportunidade de considerar a nossa oferta em dinheiro pela totalidade da empresa. Acreditamos que o conselho está a perseguir uma proposta inferior.”
Ellison sublinha ainda que o conselho da WBD nunca respondeu de forma “significativa” às seis propostas enviadas pela Paramount nas últimas 12 semanas. Assim, a ofensiva tornou-se inevitável.
O que muda em relação ao plano da Netflix?
A proposta original da Netflix previa a separação da empresa em duas partes:
Warner Bros Discovery (estúdios + streaming, incluindo HBO Max), que seria comprada pela Netflix;
Discovery Global, que reuniria canais lineares como CNN, Cartoon Network e TNT, e não integraria a fusão.
A Paramount rejeita esta divisão e propõe adquirir tudo, sem deixar pedaços órfãos ou empresas-filhas autónomas.
Para muitos investidores, isso pode ser atractivo — mas também traz outro tipo de preocupações, desde a escala assustadora do novo conglomerado até potenciais despedimentos massivos.
Trump volta a entrar em cena — e pode mudar tudo
A indústria ainda estava a digerir o impacto da oferta da Netflix quando Donald Trump declarou no domingo que o acordo “pode ser um problema” devido à enorme quota de mercado que resultaria da fusão.
“Vou estar envolvido nessa decisão”, afirmou o presidente, levantando o espectro de intervenção governamental.
A intervenção não é neutra: a família Ellison, que controla a Paramount, tem ligações conhecidas ao presidente.
Larry Ellison, fundador da Oracle e pai de David Ellison, é aliado próximo de Trump.
Jared Kushner, genro de Trump, está envolvido no consórcio favorável à oferta da Paramount.
Analistas como Danni Hewson (AJ Bell) consideram “natural” que Trump olhe com mais simpatia para a proposta rival.
Assim, tanto a fusão com a Netflix como a aquisição pela Paramount enfrentam obstáculos regulatórios — mas o clima político pode dar vantagem ao lado da Paramount.
Um confronto que pode rasgar Hollywood ao meio
A escala desta disputa não tem precedentes:
A Netflix, já líder global em streaming, quer absorver um dos maiores estúdios do planeta.
A Paramount quer impedir isso e, simultaneamente, transformar-se num super-conglomerado audiovisual.
Ambos os cenários motivam receios profundos:
Menos concorrência e aumento da concentração de poder,
Ameaças à diversidade criativa,
Possíveis despedimentos massivos,
Impacto directo nas salas de cinema, dependentes de conteúdo de estúdios como Warner e Paramount,
Choque regulatório inevitável nos EUA e na Europa.
Hollywood está dividida: alguns vêem a união Netflix-Warner como um empurrão inevitável para o futuro; outros temem que ambos os cenários — Netflix ou Paramount — criem monstros demasiado grandes para serem controlados.
David Zaslav, CEO da WBD, defendeu publicamente o acordo com a Netflix:
“A junção destas duas empresas garantirá que as melhores histórias do mundo continuem a chegar às pessoas durante gerações.”
A Paramount, porém, afirma que Zaslav está a trair os accionistas ao apoiar uma proposta “inferior”.
E agora?
A batalha está oficialmente aberta — e promete ser longa.
Ambas as propostas enfrentarão meses de escrutínio intensivo e pressão política. Os accionistas da WBD terão de decidir entre:
Mais dinheiro imediato (Paramount)
Uma fusão estratégica com potencial de alcance global (Netflix)
Enquanto isso, Hollywood mantém-se suspensa, consciente de que qualquer desfecho poderá redefinir para sempre o mapa do entretenimento.
Seja qual for o vencedor, uma coisa já é certa: nunca houve um combate corporativo tão grande, tão público e tão carregado de consequências para a sétima arte.
O negócio que está a incendiar Hollywood e a dividir Washington
A Netflix voltou a abalar a indústria audiovisual com um anúncio que ninguém esperava ver tão cedo: a gigante do streaming pretende adquirir a Warner Bros Discovery, incluindo os estúdios de cinema e televisão e o serviço HBO Max, num negócio avaliado em 72 mil milhões de dólares. Se concretizada, esta operação será a maior fusão de sempre no sector do entretenimento — e os alarmes já soam em Hollywood, em Wall Street e, agora, também na Casa Branca.
Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, afirmou esta semana que estará “envolvido” na decisão regulatória sobre a aquisição, deixando no ar a possibilidade de travar o acordo. Falando aos jornalistas, Trump admitiu que “pode ser um problema”, reconhecendo preocupações sobre o domínio de mercado da Netflix. Crucialmente, o presidente não revelou a sua posição concreta — apenas reforçou que a decisão será “complexa” e que os economistas terão um papel determinante na análise.
O que está em causa: um único gigante com demasiado poder?
A notícia caiu como uma bomba na sexta-feira: a Netflix, já líder mundial de streaming, pretende absorver um dos seus maiores concorrentes e, simultaneamente, passar a controlar algumas das marcas mais icónicas da história do audiovisual — da Warner Bros Pictures à HBO, passando por séries, filmes e canais de televisão de várias décadas.
O acordo só deverá ficar concluído no final do próximo ano, depois de a componente de legacy media (canais de notícias, desporto e animação) ser autonomizada. Mas a crítica chegou antes que a tinta secasse no contrato.
Hollywood está em alvoroço.
A Writers Guild of America foi das primeiras entidades a reagir e não poupou nas palavras:
“A maior empresa de streaming do mundo a engolir um dos seus maiores concorrentes é exactamente o que as leis antitrust foram feitas para impedir.”
O sindicato alerta para riscos sérios: perda de empregos, salários mais baixos, piores condições de trabalho, aumento de preços para os consumidores e menor diversidade de conteúdos.
Do lado político, a oposição é bipartidária. O senador republicano Roger Marshall classificou o negócio como “um problema antitrust de manual”, alertando para os riscos de concentração total — vertical e horizontal — numa única empresa.
Segundo Marshall:
“Preços, escolha e liberdade criativa estão em risco.”
Paramount Skydance e Comcast foram derrotadas — mas Trump entra no debate
A Reuters avançou que Paramount Skydance, liderada por David Ellison, e a Comcast, dona da Sky News, também apresentaram propostas. As ofertas não foram seleccionadas, alegadamente devido a preocupações de financiamento (no caso da Paramount) e falta de vantagens de curto prazo (no caso da Comcast).
É aqui que o cenário político ganha outra cor.
David Ellison é filho de Larry Ellison
, bilionário tecnológico e aliado próximo de Trump.
Mesmo assim, o presidente evitou qualquer favoritismo e insinuou que terá uma palavra a dizer na decisão regulatória.
“Estarei envolvido nessa decisão”, afirmou Trump.
“É uma fatia grande de mercado. Não há dúvida de que pode ser um problema.”
Para Hollywood, uma intervenção presidencial directa é tão invulgar quanto alarmante. Para as empresas, adiciona incerteza ao processo. Para o público, abre a porta a uma disputa que pode moldar o cinema e o streaming na próxima década.
O que significa esta fusão para o futuro do cinema?
Se a Netflix controlar a Warner Bros, a indústria poderá enfrentar mudanças profundas:
Perigo de homogeneização criativa
Menos competição entre plataformas
Preços potencialmente mais altos
Maior controlo do pipeline: do produtor ao consumidor
Riscos para salas de cinema que dependem de conteúdos da Warner
Enfraquecimento de vozes independentes no sector
Não é apenas uma questão financeira — é uma questão cultural. A Warner Bros não é apenas um estúdio; é uma instituição centenária com marcas como Harry Potter, DC Comics, Looney Tunes, The Matrix e milhares de clássicos do cinema.
A Netflix, por sua vez, tem um historial de priorizar o streaming sobre a exibição em sala, tendência que muitos temem ver reforçada.
E agora?
O negócio ainda terá de passar por escrutínio rigoroso das autoridades de concorrência dos EUA e da União Europeia. O facto de o presidente ter já sinalizado reservas — mesmo que vagas — coloca a fusão sob maior pressão política e mediática.
Se aprovada, será uma das maiores reconfigurações da história do entretenimento.
Se bloqueada, marcará um precedente claro sobre os limites do poder das gigantes tecnológicas.
Para já, uma coisa é certa: Hollywood está a observar cada movimento, ansiosa para perceber se caminha para uma nova era de mega-conglomerados… ou se o sistema ainda consegue travar o avanço de um colosso antes que engula os restantes.
Chris Pratt trocou, por uns dias, as galáxias distantes e os blockbusters de acção pelas galerias silenciosas sob a Basílica de São Pedro, no Vaticano. O actor norte-americano está a filmar um documentário sobre a descoberta da Necrópole Vaticana e do túmulo do Apóstolo Pedro, num projecto que junta o Vatican Media, a Fabbrica di San Pietro e a produtora AF Films. A estreia está prevista para 2026, ano em que se assinala o 400.º aniversário da inauguração e dedicação da actual basílica.
Segundo o Vatican News, as filmagens decorrem na própria Basílica de São Pedro e na Necrópole Vaticana, num acesso raríssimo que transforma Pratt no guia de um itinerário que mistura fé, história e arqueologia. O actor confessou sentir-se “extraordinariamente honrado” por colaborar com o Vaticano neste projecto e por ter a oportunidade de ajudar a levar a história de São Pedro ao grande público.
A direcção do documentário fica a cargo da realizadora espanhola Paula Ortiz, enquanto o argumento é assinado por Andrea Tornielli, com a colaboração de Pietro Zander. O filme deverá ser lançado em 2026, alinhado com a data simbólica de 18 de Novembro de 1626, quando a actual Basílica de São Pedro foi oficialmente inaugurada e consagrada.
Da Galileia ao Vaticano: a rota de Pedro
A história da basílica e a do próprio cristianismo estão intimamente ligadas à figura de Pedro, o pescador da Galileia a quem, segundo a tradição cristã, Jesus confiou a liderança da Igreja. Pedro terá sido martirizado em Roma, na colina vaticana, por volta do ano 64 d.C., e desde os primeiros séculos que o seu local de sepultamento se tornou destino de peregrinação, devoção e culto — ao ponto de muitos cristãos desejarem ser sepultados o mais perto possível do Apóstolo.
O documentário pretende precisamente revisitar, passo a passo, esse percurso, conduzindo o espectador numa viagem no tempo através de imagens exclusivas e de acesso restrito. O ponto central será a identificação do local do túmulo de Pedro na Necrópole Vaticana, uma questão que ocupou arqueólogos, historiadores e papas durante décadas.
Da escavação às relíquias: um enigma de séculos
Foi o Papa Pio XII que, em 1939, ordenou as escavações sob a Basílica de São Pedro, num impulso que mudou para sempre o conhecimento sobre o subsolo do Vaticano. Em 1950, Pio XII anunciava oficialmente a identificação do local de sepultamento do Apóstolo na Necrópole Vaticana, com base nas evidências então encontradas.
As investigações prosseguiram durante as décadas seguintes e, em 1968, o Papa Paulo VI deu um novo passo, revelando ao mundo que os ossos associados a Pedro tinham sido identificados de forma que considerava “convincente”. O pontífice declarou ter “razões para crer” que os poucos, mas sacrossantos, restos mortais do Príncipe dos Apóstolos tinham sido finalmente localizados.
É este caminho — entre fé e ciência, tradição e arqueologia — que o documentário agora em rodagem pretende tornar acessível ao grande público, com Chris Pratt como rosto e narrador desta descoberta contínua.
Chris Pratt como guia de um património invisível
Para além da curiosidade óbvia de ver uma grande estrela de Hollywood a guiar um documentário profundamente enraizado na tradição cristã, há aqui também um gesto claro de aproximação entre linguagens: a do cinema popular e a da comunicação religiosa e histórica.
Pratt, que já manifestou publicamente a sua fé em várias ocasiões, surge aqui numa faceta menos habitual, longe da comédia e da acção, para conduzir o espectador por corredores estreitos, câmaras funerárias e zonas do Vaticano que a maioria dos crentes — e cinéfilos — nunca verá ao vivo.
Visualmente, o projecto promete explorar não só a monumentalidade da Basílica de São Pedro, mas também o lado invisível da cidade-estado: a necrópole que foi preservada, redesenhada e protegida ao longo de séculos para guardar o lugar onde, segundo a tradição, repousa São Pedro.
Um lançamento pensado ao milímetro
O calendário não foi escolhido ao acaso. Lançar o documentário em 2026, exactamente no 400.º aniversário da dedicação da actual basílica, permite ao Vaticano e às entidades envolvidas reforçar a ligação entre o edifício que hoje vemos e a memória do Apóstolo que o funda simbolicamente.
Para o público, o filme deverá funcionar tanto como experiência espiritual e histórica como produto cinematográfico acessível, ajudado pelo carisma de Chris Pratt e pela curiosidade natural em torno de tudo o que se passa por detrás dos muros do Vaticano.
Seja visto como acto de fé, exercício de divulgação histórica ou estratégia inteligente de comunicação, uma coisa é certa: em 2026, muitos espectadores vão descer, sem sair do sofá, às profundezas da colina vaticana, à procura do lugar onde começou uma das histórias mais influentes da civilização ocidental
Tommy Shelby troca o exílio pelo caos da guerra – e os fãs portugueses já têm data marcada para o reencontro com o líder dos Peaky Blinders.
Quando a sexta temporada de “Peaky Blinders” chegou ao fim, em 2022, ficou a sensação de despedida… mas nunca de encerramento definitivo. Steven Knight sempre prometeu que a história da família Shelby terminaria no grande ecrã, e agora essa promessa ganha forma com “Peaky Blinders: The Immortal Man”, filme que já tem data de estreia em Portugal: 20 de Março, na Netflix.
A notícia foi confirmada esta sexta-feira, 5 de Dezembro, e bastou a sinopse oficial para incendiar novamente o entusiasmo dos fãs. Estamos em Birmingham, 1940, em plena Segunda Guerra Mundial. Tommy Shelby regressa de um exílio auto-imposto para enfrentar “o seu acerto de contas mais destrutivo de sempre”. Com o futuro da família e do país em jogo, o patriarca dos Peaky Blinders terá de enfrentar os seus próprios demónios e decidir se enfrenta o seu legado… ou se o deixa arder até às cinzas. Por ordem dos Peaky Blinders, claro.
Cillian Murphy volta a vestir o boné 🪖
Depois de conquistar o Óscar com “Oppenheimer”, Cillian Murphy regressa à personagem que o transformou num ícone da cultura pop televisiva: Thomas “Tommy” Shelby. O actor volta a liderar um elenco de luxo onde encontramos Rebecca Ferguson, Barry Keoghan, Tim Roth e Stephen Graham, nomes que prometem trazer novas camadas de tensão, intriga e perigo à já de si explosiva mitologia de “Peaky Blinders”.
Mas o filme não esquece as raízes. Vários rostos familiares da série regressam, incluindo Sophie Rundle, Ned Dennehy e Packy Lee, garantindo que o universo dos Shelby mantém a sua continuidade emocional. A realização fica a cargo de Tom Harper, que já tinha trabalhado na série e conhece de perto o equilíbrio muito particular entre violência, estilo e tragédia que definiu o fenómeno.
“Peaky Blinders” estreou em 2013 na BBC, quase como um “gangster drama” de nicho, mas depressa se transformou numa das séries mais influentes da última década. O salto para a Netflix deu-lhe exposição global e transformou a família Shelby num caso raro: um gangue brutal de Birmingham que se tornou objecto de culto de milhões de espectadores.
Inspirada numa gangue real que actuava na cidade no início do século XX, a série acompanha a ascensão dos Shelby a partir do submundo de apostas ilegais, contrabando e violência, até ao confronto com políticos, aristocratas e forças internacionais. Tudo isto embrulhado numa estética marcante – fatos impecáveis, navalhas cosidas nos bonés, cigarro eterno nos lábios de Tommy – e numa banda sonora moderna que aproximou o universo da série de uma espécie de rock operático criminal.
Ao longo das seis temporadas, “Peaky Blinders” destacou-se pela narrativa intensa, pelos confrontos de poder, pelas lealdades quebradas e pela forma como retratou um protagonista em permanente guerra consigo próprio. Muito antes de “The Immortal Man”, Tommy Shelby já parecia alguém a desafiar a morte – física, moral e espiritual.
Do fim da série ao salto para o cinema
O final da sexta temporada, em 2022, foi apresentado como o encerramento da série televisiva, mas também como um ponto de viragem. Steven Knight deixou claro que a saga não acabaria ali e que o capítulo final seria contado em formato de longa-metragem. “The Immortal Man” é, portanto, menos um “spin-off” e mais o passo seguinte natural, pensado desde cedo como o clímax da história.
As filmagens terminaram em Dezembro de 2024, aumentando a impaciência dos fãs, que passaram meses a especular sobre o enredo, o destino de Tommy e o papel da Segunda Guerra Mundial neste universo. A sinopse agora revelada confirma que o conflito global será mais do que cenário: é a pressão máxima sobre um homem que sempre viveu em guerra, mas que desta vez pode ter mais a perder do que nunca.
O que esperar de “The Immortal Man”?
Sem grandes revelações de enredo, o material oficial sugere um Tommy empurrado para o limite, obrigado a regressar de um exílio onde, claramente, não encontrou paz. A ideia de “acerto de contas mais destrutivo de sempre” aponta para um confronto final em várias frentes: familiar, política, íntima.
A referência ao “legado” que pode ser destruído ou deixado arder até às cinzas também abre caminho a um filme que não se limita a prolongar a série, mas que pode questionar o próprio mito dos Peaky Blinders. Depois de anos a construir um império através da violência, o que é que realmente sobra para Tommy? Família? Culpa? Um lugar na História? Ou apenas cinza e fumo de cigarro?
Para já, o que os fãs portugueses sabem é o essencial: “Peaky Blinders: The Immortal Man” chega à Netflix a 20 de Março, e a data já pode ser sublinhada a vermelho no calendário. Até lá, é tempo de tirar o pó ao boné, aquecer um whisky e preparar-se para regressar a Birmingham, onde a família Shelby ainda tem contas a ajustar com o mundo – e com o próprio passado.
Há muito que a Paramount deixara de ser o estúdio intocável dos tempos de ouro, mas a chegada de David Ellison, via fusão com a Skydance, está a transformar a casa da montanha em algo bem diferente – e bem mais ruidoso. Onde antes reinava um certo verniz “politicamente correcto” pós-#MeToo e pós-George Floyd, instala-se agora uma cultura em que sentimentos não contam, decisões são tomadas a frio e quem se queixa recebe, literalmente, um “get over it” como resposta.
Ellison, filho de Larry Ellison (o magnata da Oracle e aliado próximo de Donald Trump), está a aplicar uma lógica muito mais próxima de Silicon Valley do que da velha Hollywood. O objectivo declarado é claro: abandonar a imagem de estúdio frágil e voltar a competir na primeira divisão dos gigantes, mesmo que isso signifique atropelar algumas sensibilidades pelo caminho.
Ramsey Naito, Tartarugas Ninja e um “get over it”
Um dos casos mais simbólicos desta nova era é o de Ramsey Naito, até há pouco tempo directora da Paramount Animation. Antes da fusão, tudo indicava que Naito seria uma das protegidas da nova gestão, depois do sucesso de Teenage Mutant Ninja Turtles: Mutant Mayhem, produzido com um orçamento contido e que rendeu milhões em bilheteira e mais de mil milhões em ‘merchandising’.
Mas, já com a nova equipa instalada, o ambiente mudou. Numa reunião com figuras-chave do estúdio, incluindo o co-presidente Josh Greenstein, Naito terá sido acusada de “desvalorizar” a marca Tartarugas Ninja e de deixar que vários projectos de animação explodissem em orçamento, como o novo filme dos Smurfs, que terá gerado um prejuízo na casa dos 80 milhões de dólares. Quando contestou o tom com que lhe falaram, recebeu de volta o espírito da casa: sentimentos à parte, “siga em frente”.
Pouco tempo depois, Naito foi dispensada numa vaga de despedimentos, sendo substituída por Jennifer Dodge, executiva da Spin Master, a empresa de brinquedos responsável por PAW Patrol. Para quem ainda tinha dúvidas de que a prioridade são marcas fortes e controlo de custos, ficou a mensagem.
Brett Ratner, Will Smith, Johnny Depp: o regresso dos “proscritos”
Outra faceta da era Ellison é a reabilitação de figuras “canceladas” ou altamente controversas. A lógica é fria: talento que o sistema rejeitou costuma ficar mais barato – e está desesperado por provar que ainda conta.
O exemplo mais chocante é talvez Rush Hour 4, realizado por Brett Ratner, afastado de Hollywood desde 2017 na sequência de acusações de assédio e má conduta sexual. O filme andava órfão de estúdio até que, após um pedido de Donald Trump a Larry Ellison, a Paramount aceitou distribuí-lo. O negócio é tentador: o estúdio não financia, apenas distribui e cobra uma bela comissão.
A lista não acaba aí. A Skydance, braço de Ellison, já tinha resgatado John Lasseter, antigo chefão da Pixar que saiu da Disney em plena vaga #MeToo. Sob a nova liderança, a Paramount fechou ainda um acordo de primeira escolha com Will Smith – ainda a tentar limpar a imagem depois da bofetada a Chris Rock nos Óscares – e abraçou um projecto com Johnny Depp no papel de Ebenezer Scrooge, o seu primeiro grande filme de estúdio depois de ter sido afastado de Fantastic Beasts em 2020.
No topo da pirâmide, a própria presidência da Paramount é ocupada por Jeff Shell, que abandonou a NBCUniversal após um caso de assédio ligado a uma longa relação extraconjugal com uma jornalista da CNBC. Shell fala abertamente do passado e declara ter aprendido com os erros, mas a mensagem sentida por muitos é outra: desde que geres negócios, o resto é negociável.
Blockbusters masculinos em fila… e pouco espaço para cinema de prestígio
Editorialmente, a nova Paramount aposta tudo em cinema “evento” e, de preferência, carregado de testosterona. Entre os projectos em desenvolvimento destacam-se:
– um filme de Call of Duty, escrito por Taylor Sheridan;
– um épico de motocrosse realizado por James Mangold, com Timothée Chalamet num dos maiores salários da carreira;
– um novo Paranormal Activity produzido por James Wan e pela Blumhouse;
– um western com Brandon Sklenar, vindo do universo de 1923.
Ao mesmo tempo, o estúdio está a arrumar a casa de forma agressiva: dramas românticos, adaptações mais “femininas” e títulos vistos como arriscados estão a ser cancelados, vendidos a plataformas ou simplesmente engavetados. Projectos como Eloise, baseado nos populares livros infantis, foram parar à Netflix; Winter Games, um drama romântico com Miles Teller, foi abandonado; e spin-offs com ADN mais leve, como um derivado de Ferris Bueller’s Day Off, ficaram pelo caminho.
O sinal mais claro de mudança? O pequeno departamento de prémios interno foi praticamente desmontado, e a aposta em filmes de “prestígio”, com ambição de Óscar, está no nível mínimo. O paradigma é simples: menos Oscar bait, mais produtos assumidamente comerciais.
DEI, guerra cultural e a sombra de Trump
Esta reorientação não se faz apenas na escolha de filmes, mas também na política interna. A Paramount foi um dos primeiros grandes estúdios a abandonar políticas formais de DEI (diversidade, equidade e inclusão) e, já com Ellison ao leme, destacou-se por tomar posições públicas contra o que vê como “anti-Israel” em Hollywood. É um posicionamento que agrada à ala mais conservadora e se alinha com a relação próxima entre Larry Ellison e Donald Trump.
Trump, por sua vez, não tem escondido o entusiasmo pela fusão Skydance-Paramount e pelo novo tom editorial, sobretudo na área de informação da CBS News. O antigo presidente vê em David Ellison um aliado potencial também na disputa por outro gigante: a Warner Bros. Discovery, onde a Skydance concorre com a Comcast e a Netflix pela compra do estúdio.
Para o espectador comum, tudo isto pode parecer distante, mas tem consequências muito concretas: define que histórias chegam às salas, quem as conta e com que lentes políticas e culturais são filmadas.
Tom Cruise, Top Gun 3 e o futuro da montanha
Nenhuma análise à nova Paramount fica completa sem falar de Tom Cruise, talvez o actor que mais simboliza a ligação do estúdio à ideia clássica de “movie star”. A relação entre Cruise e David Ellison teve momentos tensos, nomeadamente quando o actor pediu dezenas de milhões extra para os novos Mission: Impossible e ouviu que teria de encontrar parte do financiamento por conta própria.
Ainda assim, Cruise quer pôr de pé Top Gun 3 e procura casa para uma ambiciosa aventura de desastre em alto mar com um orçamento na casa dos 200 milhões. Depois de visitas recentes aos novos escritórios da Paramount, tudo indica que a paz foi, pelo menos, estrategicamente selada. Se Ellison conseguir também concretizar o sonho de comprar a Warner Bros., estará em posição de redesenhar, quase sozinho, o mapa dos grandes estúdios.
E para nós, espectadores?
Do ponto de vista estritamente cinéfilo, a era Ellison na Paramount é um cocktail curioso: por um lado, promete grandes produções de acção, horror e comédia R-rated, pensadas para um público que quer “evento” e não necessariamente prestígio. Por outro, levanta questões sérias sobre quem volta a ter megafones na indústria, como se reescrevem as consequências após o #MeToo e que lugar sobra para cinema arriscado, minoritário ou formalmente mais ousado.
Hollywood já passou por muitas fases e muitos “novos sheriffs”. A diferença, desta vez, é a mistura explosiva entre dinheiro de tecnologia, guerra cultural aberta e uma vontade quase missionária de provar que o público quer exactamente aquilo que o velho estúdio não se atrevia a dar-lhe. Se isso vai salvar a Paramount ou apenas transformá-la num parque temático de testosterona de luxo, é algo que vamos descobrir, bilhete de cinema na mão.
A décima edição do AnimaPIX, o festival de animação realizado na ilha do Pico, nos Açores, encerrou mais um capítulo memorável — daqueles que deixam marca não só no panorama artístico nacional, mas também na alma de quem participa. Pequeno em escala, gigantesco em ambição, o festival reafirmou aquilo que já todos sabíamos: a animação portuguesa vive um momento de ouro, e o Pico continua a ser um dos seus palcos mais especiais.
Abi Feijó e Regina Pessoa: Quatro Décadas de Magia Animada
Os nomes maiores da animação portuguesa regressaram ao arquipélago, e o Pico recebeu-os como se recebe família.
Abi Feijó e Regina Pessoa, fundadores da Casa Museu de Vilar e mestres incontornáveis do cinema de animação, apresentaram uma retrospectiva de 40 anos de carreira. Ambos foram também jurados desta edição e receberam o MiratecArts Prémio Atlante, com Regina a acumular ainda um papel particularmente simbólico: o de madrinha do festival e ilustradora do cartaz que celebra a sua primeira década..
Numa conversa à Rádio Pico, Abi Feijó sintetizou a magia do AnimaPIX:
“Quanto mais pequenino, mais facilmente se estabelecem laços. Aqui podemos usufruir do tempo, o que é muito bom.”
Regina Pessoa completou:
“É um privilégio voltar e aprofundar este laço.”
É difícil pensar numa definição mais perfeita para este festival que teima — orgulhosamente — em manter-se próximo, íntimo e humano.
Os Talentos que Estão a Moldar o Futuro da Animação Portuguesa
O público teve ainda oportunidade de ouvir e interagir com os vencedores do Prémio AnimaPIX, desde 2021 até 2025.
Pela primeira vez na ilha montanha, Alexandra Ramires, Alice Eça Guimarães, João Gonzalez, Laura Gonçalves e Maria Trigo Teixeira apresentaram as suas curtas-metragens premiadas internacionalmente e partilharam reflexões sobre o processo criativo, a repercussão do cinema português lá fora e o futuro da animação.
A eles juntaram-se os cineastas António Alves e Cláudio Jordão, a professora Elsa Cerqueira e Fernando Galrito, director da MONSTRA — o maior festival de animação do país.
Um verdadeiro encontro intergeracional que reforçou o papel do Pico como ponto de encontro entre mestres, criadores emergentes e público curioso.
Um Festival Pequeno apenas no Nome
O director artístico e fundador do AnimaPIX, Terry Costa, não esconde o orgulho:
“Momentos incríveis com a melhor turma do sector que qualquer um poderia imaginar. Esperamos ter inspirado centenas de crianças, jovens e educadores, levando consigo lições para a vida.”
E há números que contam histórias.
Enquanto a MONSTRA exibe mais de 450 filmes, o AnimaPIX, fiel ao seu espírito, limita-se a 75. Não porque lhe faltem obras — mas porque a prioridade é outra: o impacto humano.
Terry Costa recorda ainda um feito impressionante:
“O melhor ano do festival trouxe 1400 pessoas à Biblioteca Auditório da Madalena — 10% da população da ilha.”
Para muitos, foi a primeira vez num centro cultural ou a primeira vez a ver cinema numa tela grande.
É essa democratização cultural — feita com carinho, persistência e visão — que transforma o AnimaPIX num evento verdadeiramente singular.
Um Festival para Crianças… e para a Criança em Todos Nós
Há quem pense que animação é território exclusivo do público infantil. O AnimaPIX insiste, todos os anos, em provar o contrário.
Como diz Terry Costa:
“O festival não é só para crianças, é para a criança em todos nós.”
E talvez seja essa a sua maior força: conseguir que profissionais consagrados, jovens criadores, famílias, educadores e curiosos vivam a mesma experiência, no mesmo espaço, com a mesma disponibilidade para aprender e maravilhar-se.
O Futuro Aponta para 2026
A próxima edição já está marcada:
📅 1 a 6 de dezembro de 2026
As submissões abrem a 1 de janeiro.
A parceria com a Câmara Municipal da Madalena e o apoio da Direção Regional da Cultura continuam a sustentar a visão da MiratecArts — uma visão que aposta na cultura como motor de comunidade, descoberta e crescimento.
E se esta década nos ensinou alguma coisa, é que o AnimaPIX não é apenas um festival.
O autor de Titanic e Avatar continua a ser, acima de tudo, um cinéfilo voraz
James Cameron é talvez o cineasta mais identificado com superproduções gigantescas, tecnologias de ponta e mundos inteiros criados de raiz. Mas por detrás do realizador que quebrou recordes com Titanic, redefiniu a ficção científica com Terminator 2 e reinventou o cinema 3D com Avatar, está alguém que cresceu a ver filmes na televisão e que nunca perdeu o fascínio puro pelo acto de ver cinema.
Ao longo das últimas décadas, Cameron foi partilhando, aqui e ali, os seus filmes favoritos — e o resultado é uma colecção tão ecléctica que parece saída da mente de um devorador compulsivo de géneros, épocas e sensibilidades. Do clássico absoluto The Wizard of Oz a prazeres assumidamente culpados como Resident Evil, passando por Kubrick, Spielberg, Coppola e até Borat, a lista diz-nos mais sobre Cameron do que qualquer entrevista longa.
O encanto eterno de um mundo para lá do arco-íris
Se há título que surge sempre que Cameron fala das suas referências, é The Wizard of Oz (1939). O realizador descreve-o como um filme que o acompanha desde a infância — e que continua a revisitar com a família.
A cena em que Dorothy abre a porta e sai do preto e branco para o Technicolor continua a emocioná-lo profundamente. Cameron vê ali um momento de génio cinematográfico absoluto: uma revelação visual capaz de derrubar fronteiras entre o real e o imaginado. Talvez não seja coincidência que o autor de Avatar tenha encontrado, décadas mais tarde, o seu próprio “momento de abrir a porta para outro mundo”.
Da ternura ao terror: a amplitude de um cinéfilo sem preconceitos
Pode surpreender que alguém associado a máquinas assassinas, naves militares e criaturas subaquáticas diga abertamente que Resident Evil é um dos seus prazeres cinematográficos. Mas Cameron não só admite, como celebra o filme de Paul W. S. Anderson e, em particular, o desempenho físico de Michelle Rodriguez — «uma criatura feroz», descreveu.
A admiração por Alien é já menos chocante: Ridley Scott influenciou directamente Cameron e, como o próprio reconhece, Aliens foi criado em espírito de fã — uma tentativa de honrar e expandir o trabalho do original sem o replicar. É raro ver um realizador do calibre de Cameron a assumir, com tanta humildade, a sua posição na linhagem de outro cineasta.
E depois há Wait Until Dark, thriller de 1967 com Audrey Hepburn, que lhe deixou uma das memórias mais intensas de sempre numa sala de cinema. Segundo conta, o susto provocado por Alan Arkin terá sido o maior sobressalto que testemunhou no grande ecrã — maior, até, do que Alien ou Psycho.
Uma colecção que revela mais do que parece
Entre clássicos indiscutíveis (The Godfather, 2001: A Space Odyssey, Taxi Driver), blockbusters transformadores (Star Wars, Jaws), westerns icónicos (Butch Cassidy and the Sundance Kid) e comédias corrosivas (Borat), a lista de Cameron não segue qualquer lógica óbvia.
E é precisamente aí que reside a sua verdade: o realizador não procura coerência estética, narrativa ou formal. Procura impacto. Procura filmes que mexem consigo, seja através do assombro visual, da tensão, da irreverência ou pura genialidade técnica.
No fundo, Cameron pode ser o cineasta que nos trouxe alguns dos maiores espectáculos cinematográficos das últimas décadas, mas continua a ser, antes de mais, um espectador apaixonado — alguém que nunca deixou de olhar para o cinema como aquilo que sempre foi para si: um poço infinito de maravilhas, sustos, gargalhadas e descobertas.
Os 15 filmes preferidos de James Cameron
The Wizard of Oz (Victor Fleming, 1939)
Resident Evil (Paul W. S. Anderson, 2002)
Alien (Ridley Scott, 1979)
Close Encounters of the Third Kind (Steven Spielberg, 1976)
Jaws (Steven Spielberg, 1975)
Butch Cassidy and the Sundance Kid (George Roy Hill, 1969)
Wait Until Dark (Terence Young, 1967)
Borat (Larry Charles, 2006)
The Woman King (Gina Prince-Bythewood, 2022)
Star Wars: Episode IV – A New Hope (George Lucas, 1977)