Depois de Avatar (2009) e Avatar: O Caminho da Água se terem tornado dois dos filmes mais lucrativos da história do cinema, era previsível que James Cameron quisesse continuar a explorar Pandora. O problema diz a crítica internacional é que Avatar: Fire and Ash, o terceiro capítulo da saga, deixa a sensação clara de que esta viagem já devia ter terminado — ou, pelo menos, precisava urgentemente de ser repensada.
Com 197 minutos de duração, o novo filme é meia hora mais longo do que o original e transforma-se num teste sério à paciência do espectador. O que deveria ser uma grande aventura de ficção científica acaba por se arrastar num desfile de imagens bonitas mas vazias, diálogos pouco inspirados, uma narrativa dispersa e uma espiritualidade new age que roça o enfadonho. É desconfortável pensar que ainda estão planeados mais dois filmes depois deste.
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O mais frustrante é que, apesar da duração quase épica, Avatar: Fire and Ash não funciona como filme autónomo. Cameron parte do princípio de que o público está profundamente investido na mitologia, nas personagens e nas relações familiares dos Na’vi, dispensando-se de construir uma história com verdadeiro início, meio e fim. Para quem não é fã incondicional da saga, a experiência torna-se ainda mais distante.
O contraste com o primeiro Avatar é gritante. Em 2009, o filme parecia genuinamente futurista: a história de um planeta exuberante explorado por humanos desesperados por recursos, em conflito com uma civilização indígena, combinava espectáculo, aventura e uma metáfora ambiental clara. Era, no fundo, Pocahontas com Smurfs no espaço — simples, eficaz e emocionalmente funcional.
Agora, Cameron parece ter perdido interesse em Jake Sully (Sam Worthington) e Neytiri (Zoe Saldaña), focando-se sobretudo nos seus filhos adolescentes. Essa escolha revela-se um erro grave. As novas personagens são difíceis de distinguir entre si, pouco carismáticas e, em muitos momentos, francamente irritantes. Onde antes havia um protagonista claro, há agora um grupo de jovens quase intercambiáveis, todos igualmente pouco memoráveis.
O filme alterna entre grandes batalhas, aparições esporádicas de personagens humanas que desaparecem durante longos períodos e intermináveis discussões reverenciais sobre as crenças dos Na’vi. Pelo meio, surgem breves lampejos do filme que Avatar: Fire and Ash poderia ter sido: um thriller ecológico mais duro, focado no conflito entre império e resistência. Mas esses momentos são rapidamente engolidos por uma espécie de telenovela californiana intergaláctica, onde surfistas de rastas montam dragões e gritam frases como “Isto foi insano, mano!” ou “Isto é brutal, primo!”.
Visualmente, o desgaste também é evidente. Pandora já não tem o impacto de outrora. Depois de quase nove horas passadas neste mesmo cenário tropical alienígena, a sensação de maravilha dissipou-se. Onde outras sagas, como Star Wars, teriam explorado múltiplos mundos, Avatar insiste sempre no mesmo pano de fundo. Pior ainda: aquilo que em 2009 parecia revolucionário, hoje soa a reliquia de uma era passada do cinema digital.
Durante a década de 2010, o público habituou-se a personagens digitais hiper-realistas em mundos totalmente gerados por computador. Na altura, Pandora parecia imersiva e tecnologicamente espantosa. Em Fire and Ash, no entanto, tudo parece artificial, quase como um videojogo antigo. Quando um Na’vi cai do dragão em pleno voo, não há verdadeiro sentido de perigo — a cena parece tão falsa que se perde qualquer envolvimento emocional.
Há ainda outro problema estrutural: com mais dois filmes já anunciados, existe realmente alguma sensação de risco?Alguém acredita que personagens centrais vão sofrer consequências irreversíveis? Se Cameron cumprir o plano, ainda faltam cerca de seis horas para o fim da saga — e, depois deste capítulo, essa perspectiva soa mais a ameaça do que a promessa.
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Avatar: Fire and Ash confirma aquilo que muitos já suspeitavam: a saga continua a impressionar pelo orçamento e pela escala, mas está cada vez mais vazia de urgência narrativa e emoção genuína. Um espectáculo enorme, cansado e auto-indulgente, que vive sobretudo da glória passada.



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