Chevy Chase Sem Filtros: O Documentário Que Mostra o Comediante Tal Como Ele É — e Ele Aceita

Um retrato cru, incómodo e inesperadamente humano de uma lenda da comédia

Insultar a realizadora que está a fazer um documentário sobre a nossa vida não parece, à partida, a melhor forma de começar. Mas Chevy Chase nunca foi conhecido pela diplomacia. E é precisamente essa frontalidade — por vezes cruel, por vezes desconcertante — que dá o tom a I’m Chevy Chase and You’re Not, o novo documentário que coloca o comediante sob os holofotes, com todas as verrugas incluídas.

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Logo no primeiro encontro com a realizadora Marina Zenovich, Chase deixa claro que não será fácil de decifrar. Quando ela lhe pergunta porquê, a resposta surge sem rodeios: “Porque não és suficientemente inteligente.” O facto de esta troca ter ficado no filme diz tanto sobre Zenovich como sobre o próprio Chase — um humorista brilhante, mas profundamente difícil.

Um percurso brilhante… e cheio de fricção

O documentário percorre toda a vida e carreira de Chevy Chase, desde uma infância marcada por episódios de violência emocional e física, até à explosão de popularidade nos anos 70 e 80, com filmes hoje considerados clássicos como CaddyshackFletchThree Amigos e a saga National Lampoon’s Vacation. Pelo caminho, passa ainda pela sua relação complicada com Saturday Night Live e pelo período conturbado na série Community.

Ao longo do filme, surgem testemunhos de colegas, amigos e familiares, incluindo Dan Aykroyd, Goldie Hawn, Beverly D’Angelo, Martin Short, Lorne Michaels, Ryan Reynolds, a mulher Jayni Chase e as três filhas do actor. O retrato que emerge é o de um homem afiado, frequentemente mordaz, com um enorme grupo de fãs — mas também com uma longa lista de pessoas que se sentiram magoadas pelo seu comportamento.

Humor como mecanismo de sobrevivência

Zenovich, que já realizou documentários sobre figuras complexas como Roman Polanski, Richard Pryor, Robin Williams e Lance Armstrong, aponta para a infância de Chase como chave para compreender a sua personalidade. Em criança, foi fechado durante dias numa cave, castigado de forma severa e humilhado pelo padrasto e pela mãe.

Segundo a realizadora, o humor tornou-se a sua forma de lidar com esse passado. Uma arma defensiva que, com o tempo, passou a ferir também quem estava à sua volta. O filme não foge às polémicas: os conflitos com Bill Murray, John Belushi, Joel McHale ou Dan Harmon, nem os episódios que levaram à sua saída de Community, incluindo acusações de comentários racistas.

Um homem consciente… até certo ponto

Hoje com 82 anos, Chevy Chase diz saber que há muitas pessoas que não o suportam — mas garante que isso nunca o incomodou verdadeiramente. “É apenas Hollywood”, afirma. Ainda assim, o documentário revela momentos de fragilidade, como a mágoa por não ter sido convidado a subir ao palco na celebração dos 50 anos de Saturday Night Live.

Há também espaço para imagens inesperadamente ternurentas: Chase a brincar com um gato, a tocar piano, a ler cartas de fãs, a jogar xadrez ou a receber o carinho do público numa exibição recente de National Lampoon’s Christmas Vacation. E, talvez o mais surpreendente, o filme mostra uma relação próxima e saudável com as filhas — algo que a própria Zenovich considera uma vitória sobre o trauma geracional.

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Um retrato que dói… mas vale a pena

O maior crítico do documentário acaba por ser o próprio Chevy Chase — e ele aprova. Compara a experiência a uma massagem: agradável, mesmo quando dói. I’m Chevy Chase and You’re Not não tenta redimir nem condenar. Limita-se a observar, com honestidade desconfortável, um homem que fez rir milhões, mas que nunca foi fácil de amar.

David Spade Viveu 25 Anos Convencido de Que Eddie Murphy o Detestava — Tudo por Causa de Uma Piada

Uma história de humor, insegurança e um mal-entendido que durou décadas

No mundo da comédia, as piadas raramente ficam confinadas ao momento em que são ditas. Às vezes, ecoam durante anos — ou, neste caso, durante um quarto de século. David Spade revelou recentemente que passou 25 anos convencido de que Eddie Murphy o odiava, tudo por causa de uma piada feita no seu primeiro segmento do Weekend Update no Saturday Night Live.

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A piada em causa tinha como alvo A Vampire in Brooklyn, filme protagonizado por Eddie Murphy nos anos 90, que não teve a recepção mais calorosa por parte da crítica nem do público. Spade, ainda no início da sua carreira televisiva, usou o fracasso do filme como material humorístico. O problema? A piada não caiu nada bem — pelo menos na cabeça de quem a contou.

Uma estreia nervosa… e uma culpa prolongada

Para David Spade, aquele momento marcou mais do que devia. Segundo o próprio, ficou convencido de que Eddie Murphy levara a piada a peito e que isso lhe fechara portas em Hollywood. Durante anos, Spade acreditou que tinha cometido um erro imperdoável, sobretudo porque Murphy não era apenas uma estrela: era uma instituição da comédia americana.

A situação tornou-se quase absurda com o passar do tempo. Spade admitiu que passou décadas a tentar compensar aquele momento, à espera de uma oportunidade para pedir desculpa ou, pelo menos, esclarecer o mal-entendido. Tudo isto sem nunca ter tido uma confirmação real de que Murphy estivesse, de facto, ofendido.

A realidade? Nem tudo era tão dramático

O mais curioso desta história é que, segundo relatos posteriores, Eddie Murphy nunca levou a situação tão a sérioquanto Spade imaginava. O peso do episódio existiu quase exclusivamente na cabeça de quem fez a piada. Um clássico caso de ansiedade profissional transformado numa narrativa interna de culpa prolongada.

A revelação diz muito sobre o lado menos visível da comédia: por trás do sarcasmo e da confiança em palco, muitos humoristas carregam inseguranças profundas. Especialmente quando se trata de brincar com figuras maiores do que a própria carreira.

Um lembrete de como Hollywood também é humana

Este episódio encaixa perfeitamente numa semana recheada de pequenas histórias curiosas do universo das celebridades — algumas ternurentas, outras bizarras, outras simplesmente reveladoras. Entre homenagens emocionais, momentos inesperadamente fofos e notícias que confirmam aquilo que todos já suspeitavam, há um fio condutor claro: por trás da fama, continuam a existir pessoas a lidar com culpa, medo, alegria e mal-entendidos como qualquer outra.

No caso de David Spade, a história serve quase como uma fábula moderna sobre como uma piada pode viver demasiado tempo na cabeça de quem a conta — mesmo quando o alvo já seguiu em frente há muito.

No fim, só uma boa anedota… mal digerida

Vinte e cinco anos depois, a revelação transforma-se, ironicamente, numa excelente anedota. Uma história sobre comédia, egos, ansiedade e a tendência humana para dramatizar situações que, vistas de fora, nunca tiveram a gravidade imaginada.

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E talvez seja esse o verdadeiro punchline: às vezes, o maior crítico não é o colega famoso que fizemos alvo de uma piada… somos nós próprios.

Daredevil nos Avengers? Charlie Cox Dá a Resposta Mais Sensata (e Inesperada)


O herói de Hell’s Kitchen pode juntar-se à maior equipa da Marvel… mas faz mesmo sentido?

Com 2025 a abrir caminho para uma nova formação dos Avengers e com Avengers: Doomsday já no horizonte, as especulações sobre quem poderá integrar — ou regressar — à mítica equipa de super-heróis não param de crescer. Entre regressos históricos, novas versões de personagens clássicas e a ameaça de um vilão de peso, há um nome que surge repetidamente nas conversas dos fãs: Daredevil.

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A questão foi colocada directamente a Charlie Cox durante uma convenção recente. Poderá Matt Murdock, o vigilante de Hell’s Kitchen, tornar-se oficialmente um Avenger? A resposta do actor foi tão honesta quanto inesperadamente coerente com a essência da personagem.

“Matt Murdock não é propriamente um homem de equipa”

Segundo Charlie Cox, a ideia é apelativa… mas complicada. Não para o actor, que admitiu que ficaria absolutamente entusiasmado com a oportunidade, mas para a personagem. Na sua leitura, Matt Murdock é um solitário por natureza, alguém que prefere operar sozinho e manter controlo total sobre o que faz.

O actor comparou-o mesmo a Frank Castle, sublinhando que ambos partilham essa resistência instintiva a integrar grandes equipas organizadas. Daredevil não é um herói de discursos épicos nem de batalhas globais — é uma figura moldada por becos escuros, dilemas morais íntimos e uma relação constante com a culpa e a fé.

É um argumento difícil de contrariar. Ao contrário de outros heróis mais simbólicos, Matt Murdock nunca foi pensado como estandarte. É um homem quebrado, movido por princípios muito pessoais e por uma ideia de justiça que raramente encaixa em estruturas formais.

A integração no MCU não foi por acaso

Ainda assim, a Marvel tem vindo a posicionar cuidadosamente a personagem dentro do seu universo cinematográfico. As aparições recentes de Matt Murdock em diferentes projectos deixam claro que o Demolidor deixou definitivamente de existir num canto isolado da televisão.

A nova fase de Daredevil: Born Again, com estreia marcada para 4 de Março, reforça a ideia de que o personagem terá um papel relevante nos próximos anos. A grande dúvida é saber se esse caminho passa por uma integração oficial nos Avengers ou por algo mais subtil.

Participar sem vestir a camisola

Há uma solução intermédia que parece agradar tanto a fãs como a quem pensa a narrativa a longo prazo: Daredevil pode participar nos acontecimentos de Avengers: Doomsday sem nunca se tornar, formalmente, um Avenger.

Não seria algo inédito. Ao longo da história da Marvel, vários heróis cruzaram caminhos com a equipa sem fazer parte do núcleo oficial. E, sendo realistas, Matt Murdock não compete em termos de escala com deuses, super-soldados ou entidades cósmicas.

No entanto, isso nunca foi um obstáculo absoluto. Personagens sem super-poderes evidentes, como Black Widow ou Hawkeye, estiveram presentes desde o início. Daredevil pode não ter força descomunal, mas compensa com uma eficácia brutal em combate corpo-a-corpo, inteligência táctica e uma resistência quase inumana.

Um papel pequeno… mas com peso simbólico

Mesmo que venha a surgir em Avengers: Doomsday, é pouco provável que Charlie Cox tenha um papel central. O filme promete reunir um número impressionante de personagens de várias gerações, o que inevitavelmente limita o tempo de ecrã disponível para cada um.

Ainda assim, uma participação especial — mesmo que breve — teria um enorme impacto simbólico. Para muitos fãs de longa data, seria a confirmação definitiva de que Daredevil pertence, finalmente, ao coração do universo cinematográfico da Marvel.

Prudência antes de tudo

Como é habitual neste tipo de projectos, Charlie Cox foi claro num ponto: não esperem confirmações antecipadas. Se Daredevil tiver um papel em Avengers: Doomsday, essa informação só será tornada pública quando a Marvel assim o decidir — possivelmente mais perto da estreia ou durante a exibição da nova temporada de Daredevil: Born Again.

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Até lá, a resposta do actor deixa uma ideia forte: mais importante do que saber se Daredevil será um Avenger é perceber se esse passo respeita quem Matt Murdock sempre foi. E, nesse ponto, Charlie Cox mostrou conhecer o seu personagem melhor do que ninguém.

Uma Comédia Fora de Prazo? Due Date Volta ao Topo do Streaming — E em Portugal?

O regresso inesperado de um filme de 2010 às listas mais vistas

Quinze anos depois da sua estreia nos cinemas, Due Date voltou a dar sinais de vida — e não de forma discreta. A comédia protagonizada por Robert Downey Jr. e Zach Galifianakis voltou a surgir entre os filmes mais vistos em streaming a nível mundial, entrando directamente no top 10 da plataforma HBO Max. Um feito curioso para um título que, na altura do lançamento, dividiu crítica e público e nunca foi unanimemente aceite como um clássico imediato.

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Este ressurgimento global levanta uma questão legítima: será que o mesmo fenómeno se verifica em Portugal?

Um sucesso global… mas com impacto mais contido por cá

Ao contrário do que acontece noutros mercados internacionais, não existem indícios claros de que Due Date esteja actualmente entre os filmes mais vistos em Portugal. As tabelas nacionais não reflectem o mesmo entusiasmo, o que sugere que o interesse por cá é mais moderado e discreto.

Ainda assim, o filme encontra-se disponível em plataformas de streaming acessíveis ao público português, o que indica que continua a ser visto, mesmo que sem o impacto massivo registado noutros países. Em Portugal, Due Date nunca foi um fenómeno cultural particularmente forte, surgindo sempre como uma comédia simpática, mas longe do estatuto de culto que alguns lhe atribuem hoje.

Uma viagem caótica com duas personagens opostas

Realizado por Todd Phillips, o mesmo nome por detrás de A RessacaDue Date aposta numa estrutura clássica de “buddy movie”. A história acompanha Peter Highman, um arquitecto metódico e prestes a ser pai, que vê a sua viagem de regresso a casa arruinada depois de conhecer Ethan Tremblay, um aspirante a actor socialmente desajustado.

Após um incidente absurdo num avião, Peter acaba impedido de voar, perde a carteira e vê-se obrigado a aceitar boleia de Ethan. O que se segue é uma viagem rodoviária caótica, marcada por discussões constantes, situações ridículas e uma ligação improvável que se vai construindo entre os dois.

O humor assenta sobretudo no contraste entre personalidades: o controlo nervoso de Downey Jr. frente ao caos ambulante de Galifianakis, num registo que oscila entre o absurdo, o desconfortável e o sentimental.

Críticas mistas, público mais indulgente

Quando chegou aos cinemas em 2010, Due Date foi recebido com frieza por parte da crítica. Muitos apontaram a sensação de repetição em relação a outras comédias do realizador e uma narrativa previsível. No entanto, o público mostrou-se mais indulgente, valorizando o ritmo, as interpretações exageradas e o humor físico.

Esse desfasamento entre crítica e espectadores ajuda a explicar o seu regresso actual. No universo do streaming, filmes como Due Date ganham uma segunda vida: são vistos sem grandes expectativas, funcionam como entretenimento imediato e beneficiam da nostalgia de uma era em que as comédias de estúdio tinham outro peso no mercado.

Porque é que está a funcionar agora?

O sucesso recente de Due Date parece resultar de vários factores combinados: a popularidade duradoura de Robert Downey Jr., a curiosidade renovada em torno do trabalho de Todd Phillips e uma tendência crescente para revisitar comédias dos anos 2000 e 2010, vistas hoje com menos exigência crítica e mais vontade de puro entretenimento.

Em Portugal, mesmo sem números impressionantes, o filme beneficia dessa mesma lógica. Não domina rankings, mas mantém-se relevante como opção confortável num catálogo cada vez mais saturado de novidades.

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Uma segunda vida discreta, mas real

Due Date pode não estar a “rebentar” em Portugal como noutros países, mas o seu regresso ao radar global confirma uma verdade cada vez mais evidente: no streaming, o tempo joga a favor de filmes que, à partida, pareciam destinados ao esquecimento. Às vezes, basta uma nova geração de espectadores — ou uma noite sem grandes expectativas.

Gary Oldman e O Quinto Elemento: Porque o Actor Nunca Gostou Verdadeiramente do Seu Vilão Mais Icónico

Um clássico dos anos 90… que o próprio protagonista preferia esquecer

Para muitos espectadores, sobretudo os que cresceram nos anos 90, O Quinto Elemento é um daqueles filmes impossíveis de confundir com outro qualquer. Colorido, excessivo, delirante e assumidamente estranho, tornou-se um clássico do cinema de ficção científica. No centro desse delírio está Zorg, o vilão interpretado por Gary Oldman — uma personagem tão exagerada que parece saída de um desenho animado futurista. Mas aquilo que muitos fãs talvez não saibam é que Oldman passou largos anos a não conseguir sequer suportar o filme.

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Apesar de uma carreira recheada de papéis aclamados, de heróis contidos a figuras históricas transformadas em prémios da Academia, Zorg continua a ser uma das personagens mais reconhecíveis do actor. E, paradoxalmente, uma das menos queridas por quem a interpretou.

Um papel feito em esforço… literal e figurado

Na altura das filmagens de O Quinto Elemento, Gary Oldman estava profundamente envolvido noutro projecto pessoal e exigente: a realização do seu primeiro filme. Para aceitar o convite, teve de interromper esse trabalho durante várias semanas, submeter-se a uma transformação física radical e entrar num universo visual que lhe era tudo menos confortável.

Cabeça rapada, próteses dentárias, cicatriz, perna a coxear, camadas de borracha e um guarda-roupa tão icónico quanto incómodo — tudo isto contribuiu para uma experiência que o actor descreveu, anos mais tarde, com pouco carinho. Embora reconhecesse o lado simbólico da história, centrada no eterno conflito entre o bem e o mal, Oldman nunca conseguiu ver o filme com o distanciamento necessário para o apreciar.

Durante muito tempo, quando questionado sobre O Quinto Elemento, a reacção era imediata e pouco diplomática: não conseguia vê-lo.

Um favor entre amigos, não uma escolha artística

A razão principal para Oldman aceitar o papel de Zorg não foi o argumento, nem o fascínio pela personagem, mas um sentimento de obrigação. O realizador do filme tinha ajudado a viabilizar financeiramente o projecto pessoal de Oldman, e o actor sentiu que devia retribuir.

O convite foi directo e pragmático. Não houve grande análise de guião, nem reflexão profunda sobre a personagem. Foi, essencialmente, um favor entre amigos. Isso ajuda a explicar porque é que, apesar da energia quase insana que imprime a Zorg, Oldman nunca sentiu que aquele papel lhe pertencesse verdadeiramente.

O contraste é curioso: para o público, a interpretação é memorável, quase camp, cheia de tiques e excessos deliciosos. Para o actor, é uma recordação associada a desconforto físico, interrupções criativas e uma estética que lhe provoca uma reacção visceral.

O tempo suaviza tudo… até Zorg

Com quase três décadas de distância, a relação de Gary Oldman com O Quinto Elemento mudou — ainda que de forma muito moderada. Hoje, já não rejeita completamente o filme. Consegue vê-lo, sobretudo quando alguém próximo insiste que talvez não seja assim tão mau.

O próprio actor reconhece que a sua avaliação está “contaminada” pela experiência pessoal. Para quem esteve dentro do fato de borracha, da maquilhagem e do processo, é difícil ver o resultado final como um simples espectador. Onde o público vê diversão, ele revê sensações físicas, ambientes de bastidores e decisões estéticas que lhe causam desconforto.

Curiosamente, nem sequer foi o único no elenco a sofrer com o guarda-roupa. O protagonista masculino também detestava parte do figurino, embora isso nunca tenha impedido o filme de se tornar um sucesso duradouro.

Um clássico que sobrevive apesar do seu criador relutante

Gary Oldman continua a ser um crítico feroz do seu próprio trabalho, e O Quinto Elemento não é caso único. Há outros filmes seus que o público adora e que ele prefere não revisitar. Ainda assim, o tempo parece ter feito o seu trabalho: hoje, o actor já não foge do filme, mesmo que nunca venha a adorá-lo.

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E talvez isso seja suficiente. Afinal, nem todos os clássicos precisam do amor dos seus intérpretes para sobreviver. Alguns ganham vida própria — e Zorg, goste ou não Gary Oldman, é um deles.

Quando a Loucura Encontra Ritmo: Joker – Loucura a Dois  Estreia na Televisão Portuguesa

Um regresso perturbador ao universo de Arthur Fleck, agora em dueto

Depois de ter marcado profundamente o cinema contemporâneo em 2019, Joker regressa com um novo capítulo tão inesperado quanto provocador. Joker – Loucura a Dois chega à televisão portuguesa no dia 2 de Janeiro, às 21h30, trazendo de volta Joaquin Phoenix ao papel de Arthur Fleck e juntando-lhe uma parceira que muda radicalmente o tom da narrativa: Lady Gaga. O resultado é um filme inquietante, estranho e assumidamente ousado, que aprofunda o delírio emocional do anti-herói mais desconfortável da DC  .

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Arkham, julgamento e uma identidade em fratura

A história retoma os acontecimentos que abalaram Gotham. Arthur Fleck encontra-se agora internado no hospital psiquiátrico de Arkham, à espera de julgamento pelos crimes cometidos enquanto Joker. Preso entre a figura pública que se tornou símbolo de caos e a fragilidade psicológica que sempre o definiu, Arthur vive num limbo identitário, incapaz de separar o homem do mito.

É neste espaço de contenção e ruína mental que conhece Harleen Quinzel, também ela internada. Interpretada por Lady Gaga, esta nova versão da futura Harley Quinn afasta-se do estereótipo da cúmplice caricatural para se afirmar como espelho e catalisador da loucura de Arthur. A ligação entre ambos rapidamente ultrapassa os limites da empatia, transformando-se numa relação obsessiva, intensa e profundamente desequilibrada.

Folie à deux: quando o delírio se canta

O subtítulo original do filme remete directamente para o conceito psiquiátrico de folie à deux, um transtorno raro em que duas pessoas partilham o mesmo delírio. Esse conceito é o verdadeiro motor narrativo de Loucura a Dois. Arthur e Harleen constroem uma realidade paralela onde o sofrimento, a violência e o amor se expressam através da música, num registo que cruza musical, drama psicológico e romance doentio.

As sequências musicais não funcionam como alívio, mas como extensão do colapso emocional das personagens. São fantasias encenadas, números que existem apenas na mente dos protagonistas, reforçando a ideia de que o espectáculo nasce do desequilíbrio e não do entretenimento fácil.

Continuidade autoral e risco criativo

O filme volta a ser realizado por Todd Phillips, que assina o argumento em conjunto com Scott Silver. A abordagem mantém o tom sombrio e opressivo do primeiro filme, mas arrisca ao introduzir uma estrutura menos convencional, recusando repetir a fórmula que garantiu sucesso ao original.

Essa ousadia foi amplamente debatida aquando da estreia em festivais, onde o filme dividiu opiniões, mas confirmou uma coisa: Joker – Loucura a Dois não existe para agradar a todos. Existe para incomodar, questionar e levar mais longe a desconstrução de uma figura icónica.

Um elenco de peso e um universo em expansão

Além de Phoenix e Gaga, o filme conta com um elenco de luxo que inclui Zazie BeetzCatherine KeenerKen LeungBrendan Gleeson e Steve Coogan. O conjunto reforça a densidade dramática de um filme que continua a explorar Gotham como espaço mental antes de ser cidade.

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Uma noite para espectadores sem medo

Joker – Loucura a Dois não é uma sequela tradicional, nem um musical clássico, nem um thriller convencional. É um objecto estranho, híbrido e provocador, que convida o espectador a entrar num dueto onde amor e loucura dançam sem rede. Um filme para quem prefere ser desafiado em vez de confortado — e uma estreia televisiva que promete dar que falar.

Ano Novo, Filmes Novos: Duas Estreias Portuguesas para Começar 2025 com Cinema

Os Infanticidas e A Vida Luminosa inauguram o ano no TVCine Edition

Começar o ano com cinema português é mais do que uma boa resolução — é quase um acto de resistência cultural. No dia 1 de Janeiro, o TVCine Edition aposta forte no novo cinema nacional com a exibição de dois filmes portugueses recentes, assinados por dois realizadores que se estreiam na longa-metragem. Os Infanticidas e A Vida Luminosa formam a dupla Ano Novo, Filmes Novos, uma proposta que convida o espectador a reflectir sobre crescimento, identidade e o momento delicado em que deixamos de ser jovens… mesmo que ainda não saibamos bem o que é ser adulto.

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A sessão arranca às 18h30, prolongando-se pela noite dentro, numa programação que dá palco a duas obras muito diferentes no tom, mas unidas por um olhar atento às inquietações de uma geração em suspenso.

Os Infanticidas: crescer assusta mais do que parece

Primeira longa-metragem de Manuel Pureza, Os Infanticidas parte de uma promessa tão absurda quanto reveladora: dois amigos juram que, se um dia crescerem, acabam com a própria vida. A frase pode soar a bravata juvenil, mas funciona como ponto de partida para um retrato honesto, irónico e por vezes cruel sobre o fim da juventude.

Entre o pacto feito na adolescência e a chegada inevitável aos 30 anos, surgem os medos, as expectativas falhadas, os sonhos adiados e a constante sensação de que ninguém nos explicou realmente como se faz para ser adulto. O filme observa essa travessia com humor seco e uma melancolia muito portuguesa, lembrando que “somos todos heróis à meia-noite, mas cobardes às 9 da manhã”.

Sem respostas fáceis, Os Infanticidas questiona se crescer é sinónimo de compromisso ou apenas a continuação de um jogo em que fingimos saber o que estamos a fazer. Uma estreia segura e surpreendentemente madura para um realizador vindo do universo da comédia televisiva.

A Vida Luminosa: quando a vida começa a andar para a frente

Exibido às 19h55A Vida Luminosa acompanha Nicolau, um jovem de 24 anos preso entre o passado e um futuro que não consegue imaginar. Vive em casa dos pais, sonha ser músico, sobrevive com biscates e mantém-se emocionalmente refém de uma relação que terminou. Lisboa surge aqui não como postal turístico, mas como cenário íntimo de uma deriva silenciosa.

A mudança acontece quando Nicolau percebe que não está sozinho na insatisfação: também a mãe carrega frustrações e sonhos adiados. Esse choque não o paralisa — empurra-o para a frente. Um emprego numa papelaria, uma casa partilhada e novos encontros fazem com que a vida, lentamente, volte a mover-se.

Com um tom delicado e observacional, o filme constrói um retrato sensível sobre amadurecer sem dramatismos excessivos, mostrando que crescer nem sempre é cair — às vezes é simplesmente avançar, mesmo sem saber bem para onde.

Duas estreias, um mesmo retrato geracional

Apesar das diferenças de estilo, Os Infanticidas e A Vida Luminosa dialogam entre si. Ambos olham para personagens em transição, suspensas entre aquilo que imaginaram ser e aquilo que a vida lhes permite ser. São filmes sobre o medo de falhar, sobre a dificuldade em largar versões antigas de nós próprios e sobre o lento — e por vezes doloroso — processo de assumir escolhas.

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Para quem procura começar o ano longe dos blockbusters previsíveis, esta dupla é um excelente convite a pensar, sentir e reconhecer no ecrã pedaços muito familiares da vida real.

Quando o Amor se Torna Ruptura: Mata-te, Amor Chega aos Cinemas com Jennifer Lawrence em Estado de Graça

Um drama psicológico intenso sobre maternidade, identidade e colapso emocional

Há filmes que não pedem licença ao espectador. Mata-te, Amor é claramente um deles. Realizado por Lynne Ramsay, uma das vozes mais implacáveis e singulares do cinema contemporâneo, o filme chega finalmente aos cinemas portugueses a 15 de Janeiro, depois de uma passagem muito falada pelo Festival de Cannes e de uma nomeação aos Globos de Ouro para Jennifer Lawrence, na categoria de Melhor Atriz em Filme Dramático  .

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Baseado no romance homónimo da escritora argentina Ariana Harwicz, Mata-te, Amor mergulha de forma frontal e sem concessões nos territórios da maternidade, da saúde mental e da erosão da identidade feminina. Um filme desconfortável, exigente e profundamente perturbador — exactamente como Ramsay gosta.

Uma casa no campo, um bebé e o início do desmoronar

A história centra-se em Grace, interpretada por Jennifer Lawrence, e no seu companheiro Jackson, vivido por Robert Pattinson. O casal muda-se para uma antiga casa de campo numa zona rural dos Estados Unidos, numa tentativa de recomeço. Grace sonha tornar-se escritora, enquanto Jackson se ausenta frequentemente, deixando-a sozinha com o peso da vida doméstica.

O nascimento do primeiro filho, longe de unir o casal, funciona como catalisador de uma lenta mas implacável implosão emocional. A solidão, a frustração e a sensação de apagamento pessoal empurram Grace para um estado de instabilidade crescente, que Ramsay filma com uma proximidade quase sufocante.

Não há aqui romantização da maternidade nem respostas fáceis. Mata-te, Amor recusa o conforto narrativo e obriga o espectador a permanecer dentro do desconforto — um traço recorrente na filmografia da realizadora escocesa.

Jennifer Lawrence como nunca a vimos

A interpretação de Jennifer Lawrence tem sido amplamente apontada como uma das mais intensas e corajosas da sua carreira, valendo-lhe a nomeação aos Globos de Ouro  . Longe do glamour hollywoodiano, a actriz entrega-se a uma composição crua, física e emocionalmente desgastante, que raramente procura empatia fácil.

Ao seu lado, Robert Pattinson constrói um Jackson distante e opaco, cuja ausência pesa tanto quanto a sua presença. O elenco conta ainda com nomes de peso como Sissy SpacekNick Nolte e LaKeith Stanfield, reforçando a densidade dramática do filme.

Um olhar autoral sem concessões

O argumento é assinado por Enda Walsh, Lynne Ramsay e Alice Birch, numa adaptação que preserva a violência emocional e a linguagem interior do romance original. A produção reúne nomes de peso, incluindo Martin Scorsese, num sinal claro da relevância do projecto.

Apresentado em competição oficial em Cannes, Mata-te, Amor confirmou-se como uma das obras mais debatidas da temporada, consolidando Ramsay como uma cineasta interessada na fragilidade humana, na ruptura psicológica e nos espaços onde o amor deixa de ser abrigo para se tornar ameaça.

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Estreia em Portugal

Distribuído em Portugal pela NOS AudiovisuaisMata-te, Amor estreia nos cinemas nacionais a 15 de Janeiro. Um filme que não pretende agradar a todos, mas que dificilmente deixará alguém indiferente.