
É o tipo de frase que se espera de alguém em plena crise existencial ou de um artista a ensaiar um monólogo existencial num palco em Viena. Mas foi Cate Blanchett — a atriz de Tár, Blue Jasmine e O Aviador, duas vezes vencedora do Óscar — quem a disse, e sem ironia:
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“Estou a desistir. Quero fazer outras coisas com a minha vida.”
A revelação foi feita em entrevista à Radio Times, no contexto da estreia da sua primeira grande peça radiofónica na BBC Radio 4, uma adaptação de The Fever, de Wallace Shawn. A atriz interpreta uma mulher que atravessa um despertar político e espiritual. Não podia haver melhor metáfora.
Uma decisão (aparentemente) séria
Apesar de continuar envolvida em vários projetos — no cinema, no teatro, na rádio — Blanchett afirma que a sua decisão é para levar a sério. “A minha família revira os olhos sempre que digo isto, mas falo a sério”, acrescentou.
É verdade que Blanchett já tinha deixado escapar esta ideia em outras ocasiões, mas desta vez o contexto e o tom mudaram. Não se trata de uma pausa. Trata-se de uma vontade real de deixar de representar.
O que a espera do outro lado? A atriz não foi clara, mas referiu que há “muitas outras coisas” que quer fazer com a sua vida.
No auge, mas com desconforto
Curiosamente, Blanchett continua no auge da sua carreira artística. Recentemente terminou uma temporada de cinco semanas no Barbican Theatre em Londres, onde interpretou Arkadina em A Gaivota, de Tchékhov. Em março, estreou-se no cinema ao lado de Michael Fassbender no thriller Black Bag, realizado por Steven Soderbergh.
Está também envolvida em Father, Mother, Sister, Brother, de Jim Jarmusch, com estreia marcada para 2025, embora o filme tenha ficado de fora da seleção oficial do Festival de Cannes — um detalhe que causou alguma surpresa.
Além disso, está atualmente a filmar Alpha Gang, uma comédia de ficção científica dos irmãos David e Nathan Zellner, onde atua e produz. E prepara ainda The Champions, realizado por Ben Stiller, igualmente como atriz e produtora, através da sua empresa Dirty Films.
Uma estrela que não gosta do brilho
Cate Blanchett, que já conquistou todos os prémios possíveis — de dois Óscares a troféus em Veneza, Cannes e BAFTA — diz sentir-se deslocada na pele de estrela de cinema.
“Nunca me senti no centro de nada. Entro em cada ambiente com curiosidade, sem esperar ser aceite. Passei a vida a habituar-me a sentir-me desconfortável.”
E, talvez mais surpreendente ainda:
“Ninguém me aborrece mais do que eu própria. Acho-me profundamente aborrecida. Os outros são sempre mais interessantes.”
É uma afirmação desconcertante, vinda de alguém que interpretou personagens com camadas psicológicas tão densas e arrebatadoras. Mas talvez seja esse o segredo da sua arte: a capacidade de se apagar para dar lugar a algo maior. O problema é que, agora, ela quer mesmo apagar-se de vez do ecrã.
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Se esta for mesmo a despedida de Cate Blanchett do cinema, então é uma das saídas mais discretas e, paradoxalmente, mais profundas da história recente de Hollywood. E como qualquer grande artista, mesmo a sua saída é uma performance inesquecível.
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