Queer Lisboa 29: Um Festival Que Reflete o Mundo de Hoje e Celebra o Cinema Queer 🌈🎬

Um Espelho do Presente, Lições do Passado

Queer Lisboa chega à sua 29.ª edição com uma missão clara: usar o cinema como lente para refletir o conturbado estado do mundo. Até 27 de setembro, o festival apresenta cerca de 100 filmes no Cinema São Jorge e na Cinemateca Portuguesa, explorando temas que vão desde a transfobia e o conservadorismo político até ao genocídio na Palestina e os abusos da Igreja.

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Mas o festival não é apenas denúncia. É também celebração da resistência, da diversidade e da criatividade queer, trazendo histórias de superação, ativismo e memórias culturais que continuam a inspirar novas gerações.

Filmes em Destaque: Do Amor à Contestação

A sessão de abertura é feita com Plainclothes, do norte-americano Carmen Emmi — uma história de amor atravessada pelo impacto social do VIH/Sida.

Entre os destaques da programação surgem:

  • Ceci est mon corps, de Jérôme Clément-Wilz, sobre abusos sexuais e morais na Igreja;
  • Tese sobre uma domesticação, de Javier van de Couter, protagonizado pela atriz e escritora trans Camila Sosa Villada;
  • Homem com H, biopic de Esmir Filho sobre o ícone brasileiro Ney Matogrosso;
  • A retrospetiva dedicada a Lionel Soukaz, cineasta francês falecido em fevereiro, considerado pioneiro na representação da cultura queer no cinema;
  • A mostra de curtas No Pride in Genocide, organizada pelo coletivo Queer Cinema for Palestine.

O Olhar Português

O cinema nacional também marca presença, com a estreia lisboeta de Neko, de Inês Oliveira, que retrata uma experiência trans vivida num grupo de adolescentes numa Lisboa em transformação.

A par desta obra, o festival apresenta ainda documentários que abordam identidade, performance e memória cultural:

  • Esta Mulher É um Homem, de André Murraças e Flávio Gil;
  • O Meu Reino para um King, de Sónia Baptista e Raquel Melgue.

Muito Para Ver, Muito Para Pensar

Mais do que um festival de cinema, o Queer Lisboa afirma-se como o único evento nacional dedicado especificamente às múltiplas expressões da cultura queer, abrangendo identidades gay, lésbicas, bissexuais, transgénero, intersexo e não-normativas.

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E quem perder parte da programação em Lisboa poderá recuperá-la no Queer Porto, de 4 a 8 de novembro, reforçando a ligação entre as duas cidades e o compromisso em dar visibilidade às narrativas queer no panorama cultural português.

🎬 Honey Don’t!: Ethan Coen regressa a Cannes com uma comédia noir queer

Margaret Qualley lidera elenco de luxo em filme que mistura humor negro, culto religioso e romance lésbico

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Ethan Coen, conhecido pelo seu trabalho com o irmão Joel, regressa ao Festival de Cannes com Honey Don’t!, uma comédia noir que marca a sua segunda longa-metragem a solo. O filme, protagonizado por Margaret Qualley, Aubrey Plaza e Chris Evans, teve a sua estreia mundial na secção de Sessões da Meia-Noite do festival, recebendo uma ovação de pé de 6,5 minutos.  


🕵️‍♀️ Uma detective privada em terras áridas

Em Honey Don’t!, Margaret Qualley interpreta Honey O’Donahue, uma detective privada de língua afiada que investiga uma série de mortes misteriosas ligadas a uma igreja em Bakersfield, Califórnia. A trama desenrola-se num cenário menos glamoroso que o habitual Los Angeles, oferecendo uma nova perspectiva ao género noir.  


🎭 Elenco estelar e personagens marcantes

O filme conta com um elenco de peso:

  • Aubrey Plaza como MG Falcone, interesse romântico de Honey; 
  • Chris Evans no papel de Reverend Drew Devlin, um pregador corrupto; 
  • Charlie Day como o detective Marty Metakawich. 

Esta é a segunda colaboração de Coen com Qualley e a co-argumentista Tricia Cooke, após Drive-Away Dolls (2024).  


🎬 Uma abordagem inovadora ao género noir

Coen e Cooke procuraram reinventar o género noir, introduzindo uma protagonista lésbica e ambientando a história numa região desértica da Califórnia. O filme apresenta cenas de violência estilizada, inspiradas nos primeiros trabalhos de Sam Raimi, com o objectivo de serem impactantes mas não gratuitamente sádicas.  

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📅 Estreia nos cinemas

Honey Don’t! tem estreia marcada nos cinemas dos Estados Unidos a 22 de Agosto de 2025. Ainda não há confirmação para a estreia em Portugal. 

Todd Haynes Vai Ser Homenageado em Cannes com o Prémio Carruagem de Ouro 🎬✨

O realizador Todd Haynes, uma das vozes mais marcantes do cinema queer e independente norte-americano, será distinguido com o prestigiado Prémio Carruagem de Ouro na Quinzena dos Realizadores, uma secção paralela do Festival de Cannes. A cerimónia terá lugar a 14 de maio, e promete ser um dos momentos mais simbólicos desta edição do certame francês.

Aos 64 anos, Haynes mantém intacto o seu estatuto de provocador elegante: um cineasta que nunca receou desafiar convenções — sejam elas sociais, sexuais ou estéticas. A Sociedade de Realizadores de Cinema (SRF), que atribui o prémio, destacou a sua “capacidade de questionar normas” como um dos motivos centrais da homenagem.

Uma Filmografia de Ousadia e Elegância

Desde “Seguro” (1995), uma inquietante alegoria sobre a ansiedade contemporânea, até à reinvenção poética da biografia de Bob Dylan em “I’m Not There” (2007), Haynes tem cultivado um cinema profundamente autoral, esteticamente sofisticado e politicamente atento.

Em “Carol” (2015), apresentou uma das histórias de amor lésbico mais arrebatadoras e delicadas do cinema contemporâneo, com Cate Blanchett e Rooney Mara. Mais recentemente, em “May December: Segredos de Um Escândalo” (2023), voltou a brilhar ao lado de Natalie Portman e Julianne Moore num drama mordaz sobre representação e manipulação.

O seu percurso em Cannes tem sido frequente e marcante: várias das suas obras passaram pela seleção oficial, e Haynes tornou-se um nome querido da Croisette.

“Todos os filmes são políticos”

Mais do que um criador de mundos cinematográficos, Todd Haynes é também uma voz crítica e interventiva. Em fevereiro deste ano presidiu ao júri do Festival de Berlim, onde não se inibiu de abordar a política norte-americana. “Todos os filmes são políticos. Todos podem desempenhar um papel”, afirmou à agência AFP.

O realizador nunca escondeu a sua oposição a Donald Trump, considerando essencial que o cinema seja também um espaço de resistência e reflexão.

Um Prémio com História

O Prémio Carruagem de Ouro (Carrosse d’Or) é atribuído desde 2002 pela SRF e pretende distinguir realizadores cujo trabalho se tenha pautado por uma abordagem corajosa, inovadora e independente.

Todd Haynes junta-se assim a uma galeria de nomes ilustres que já inclui Martin Scorsese, Agnès Varda, Naomi Kawase, Clint Eastwood, Jafar Panahi ou, mais recentemente, Andrea Arnold (2023) e Souleymane Cissé (também em 2023).

A Quinzena dos Realizadores — que decorrerá de 14 a 22 de maio — promete ser, mais uma vez, um espaço de descoberta e celebração do cinema que pensa para além da norma. E Todd Haynes, sem dúvida, é um mestre dessa arte

Festival Queer Lisboa Arranca com “Baby” de Marcelo Caetano e uma Programação de Cinema de Urgência

O Festival Queer Lisboa começa hoje, 23 de setembro, com a exibição do filme Baby, do realizador brasileiro Marcelo Caetano, abrindo um certame que se estende até ao dia 28 de setembro. Este ano, o festival convida o público a refletir sobre temas como as assimetrias sociais, os conflitos no mundo, e um cinema que se impõe como urgente e necessário.

“Baby”: Amor, Família e Marginalidade no Centro de São Paulo

O filme Baby, que valeu ao ator Ricardo Teodoro o prémio de Revelação na Semana da Crítica em Cannes, narra uma história de amor, família e perda no cenário das margens da sociedade no centro de São Paulo. A obra de Marcelo Caetano é um retrato sensível das dificuldades de viver à margem, capturando a complexidade das relações humanas num contexto urbano marcado pela desigualdade social. Esta estreia promete dar o tom para o que será uma semana intensa de cinema que desafia convenções e expõe realidades por vezes invisíveis.

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Cinema Português em Competição

Nas várias secções competitivas do Queer Lisboa, algumas produções portuguesas também terão lugar de destaque. Entre elas, As Minhas Sensações São Tudo o que Tenho para Oferecer, de Isadora Neves Marques, e Seu Nome Era Gisberta, de Sérgio Galvão Roxo, que abordam questões pessoais e políticas ligadas à identidade e à luta pela aceitação. Outra produção a ter em conta é Kiss Your Hand Madame, uma coprodução entre Portugal, Hungria e Bélgica, dirigida por Jeremy Luke Bolatag.

Estas obras, todas com um forte cunho autoral e temáticas que dialogam diretamente com o público LGBTQI+, serão acompanhadas com grande expectativa, reforçando a importância do festival para dar visibilidade a novas vozes no cinema queer português.

Panorama e Cinema Internacional: Elliot Page e Peaches em Destaque

Na secção Panorama, o festival destaca o filme Close to You, coescrito e protagonizado por Elliot Page, que continua a afirmar-se como uma das mais importantes figuras trans do cinema contemporâneo. O filme, realizado por Dominic Savage, explora questões ligadas à identidade de género e à complexidade das relações humanas, sendo um dos grandes destaques da programação internacional deste ano.

Outro destaque vai para o documentário Teaches of Peaches, de Philipp Fussenegger e Judy Landkammer, que traça o percurso artístico da icónica performer canadiana Peaches, famosa pelas suas atuações provocadoras e inovadoras na música eletrónica.

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Resistência Queer: Um Foco na Luta em Contextos de Conflito

Este ano, o Queer Lisboa tem como tema central a “Resistência Queer”, focando-se nas experiências das comunidades LGBTQI+ em territórios sob conflito ou governados por regimes autoritários, como o Kosovo, a Palestina, o Chipre, a Ucrânia e a Hungria. O festival pretende dar voz àquelas populações que vivem diariamente sob a repressão e que continuam a lutar pelos seus direitos num cenário de constante perigo.

Entre as obras que integram este foco, destaca-se Foggy: Palestine Solidarity Cinema & The Archive, uma série de curtas-metragens que exploram o tema da solidariedade com a Palestina, através das lentes de cineastas como Mike Hoolboom e Amy Gottlieb.

Encerramento com “Call Me Agnes” e Festival Queer Porto

O filme de encerramento do Queer Lisboa será Call Me Agnes, uma produção neerlandesa de Daniel Donato. Esta obra cruza elementos de documentário e ficção para contar a história de Agnes Geneva, uma mulher trans da Indonésia, explorando temas de identidade, resistência e transformação.

O festival não termina em Lisboa. No próximo mês, de 8 a 12 de outubro, acontecerá o Queer Porto, que celebrará a sua 10ª edição com programação a decorrer em espaços emblemáticos da cidade, como o Batalha Centro de Cinema, Passos Manuel e a Casa Comum da Reitoria da Universidade do Porto.

O Cinema Queer como Voz de Resistência e Reflexão Social

O Queer Lisboa volta a afirmar-se como um espaço privilegiado para a reflexão e a celebração do cinema queer, dando palco a produções que não só exploram questões de identidade de género e orientação sexual, mas que também abordam as lutas e resistências das comunidades LGBTQI+ em várias partes do mundo. O festival continua a ser uma referência no panorama cultural português e internacional, trazendo para o grande ecrã histórias que merecem ser ouvidas e vistas.