Marrakech Abre as Portas ao Cinema Mundial: Bong Joon Ho, Jenna Ortega e Anya Taylor-Joy Dão o Arranque Oficial à 22.ª Edição do Festival

O realizador de Parasitas comanda um júri de luxo numa edição que celebra novos talentos, grandes homenagens e a consolidação de Marrakech como ponte entre continentes e palco estratégico na corrida aos Óscares.

O Festival Internacional de Cinema de Marrakech regressou em força para a sua 22.ª edição, inaugurado com uma noite que reuniu nomes maiores do cinema mundial e reafirmou o estatuto do certame como um ponto de encontro entre continentes, culturas e gerações de cineastas. Bong Joon Ho, que preside ao júri deste ano, foi recebido com uma ovação calorosa, acompanhado por Jenna Ortega, Anya Taylor-Joy e muitas outras figuras destacadas da indústria. A sessão de abertura incluiu a exibição de Dead Man’s Wire, o novo filme de Gus Van Sant, apresentado no palco pelo produtor Cassian Elwes.

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O vencedor do Óscar por Parasitas abriu oficialmente o festival evocando a sua própria juventude: “Aos 22 anos, devorava filmes com fome de estudante de cinema”, recordou. Ao olhar para Marrakech a celebrar igualmente os seus 22 anos de existência, Bong disse reconhecer “a mesma energia vibrante, cheia de paixão pelo cinema”. A comparação não poderia ser mais feliz: o festival, tal como ele próprio naquela idade, está num momento de maturidade efervescente, movido por impulso criativo e pelo desejo de descoberta.

Dead Man’s Wire, inspirado no caso real do criminoso Tony Kiritsis, chega ao festival depois da estreia em Veneza e colecciona elogios da crítica internacional, com destaque para a interpretação de Bill Skarsgård. O filme prepara-se para entrar em circuito comercial em Janeiro, mas em Marrakech foi sobretudo o elenco do júri que roubou atenções. Para além de Bong, a organização reuniu Jenna Ortega — actualmente um dos rostos mais reconhecidos da nova geração — Anya Taylor-Joy, Celine Song, Julia Ducournau, Karim Aïnouz, Hakim Belabbes e Payman Maadi. Uma equipa ecléctica e prestigiada, capaz de valorizar como poucos a selecção de 14 filmes de realizadores emergentes que competem este ano.

Na passadeira vermelha, Melita Toscan du Plantier, presidente do festival e figura central na sua arquitectura programática, sublinhou o impacto do painel de jurados para os novos talentos. Para muitos dos realizadores estreantes, saber que o seu primeiro ou segundo filme será visto por Bong Joon Ho, por vencedores de prémios internacionais ou por estrelas globais, é quase tão importante quanto a própria competição. E houve ainda espaço para confirmar a chegada de Jodie Foster, homenageada nesta edição e que visita Marrocos pela primeira vez.

Celine Song, realizadora de Past Lives e Materialists, confessou estar particularmente entusiasmada com esta vertente do festival — a capacidade de descobrir cinema sem o peso das expectativas. Para ela, Marrakech tem a mesma frescura de Sundance: um lugar onde se entra “sem contexto” e onde a surpresa é parte essencial da experiência.

Remi Bonhomme, director artístico, reforçou esse posicionamento híbrido: Marrakech vive entre a Europa e África, e isso permite-lhe ter uma programação simultaneamente cosmopolita e regional. Para além disso, o lugar estratégico no calendário — no final do ano — coloca o festival directamente no corredor da temporada de prémios. E não é coincidência que tantos países tenham inscrito os seus candidatos aos Óscares na secção dedicada ao cinema internacional, como HomeboundPalestine 36Calle MalagaThe President’s CakeA Poet e No Other Choice.

Bill Kramer, director executivo da Academia de Hollywood, esteve presente e deixou claro que a instituição pretende reforçar a sua presença no Norte de África e no Médio Oriente. Marrakech, disse, está a tornar-se “uma paragem incontornável no circuito dos Óscares”. É um elogio raro, mas merecido, para um festival que tem investido na expansão internacional sem perder o cuidado artesanal da curadoria.

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A cerimónia de abertura terminou com uma homenagem emotiva ao actor egípcio Hussein Fahmi, de 85 anos, que recebeu aplausos de pé enquanto revia cenas de alguns dos seus papéis mais marcantes. Depois, cumprimentou um a um os membros do júri, num momento de reverência entre gerações e geografias.

O festival decorre até 6 de Dezembro e promete encontros memoráveis com nomes como Jodie Foster, Guillermo del Toro, Laurence Fishburne, Kleber Mendonça Filho, Andrew Dominik e Jafar Panahi — uma edição que reafirma a vocação universalista de Marrakech e a sua crescente influência no mapa dos grandes festivais de cinema.