“Dias Perfeitos”: O Fenómeno Cinematográfico que Celebra Um Ano em Cartaz no Cinema Trindade

O Cinema Trindade, no Porto, celebra um marco histórico: o filme “Dias Perfeitos”, do realizador alemão Wim Wenders, cumpre um ano em exibição regular, algo extremamente raro no circuito cinematográfico português atual. Estreado a 14 de dezembro de 2023, esta obra intimista conquistou o público e permanece em cartaz graças ao entusiasmo gerado pelo boca-a-boca e pela experiência única que oferece.

Um Filme que Conquista pela Simplicidade

“Dias Perfeitos” retrata a rotina de um homem solitário, interpretado por Kôji Yakusho, que trabalha na limpeza de casas de banho públicas em Tóquio. O filme foca-se nos gestos simples, nos hábitos quotidianos e nos momentos de introspeção, criando uma narrativa que contrasta com a correria dos tempos modernos. Segundo Américo Santos, programador do Cinema Trindade, “Dias Perfeitos” traz uma mensagem “zen” sobre a vida e convida os espectadores a abraçarem um ritmo mais pausado.

“É um filme contra a correria dos nossos tempos. As pessoas saem felizes da sessão e isso tem gerado um boca-a-boca muito favorável ao filme”, comentou Américo. Essa singularidade emocional é uma das razões que explicam o seu sucesso contínuo e a sua capacidade de atrair público, mesmo um ano após a estreia.

Reconhecimento Internacional e Acolhimento Nacional

O filme foi exibido no Festival de Cannes 2023, onde esteve nomeado para a Palma de Ouro, e Kôji Yakusho conquistou o prémio de Melhor Ator. Apesar de ser dirigido por um realizador alemão, o Japão escolheu “Dias Perfeitos” como o seu candidato oficial ao Óscar de Melhor Filme Internacional em 2024, consolidando ainda mais a sua relevância global.

Em Portugal, “Dias Perfeitos” destacou-se no início de 2024, chegando a ser o 12.º filme mais visto em janeiro e mantendo-se na lista dos 20 filmes mais populares até ao final de fevereiro. Desde então, acumulou perto de 35 mil espectadores a nível nacional, com o Cinema Trindade a contribuir significativamente para este número, ao acolher sessões esgotadas ao longo do ano.

Um Fenómeno Raro no Circuito Cinematográfico Atual

A longevidade de “Dias Perfeitos” em cartaz no Cinema Trindade remonta aos tempos áureos das décadas de 1970 e 1980, quando os filmes permaneciam longos períodos em exibição. No entanto, no panorama atual, caracterizado por uma elevada rotatividade e pela dependência do número de espectadores, tal fenómeno é praticamente inexistente.

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“Este filme conseguiu esquivar-se à rapidez do circuito comercial e fazer um percurso muito singular, o que é encantador”, sublinhou Américo Santos. Atualmente, a continuidade de um filme em sala depende de atingir uma média de 20 espectadores por sessão, um número que “Dias Perfeitos” superou consistentemente, demonstrando a força do boca-a-boca e a ligação emocional com o público.

Um Ano de Sucesso e o Futuro em Cartaz

Com uma sessão especial marcada para sábado, às 21h30, o Cinema Trindade espera que “Dias Perfeitos” continue a atrair público e ultrapasse a marca dos 10 mil espectadores apenas nesta sala. Histórias de famílias e grupos de amigos que assistem ao filme juntos, ou de pessoas que o veem repetidamente, sublinham o impacto emocional e cultural desta obra única.

O filme prova que, mesmo num mundo acelerado, há espaço para histórias que tocam a alma e convidam à reflexão. Para os amantes de cinema, “Dias Perfeitos” é mais do que uma experiência visual: é uma celebração do poder transformador da simplicidade.

Filme de Rodrigo Areias inspirado em Raul Brandão estreia-se em formato de cineconcerto

O cineasta português Rodrigo Areias traz-nos a sua mais recente obra, “A Pedra Sonha Dar Flor”, um filme inspirado na obra literária de Raul Brandão. Com estreia marcada para o dia 12 de setembro no Cinema Trindade, no Porto, o filme será apresentado em formato de cineconcerto, com música ao vivo composta por Dada Garbeck. Esta forma de exibição tem vindo a ganhar popularidade, combinando a experiência cinematográfica com uma performance musical ao vivo.

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A narrativa do filme baseia-se na obra “A Morte do Palhaço”, de Raul Brandão, mas incorpora elementos de outras criações do autor, como “Os Operários”, “Os Pobres” e “Húmus”. A história desenrola-se numa casa de hóspedes isolada, onde a pobreza e o desespero marcam a vida das personagens, mergulhadas num ambiente sombrio de crimes e alucinações. A obra literária de Brandão, com o seu estilo contemplativo e crítico, ganha nova vida através da lente cinematográfica de Areias.

Rodrigo Areias, natural de Guimarães, tem uma forte ligação afetiva e geográfica à obra de Brandão, já que cresceu próximo à casa onde o autor viveu e escreveu grande parte da sua obra. O realizador confessa que, inicialmente, pensava em fazer um documentário, mas após uma profunda pesquisa no espólio de Brandão, decidiu juntar várias das suas obras num único filme, criando uma narrativa complexa e visualmente impactante.

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Após a estreia no Porto, o filme será exibido em vários locais do país, incluindo Lisboa, Ovar e Guimarães, sempre em formato de cineconcerto. Esta inovadora abordagem permite que o público experimente o filme de uma forma única, onde a música e o cinema se fundem para criar uma atmosfera imersiva.