O Filme Que Está a Dividir Críticos: A Estranha Odisseia de Hamnet

Quando Shakespeare Inspira um Drama Fantástico… e Umas Quantas Gripezinhas Criativas

Hamnet chega envolto numa onda de entusiasmo que quase parece maior do que o próprio filme. Depois de conquistar o People’s Choice Award no Festival de Toronto — um prémio que, curiosamente, tem o dom quase místico de irritar sempre os mesmos críticos — o novo trabalho de Chloé Zhao aterra nas salas com a confiança própria de quem já foi proclamado “o melhor filme de sempre” numa citação publicitária tão hiperbolizada que nem o site que a supostamente escreveu parece saber onde ela está. Convenhamos: é um começo… peculiar.

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Adaptado do romance de Maggie O’Farrell, Hamnet reinventa a história por detrás da criação de Hamlet, imaginando um Shakespeare em modo devaneio espiritual, a transformar a morte real do filho de onze anos numa catarse literária. O problema é que, segundo o texto original que inspirou este artigo, esta transformação cinematográfica não só exige um salto de fé, como um salto ornamental completo — daqueles dignos de competição olímpica.

Zhao anuncia desde o primeiro plano que não está interessada no rigor histórico. Jessie Buckley surge enrolada no chão da floresta, vestida de vermelho vivo, quase como uma divindade pagã caída num postal ilustrado de Terrence Malick. A sua Agnes (o nome pelo qual Anne Hathaway, mulher de Shakespeare, é aqui chamada) é apresentada como uma espécie de criatura mística que conversa com aves de rapina, tem poderes telúricos e transforma um parto numa cheia bíblica. Buckley, sempre impecável, tenta dar humanidade a esta figura mitológica, mas nem o seu talento evita que a personagem oscile entre o excêntrico e o involuntariamente cómico.

Depois temos Shakespeare, interpretado por Paul Mescal num registo tão trapalhão e desarticulado que o espectador fica a pensar se a ausência de eloquência será uma piada interna. A decisão artística é ousada, sem dúvida, mas acaba por ser estranha numa narrativa que gira à volta de um dos maiores escritores da História. Mescal — brilhante em Aftersun — vê-se aqui preso a um papel que insiste em transformá-lo num bobalhão melancólico perseguido por ravinas simbólicas que gritam “DESTINO TRÁGICO” com letras gigantes.

Quando chega a morte da criança, Zhao puxa do manual de melodrama com tanta intensidade que qualquer comparação com E.T. passa a parecer elogio moderado. A encenação do sacrifício do pequeno Hamnet, que supostamente “engana” a doença para salvar a irmã, estica o conceito de realismo mágico para lá da elasticidade possível. Buckley entrega uma performance visceral, repleta de gritos, lágrimas e toda a carga emocional possível, mas o filme parece mais interessado em provocar soluços do que em explorar a dor com subtileza.

O luto dá depois lugar ao ressentimento: Agnes transforma Shakespeare no saco de pancada emocional da casa, acusando-o de estar ausente em Londres, ocupado a escrever algumas das maiores obras da literatura, enquanto devia… assistir à tragédia em directo. A tensão culmina numa cena no Globe Theatre que desafia qualquer lógica histórica e que apresenta Agnes como alguém que, ao ver uma peça pela primeira vez, encontra redenção espiritual no exacto momento em que o argumento o exige.

O texto fornecido afirma ainda que Hamnet adopta uma visão quase simplista do processo criativo, atribuindo a génese de Hamlet a um momento de dor tão imediato que ignora completamente o trabalho, reescrita e complexidade inerentes à criação artística. Shakespeare, tal como aqui apresentado, praticamente tropeça no famoso “Ser ou não ser” entre um abismo e outro, como se as palavras lhe caíssem do céu. É um retrato algo redutor, por mais poético que Zhao o tente tornar.

Também há ecos de Nomadland, com os mesmos enquadramentos poético-rústicos ao pôr-do-sol e um uso intensivo da música de Max Richter — incluindo “On the Nature of Daylight”, peça recorrente em tantas produções que já rivaliza com “Carmina Burana” na categoria “banda sonora incontornável, mas desgastada”.

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No fim, Hamnet pode ser visto como uma tentativa ambiciosa de transformar Shakespeare em mito e dor em fantasia. Mas, segundo a crítica que esteve na base deste texto, é uma obra que procura lágrimas antes de procurar verdade, preferindo adornar a emoção em vez de a explorar. O resultado é um filme que divide, que provoca reacções fortes — nem sempre pelas razões pretendidas — e que deixa no ar uma pergunta: será este épico emocional um poema visual ou apenas um truque dramático à procura de prémios?

Hamnet”: O Filme Que Está a Partir Corações e a Rumo aos Óscares 💔🎭

Chloé Zhao regressa com Paul Mescal e Jessie Buckley num drama sobre Shakespeare, a perda e o poder do amor que sobrevive à morte

Prepare os lenços: o novo filme de Chloé Zhao, Hamnet, está a ser descrito como “o melhor filme do ano” — e o trailer agora divulgado confirma que vem aí uma verdadeira torrente de emoções. Depois de conquistar o público com Nomadland (que lhe valeu o Óscar de Melhor Realização), Zhao volta a mergulhar na dor humana com uma história de amor, perda e inspiração, centrada na figura do filho de William Shakespeare.

Antes de Hamlet, houve Hamnet

Baseado no romance homónimo de Maggie O’Farrell, Hamnet leva-nos à Inglaterra do século XVI, onde William Shakespeare (Paul Mescal) ainda luta por afirmar-se enquanto dramaturgo. Quando o seu filho Hamnet morre aos 11 anos, a tragédia transforma-se num ponto de viragem na vida do autor — um trauma que muitos acreditam ter dado origem à escrita de Hamlet, uma das maiores obras da literatura mundial.

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Mas a verdadeira alma do filme é Agnes (interpretada por Jessie Buckley), a esposa de Shakespeare, retratada como uma mulher intuitiva, ligada à natureza e consumida pelo luto. A relação entre ambos, filmada com a sensibilidade que Zhao já nos habituou, promete ser o coração emocional da narrativa.

Uma dor que ilumina

Apontado como um dos grandes candidatos à temporada de prémios, Hamnet já conquistou o People’s Choice Award no Festival de Toronto — distinção que, nos últimos anos, antecipou vários vencedores do Óscar de Melhor Filme. A estreia mundial deu-se em Telluride, onde foi recebido com aplausos de pé e críticas entusiasmadas.

A fotografia de Łukasz Żal (IdaCold War) envolve o filme numa aura etérea: campos verdejantes do País de Gales banhados por luz dourada, contrastando com o peso da dor e a serenidade de quem aprende a aceitar a perda.

Paul Mescal e Jessie Buckley: química e devastação

Depois de Aftersun, Paul Mescal confirma-se como um dos atores mais intensos da sua geração. Aqui, o seu Shakespeare é um homem dividido entre o génio criativo e a culpa pela ausência. Jessie Buckley, por sua vez, oferece uma performance descrita pela crítica como “mística e arrebatadora”, tornando Agnes numa das personagens femininas mais comoventes do cinema recente.

O cinema como elegia

Com argumento coescrito por Zhao e Maggie O’Farrell, Hamnet promete uma reflexão profunda sobre o amor, a morte e a arte como forma de eternizar a dor. Não é apenas um filme sobre Shakespeare — é sobre o que nos resta quando perdemos tudo.

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E se o trailer é alguma indicação, prepare-se: Hamnet não será apenas um dos filmes mais belos do ano — será também um dos mais tristes.