Sunshine: O Filme de Ficção Científica Que Antecipou o Futuro (E Que o Público Ignorou)

☀️ Em pleno Verão de 2007, quando as salas de cinema estavam invadidas por varinhas mágicas (Harry Potter e a Ordem da Fénix) e robôs gigantes (Transformers), estreava um pequeno — mas ambicioso — filme de ficção científica chamado Sunshine. Realizado por Danny Boyle e com um elenco de luxo que incluía Cillian Murphy, Michelle Yeoh, Chris Evans e Hiroyuki Sanada, este thriller espacial era tudo o que a época não pedia… e talvez por isso tenha sido ignorado.

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Hoje, com o sucesso estrondoso de Oppenheimer, as vitórias nos Óscares para Murphy e Yeoh, e a iminente estreia de 28 Years Later, está na hora de olhar para Sunshine como ele merece: uma obra intensa, cerebral e visualmente deslumbrante que falhámos redondamente em reconhecer.

Uma Missão Suicida… e Poética

Sunshine apresenta-nos uma missão desesperada: um grupo de astronautas segue rumo ao Sol com o objectivo de o reanimar, lançando uma ogiva nuclear no seu núcleo para salvar a Terra de uma nova era glacial. Um plano tão grandioso quanto insano, servido com a tensão psicológica de 2001: Odisseia no Espaço e o peso filosófico de Solaris. A atmosfera claustrofóbica da nave é digna de Alien, com a tripulação a debater-se com decisões morais, conflitos internos… e um intruso assassino.

Sim, o terceiro acto transforma o drama existencialista num slasher espacial — e foi esse desvio que muitos críticos da altura não perdoaram. Mas a transição é menos abrupta do que parece: a tensão acumulada desde o início implodia inevitavelmente em violência. Se calhar, simplesmente não estávamos preparados.

Visualmente Brilhante (Literalmente)

Com um orçamento modesto para o género, Sunshine continua a impressionar pelos seus efeitos visuais, que capturam com realismo e beleza a ameaça constante do Sol. As imagens do nosso astro-rei a engolir o ecrã são de cortar a respiração, antecipando, de forma quase profética, a icónica sequência de Oppenheimer com Cillian Murphy a encarar o inferno nuclear.

Esse mesmo Murphy entrega aqui uma das suas performances mais contidas e inquietantes, muito antes de se tornar o rosto dos Peaky Blinders e de vencer um Óscar. Ao seu lado, Michelle Yeoh oferece uma presença calorosa mas firme, enquanto Chris Evans, longe do escudo do Capitão América, prova que sabe ser mais do que músculos e sarcasmo. O elenco completa-se com nomes como Rose Byrne, Benedict Wong e Mark Strong — uma galeria de talentos que hoje encheria qualquer cartaz.

O Filme Que Falhámos

A estreia de Sunshine no pico do Verão foi, no mínimo, suicida. Colocá-lo ao lado de blockbusters com brinquedos e feitiçaria foi uma sentença comercial. A sua vida pós-salas também não foi melhor: um lançamento em Blu-ray com falhas técnicas, uma presença quase nula nos serviços de streaming, e uma distribuição que o condenou ao esquecimento.

E, no entanto, Sunshine é um diamante bruto. Uma obra que merece — exige — ser redescoberta. Escrita por Alex Garland (que viria a realizar Ex Machina e Civil War), é uma reflexão madura sobre mortalidade, sacrifício e o lugar do ser humano no cosmos. O seu final, debatido até hoje, é prova de que o filme se arrisca, desafia e mexe com quem o vê.

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Uma Segunda Vida à Luz do Sol

Com Danny Boyle a regressar ao terror com 28 Years Later, e com o reconhecimento tardio dos seus actores principais, talvez este seja o momento certo para Sunshine renascer das cinzas. Porque o tempo passa, mas as boas ideias (e os grandes filmes) merecem uma segunda oportunidade de brilhar.

Sunshine – Missão Solar está disponível em streaming para os assinantes do Disney +

Antes de Conan, Houve Kull: O “Barbaro Esquecido” Que Inspirou Tudo

Muito antes de Arnold brandir a espada como Conan, já havia um rei bárbaro com machado em punho a abrir caminho no imaginário de Robert E. Howard. O seu nome? Kull. E em 1997, esse nome regressou dos confins da história mítica para as prateleiras das videoclubes, com Kevin Sorbo a encarnar a versão cinematográfica de Kull: The Conqueror, um “primo espiritual” dos filmes de Conan que a maioria dos fãs já esqueceu — ou talvez nunca tenha conhecido.

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O irmão mais velho de Conan… mas no ecrã só apareceu depois

Kull, tal como Conan, nasceu da pena de Howard, mas cronologicamente é o antepassado do Cimeriano. Viveu na Thurian Age, a era que precede a catástrofe que daria origem à famosa Hyborian Age — o palco das aventuras de Conan. No entanto, o que poucos sabem é que o próprio Kull foi a semente original do mito que depois se tornaria Conan. A história “By This Axe, I Rule!” foi a base de “The Phoenix on the Sword”, o primeiro conto de Conan. Ou seja, sem Kull, não haveria Conan.

Kevin Sorbo, cabelo preto e machado: os ingredientes dos anos 90

Conhecido por dar vida a Hércules na televisão, Kevin Sorbo era, nos anos 90, sinónimo de mitologia em tronco nu. Quando os produtores de Conan perceberam que Schwarzenegger não voltaria à espada e ao escudo, viraram-se para outra criação de Howard: Kull.

Sorbo, de cabelo preto e franja rigorosa, empunha um machado e enfrenta feiticeiras demoníacas, cidades em ruínas e bandas sonoras de guitarras eléctricas dignas de um álbum de heavy metal. Rodado na Eslováquia, Kull: The Conquerormistura o kitsch encantador da sua época com sequências de acção generosas e uma reviravolta de adivinha no final que, sejamos honestos, parece saída de um RPG de mesa dos anos 80.

Infelizmente, apesar de estrear nos cinemas, o filme acabou por ter vida longa (e mais feliz) em VHS, tornando-se uma espécie de clássico de culto entre fãs de fantasia musculada e fãs de Robert E. Howard.

Kull vs. Conan: não é só o nome que muda

Embora ambos sejam guerreiros indomáveis, há diferenças significativas nas suas origens e personalidades. Kull é Atlante, com raízes numa civilização perdida e refinada; Conan é tribal, mais bruto e instintivo. Kull é introspectivo, quase filosófico. Conan é puro instinto. Onde um pondera, o outro esmaga. São dois lados da mesma moeda bárbara.

Um legado que ficou nas sombras

Enquanto Conan conquistava o mundo com a força de Schwarzenegger e frases como “Crush your enemies!”, Kull teve de se contentar com o estatuto de “primo afastado”. Mas há mérito em Kull: The Conqueror. É um relicário da estética noventista, com espadas, monstros, e uma sinceridade quase comovente no seu exagero.

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Se o teu coração bate mais rápido ao som de uma banda sonora sinfónica acompanhada por um grito de guerra num desfiladeiro rochoso… então talvez seja hora de redescobrires Kull. Porque antes de Conan esmagar crânios, Kull já dominava reinos.