O Filme Português Que Já Conquistou Paris — O Riso e a Faca Entre os Melhores do Ano para a Cahiers du Cinéma

A revista francesa colocou a obra de Pedro Pinho no top 5 de 2025, celebrando um triunfo raro e histórico para o cinema português.

O cinema português volta a fazer história — e desta vez com estrondo internacional. A Cahiers du Cinéma, considerada por muitos a mais influente revista de crítica cinematográfica do mundo, divulgou o seu top 10 dos melhores filmes de 2025, e O Riso e a Faca, de Pedro Pinho, surge numa honrosa e surpreendente 5.ª posição. Num ranking onde figuram nomes gigantes como Paul Thomas Anderson, Albert Serra, Richard Linklater ou Christian Petzold, a presença de um filme português não é apenas motivo de orgulho: é uma validação artística de dimensão global.

Ler também : Uma Viagem ao Passado Que Promete Surpreender: A Netflix Leva Assassin’s Creed à Roma Antiga

A lista é liderada por Tardes de Solidão, documentário de Albert Serra dedicado ao toureiro Andrés Roca Rey, seguido de Batalha Atrás de Batalha, o novo épico de Paul Thomas Anderson, e de Yes!, de Navad Lapid. Logo depois surge O Agente Secreto, de Kleber Mendonça Filho, e, em 5.º lugar, a obra de Pedro Pinho — o único filme português distinguido este ano e um dos poucos na história a alcançar semelhante destaque.

O Riso e a Faca é uma co-produção entre Portugal, Brasil, França e Roménia e apresenta a história de Sérgio, um engenheiro ambiental português que viaja até à Guiné-Bissau para avaliar os impactos ambientais da construção de uma estrada. O que começa como uma missão aparentemente técnica transforma-se num retrato incisivo sobre neocolonialismo, desigualdade e fracturas sociais ainda vivas entre o deserto e a selva. É cinema político, sensorial e profundamente inquietante — características que certamente conquistaram os críticos franceses.

Esta é apenas a segunda longa de ficção de Pedro Pinho, depois de A Fábrica do Nada (2017), também apresentado em Cannes. E foi justamente no festival francês, em maio, que O Riso e a Faca se estreou, garantindo um feito inédito para Portugal: Cleo Diára venceu o prémio de Melhor Interpretação no Un Certain Regard. Um marco histórico para o cinema nacional, que raramente encontra espaço de destaque neste tipo de selecções.

O filme estreou nas salas portuguesas no final de Outubro, tendo já saído de exibição, mas a consagração internacional reacende o interesse e confirma a força do olhar de Pedro Pinho sobre a herança pós-colonial portuguesa. Num ano cinematográfico especialmente competitivo, com obras de autores consagrados e estreias muito aguardadas, O Riso e a Faca conseguiu impor-se como uma das experiências mais marcantes e politicamente relevantes de 2025.

ler também : O Filme de Terror Que Baralhou o Mundo — e Agora Está na Netflix

Para muitos, este reconhecimento pode trazer uma nova vida à obra, futura redescoberta em ciclos de cinema, retrospectivas e plataformas de streaming. Para o cinema português, porém, fica já gravado: em 2025, um dos melhores filmes do ano falava português.

🎭 Cleo Diára Faz História em Cannes: Primeira Atriz Portuguesa a Vencer na Secção Un Certain Regard

Distinção internacional para a protagonista de “O Riso e a Faca” consagra o talento lusófono e dá novo impulso ao cinema português

ver também :🎬 Cannes 2025: Portugal conquista Cannes com “O Riso e a Faca” e “Era uma vez em Gaza” brilha na secção Un Certain Regard

Foi uma noite histórica para o cinema português e lusófono. A atriz Cleo Diára conquistou o prémio de Melhor Atriz na secção Un Certain Regard do Festival de Cannes 2025, graças à sua interpretação arrebatadora em O Riso e a Faca, realizado por Pedro Pinho. É a primeira vez que uma intérprete portuguesa vence este prestigiado prémio no maior festival de cinema do mundo.


Uma interpretação de corpo inteiro

Cleo Diára dá vida a Diára, uma mulher que vive num território africano onde se cruza com um engenheiro ambiental português envolvido num projeto de construção de uma estrada. Entre o calor do deserto e os silêncios da selva, a sua personagem carrega o peso do passado, do corpo colonizado e da intimidade como terreno de resistência.

A performance de Diára foi amplamente elogiada pela crítica internacional pela sua intensidade contidapresença magnética e uma rara capacidade de comunicar emoções complexas sem recorrer ao óbvio. A entrega física e emocional da atriz imprimiu uma marca indelével num filme já de si ousado na forma e no conteúdo.


Uma vitória partilhada (mas distinta)

O prémio foi atribuído ex aequo com Frank Dillane, protagonista de Urchin, mas isso não retira o brilho à conquista: trata-se de um reconhecimento sem precedentes para uma atriz com origens cabo-verdianas e carreira feita maioritariamente em Portugal. Cleo Diára junta-se assim a um restrito grupo de talentos nacionais que já deixaram marca em Cannes — mas com um feito inédito no feminino e na representação.


Impacto para além do troféu

O prémio de Melhor Atriz em Un Certain Regard é mais do que uma medalha: é uma afirmação de que o cinema português pode competir ao mais alto nível, com histórias que cruzam geografias, identidades e feridas históricas. E é também uma validação do percurso artístico de Cleo Diára, que se afirmou como uma das atrizes mais promissoras e comprometidas da sua geração.

Num festival onde estrearam filmes realizados por nomes como Scarlett Johansson e Kristen Stewart, foi a voz serena mas poderosa de Cleo Diára que ficou gravada na memória do júri.


E agora?

Com O Riso e a Faca ainda a iniciar o seu circuito internacional, a vitória em Cannes promete abrir portas — tanto para a atriz como para o filme. Distribuidores, festivais e críticos de todo o mundo estarão agora atentos ao próximo passo de Cleo Diára, que provou não apenas ter talento, mas ser capaz de o projectar num dos palcos mais exigentes do mundo.

ver também : 🎥 Cannes consagra estreia chechena e documentário sobre Assange com o prémio L’Œil d’or

🎬 Cannes 2025: Portugal conquista Cannes com “O Riso e a Faca” e “Era uma vez em Gaza” brilha na secção Un Certain Regard

Prémios para Pedro Pinho e para os irmãos Nasser elevam a presença lusófona no festival. Scarlett Johansson, Kristen Stewart e Harris Dickinson também marcam estreia na realização.

ver também : 🎥 Cannes consagra estreia chechena e documentário sobre Assange com o prémio L’Œil d’or

A secção Un Certain Regard do Festival de Cannes 2025 revelou-se uma das mais vibrantes e politicamente relevantes dos últimos anos. Com uma seleção de 20 filmes — incluindo nove primeiras obras — a competição distinguiu obras de forte carga emocional, social e estética. Entre os destaques, dois filmes com ligação a Portugal saíram premiados: O Riso e a Faca, de Pedro Pinho, e Era uma vez em Gaza, dos irmãos palestinianos Arab e Tarzan Nasser, com coprodução portuguesa.


🇵🇹 O Riso e a Faca: o neocolonialismo na lente de Pedro Pinho

O realizador português Pedro Pinho regressou a Cannes oito anos depois de A Fábrica de Nada, desta vez com uma longa-metragem rodada em África e com mais de três horas de duração. O Riso e a Faca valeu o Prémio de Melhor Atriz a Cleo Diára, ex aequo com Frank Dillane, protagonista de Urchin, de Harris Dickinson.

O filme segue Sérgio (Sérgio Coragem), um engenheiro ambiental português que viaja para África para colaborar num projecto de construção de uma estrada entre o deserto e a selva. No entanto, a missão técnica rapidamente se transforma numa descoberta íntima, emocional e política, à medida que Sérgio se envolve com dois habitantes locais: Diára (Cleo Diára) e Gui (Jonathan Guilherme). A obra aborda temas como o neocolonialismo, o privilégio europeu e os laços interpessoais entre culturas em tensão.


🌍 Era uma vez em Gaza: humor, resistência e falafel

Realizado pelos irmãos Arab e Tarzan NasserEra uma vez em Gaza conquistou o Prémio de Melhor Realização, com o júri a destacar a ousadia e humanidade da obra. A história acompanha dois jovens amigos, Yahia e Osama, que vendem comprimidos escondidos em sanduíches de falafel numa Gaza devastada e sob bloqueio. Entre sonhos de fuga, máquinas de picar carne e farmácias saqueadas, o filme encontra espaço para crítica social, humor negro e até lirismo.

Com coprodução portuguesa (Ukbar Filmes), além de França, Alemanha e Palestina, o filme contou com apoio do ICA e da RTP, tendo a pós-produção sido finalizada em Portugal. Esta é a terceira longa-metragem dos irmãos Nasser, nascidos em Gaza e atualmente a filmar na Jordânia.

🏆 Os restantes premiados de 2025

  • Prémio Un Certain RegardLa misteriosa mirada del flamenco, de Diego Céspedes (Chile), sobre uma família queer numa cidade mineira chilena durante os primeiros dias da crise da SIDA — uma história com toques de western, protagonizada por actores transgénero.
  • Prémio do JúriUn Poeta, de Simón Mesa Soto (Colômbia), sobre um poeta envelhecido que se torna mentor de uma adolescente.
  • Melhor AtorFrank Dillane em Urchin, realizado por Harris Dickinson.
  • Melhor ArgumentoPillion, de Harry Lighton, protagonizado por Alexander Skarsgård.

O júri foi presidido pela cineasta Molly Manning Walker e incluiu os realizadores Louise Courvoisier e Roberto Minervini, o actor Nahuel Perez Biscayart e a programadora Vanja Kaluđerčić.

🎥 Estreias de peso na realização: Scarlett, Kristen e Harris

A edição de 2025 marcou também as estreias na realização de três nomes sonantes de Hollywood:

  • Scarlett Johansson apresentou Eleanor the Great, centrado numa viúva de 94 anos que assume por engano a identidade da amiga falecida, sobrevivente do Holocausto.
  • Kristen Stewart comoveu com The Chronology of Water, uma adaptação da autobiografia de Lidia Yuknavitch, que mergulha em temas como trauma, abuso e resiliência feminina.
  • Harris Dickinson, conhecido por Babygirl, surpreendeu com Urchin, um retrato sombrio da toxicodependência em Londres.

🌐 Un Certain Regard: um espaço para novas vozes

Mais uma vez, a secção Un Certain Regard provou ser o espaço mais estimulante do Festival de Cannes para novos olhares e narrativas arrojadas. A forte presença portuguesa, a valorização de vozes árabes e queer, e o surgimento de novas cineastas internacionais reforçam o compromisso do festival com a diversidade estética e social do cinema contemporâneo.

🇵🇹 O Riso e a Faca e Magalhães em destaque em Cannes

O cinema português marca presença na 78.ª edição do Festival de Cannes com duas produções que prometem dar que falar: O Riso e a Faca, de Pedro Pinho, e Magalhães, de Lav Diaz. Ambos os filmes terão estreia mundial no prestigiado certame, que decorre de 13 a 24 de maio em França. 

ver também : 🎥 Put Your Soul on Your Hand and Walk: Cannes Homenageia Fotojornalista Palestina Fatma Hassouna

🎬 O Riso e a Faca: Uma Viagem Introspectiva pela África Ocidental

Após o aclamado A Fábrica de Nada (2017), Pedro Pinho regressa com O Riso e a Faca, selecionado para a secção “Un Certain Regard”. O filme acompanha Sérgio, um engenheiro ambiental que se desloca a uma metrópole da África Ocidental para trabalhar numa ONG na construção de uma estrada entre o deserto e a selva. Lá, envolve-se numa relação complexa com dois habitantes locais, Diara e Gui, enquanto enfrenta as dinâmicas neocoloniais da comunidade de expatriados.

O elenco conta com Sérgio Coragem, Cleo Diára e Jonathan Guilherme nos papéis principais. A produção é assinada pela Uma Pedra no Sapato e Terratreme Filmes.


🌍 Magalhães: Uma Perspetiva Asiática sobre o Navegador Português

Na secção “Cannes Première”, destaca-se Magalhães, do realizador filipino Lav Diaz, coproduzido pela portuguesa Rosa Filmes. O filme, protagonizado por Gael García Bernal, retrata a figura de Fernão de Magalhães, explorando a sua viagem de circum-navegação sob uma perspetiva do sudeste asiático. Inicialmente concebido com o título Beatriz – A Mulher, o projeto evoluiu para focar-se na visão filipina sobre o navegador português. 

Com cerca de nove horas de duração, Magalhães será apresentado numa versão mais curta no festival. As filmagens decorreram em Portugal e Espanha, reforçando a colaboração internacional na produção. 


🎥 Outras Presenças Portuguesas em Cannes 2025

Além destes dois filmes, o cinema português marca presença em outras secções do festival:

  • Era uma vez em Gaza, dos irmãos palestinianos Arab e Tarzan Nasser, coproduzido pela Ukbar Filmes, integra a secção “Un Certain Regard”. 
  • Entroncamento, de Pedro Cabeleira, foi selecionado para o programa ACID Cannes, dedicado a cinema independente. 
  • No mercado do filme, será apresentado o projeto de animação Ana, en passant, de Fernanda Salgado, uma coprodução da portuguesa Sardinha em Lata com a brasileira Apiário. 

Ver também : 🏛️ O Palácio de Cidadãos: Um Retrato Íntimo da Assembleia da República