Antes da Estreia em Novembro, “O Agente Secreto” Chega a Lisboa e Porto com Sessões Especiais e Wagner Moura em Alta

Filme premiado em Cannes apresenta-se com o realizador Kléber Mendonça Filho em duas sessões únicas este mês

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Do Recife para Cannes, e Agora Para Portugal

“O Agente Secreto”, o novo thriller político de Kléber Mendonça Filho, foi um dos grandes destaques do Festival de Cannes deste ano, onde arrecadou os prémios de Melhor Realização e Melhor Actor para Wagner Moura. E antes da estreia oficial em Portugal, marcada para 6 de Novembro, o filme terá exibições especiais já este mês em Lisboa e no Porto — com a presença do próprio realizador.

As sessões estão agendadas para dia 23 de Julho no Cinema São Jorge (Lisboa) e dia 25 no Cinema Trindade (Porto), ambas às 21h00. Os bilhetes já estão à venda, sendo esperada grande afluência dos cinéfilos que seguem de perto a obra do autor de Aquarius e Bacurau.

Um Thriller em Plena Ditadura — e com Alma

A história segue Marcelo (Wagner Moura), um professor universitário de quarenta e poucos anos que regressa à cidade do Recife para se reconectar com o filho mais novo. Mas o reencontro depressa se transforma numa espiral de tensão: em 1977, sob o peso da ditadura militar brasileira, Marcelo percebe que está a ser perseguido — e que a sua cabeça tem um preço.

Num clima abafado de vigilância, paranoia e traição, O Agente Secreto mergulha-nos numa narrativa que mistura política, thriller e drama psicológico com um toque de realismo mágico, tão característico de Mendonça Filho. A atmosfera é densa, e a sensação de que tudo pode explodir a qualquer momento paira sobre cada cena.

Segundo a sinopse oficial: “Sob o espectro ameaçador do Brasil de 1977, conhecemos Marcelo, um homem na casa dos 40 anos que se mudou recentemente para Recife para fugir de um passado violento, mas percebe que se está a tornar um agente do caos.”

Wagner Moura: “Ser Digno é um Acto de Rebeldia”

O actor brasileiro, que regressa ao cinema nacional depois de mais de uma década afastado das produções no seu país, afirmou em Cannes: “A personagem que interpreto quer viver apenas com os valores que o representam. É terrível que, nos momentos distópicos, prender-se aos seus valores de dignidade seja perigoso.”

A sua interpretação foi unanimemente elogiada pela crítica internacional, com muitos a considerarem esta a sua melhor prestação desde Tropa de Elite. E o prémio em Cannes parece ter sido apenas o início de um percurso que poderá levá-lo longe nesta temporada de prémios.

Kléber Mendonça Filho: Cinema de Confronto

Com Aquarius e Bacurau, Kléber Mendonça Filho posicionou-se como um dos mais relevantes autores do cinema contemporâneo — e dos mais politicamente engajados. O Agente Secreto aprofunda essa veia, ao construir uma narrativa de resistência, mas também de fragilidade, de sobrevivência e de luta pessoal num sistema que não tolera quem pensa de forma diferente.

A sua presença nas sessões em Portugal será uma oportunidade única para os espectadores ouvirem de viva voz os bastidores de uma obra que promete marcar o cinema de 2025.

Não Diga que Não Avisámos

Se é fã de thrillers políticos com substância, com interpretações arrebatadoras e uma realização segura e provocadora, então estas sessões são paragem obrigatória. Porque ver O Agente Secreto em primeira mão, com Kléber Mendonça Filho presente, não é apenas cinema — é um evento.

Luis Miguel Cintra revisita uma vida inteira no cinema num livro de memórias a apresentar no Porto

“Comentários a uma Filmografia” junta quase 100 filmes e um olhar íntimo sobre décadas de representação

Há actores que atravessam o cinema como personagens. Luis Miguel Cintra atravessou-o como presença. Com voz, corpo e uma inteligência discreta mas marcante, tornou-se figura incontornável tanto no teatro como no grande ecrã. Agora, aos 76 anos, o actor e encenador olha para trás e organiza essa travessia num livro que é, ao mesmo tempo, inventário e confissão.

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“Luis Miguel Cintra: Comentários a uma Filmografia” é lançado este mês pelas Edições Caminhos do Cinema Português e será apresentado no dia 12 de Junho, no Cinema Trindade, no Porto, com a exibição especial de Uma Pedra no Bolso (1988), de Joaquim Pinto — escolha pessoal do actor para assinalar o momento.

Uma filmografia, muitas memórias

O livro nasceu de um desafio lançado pelo festival Caminhos do Cinema Português, que em 2024 homenageou o actor com o Prémio Ethos. A proposta era simples: revisitar os muitos filmes em que participou. A resposta de Cintra foi tudo menos banal — comentou um por um, com lucidez, ironia e emoção.

São quase 100 filmes, entre 1970 e 2022, percorrendo colaborações com nomes como Manoel de Oliveira, Pedro Costa, Solveig Nordlund, Maria de Medeiros, Joaquim Pinto, Paulo Rocha, João César Monteiro, entre muitos outros.

Foi precisamente com João César Monteiro que Cintra se estreou no cinema, em Quem Espera por Sapatos de Defunto Morre Descalço (1970). Na introdução ao texto sobre esse filme, escreve:

“Quando comecei foi quase por acaso. Mas nada é por acaso a não ser os desastres e o primeiro amor.”

Um livro entre o íntimo e o político

Muito mais do que um exercício de memória, o livro revela-se uma viagem interior ao ofício da representação no cinema, feita por quem sempre assumiu que o seu lugar natural era o teatro.

Luis Miguel Cintra escreve com gratidão, mas também com ironia e alguma mágoa. Sobre o seu percurso no cinema, observa:

“Serei talvez o actor que em Portugal não ganhou quase nada com os filmes, porque nunca recusei um papel por ganhar pouco ou nada, e recusei sempre qualquer papel na televisão.”

Reflexões como esta pontuam o livro, que oscila entre o comentário técnico, o registo afectivo e a análise artística. Em Peixe Lua (2000), de José Álvaro Morais, por exemplo, lê-se:

“Marca a vida de uma pessoa fazer um filme assim (…) quase um filme de família com tantas histórias secretas.”

E quando escreve sobre O Gebo e a Sombra (2012), com Manoel de Oliveira, emociona:

“É um filme que surge na minha vida como uma incrível recompensa pela admiração e pela amizade incondicionais que para sempre associam o meu ofício de actor de cinema à sua obra.”

Uma vida contada em planos, falas e silêncios

O livro percorre não apenas as obras maiores, mas também momentos mais discretos — todos tratados com a mesma atenção. O tom, por vezes confessional, nunca cede ao sentimentalismo fácil. Em vez disso, temos um homem a pensar sobre o tempo, o trabalho e a memória, com a serenidade de quem sabe que o seu legado está construído não em prémios, mas em presenças.

No caso de Capitães de Abril (2000), de Maria de Medeiros, por exemplo, a memória do filme convoca a memória do próprio 25 de Abril. Cintra recorda-se de estar no Quartel do Carmo com o actor Luís Lucas, e escreve:

“Posso jurar que a atmosfera que se viveu não foi a de um doce e amável festejo com bandeirinhas. Nós estávamos cheios de medo de que aquilo não resultasse.”

Uma sessão para celebrar o cinema português… e um actor maior

A sessão de apresentação no Cinema Trindade, no dia 12 de Junho, é um momento para celebrar não só o livro, mas também a própria ideia de memória no cinema. Com a exibição de Uma Pedra no Bolso, de Joaquim Pinto, o evento recupera uma das muitas colaborações que marcaram o percurso de Cintra — um actor que, nas palavras de muitos, nunca fez um papel menor, mesmo quando o papel era pequeno.

O livro, segundo o próprio, “ficou uma espécie de livro de memórias, uma coisa meio sentimental da minha vida no cinema.”

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Felizmente para nós, ficou também um testemunho precioso de um dos maiores actores portugueses e do modo como viveu o cinema: com entrega, curiosidade e — acima de tudo — dignidade.