Há algo de profundamente simbólico em ver Guillermo del Toro a recriar Frankenstein. Afinal, poucas histórias refletem tão bem a essência da arte de fazer cinema: um conjunto de partes distintas — cenários, luz, som, guarda-roupa, interpretação — unidas para criar algo vivo. E é precisamente isso que o realizador mexicano quis fazer com a sua adaptação épica do romance de Mary Shelley: um filme artesanal, feito à mão, como nos velhos tempos de Hollywood.
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“It’s alive!”
A primeira a sentir o impacto foi Tamara Deverell, a diretora de arte. Quando entrou no gigantesco laboratório de Victor Frankenstein — construído num torreão de pedra escocês com uma imponente janela circular — não conseguiu conter o entusiasmo: “Entrei no set e disse… ‘Está vivo!’”.

O laboratório, centro nevrálgico da história, é uma mistura entre gótico e grandioso, com maquinaria detalhada, instrumentos científicos e uma atmosfera que parece pulsar com energia própria. É, nas palavras de Deverell, “um palco de alquimia e loucura criativa” — e o coração físico do filme.
O cinema como um corpo costurado
Guillermo del Toro quis que Frankenstein fosse um “filme feito à mão em escala épica”. Cada detalhe, desde o figurino de Kate Hawley até à luz filtrada pelas janelas trabalhada pelo diretor de fotografia Dan Laustsen, foi pensado em harmonia.
“É um trabalho de sincronia absoluta”, explica del Toro. “Um guarda-roupa pode ser magnífico, mas se não conversar com a luz, não funciona. Tudo precisa de respirar em conjunto.”
A criatura — interpretada por Jacob Elordi — nasceu das mãos do designer Mike Hill, colaborador habitual do realizador. Hill recusou a ideia clássica do monstro remendado e mecânico: “Não queríamos parafusos, nem metal, nem horror explícito. Este é um ser recém-nascido, feito de carne, vulnerável, quase humano. A alma está nos olhos.”

Um monstruoso trabalho de equipa
O guarda-roupa da criatura foi, literalmente, uma produção à parte. Hawley e a sua equipa criaram várias camadas de roupa e ligaduras que evoluem ao longo do filme, refletindo a transformação do monstro — e a passagem por lama, neve, fogo e sangue. “O trabalho tornou-se um monstro em si mesmo”, brinca a figurinista.
Del Toro pediu-lhe que fugisse do estilo de época convencional: “A primeira coisa que me disse foi: ‘Não quero chapéus de época, nem formalismos. Quero algo vivo’.”
Entre tons ricos e texturas orgânicas, o filme recorre aos vermelhos e verdes intensos característicos do realizador, mas também a um azul profundo que domina o vestido de Mia Goth, peça que levou quatro meses a ser aperfeiçoada. “Tudo era uma questão de alquimia entre cor, tecido e luz”, recorda Hawley.

A luz e as trevas
Dan Laustsen, colaborador de longa data de del Toro desde Mimic (1997), voltou a apostar em luz natural e contrastes intensos. Muitas cenas foram iluminadas apenas com velas, criando uma atmosfera densa e intimista.
“Não temos medo da escuridão”, diz Laustsen com orgulho. “A luz tem de ter carácter.”
O resultado são imagens carregadas de névoa, fumo e sombra — uma estética que evoca tanto Crimson Peak como o cinema clássico de terror dos anos 30. Del Toro e Laustsen têm uma sintonia tal que já comunicam por instinto, mesmo quando discutem se o plano deve ser filmado da esquerda ou da direita.
Música de alma e faísca
A trilha sonora de Alexandre Desplat, colaborador de del Toro em A Forma da Água e Pinóquio, completa o corpo do filme. O compositor descreve esta nova parceria como “o terceiro capítulo de uma trilogia emocional”.
“Procurei dar voz à alma silenciosa da criatura”, explica. O resultado é uma partitura que alterna entre grandiosidade e delicadeza, com solos de violino interpretados pela norueguesa Eldbjørg Hemsing.
Na cena em que Victor cria o monstro, Desplat optou por algo inesperado: uma valsa. “Del Toro queria que víssemos aquele momento não como terror, mas como êxtase criativo. Ele está em transe, como um pintor obcecado.”
O renascimento de um clássico
Com estreia marcada para os cinemas e estreia em streaming a 7 de Novembro na Netflix, Frankenstein promete ser uma celebração do cinema feito com alma — e do poder do trabalho coletivo.
Cada detalhe, cada centelha, cada peça costurada reflete o que del Toro sempre procurou: humanidade no meio do horror.
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Como o próprio realizador gosta de dizer, sorrindo: “No fim, todos nós somos um pouco Frankenstein.”




