“After the Hunt”: o filme que 2025 precisava — e que não tem medo de mexer nas feridas

Julia Roberts, Ayo Edebiri e Andrew Garfield num duelo moral incendiário — e um argumento de estreia que já está a dividir plateias 🔥

“After the Hunt” chega envolto em polémica, debates acesos e clips virais — exactamente como um filme adulto, sobre o mundo real, deve chegar. Estreado em Veneza e apresentado depois no New York Film Festival, o novo trabalho de Luca Guadagnino junta Julia Roberts (Alma), Andrew Garfield (Hank) e Ayo Edebiri (uma aluna-protegida que desencadeia o drama) para desmontar, com bisturi e sem anestesia, um caso de alegada agressão sexual num campus da Ivy League. A partir daqui, nada é simples: a justiça parece binária, as pessoas não.

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O “filme-conversa” que ferve por dentro

Escrito pela estreante Nora Garrett, o argumento recusa a cartilha do preto-no-branco. Em vez de discursos programáticos, há conversas, contradições e dilemas: ambição académica, culpa, memória, auto-preservação. Guadagnino filma isto como um thriller de ideias — câmara próxima, silêncios a arder, olhares que dizem mais do que páginas de diálogo — e dá aos actores espaço para respirarem (e para nos tirarem o ar).

Alma, Hank, Maggie: três verdades, um abismo

  • Alma (Roberts) é uma académica que viveu “da cabeça para cima”: metódica, controladora, ferozmente ambiciosa. A crise testa não só a sua ética, mas a identidade que construiu para chegar “lá acima”.
  • Hank (Garfield) é o colega-referência, ora mentor, ora espelho estilhaçado. O filme obriga-nos a confrontar a distância entre a imagem pública e o íntimo.
  • A jovem protegida (Edebiri) surge como epicentro de uma história onde acreditar ou duvidar tem consequências — pessoais, profissionais, políticas.

Nada aqui se resolve com uma frase feita ou com um tweet. Garrett insiste na zona cinzenta onde vivemos: pessoas boas que falham, pessoas falíveis que, ainda assim, merecem ser ouvidas.

O viral que o filme já previa

O momento que incendiou as redes — a entrevista em Veneza onde uma pergunta sobre “pós-#MeToo” e “pós-BLM” saiu torta — tornou-se um espelho meta do próprio filme: quem tem voz, quem a usa, quem a interpreta e quem a contesta. A reacção em cadeia online confirmou a tese de Garrett: vivemos tempos de flattening, em que opiniões são achatadas à sua leitura mais extrema. “After the Hunt” empurra no sentido contrário.

Garrett, a “má feminista”? Nem pensar.

A argumentista tem ouvido de tudo — inclusive rótulos fáceis — e responde com aquilo que o seu texto pratica: nuance. A sua Alma não é bandeira, é personagem. A dúvida que sobrevoa partes da narrativa não é um jogo cínico: é um convite a pensarmos como julgamos, com que provascom que pressa. E o cinema, lembra o filme, não existe para nos dar folhas de cálculo moral, mas para nos deixar a pensar a caminho de casa.

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Guadagnino em modo lâmina

Sem listas de planos e sem medo do risco, Guadagnino assina um filme de gestos: um olhar que vacila, um aperto de mão que não acontece, uma nota de 20 dólares pousada na mesa que resume — sem explicar — poder e transacção. É esse realismo nervoso que torna “After the Hunt” desconfortável e, por isso mesmo, necessário.

Vale a pena?

Se procuras respostas fechadas, este não é o filme. Se queres um cinema que mexeprovoca e obriga a pensar antes de “tomar partido”, então “After the Hunt” é, muito provavelmente, o título mais provocador de 2025. E com performances que vão dar que falar — Roberts em modo lâmina fria, Garfield num equilíbrio perigoso e Edebiri a provar que a sua intensidade não é só televisiva.

Sem spoilers, mas com aviso

Não esperes absolvições fáceis nem vilões de desenho animado. O último acto não fecha portas — abre fissuras. É aí, nesse desconforto, que o filme encontra a sua força.

⚖️ Harvey Weinstein Enfrenta Novo Julgamento por Crimes Sexuais em Nova Iorque

Sete anos depois de ter sido o epicentro do movimento #MeToo, Harvey Weinstein, o outrora todo-poderoso produtor de Hollywood, volta ao banco dos réus em Nova Iorque. O novo julgamento teve início a 15 de abril de 2025, com a seleção do júri a decorrer esta semana num tribunal de Manhattan. Trata-se do terceiro processo criminal que enfrenta num espaço de pouco mais de cinco anos.

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Aos 73 anos, com problemas de saúde e visivelmente debilitado (tem estado detido em Rikers Island com múltiplas estadias hospitalares), Weinstein continua a afirmar-se inocente. Mas os factos que se acumulam ao longo da última década contam uma história bem diferente — a de um padrão de abuso de poder e violência sexual, segundo dezenas de mulheres.

O que motivou este novo julgamento?

Este novo processo surge após a anulação da condenação de 2020 em Nova Iorque, quando um tribunal de recurso considerou que o juiz do julgamento original permitiu testemunhos indevidos de mulheres cujas alegações não faziam parte da acusação formal. A decisão levou à revogação da sentença de 23 anos de prisão a que Weinstein tinha sido condenado.

A procuradoria liderada por Alvin Bragg, no entanto, não perdeu tempo: anunciou a intenção de repetir o julgamento e acrescentou uma nova acusação baseada numa denúncia distinta, até então não incluída nos processos anteriores.

Quem são as vítimas neste julgamento?

Três mulheres irão testemunhar neste processo:

  • Jessica Mann, ex-actriz, que já havia prestado depoimento no julgamento de 2020;
  • Miriam “Mimi” Haley, produtora de televisão, também testemunha anterior;
  • Uma terceira mulher, cuja identidade não foi divulgada publicamente, que alega ter sido forçada a praticar sexo oral em Weinstein num hotel, em 2006.

Os depoimentos deverão decorrer ainda este mês, após a seleção do júri, que está a ser cuidadosamente conduzida pelo juiz Curtis Farber, preocupado com o histórico mediático do caso e os preconceitos que os jurados possam trazer consigo.

O homem por trás dos filmes — e por trás das manchetes

Durante décadas, Harvey Weinstein foi um dos homens mais influentes da indústria do cinema. Com uma carreira ligada a sucessos como Pulp FictionShakespeare in LoveO Paciente Inglês e Génio Indomável, o produtor era sinónimo de prestígio nos Óscares… até 2017.

Foi nesse ano que duas investigações bombásticas, uma do The New York Times e outra da The New Yorker, trouxeram a público décadas de alegações de abuso sexual por parte de Weinstein. O impacto foi sísmico: o produtor foi demitido da sua própria empresa, The Weinstein Company, que viria a declarar falência, e o escândalo ajudou a dar origem ao movimento #MeToo.

Desde então, mais de 80 mulheres vieram a público com relatos de comportamentos abusivos e coercivos. Algumas delas, como Ashley JuddRose McGowan e Asia Argento, tornaram-se vozes centrais de uma nova era de denúncia e responsabilização em Hollywood.

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🎬 A história de Harvey Weinstein é agora menos sobre cinema e mais sobre justiça. O novo julgamento pode não só restabelecer a condenação anterior, como adicionar novas camadas ao processo de reparação — judicial, social e simbólica — que se seguiu a um dos maiores escândalos da história do entretenimento.

🎬 Gwyneth Paltrow Criticada por Declarações “Irresponsáveis” Sobre Cenas de Sexo com Timothée Chalamet

As declarações recentes de Gwyneth Paltrow sobre a sua experiência em cenas íntimas com Timothée Chalamet voltaram a lançar combustível para o debate sobre coordenadores de intimidade em Hollywood — e não agradaram a todos no setor.

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A atriz, vencedora de um Óscar por A Paixão de Shakespeare (1998), está de regresso ao grande ecrã com Marty Supreme, descrito por si como o seu “primeiro trabalho a sério” desde Country Strong (2010). Mas o que gerou mais ruído não foi o filme — previsto para estrear no Natal — mas sim os comentários feitos numa entrevista à Vanity Fair, em que Paltrow abordou o papel dos coordenadores de intimidade, figuras cada vez mais presentes nos sets de filmagem desde o movimento #MeToo.

“Miúda, sou da era em que se ficava nua, ia-se para a cama e se punha a câmara a trabalhar”, disse a atriz de 52 anos, referindo-se à sua reação quando a coordenadora de intimidade a abordou para discutir detalhes de uma cena sexual com Timothée Chalamet, de 29 anos. “Foi algo do género ‘Muito bem, eu tenho 109 anos. Tu tens 14.’”, brincou, num tom que nem todos acharam apropriado.

“Bastante irresponsável”, diz produtora britânica

Uma das reações mais contundentes veio de Caroline Hollick, antiga responsável de drama do canal britânico Channel 4 e produtora reconhecida no panorama europeu. Durante um painel no prestigiado festival Series Mania, dedicado ao tema “Vamos falar sobre sexo! (E consentimento)”, Hollick considerou as palavras de Paltrow “irresponsáveis”.

“Como uma mulher poderosa em Hollywood, a representar com um homem muito mais jovem do que ela… tenho certeza de que [com Chalamet] é tranquilo, mas achei que foi uma coisa bastante irresponsável de se dizer.”

Hollick lamentou ainda que os coordenadores de intimidade — profissionais cuja função é garantir o conforto e o consentimento em cenas sensíveis — “tenham sido apanhados nas franjas das guerras culturais”, e reforçou que a sua presença é essencial para proteger os atores dentro da complexa hierarquia de poder nos sets.

“Os produtores têm objetivos, os argumentistas têm objetivos, os realizadores têm objetivos. Trazer um coordenador de intimidade para o set dá poder ao ator, porque há alguém ao lado para lutar por ele.”

Sexo na ficção: cortar ou fazer melhor?

Um dos pontos mais relevantes levantados por Caroline Hollick foi o perigo de, em resposta ao desconforto ou polémica, as cenas de sexo desaparecerem pura e simplesmente das narrativas audiovisuais — um movimento que já se começa a notar, sobretudo em televisão. Para a produtora, isso seria um erro.

“Não desejo que exista menos sexo na TV. A alternativa é que tudo o que as pessoas verão em termos de representação é pornografia.”

A proposta é clara: filmar sexo com a mesma atenção e profissionalismo com que se filma uma cena de ação. Criar uma linguagem cinematográfica que respeite os envolvidos, que seja verdadeira para a história, e que — acima de tudo — não perpetue dinâmicas de poder nocivas.

Entre o humor e a responsabilidade

Se as declarações de Paltrow foram apenas uma tentativa de humor ou uma expressão legítima de frustração artística, é algo que o público e a indústria continuam a debater. Mas o episódio serve como lembrete de que, mesmo entre atores veteranos, a sensibilidade no que toca à representação da intimidade está longe de ser consenso.

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Em tempos de mudança, há quem peça prudência — e há quem peça coragem. Talvez o desafio esteja em encontrar uma nova forma de contar histórias íntimas com autenticidade, consentimento… e cinema.

Guy Pearce Recorda Experiências Perturbadoras com Kevin Spacey em L.A. Confidential

O ator Guy Pearce emocionou-se durante uma entrevista recente ao recordar as suas experiências desconfortáveis ao lado de Kevin Spacey durante as filmagens do clássico L.A. Confidential (1997). Pearce, que atualmente está nomeado para um Óscar pelo seu papel em The Brutalist, revelou que só muitos anos depois conseguiu processar o impacto desses encontros.

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Um Despertar Emocional e Doloroso 🎭💔

Em conversa com Scott Feinberg, no podcast Awards Chatter, Pearce explicou como o movimento #MeToo lhe deu uma nova perspetiva sobre o que havia experienciado ao trabalhar com Spacey.

“Estava em Londres quando comecei a ler as notícias sobre o Kevin e desatei a chorar. Não conseguia parar. Foi um verdadeiro despertar para mim, perceber o impacto daquilo e como tinha ignorado ou bloqueado essas memórias.”

Embora não tenha sido vítima de abuso sexual, Pearce deixou claro que se sentiu “visado” por Spacey nos bastidores do filme:

“Ele é extremamente carismático e brilhante, mas é também um homem agressivo. Eu era jovem e vulnerável, e ele escolheu-me como alvo, sem dúvida alguma.”

A Dinâmica no Set de L.A. Confidential 🎬

Pearce, que interpretou o agente Ed Exley, revelou que se sentia desconfortável sempre que Spacey estava presente nas gravações. O único momento em que se sentia mais seguro era quando o colega Simon Baker (O Mentalista) estava no set:

“Eu dizia à minha mulher: ‘Os únicos dias em que me sinto seguro são os dias em que o Simon está no set, porque o Kevin me ignora e foca-se nele. Ele era dez vezes mais bonito do que eu.’”

Apesar da sua relutância inicial em falar publicamente sobre o assunto, Pearce admitiu que já teve “algumas confrontações” com Spacey, que “ficaram feias”.

Entre a Indústria e a Justiça ⚖️

Desde 2017, várias acusações contra Spacey vieram a público, incluindo as do ator Anthony Rapp, que alegou que Spacey tentou aliciá-lo quando este tinha 14 anos. O caso resultou num julgamento, mas Spacey foi considerado não responsável. Em 2023, foi também absolvido de nove acusações de agressão sexual num tribunal britânico.

Ainda assim, Pearce mantém a sua posição crítica e explica que agora prefere “ser mais honesto e chamar as coisas pelos nomes”.

A Ascensão e o Reconhecimento de Pearce 🎥🏆

O ator australiano, que começou em novelas como Neighbours, consolidou-se como um talento de referência em Hollywood, com papéis icónicos em Priscilla, Rainha do Deserto, Memento e agora The Brutalist, nomeado para 10 Óscares. No filme da A24, Pearce interpreta um industrialista americano envolvido em assédio sexual, um papel que ganhou relevância face à sua própria experiência na indústria.

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Com a sua crescente franqueza e reconhecimento, Pearce continua a afirmar-se como um ator de enorme versatilidade, disposto a encarar tanto os desafios da ficção como as realidades da vida real.

Cinemateca Francesa Cancela Exibição de “O Último Tango em Paris” Após Protestos e Preocupações com Segurança

A Cinemateca Francesa tomou a decisão controversa de cancelar a exibição de O Último Tango em Paris (1972), uma obra icónica mas também profundamente polémica. O filme, realizado por Bernardo Bertolucci e protagonizado por Marlon Brando e Maria Schneider, estava agendado para ser exibido a 15 de dezembro como parte de uma retrospetiva dedicada a Brando. Contudo, protestos de associações feministas e preocupações de segurança levaram à suspensão da sessão, que incluiria também um debate sobre as controvérsias em torno da produção.

Uma Decisão Marcada por Protestos e Controvérsia

A cena mais polémica do filme — uma sequência de violação simulada, gravada sem o consentimento prévio de Maria Schneider — tem sido amplamente criticada ao longo dos anos, especialmente após o surgimento do movimento #MeToo. Schneider, que tinha apenas 19 anos na altura das filmagens, revelou mais tarde que a cena foi planeada pelo realizador e por Brando sem o seu conhecimento. “Eu senti-me violada, tanto por Marlon como por Bertolucci”, afirmou Schneider numa entrevista antes de falecer em 2011.

Associações feministas, atrizes e figuras públicas apelaram à Cinemateca para cancelar ou, pelo menos, contextualizar a exibição do filme, denunciando a falta de respeito para com Schneider. Judith Godrèche, uma figura de destaque do movimento #MeToo em França, criticou duramente a instituição, apelando à inclusão de uma mediação que abordasse o trauma vivido pela atriz.

A Cinemateca e a Responsabilidade de Contextualizar

Inicialmente, a Cinemateca planeava acompanhar a exibição de O Último Tango em Paris com um debate sobre as questões éticas e sociais que o filme levanta. Contudo, Frédéric Bonnaud, diretor da Cinemateca, anunciou o cancelamento da sessão numa declaração oficial, citando preocupações de segurança. “Somos uma cinemateca, não um acampamento entrincheirado”, afirmou, referindo-se à crescente hostilidade e à potencial ameaça à segurança dos funcionários e do público.

A decisão surge numa altura sensível, em que o julgamento de Christophe Ruggia, acusado de agressão sexual à atriz Adèle Haenel quando esta era menor, está em andamento, reacendendo debates sobre a violência e o abuso no meio cinematográfico.

O Legado Polémico de O Último Tango em Paris

Lançado em 1972, O Último Tango em Paris foi imediatamente recebido com reações extremas, desde aclamação como obra-prima artística até repúdio devido à sua representação explícita de sexualidade e violência. A cena em questão levou a que o filme fosse classificado como pornográfico e condenado por diversas instituições, incluindo o Vaticano. Décadas depois, a sequência tornou-se um símbolo das práticas abusivas de algumas produções cinematográficas.

Jessica Chastain, uma das figuras de destaque do movimento #MeToo, criticou o filme em 2017: “Ver uma jovem de 19 anos a ser violada por um homem de 48 anos e saber que isso foi planeado deixa-me doente.” Estas palavras refletem um sentimento generalizado de que as práticas de rodagem da época muitas vezes ignoravam os direitos e a dignidade das mulheres.

A Reação da Indústria e o Debate Contínuo

A Cinemateca Francesa já tinha enfrentado situações semelhantes no passado. Em 2017, cancelou uma retrospetiva dedicada a Jean-Claude Brisseau, condenado por assédio sexual. Desta vez, a instituição encontrou-se novamente no centro de uma tempestade mediática, com críticos divididos entre a defesa da liberdade de expressão artística e a necessidade de abordar a violência histórica contra mulheres no cinema.

Por um lado, sindicatos como o SFA-CGT afirmaram que “filmar e transmitir violações continua a ser condenável”. Por outro, defensores da exibição do filme argumentaram que a obra deveria ser apresentada num contexto que permitisse a discussão informada sobre o seu impacto e significado histórico.

Conclusão

O cancelamento de O Último Tango em Paris na Cinemateca Francesa é mais do que uma decisão administrativa; é um reflexo das tensões em curso na indústria cinematográfica, onde a necessidade de reavaliar práticas passadas colide com a preservação do legado artístico. À medida que o cinema continua a enfrentar os desafios do movimento #MeToo, o caso deste filme serve como um lembrete de que, por vezes, a arte e a ética podem entrar em conflito de maneiras difíceis de resolver.

Rebecca Hall Reflete Sobre Decisão no Caso Woody Allen

Rebecca Hall, atriz britânica conhecida por filmes como Vicky Cristina Barcelona, expressou recentemente arrependimento pela forma como lidou com o caso Woody Allen durante o auge do movimento #MeToo. Em 2018, Hall distanciou-se publicamente do realizador, doando o seu salário de Um Dia de Chuva em Nova Iorque e pedindo desculpa por ter trabalhado com Allen, após Dylan Farrow, filha do cineasta, reafirmar acusações de abuso sexual.

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Passados quase sete anos, Hall admitiu ao jornal The Guardian que a sua declaração foi precipitada. “Não me arrependo de ter trabalhado com ele. Deu-me uma oportunidade profissional incrível e foi sempre gentil comigo”, afirmou, enfatizando que, na altura, agiu sob intensa pressão social e pessoal, incluindo o facto de estar grávida.

A atriz reflete que os artistas não deveriam ser forçados a tomar posições públicas sobre questões controversas. “O meu trabalho é ser uma artista, não fazer proclamações públicas”, disse. Hall lamenta que a sua declaração tenha contribuído para o que descreve como uma tendência na indústria: atores a tomarem posições consideradas “seguras” para proteger as suas carreiras.

Woody Allen, vencedor de quatro Óscares, continua a ser uma figura polarizadora. Embora tenha negado consistentemente as acusações e estas não tenham sido corroboradas em investigações, a controvérsia afetou gravemente a sua carreira nos EUA, embora continue a ser celebrado na Europa.

O caso de Hall sublinha o impacto do escrutínio público na vida pessoal e profissional dos artistas, bem como as complexidades envolvidas em lidar com temas sensíveis na indústria do entretenimento.

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Nicole Kidman e Cate Blanchett Reinventam o Thriller Erótico no Festival de Veneza

O Festival de Cinema de Veneza deste ano trouxe de volta um género que há muito tempo não dominava as telas: o thriller erótico. Este regresso foi liderado por duas das mais renomadas atrizes de Hollywood, Nicole Kidman e Cate Blanchett, que protagonizam projetos altamente aguardados e que desafiam as normas tradicionais do género, apresentando narrativas complexas através de uma perspetiva feminina.

“Babygirl” de Nicole Kidman

Nicole Kidman, conhecida por explorar personagens complexas e emocionalmente desafiadoras, brilhou em Veneza com o seu novo filme “Babygirl”. O filme, dirigido pela cineasta holandesa Halina Reijn, é o terceiro projeto da realizadora e marca a sua primeira seleção para um grande festival. “Babygirl” é um filme que mergulha profundamente nas complexidades da sexualidade e do desejo, temas que Kidman tem explorado ao longo da sua carreira.

Kidman interpreta uma empresária casada que, insatisfeita com o seu casamento, embarca num relacionamento sadomasoquista com um jovem estagiário, colocando em risco a sua carreira e a sua família. A atriz expressou como a experiência de filmar cenas de sexo explícito foi “muito estranha” e algo que normalmente “não é para ser visto por todos”. A reação ao filme foi calorosa, com muitos aplaudindo a abordagem ousada e sensível de Reijn, bem como a performance corajosa de Kidman.

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Cate Blanchett em “Disclaimer”

Cate Blanchett também trouxe o seu talento para Veneza com a série “Disclaimer”, um thriller psicológico dirigido por Alfonso Cuarón. A série, que mistura elementos de suspense com uma intensa carga emocional, aborda os temas de vergonha, arrependimento e as consequências de decisões passadas. Blanchett interpreta uma jornalista de sucesso que é confrontada com os erros do seu passado quando alguém publica um romance que detalha exatamente os eventos que ela esperava manter escondidos.

“Disclaimer” foi apresentado como uma série de sete episódios, filmada com a intensidade e o cuidado de um longa-metragem. O público de Veneza recebeu os primeiros episódios com entusiasmo, aplaudindo calorosamente as performances de Blanchett e dos seus colegas de elenco, incluindo Sacha Baron Cohen e Kevin Kline.

Uma Nova Perspetiva no Thriller Erótico

Ambos os projetos representam uma evolução do thriller erótico, um género que atingiu o seu auge nas décadas de 1980 e 1990 com filmes como “Atracção Fatal” e “Instinto Fatal”. Desde o movimento #MeToo, o género sofreu uma reinvenção, com mais histórias a serem contadas a partir de uma perspetiva feminina, explorando o desejo e a intimidade de maneiras mais subtis e profundas.

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Filmes como “Retrato de uma Rapariga em Chamas” abriram caminho para esta nova abordagem, onde as práticas de filmagem também mudaram significativamente, incluindo a utilização de coordenadores de intimidade para garantir o conforto e a segurança dos atores durante cenas sensíveis. Este novo olhar permite que o thriller erótico evolua de uma forma que respeite mais os atores e as histórias que estão a ser contadas, permitindo uma exploração mais honesta e emotiva do desejo humano.

Conclusão

Nicole Kidman e Cate Blanchett, com “Babygirl” e “Disclaimer”, trouxeram uma nova dimensão ao thriller erótico, destacando a importância de contar histórias complexas e emocionalmente ricas através de uma lente feminina. O Festival de Cinema de Veneza deste ano não só celebrou estas performances ousadas, mas também mostrou que o género tem um futuro vibrante e inovador pela frente, capaz de desafiar convenções e explorar novas fronteiras cinematográficas.

#MeToo francês: Benoît Jacquot levado a tribunal, Jacques Doillon libertado

A onda de acusações do movimento #MeToo continua a fazer ondas no cinema francês, com os cineastas Benoît Jacquot e Jacques Doillon no centro de uma nova polémica. Ambos foram detidos para interrogatório na segunda-feira, após acusações de violência sexual feitas por Judith Godrèche e outras atrizes. Enquanto Jacquot enfrentará a justiça, Doillon foi libertado sem acusação.

Benoît Jacquot, conhecido por filmes como “Adeus, Minha Rainha” e “Diário de Uma Criada de Quarto”, foi mantido sob custódia policial por 48 horas e será apresentado à justiça francesa na quarta-feira. A sua advogada, Julia Minkowski, expressou indignação pela detenção, classificando-a de “questionável” e defendendo que uma audiência em liberdade teria sido mais apropriada. Já Jacques Doillon, cuja filmografia inclui “Ponette” e “Rodin”, foi libertado sem acusação, após ser interrogado pela polícia. A sua advogada, Marie Dosé, criticou a custódia policial, considerando-a injustificada devido à antiguidade dos factos denunciados, que remontam a 36 anos.

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As acusações contra Jacquot e Doillon surgiram no início de fevereiro, quando Judith Godrèche, de 52 anos, apresentou queixas na justiça francesa. Godrèche acusou Jacquot de violação e Doillon de agressão sexual, alegando que os crimes ocorreram quando era menor de idade. O caso de Jacquot é particularmente complexo, dado o seu relacionamento com Godrèche ter começado quando ela tinha apenas 14 anos, com o consentimento dos pais da atriz. A relação, descrita por Godrèche como de “dominação” e “perversão”, foi amplamente conhecida na comunicação social e no mundo do cinema.

Além de Godrèche, outras duas atrizes denunciaram Jacquot: Julia Roy, por agressão sexual, e Isild le Besco, por violação de menor de 15 anos e violação, ocorridas entre 1998 e 2007. Jacquot, um realizador prolífico com mais de 50 filmes e filmes para TV, tem uma longa história de trabalho com atrizes renomadas como Catherine Deneuve e Isabelle Huppert. No entanto, a sua abordagem ao trabalho, descrita por ele como a necessidade de estar “apaixonado” pelas suas atrizes, levantou questões sobre a dinâmica de poder e consentimento nos seus relacionamentos profissionais.

A investigação da Procuradoria de Paris está focada em alegados crimes como violação de um menor com menos de 15 anos por uma pessoa com autoridade, violação, violência doméstica e agressão sexual de um menor com menos de 15 anos por uma pessoa com autoridade. Esta custódia policial permitiu acareações entre os realizadores e algumas das atrizes que os acusam, incluindo Godrèche.

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As advogadas de ambos os cineastas denunciaram os “ataques à presunção de inocência” dos seus clientes e criticaram a cobertura mediática das detenções. Este caso destaca as tensões contínuas no movimento #MeToo francês, onde figuras proeminentes da indústria cinematográfica enfrentam um escrutínio cada vez maior sobre o seu comportamento passado.

Este desenvolvimento no caso de Jacquot e Doillon sublinha a importância de uma investigação rigorosa e justa, equilibrando as necessidades de justiça para as vítimas e a proteção dos direitos dos acusados. À medida que o #MeToo continua a evoluir, é crucial que tanto o público quanto a indústria cinematográfica permaneçam vigilantes e empenhados em promover um ambiente de trabalho seguro e respeitoso para todos.