O Filme Português que Está a Surpreender a Estónia e a Argentina — e a Levar o Alentejo pelo Mundo

«18 Buracos para o Paraíso», de João Nuno Pinto, estreia em dois festivais internacionais e torna-se o primeiro filme português distinguido com o selo Green Film.

Há filmes que nascem de uma paisagem. Outros, de uma inquietação profunda. 18 Buracos para o Paraíso nasce dos dois. A nova longa-metragem de João Nuno Pinto, inspirada no território alentejano, está a dar que falar muito para lá das fronteiras portuguesas. Ontem estreou na 29.ª edição do Tallinn Black Nights Film Festival, na Estónia, e hoje chega ao prestigiado Mar del Plata Film Festival, na Argentina — o único festival de classe A na América Latina, ao lado de gigantes como Berlim, Cannes ou Veneza.

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A obra, com 108 minutos, percorre a ruralidade alentejana através de uma narrativa fragmentada, construída a partir de três olhares femininos. No elenco encontramos nomes como Margarida Marinho, Beatriz Batarda, Rita Cabaço e Jorge Andrade, acompanhados por membros da comunidade local onde decorreu a rodagem. A história passa-se numa herdade assolada pela seca, onde proprietários e trabalhadores relatam os mesmos acontecimentos, cada um segundo a sua visão, como se cada perspetiva fosse um raio de sol a bater de forma diferente na mesma terra.

Além da presença internacional, o filme já conquistou um marco importante: tornou-se o primeiro filme português a receber a certificação Green Film. Este selo reconhece práticas ambientais responsáveis no processo de produção audiovisual — um detalhe particularmente simbólico, tendo em conta o tema central da obra. Afinal, 18 Buracos para o Paraíso é tão sobre o que vemos no ecrã como sobre o modo como o próprio cinema impacta o mundo que retrata.

A produção é da Wonder Maria Filmes, liderada por Andreia Nunes, em co-produção com a italiana Albolina Film e a argentina Aurora Cine. A distribuição internacional cabe à Alpha Violet. Em Portugal, o público terá de esperar mais um pouco: a estreia comercial está prevista apenas para 2026.

As sessões no Mar del Plata decorrem no Auditorium e voltam a repetir-se a 15 de Novembro, às 14h30, no Colon — apresentando a história alentejana a públicos de dois continentes diferentes no espaço de 24 horas.

Uma reflexão nascida da terra

João Nuno Pinto revela que o filme nasceu da urgência de retratar uma realidade que conhece de perto. A viver no Alentejo desde 2020, o realizador tem observado “a seca, a desertificação e as pressões do turismo e da especulação imobiliária”. O filme, explica, procura olhar para a crise ambiental não como um alerta distante, mas como uma presença quotidiana, que molda a vida das pessoas e o futuro da região.

A estrutura tripartida — três mulheres, três narrativas, três formas de interpretar os mesmos factos — reorganiza constantemente a perceção do público, criando uma teia emocional onde cada revelação altera o significado da anterior. Para o realizador, esta abordagem coloca o espectador “dentro dos mundos inquietos e frágeis destas mulheres”, tornando a história simultaneamente íntima e universal.

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No fundo, como sublinha João Nuno Pinto, o filme é “uma reflexão sobre fragilidade: da terra, da sociedade e da conexão humana”. Um tema local que ecoa uma realidade partilhada em todo o mundo — e que agora encontra voz em palcos internacionais, onde o Alentejo se revela não apenas cenário, mas personagem viva.

🏆 Prémios Sophia 2024: “Mal Viver” e “Great Yarmouth” dominam noite de celebração do cinema português

A 13.ª edição dos Prémios Sophia, promovida pela Academia Portuguesa de Cinema, decorreu no passado domingo, 26 de maio de 2024, no Casino Estoril, sob o mote “Cinema é Liberdade”, em homenagem aos 50 anos do 25 de Abril. A cerimónia, transmitida em direto pela RTP2, destacou as melhores produções nacionais do último ano. 

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🎬 “Mal Viver” e “Great Yarmouth” entre os grandes vencedores

“Mal Viver”, de João Canijo, foi o grande vencedor da noite, arrecadando quatro estatuetas: Melhor Filme, Melhor Realização, Melhor Montagem (João Braz) e Melhor Atriz Secundária (Madalena Almeida). 

“Great Yarmouth – Provisional Figures”, de Marco Martins, também se destacou com quatro prémios: Melhor Atriz Principal (Beatriz Batarda), Melhor Ator Secundário (Romeu Runa), Melhor Direção de Fotografia (João Ribeiro) e Melhor Som (Miguel Martins e Rafael Cardoso). 


🏅 Principais vencedores

  • Melhor FilmeMal Viver
  • Melhor Realização: João Canijo (Mal Viver)
  • Melhor Argumento Original: Carlos Conceição (Nação Valente)
  • Melhor Argumento Adaptado: Virgílio Almeida (Nayola)
  • Melhor Ator Principal: Miguel Borges (Não Sou Nada – The Nothingness Club)
  • Melhor Atriz Principal: Beatriz Batarda (Great Yarmouth – Provisional Figures)
  • Melhor Ator Secundário: Romeu Runa (Great Yarmouth – Provisional Figures)
  • Melhor Atriz Secundária: Madalena Almeida (Mal Viver)
  • Melhor Documentário em Longa-MetragemViagem ao Sol, de Ansgar Schaefer e Susana de Sousa Dias
  • Melhor Curta-Metragem de Ficção2720, de Basil da Cunha
  • Melhor Curta-Metragem de DocumentárioConey Island – As Primeiras Vezes, de Joana Botelho
  • Melhor Curta-Metragem de AnimaçãoSopa Fria, de Marta Monteiro
  • Melhor Série/TelefilmeRabo de Peixe, realizada por Augusto Fraga e Patrícia Sequeira
  • Melhor Banda Sonora Original: Manuel Riveiro e Gaiteiros de Lisboa (Os Demónios do Meu Avô)
  • Melhor Canção Original: “Caretos – Os Demónios do Meu Avô”, letra de Possidónio Cachapa, música de Carlos Guerreiro, interpretação dos Gaiteiros de Lisboa 

🎓 Prémio Sophia Estudante e homenagens

O Prémio Sophia Estudante foi atribuído a Défilement, de Francisca Miranda, da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. 

Os Prémios Sophia de Carreira foram entregues ao compositor Luís Cília e ao realizador Rui Simões, reconhecendo as suas contribuições significativas para o cinema português. 

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