Uma cerimónia histórica marcada pela emoção e pela política
A 82.ª edição do Festival de Veneza fechou com uma das cerimónias mais comoventes e politicamente ativas de que há memória. O mais antigo festival de cinema do mundo viveu um momento sem precedentes quando Pierbattista Pizzaballa, patriarca de Jerusalém, surgiu em direto da Terra Santa para apelar ao fim das hostilidades em Gaza. Foi o culminar perfeito de uma noite em que vencedores e jurados mostraram que o cinema não vive isolado da realidade — nem das guerras, nem das crises humanitárias.
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Jim Jarmusch, ao receber o Leão de Ouro por Father Mother Sister Brother, lembrou que nem sempre um filme precisa de falar de política para ser político. Já a realizadora tunisina Kaouther Ben Hania fez questão de o sublinhar de forma direta, emocionando a Sala Grande com The Voice of Hind Rajab, distinguido com o Leão de Prata – Grande Prémio do Júri. O seu discurso, centrado na tragédia de Gaza, arrancou uma ovação de pé que ficará para a história da Mostra.
Interpretações premiadas de Itália à China
O júri, presidido por Alexander Payne, conseguiu um equilíbrio raro e um consenso quase unânime. Toni Servillo foi distinguido pelo papel de Presidente da República Italiana em La Grazia, de Paolo Sorrentino, que abriu o festival. Do outro lado do mundo, a atriz chinesa Xin Zhilei brilhou intensamente em The Sun Rises on Us All, um melodrama intenso de Cai Shangjun exibido no último dia, garantindo ao Extremo Oriente uma presença de peso no palmarés.
Argumento francês e wrestling americano
O prémio de Melhor Argumento foi para França, através da dupla Valérie Donzelli e Gilles Marchand por À pied d’œuvre. Já os Estados Unidos marcaram presença com o surpreendente Leão de Prata para Melhor Realização entregue a Benny Safdie, que levou a Veneza o improvável universo do wrestling em The Smashing Machine. O realizador não escondeu o espanto — e a gratidão — por ver o seu filme distinguido num festival tradicionalmente mais dado a dramas intimistas e obras autorais.
Documentário italiano e o futuro da Mostra
Outro momento alto foi o Prémio Especial do Júri para Gianfranco Rosi, que com Sotto le Nuvole ofereceu um olhar profundo sobre Nápoles. O reconhecimento ao documentário — género tantas vezes ofuscado pela ficção — reforçou o carácter equilibrado e plural deste palmarés.
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O festival, que nasceu sob a égide do regime fascista, sobreviveu à guerra, à turbulência de 1968 e a muitas crises. Agora, aproxima-se o fim do ciclo de Alberto Barbera como diretor, deixando em aberto o futuro da liderança da Mostra. Mas uma coisa é certa: Veneza mantém-se como palco maior do cinema mundial, capaz de juntar política, emoção e arte numa só celebração.




















