Cinema em Português: O Futuro do Nosso Cinema Ganha Palco no TVCine Edition

Entre os dias 25 e 28 de agosto, o TVCine Edition abre espaço para um dos mais estimulantes ciclos do mês: o Especial Cinema em Português. Quatro noites, quatro obras que mostram bem a diversidade de caminhos que o cinema português contemporâneo está a trilhar — entre memórias pessoais, dilemas de identidade, histórias familiares e a força da política.

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Novas vozes, novas narrativas

O ciclo arranca com Chuva de Verão, de António Mantas Moura, premiado no WorldFest de Houston. É um retrato íntimo de uma amizade posta à prova pelo reencontro com o passado, explorando as pequenas tensões humanas que marcam a juventude. Segue-se Noites Claras, de Paulo Filipe Monteiro, onde uma família em crise atravessa dilemas sobre gravidez e bissexualidade. Duas estreias que demonstram como uma nova geração de realizadores portuguesesestá a reinventar o olhar sobre a intimidade e as relações.

A arte e as sombras da colonização

O especial traz também Longe da Estrada, que nos transporta para o universo de Paul Gauguin, mas através de um prisma crítico: como se olha hoje para a relação entre o artista e os povos colonizados? É uma reflexão atual e necessária, que dialoga com debates contemporâneos no cinema europeu sobre memória e justiça histórica.

Documentário político e poético

Outro dos grandes destaques é Mário, realizado por Billy Woodberry, cineasta ligado ao movimento L.A. Rebellion. O documentário mergulha na vida de Mário Pinto de Andrade, fundador do MPLA e figura essencial das lutas de independência africanas. É um exemplo claro de como o documentário português tem vindo a expandir horizontes, cruzando poesia e política, história e resistência.

Portugal no mundo

O que une estas quatro obras é também a sua capacidade de atravessar fronteiras. De prémios internacionais a festivais de renome, o cinema português já não se limita ao nosso território. Filmes como Chuva de Verão ou Mário confirmam que o nosso cinema fala várias línguas e encontra públicos diversos, sem perder o sotaque único que o distingue.

Um futuro promissor

Especial Cinema em Português é mais do que uma mostra: é uma janela aberta para perceber onde está e para onde vai o nosso cinema. Seja através de olhares íntimos sobre família e identidade, seja em diálogos críticos com a história e a política, o que se vê é uma vitalidade que merece ser celebrada.

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De 25 a 28 de agosto, o palco é português. E, felizmente, o futuro também parece sê-lo.

“Fuck the Polis”: Rita Azevedo Gomes Conquista Marselha com Filme-Libelo à Beleza, Liberdade e Civilização

A realizadora portuguesa Rita Azevedo Gomes voltou a deixar marca no panorama internacional ao vencer o Grande Prémio da Competição Internacional do FIDMarseille – Festival Internacional de Cinema de Marselha, com o seu mais recente filme, provocadoramente intitulado Fuck the Polis.

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O júri não poupou elogios: a obra foi descrita como “uma viagem de espírito livre através e para lá daquilo a que chamamos Europa e um questionamento poderoso e com graça sobre a ideia de nação e civilização”. Palavras que encaixam na perfeição no percurso singular de uma cineasta que há décadas desafia normas, géneros e fronteiras estéticas.

Entre a Poesia e o Cinema

O título do filme – que surge simultaneamente como referência a um graffiti encontrado numa rua de Atenas e ao livro de poesia homónimo de João Miguel Fernandes Jorge – é uma chave de leitura para o espírito da obra: irreverente, filosófico e inclassificável. Com argumento da própria Rita Azevedo Gomes e da escritora Regina Guimarães, Fuck the Polis leva-nos numa deriva ensaística por ilhas gregas, através do olhar de quatro viajantes: Irma (que regressa vinte anos depois da sua última viagem, acreditando estar então condenada) e três jovens companheiros.

A sinopse é tão livre quanto o filme: “De ilha em ilha, entre o mar e o céu, leem, ouvem e vivem, movidos pelo gosto da beleza e da clareza.” Uma ode à descoberta, ao reencontro e à partilha, em tempos em que a própria ideia de Europa se vê constantemente questionada.

Filmado com uma pequena equipa e com câmaras e gravadores a passarem de mão em mão, o filme é, segundo o festival, uma experiência de cinema colectivo, com os próprios intérpretes (entre eles Bingham Bryant, Mauro Soares, João Sarantopoulos, Maria Novo, Loukianos Moshonas, Maria Farantouri e a própria realizadora) a assumirem múltiplas funções.

Um Legado de Singularidade

Aos 72 anos, Rita Azevedo Gomes é uma das vozes mais singulares do cinema português. Com formação em artes plásticas e um percurso que começou nos anos 70, trabalhou como assistente de realização, figurinista e programadora, antes de se estrear na realização com O Som da Terra a Tremer (1990). Desde então, construiu uma filmografia que inclui títulos como Frágil como o Mundo (2001), A Vingança de uma Mulher (2012), A Portuguesa (2018) e Trio em Mi Bemol (2022), muitos deles exibidos e premiados em festivais internacionais.

Em 2023, foi homenageada com um prémio de carreira no Festival Zinebi, em Bilbau, consolidando o reconhecimento europeu pelo seu trabalho.

Cinema Português em Destaque em Marselha

Fuck the Polis não foi o único destaque nacional no 36.º FIDMarseille. A primeira longa-metragem de Leonor Noivo, Bulakna, recebeu um prémio especial da Cinemateca do Documentário, enquanto Morte e Vida Madalena, do brasileiro Guto Parente (com coprodução portuguesa), também foi distinguido. A selecção oficial contou ainda com Complô, de João Miller Guerra, e All Roads Lead to You, coprodução da artista ucraniana Jenya Milyukos com Portugal.

Num festival que celebra o risco e o pensamento crítico no cinema documental e experimental, a presença portuguesa foi não só notória, como especialmente premiada.

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Com Fuck the Polis, Rita Azevedo Gomes reafirma a vitalidade de um cinema que pensa, sente e, sobretudo, ousa. Um cinema que desafia o espectador a navegar por territórios onde a beleza e a política, a memória e a viagem, o pessoal e o universal se entrelaçam. Um cinema que, mesmo no título, nos lembra que às vezes é preciso gritar contra as estruturas para melhor compreendê-las — e reinventá-las.


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Portugal Brilha na Bulgária: “O Diabo do Entrudo” de Diogo Varela Silva Distinguido com Menção Honrosa

O cinema documental português continua a conquistar palcos internacionais, desta vez com o filme O Diabo do Entrudo, do realizador Diogo Varela Silva, que arrecadou uma Menção Honrosa na competição internacional do prestigiado Rhodope International Documentary Film Festival (RIFE), que decorreu entre os dias 10 e 13 de Julho, em Smolyan, na Bulgária.

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Este documentário, que mergulha na ancestral tradição dos Caretos do Entrudo de Lazarim, em Lamego, foi distinguido pelo júri da competição de média-metragem, que destacou “a singularidade do olhar do realizador e a riqueza cultural associada à celebração, bem como à enigmática figura do ‘diabo’ que nela persiste”.

Ao lado de Unspoken, do polaco Maciej Adamek, o filme português partilhou esta distinção numa secção particularmente competitiva. O grande vencedor da categoria foi Koka, também da Polónia, realizado por Aliaksandr Tsymbaliuk.

Um Carnaval Arcaico, um Diabo Vivo

O Diabo do Entrudo dá corpo e voz a uma das tradições mais singulares e menos domesticadas do imaginário português: o Entrudo de Lazarim, onde máscaras demoníacas esculpidas em madeira invadem as ruas num ritual de catarse colectiva e celebração primitiva. O filme, segundo o próprio Diogo Varela Silva, procura não só documentar, mas também ressignificar o legado simbólico dos Caretos, numa ponte entre o passado pagão e o presente comunitário.

Desde a sua estreia no DocLisboa em Outubro de 2023, o filme tem percorrido um percurso internacional notável. Foi distinguido como melhor documentário em festivais de Roma e Milão, venceu o prémio Prata nos New York Movie Awards e arrecadou o Prémio do Público no Festival Internacional de Cinema de Santarém.

Festival Búlgaro em Alta

O festival RIFE, cada vez mais reputado entre os circuitos europeus de documentário, premiou também outras obras de relevo. Na categoria de longas-metragens internacionais, o prémio principal foi entregue ao alemão Daniel Kötter, pelo filme Landshaft, uma coprodução Alemanha-Arménia que traça uma “psicogeografia” da região do Lago Sevan até à mina de ouro de Sotk, actualmente ocupada pelo Azerbaijão. Este trabalho, fortemente político e poético, explora uma paisagem marcada por tensões e pela presença silenciosa da memória e da disputa territorial.

A Menção Honrosa nesta categoria foi para Mother Vera, um retrato íntimo de fé e maternidade, realizado pelas britânicas Cécile Embleton e Alys Tomlinson.

Já na categoria de curtas-metragens internacionais, o prémio de Melhor Documentário foi atribuído a Clear Sky, da Polónia, dirigido por Marcin Kundera. Nesta secção, foram ainda distinguidos To the Embers (França) e Convention of Contracts (Grécia), com Menções Honrosas.

A Importância de Persistir

O reconhecimento internacional de O Diabo do Entrudo representa não só uma vitória artística para Diogo Varela Silva, mas também uma valorização da tradição oral, ritual e simbólica portuguesa num palco global. Em tempos de crescente homogeneização cultural, o olhar atento e poético do realizador sobre a tradição carnavalesca portuguesa assume-se como um gesto de resistência — e de afirmação identitária.

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Para um país onde o cinema documental luta muitas vezes com orçamentos limitados e escassa visibilidade, este percurso internacional mostra que o que é local pode ser também universal — e que o “diabo” português pode, afinal, continuar a dançar mundo fora.

Mulheres, Mar e Memórias: O Documentário que Dá Voz ao Oceano Açoriano

“Mulheres do Mar – Açores” estreia-se no Faial e emociona com retratos íntimos de 49 mulheres ligadas ao Atlântico

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🌊 Há documentários que nos mostram paisagens. Outros, mergulham nelas. E depois há “Mulheres do Mar – Açores”, que faz ambas as coisas… enquanto nos dá a ouvir vozes que tantas vezes ficaram por contar. A obra, com estreia marcada para segunda-feira na ilha do Faial, reúne 49 mulheres de todas as ilhas do arquipélago, com um único ponto em comum: uma ligação profunda, visceral e comovente ao mar.

Cientistas, pescadoras, professoras, artistas, desportistas, advogadas, arquitetas — o leque é tão diverso quanto o próprio oceano. E é essa pluralidade de experiências e emoções que dá alma a um documentário de 77 minutos, filmado ao longo de dois anos em todas as nove ilhas dos Açores. Realizado no âmbito da Década da Ciência dos Oceanos da ONU (2021–2030), o filme é uma produção da ONGD portuguesa Help Images, reconhecida pela UNESCO, e faz parte da iniciativa internacional Women of the Sea.

Quem ama, cuida. E quem cuida, transforma.

A realizadora Raquel Clemente Martins, que conduziu as entrevistas e esteve presente nas filmagens, não esconde a emoção:

“Estávamos todas unidas pelo mote central do projeto – quem ama cuida, quem cuida ama – e as entrevistas e filmagens transformaram-se em momentos íntimos de partilha de memórias, emoções e preocupações”.

E de facto, há algo de profundamente transformador no gesto de ouvir. Cada mulher entrevistada abre o seu mundo: histórias de infância junto às rochas, rotinas marcadas pela ondulação, lutas profissionais num universo onde o mar, historicamente, era “coisa de homens”. Este documentário oferece uma perspetiva única de ser mulher num mundo oceânico, quebrando silêncios, barreiras e estereótipos.

Um retrato colectivo da força feminina insular

A produção destaca que, de uma lista global de mais de 900 mulheres de 29 países, nos Açores foram filmadas 71 mulheres, tendo sido 49 as vozes escolhidas para o retrato final. Para além das profissões e do ativismo ambiental, “Mulheres do Mar – Açores” revela também os afectos, as perdas, os medos e a esperança destas mulheres que vivem e respiram o Atlântico.

A iniciativa pretende precisamente isso: dar visibilidade ao papel das mulheres na preservação dos oceanos, reconhecendo vozes, memórias e contributos que, durante décadas, ficaram à margem do discurso dominante.

Um momento simbólico para os Açores e para o planeta

A estreia do documentário coincide com uma nova fase da política ambiental portuguesa, marcada pela ratificação do Tratado do Alto Mar, um acordo internacional sobre a conservação da biodiversidade marinha em áreas fora da jurisdição nacional. A ligação entre esta conquista política e o lançamento de um filme que celebra quem vive o mar todos os dias não podia ser mais simbólica.

O filme contou com apoio financeiro do Governo Regional dos Açores e a colaboração de diversas entidades locais, regionais e autarquias. A iniciativa não se fica por aqui: já em maio decorreram filmagens na Irlanda para o próximo capítulo, “Mulheres do Mar – WinBig”, com estreia prevista para o início de 2026.

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🎥 Se ainda acha que o mar é apenas cenário de postal, está na hora de conhecer as mulheres que o tornaram casa, sustento, paixão e resistência.

🏛️ O Palácio de Cidadãos: Um Retrato Íntimo da Assembleia da República

O documentário O Palácio de Cidadãos, realizado por Rui Pires, oferece uma visão inédita do funcionamento interno da Assembleia da República portuguesa. Filmado ao longo de um ano, entre 2018 e 2019, o filme acompanha o trabalho diário dos deputados, destacando debates, votações e a interação com a sociedade civil. 

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🎥 Uma Janela para a Democracia

Durante o período de filmagem, Rui Pires captou momentos significativos, como as discussões sobre a Lei de Bases da Habitação, aprovada em 2019. O documentário revela não apenas os processos legislativos, mas também o envolvimento dos cidadãos nas decisões políticas, evidenciando a importância da participação cívica. 


🗣️ Testemunhos de Dirigentes Políticos

Na antestreia do filme, realizada no Cinema Ideal em Lisboa, diversos dirigentes partidários expressaram a sua nostalgia e apreço pela representação autêntica da Assembleia. Rui Tavares, do Livre, destacou o afeto e interesse das pessoas pela “casa que é de nós todos”. Catarina Martins, ex-coordenadora do BE, enfatizou o papel dos cidadãos nas conquistas políticas, enquanto Paula Santos, do PCP, sublinhou o envolvimento da sociedade civil no processo legislativo. Angélique Da Teresa, da IL, e Carlos Reis, do PSD, também elogiaram a abordagem do documentário. 


📅 Estreia e Exibições

O Palácio de Cidadãos estreou a 24 de abril de 2025 e está em exibição em várias salas de cinema em Portugal. O filme é uma co-produção da Monomito Argumentistas e da Terratreme Filmes, com o apoio do Instituto do Cinema e do Audiovisual. 


Festival Cinéma du Réel consagra “Little Boy” e deixa Portugal de mãos a abanar — mas com dignidade 🎬🇫🇷

Num universo de 37 filmes a disputar a glória em Paris, foi “Little Boy”, do veterano James Benning, que saiu vitorioso no Cinéma du Réel, o prestigiado festival francês dedicado ao cinema documental. Apesar da forte presença lusófona com duas produções de origem portuguesa, nenhuma trouxe troféu para casa. Mas calma, que o festival foi tudo menos um desperdício.

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A 47.ª edição do evento, que decorreu no mítico Centre Pompidou, continua a ser uma das grandes montras do documentário contemporâneo. E se há coisa que ficou clara nesta edição de 2025, é que o mundo está a ser filmado por todos os ângulos — dos subúrbios de Paris às ruas de Moçambique, das memórias pessoais às cicatrizes globais.

O grande vencedor: um “rapazinho” com muita bagagem

Com uns respeitáveis 82 anos de idade, o realizador norte-americano James Benning levou para casa o Grande Prémio Internacional de Cinema com “Little Boy”, título que alude à bomba atómica lançada sobre Hiroshima — e que, pelas palavras de quem já viu, oferece mais reflexão do que destruição. Benning continua a ser uma força contemplativa no cinema experimental, e este prémio reforça a sua relevância ao fim de cinco décadas de carreira.

Mas não foi só ele a dar nas vistas.

Prémios em dobro e um monólogo colectivo

A categoria principal acabou por distinguir dois outros filmes ex aequo:

• “In the Manner of Smoke”, de Armand Yervant Tufenkian,

• e “Monólogo Colectivo”, de Jessica Sarah Rinland.

E o prémio de melhor filme francês foi para “Lumière de mes yeux”, de Sophie Bredier, uma obra intimista que emocionou o júri. Já na categoria de música original, o galardão foi para Jeff Parker, pela banda sonora de “Evidence”, de Lee Anne Schmitt — jazz sofisticado ao serviço da imagem.

E Portugal? Bem representado, mas sem estatueta 🐓

Maureen Fazendeiro, realizadora francesa radicada em Lisboa (e já com créditos firmados com “A Metamorfose dos Pássaros”), entrou em competição com “Les Habitants”, uma curta luso-francesa sobre tensões e solidariedades nos subúrbios de Paris. Produzida pela Uma Pedra no Sapato, o filme mistura documentário com ficção e colocou a lupa sobre um tema quente: a chegada de uma comunidade cigana a uma vila nos arredores da capital francesa.

Já Ico Costa, que continua a filmar entre África e Portugal, levou a concurso a sua longa-metragem “Balane 3”, um retrato documental da vida quotidiana em Inhambane, Moçambique. Produzida pela Terratreme Filmes, em coprodução com a francesa La Belle Affaire Productions, é um filme sensorial e político que merecia, no mínimo, uma menção honrosa (na nossa modesta opinião).

Os destaques nas curtas — e que nomes!

A secção de curtas-metragens revelou novos talentos e premiou obras com nomes quase poéticos:

• “Selegna Sol”, de Anouk Moyaux

• “Notes of a Crocodile”, de Daphne Xu

• “About the Pink Cocoon”, de Binyu Wang

Sim, é isto que nos encanta no Cinéma du Réel: a diversidade estética, cultural e até linguística. Entre cocons cor-de-rosa e crocodilos de bolso, a criatividade está vivíssima.

Documentar para resistir e imaginar

A edição de 2025 reforçou a vocação política e poética do festival. As obras em competição mostraram que o documentário está longe de ser uma arte “menor” — pelo contrário, é o olho atento do mundo, um espelho (às vezes rachado) que reflete desde as feridas coloniais até os bairros esquecidos, passando pela espiritualidade urbana e o íntimo das famílias.


Portugal não ganhou, mas ficou na fotografia 📸🇵🇹

Mesmo sem prémios, a presença portuguesa voltou a marcar pontos. Produções comprometidas, com voz autoral, e uma crescente reputação no circuito internacional. E isso, convenhamos, também é vitória. E como diz o povo: “o que é nacional é bom” — e, às vezes, vai a Paris e volta com aplausos (mesmo que sem troféu).

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Salatinas: Preservando a História de Coimbra através do Cinema

No coração da cidade de Coimbra, uma história de resiliência, memória e transformação urbana aguarda para ser contada. O documentário Salatinas surge como um projeto apaixonado, liderado por uma equipa dedicada de jornalistas, cineastas e músicos, empenhados em resgatar a memória de uma comunidade que marcou a história da cidade e de Portugal.

Entre os autores deste projeto encontra-se Rafael Vieira, um amigo de longa data arquiteto e jornalista, que, juntamente com os colegas Tiago Cerveira e Filipa Queiroz, tem trabalhado para dar vida a esta narrativa. O documentário visa homenagear os Salatinas, uma comunidade que viveu na Alta de Coimbra antes de ser desalojada durante a ditadura do Estado Novo, devido à demolição de centenas de edifícios históricos para a construção da Cidade Universitária.

Um Projeto que Resgata a Memória

Salatinas não é apenas um documentário; é um tributo às gentes de Coimbra e uma reflexão sobre a perda cultural que ocorreu com a demolição de uma parte significativa do seu núcleo histórico. Cerca de 3.000 pessoas foram deslocadas, e as suas histórias, tradições e quotidianos estão agora a ser preservados para que esta memória não se perca com o passar do tempo.

Desde 2023, a equipa tem recolhido depoimentos de sobreviventes, especialistas e habitantes locais, captando a essência de uma comunidade que ainda resiste no imaginário coletivo da cidade. Este trabalho tem sido feito com enorme dedicação, mas para ser concluído e alcançar o público, precisa de apoio financeiro.

Como Pode Ajudar?

A equipa lançou uma campanha de angariação de fundos através da plataforma PPL, convidando todos os amantes de cinema e cultura a contribuir para este importante projeto. Cada euro fará a diferença na concretização deste documentário, permitindo a finalização da pós-produção, a distribuição e, sobretudo, a exibição da obra em Portugal e além-fronteiras.

Contribua aqui: Campanha PPL do Salatinas

Por Que Apoiar o Salatinas?

1. Preservação da História Local: O documentário é uma oportunidade única para resgatar e documentar uma parte essencial da história de Coimbra.

2. Valorização da Cultura Portuguesa: Apoiar este projeto significa investir na preservação do património cultural do país.

3. Equipa de Excelência: Com nomes como Rafael Vieira, Tiago Cerveira e Filipa Queiroz, o projeto é liderado por profissionais premiados e reconhecidos pelas suas contribuições no jornalismo, cinema e documentarismo.

Uma Mensagem Pessoal de Rafael Vieira

Rafael Vieira, arquiteto e jornalista, partilha connosco a sua visão para o projeto:

“Estamos na última fase de angariação de fundos, de forma a alavancar a história que queremos contar. Cada contributo, por mais pequeno que seja, é uma grande ajuda para garantir que esta memória de Coimbra não se perca. Junte-se a nós e ajude a transformar esta ideia em realidade.”

O Clube de Cinema Apoia o Salatinas

No Clube de Cinema, acreditamos na força do cinema como ferramenta para preservar memórias e contar histórias que inspiram e educam. Por isso, convidamos os nossos leitores e seguidores a fazerem parte deste movimento. O Salatinas é mais do que um documentário – é uma ponte entre o passado e o futuro, um testemunho que merece ser visto e partilhado.

Contribua para o Salatinas e ajude a equipa a preservar a alma de Coimbra. Juntos, podemos transformar esta narrativa num marco para o cinema português e na valorização da nossa identidade cultural.

Pode seguir todas as novidades de Salatinas em : https://salatinas.wordpress.com

Dias do Cinema Português em Berlim Celebra o 25 de Abril com Exibições e Cartazes Históricos

Em novembro, o festival Dias do Cinema Português em Berlim traz para a capital alemã uma programação especial que celebra o cinquentenário do 25 de Abril. A sexta edição do evento terá início a 1 de novembro, com a exibição de 23 filmes que abordam temas como a revolução, o colonialismo e a descolonização, focando-se em produções recentes que exploram a história de Portugal e os seus reflexos sociais e culturais.

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Organizado pela associação cultural 2314, o festival contará com cartazes históricos de Alfredo Cunha, fotógrafo do 25 de Abril, que serão exibidos por toda a cidade. Esta decisão pretende não só promover o evento, mas também homenagear a Revolução dos Cravos numa cidade onde se encontra uma comunidade internacional diversificada e interessada no cinema português.

Helena Araújo, presidente da associação, partilha que a programação inclui documentários e filmes de ficção que abordam as mudanças políticas e sociais ocorridas em Portugal após o 25 de Abril. O evento conta ainda com uma homenagem à Guiné-Bissau, com a exibição do documentário “Fogo no Lodo”, de Catarina Laranjeiro e Daniel Barroca, que resgata a memória de Unal, uma aldeia guineense que teve um papel essencial na luta pela independência.

Além dos filmes, os participantes terão a oportunidade de degustar vinho do Porto, promovendo conversas pós-exibição e criando um ambiente de convívio e troca de ideias. A presidente da associação refere que esta interação é uma das partes mais enriquecedoras do evento, uma vez que permite ao público berlinense descobrir e refletir sobre o contexto histórico e cultural português.

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