Eduardo Serra: O Mestre da Luz Português que Conquistou Hollywood

A morte de Eduardo Serra, aos 81 anos, deixa o cinema português e internacional mais pobre. O diretor de fotografia, considerado o mais internacional da sua área em Portugal, construiu uma carreira marcada pela elegância da luz e pela profundidade visual com que enriquecia cada filme.

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Um artista da imagem

Para o realizador João Mário Grilo, que trabalhou com Serra em O Processo do Rei (1989), esta foi uma “aliança decisiva”. A recriação visual do século XVII português exigia mais do que técnica: precisava de inteligência e sensibilidade, atributos que Serra dominava como poucos.

“Não era apenas um técnico, era um artista muito talentoso”, recordou Grilo, sublinhando que o diretor de fotografia conseguia explicar a razão de cada luz e cada plano, como se fosse um pintor a desenhar na tela do cinema.

Duas nomeações aos Óscares e um BAFTA

Nascido em Lisboa, em 1943, Eduardo Serra tornou-se referência mundial. Foi nomeado duas vezes para os Óscares, por As Asas do Amor (1997) e Rapariga com Brinco de Pérola (2003), este último também distinguido com o BAFTA de Melhor Fotografia. A recriação da luz da pintura flamenga nesse filme é hoje considerada uma das mais belas traduções visuais da história da arte para o cinema.

Colaborações internacionais e blockbusters

A sua carreira no estrangeiro levou-o a trabalhar com nomes como Claude ChabrolPatrice LeconteMichael WinterbottomM. Night Shyamalan e Edward Zwick. Foi também responsável pela fotografia de dois filmes da saga Harry Potter, levando a sua assinatura estética a um dos maiores fenómenos de bilheteira da história do cinema.

Portugal no percurso

Apesar do sucesso internacional, Eduardo Serra não se desligou de Portugal. Trabalhou com realizadores como José Fonseca e Costa (A Mulher do Próximo, 1988), Luís Filipe Rocha (Amor e Dedinhos de Pé, 1991) e Fernando Lopes(O Delfim, 2001). Cada colaboração foi marcada por uma atenção exímia à atmosfera e à textura visual da narrativa.

Uma carreira sem paralelo

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, manifestou pesar pela morte do cineasta, lembrando “uma carreira internacional que não tem paralelo entre os diretores de fotografia portugueses” e o seu contributo “decisivo para a luz e a imagem” no cinema mundial.

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De Lisboa a Hollywood, passando por Paris, Eduardo Serra deixa um legado maior do que a soma das suas imagens: deixa-nos a certeza de que a luz, nas mãos certas, pode transformar-se em poesia.