O realizador Ridley Scott viu-se envolvido numa polémica inesperada em Malta depois de uma tentativa de humor que foi mal recebida pelas autoridades locais. Durante a promoção de Gladiador II, o cineasta britânico fez uma piada sobre a sua experiência a filmar no país, o que gerou indignação no parlamento maltês e levantou questões sobre os elevados incentivos fiscais concedidos à produção do filme.
A Piada que Não Caiu Bem
O incidente teve origem numa entrevista promocional para a Paramount Pictures, na qual Christopher Nolan questionou Ridley Scott sobre as filmagens de Gladiador II em Malta e Marrocos, locais que já tinham servido de cenário para o primeiro filme.
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Durante a conversa, Ridley Scott tentou uma abordagem humorística e lançou uma provocação:
“Não está cá ninguém de Malta, pois não? Eu não voltava lá de férias.”
Apesar de ter elogiado a arquitetura e a riqueza histórica do país durante a entrevista, estas palavras foram suficientes para causar indignação na classe política e na indústria cinematográfica maltesa.
Uma Tentativa de Controlo de Danos que Correu Pior
Perante a potencial repercussão negativa, o CEO da Malta Film Studios, Johann Grech, tentou suavizar a situação ao divulgar um vídeo editado da entrevista nas redes sociais, omitindo os comentários negativos do realizador e focando-se apenas nos elogios.
No entanto, esta edição gerou ainda mais revolta, com o Partido Nacionalista (PN) a acusar Grech de manipulação de informação e a exigir a sua demissão do cargo. A deputada Julie Zahra criticou duramente a atuação do CEO, afirmando que este deveria defender os interesses da indústria cinematográfica maltesa e não o seu próprio ego.
O Partido Trabalhista, por sua vez, também não ficou indiferente e condenou qualquer tentativa de difamação do país, reforçando que Malta deve ser respeitada enquanto destino de filmagens.
Ridley Scott Pede Desculpa
Perante a escalada da controvérsia, Ridley Scott emitiu um pedido de desculpas, esclarecendo que os seus comentários foram “uma tentativa de humor que correu mal”.
O realizador afirmou que admira Malta e que considera o país uma “joia no Mediterrâneo”, reforçando que alguns dos seus melhores trabalhos foram realizados lá. Sobre a relação com Johann Grech, Ridley Scott não fez críticas diretas e afirmou que espera continuar a colaborar com o país no futuro.
Os Benefícios Fiscais Milionários de Gladiador II
Apesar da indignação gerada pelos comentários de Scott, o verdadeiro ponto de discórdia pode não ser a piada do realizador, mas sim os generosos incentivos fiscais oferecidos pelo governo maltês para atrair produções internacionais.
De acordo com o Times of Malta, a produção de Gladiador II recebeu 47 milhões de euros em dinheiro dos contribuintes, um valor sem precedentes na União Europeia, através de um esquema de reembolso de 40% das receitas do filme.
O governo maltês argumenta que estes incentivos ajudam a impulsionar a economia local, especialmente no setor do turismo, mas a oposição não vê a situação com bons olhos. Julie Zahra acusou Johann Grech de ter favorecido Hollywood com benefícios exorbitantes, apenas para ser publicamente criticado por um dos realizadores que mais beneficiaram destes apoios.
A Relevância de Malta na Indústria Cinematográfica
Apesar das críticas e da polémica, Malta tem-se afirmado como um destino de eleição para grandes produções cinematográficas. O país já serviu de cenário para filmes como:
• Gladiador (2000)
• Troy (2004)
• Assassin’s Creed (2016)
• Game of Thrones (2011-2019)
A aposta em descontos fiscais e em infraestruturas de filmagem tem atraído cada vez mais estúdios para o arquipélago, consolidando-o como uma alternativa viável a países como Espanha, Marrocos e Itália.
No entanto, esta recente controvérsia levanta questões sobre se os incentivos estão a ser geridos de forma sustentável ou se o país está a ceder demasiado às exigências de Hollywood.
Conclusão: Piada Inocente ou Questão Política?
O caso de Ridley Scott demonstra como um comentário aparentemente inofensivo pode ganhar proporções inesperadas, especialmente num contexto onde grandes quantias de dinheiro público estão envolvidas.
Se, por um lado, o realizador tentou brincar com a sua experiência de filmagens, por outro, as suas palavras foram vistas como um desrespeito para com um país que investiu fortemente para receber a sua produção.
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Agora, com Gladiador II prestes a chegar aos cinemas, resta saber se esta polémica terá impacto na relação de Malta com futuras produções cinematográficas – ou se tudo não passará de um episódio esquecido quando os milhões de bilheteira começarem a entrar.
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