Ripley: A Heroína Que Reinventou o Cinema de Acção e Mudou Hollywood Para Sempre

Nos anos 70, o cinema americano estava pronto para uma revolução. O Código Hays já tinha caído, a segunda vaga do feminismo agitava a sociedade e as audiências estavam preparadas para ver mulheres muito para além do papel de “donzela em perigo”. Foi nesse caldo cultural que surgiu, em 1979, uma personagem improvável mas destinada à imortalidade: Ellen Ripley, interpretada por Sigourney Weaver em Alien – O 8.º Passageiro.

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Curiosamente, Ripley nem estava escrita para ser uma mulher. O argumento de Dan O’Bannon e Ronald Shusett descrevia personagens neutras em termos de género. Mas quando Ridley Scott escolheu Weaver para o papel principal, o cinema ganhou a sua primeira grande heroína de ficção científica: profissional, pragmática, sem paciência para hierarquias inúteis — e, acima de tudo, sobrevivente.

Em Alien, Ripley é apresentada como mais uma entre a tripulação do Nostromo. Só a pouco e pouco percebemos que é ela quem vai carregar o filme às costas. Ao contrário das “scream queens” típicas do terror da altura, Ripley mantém a calma, organiza planos e insiste em protocolos de segurança que os colegas ignoram — com consequências fatais. O contraste com Lambert (Veronica Cartwright), em constante histeria, não podia ser mais claro: Ripley era a antítese da vítima.

O salto definitivo veio em 1986, com Aliens – O Reencontro Final. James Cameron não quis apenas repetir a fórmula: transformou Ripley numa verdadeira estrela de acção, mas sem lhe roubar a humanidade. Agora, para além de enfrentar os Xenomorfos, ela protege a pequena Newt e assume-se como mãe substituta. O clímax é um duelo de mães — Ripley contra a Rainha Alien — que resultou numa das frases mais icónicas do género: “Get away from her, you bitch!” Foi suficiente para garantir a Weaver uma inédita nomeação ao Óscar de Melhor Actriz num filme de ficção científica.

Ripley foi especial porque não dependia de músculos hipertrofiados como Rambo, nem de charme galáctico como Leia. Era uma profissional competente que tomava decisões sob pressão e não pedia desculpa por liderar. Esse retrato de liderança feminina, em plena era de figuras como Shirley Chisholm a lutar pela presidência dos EUA, era tão radical quanto necessário.

Nos anos seguintes, Weaver voltou em Alien³ (1992) e Alien: Ressurreição (1997), mas o impacto já não foi o mesmo. A cultura tinha mudado: as heroínas de acção já não eram novidade e o próprio franchise parecia perdido em debates filosóficos sobre androides e genética. Mesmo assim, cada nova tentativa — de Prometheus a Alien: Covenant — continuou a procurar, de forma quase obsessiva, recriar a fórmula Ripley com outras protagonistas femininas.

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Hoje, o legado de Ripley sente-se em cada mulher que empunha uma arma no grande ecrã, de Sarah Connor a Furiosa, de Katniss Everdeen a Rey. Ela mostrou que uma heroína não precisa de superpoderes, apenas de inteligência, coragem e nervos de aço. E, para sempre, ficará a imagem de Sigourney Weaver, suada, determinada e absolutamente imbatível, a provar que o cinema de acção também podia — e devia — ser liderado por mulheres.

“Maria Montessori”: O Filme Que Vai Dar Voz à Mulher que Mudou o Mundo da Educação

Leïla Bekhti e Jasmine Trinca brilham num drama histórico sobre maternidade, exclusão e resistência feminina 💥

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Se pensarmos na palavra “escola”, provavelmente poucos nomes surgem tão associados à inovação pedagógica como o de Maria Montessori. Mas quem era, afinal, esta mulher que ousou desafiar o sistema educativo no virar do século XX? A resposta chega já a 12 de junho com Maria Montessori, um filme biográfico que promete muito mais do que uma simples aula de História.

Realizado por Léa Todorov e com argumento coassinado pela própria realizadora e por Catherine Paillé, Maria Montessori mergulha nas camadas íntimas da vida desta médica italiana – a primeira a exercer medicina em Itália – que revolucionou a pedagogia com um método centrado na autonomia, liberdade e respeito pelas crianças.

Mas o filme não se limita a traçar o percurso da cientista. Maria Montessori é, acima de tudo, um retrato de duas mulheres que ousaram viver fora das regras: Montessori, interpretada por Jasmine Trinca, e Lili d’Alengy, uma cortesã parisiense vivida por Leïla Bekhti, que esconde uma filha com deficiência. É em Roma que os caminhos destas duas figuras improváveis se cruzam, num encontro que muda o rumo das suas vidas e que dá corpo a um drama de forte intensidade emocional.

Mulheres à frente do seu tempo… e sozinhas no mundo

O que une estas duas mulheres, aparentemente de mundos distintos, é a luta silenciosa contra a repressão social e o preconceito. Ambas guardam segredos – Maria tem um filho nascido fora do casamento, Lili tenta proteger a filha das garras do estigma. Em comum têm a maternidade não convencional e a coragem de não baixarem os braços. E é na relação entre elas que o filme encontra o seu coração.

Não estamos perante uma narrativa empacotada num arco tradicional de superação. Maria Montessori assume-se como um drama delicado, de olhar humanista, onde a câmara dá tempo às emoções e espaço aos silêncios. A realização de Léa Todorov é sensível e contenida, deixando que as personagens respirem e que o espectador mergulhe nas suas angústias e esperanças.

Uma história comovente… e politicamente atual

A pedagogia de Montessori não serve aqui apenas como pano de fundo, mas como motor simbólico de transformação. A sua visão sobre a infância, até então encarada com desdém e violência institucional, é apresentada como um gesto de revolução silenciosa. E, num mundo onde as vozes femininas ainda lutam para serem ouvidas, o filme ganha uma ressonância política inesperada e necessária.

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Maria Montessori estreia em exclusivo nos cinemas UCI a 12 de junho. Mais do que um filme biográfico, é uma homenagem à persistência feminina, ao poder da empatia e à urgência de dar espaço às histórias que nunca chegaram aos manuais escolares. Preparem os lenços… e os aplausos.