
“Yippee-ki-yay, motherf**r.” A frase é lendária. O filme, também. Mas o que muitos não sabem é que Die Hard – Assalto ao Arranha-Céus (1988) esteve mesmo para não acontecer como o conhecemos — e que o seu realizador, John McTiernan, rejeitou o projeto várias vezes antes de ceder.
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Na verdade, McTiernan achava o argumento original demasiado negro e violento. Terrorismo, reféns, execuções a sangue-frio… tudo isso criava um tom que ele considerava “nasty”, pesado e sem espaço para o tipo de entretenimento que o público ansiava nos anos 80. Foi apenas quando lhe deram liberdade para reescrever o tom do filme, suavizando algumas passagens e introduzindo momentos de humor (muitos deles improvisados por Bruce Willis), que McTiernan aceitou a cadeira de realizador.
Um Estilo Europeu no Coração de Hollywood
Para tornar Die Hard mais do que apenas mais um filme de ação, McTiernan tomou uma decisão crucial: contratou o diretor de fotografia Jan de Bont, conhecido pelo seu trabalho com Paul Verhoeven. O objetivo? Dar ao filme uma “sensibilidade europeia” na forma como a câmara se movimenta.
Não é coincidência que tantas cenas do filme tenham aquele movimento envolvente da câmara em torno das personagens — uma técnica que McTiernan chamava de “movimento pela emoção”. Para o realizador, a câmara não devia seguir apenas o movimento físico, mas o sentimento da cena. Este cuidado com a fluidez e ritmo visual está na base do porquê de Die Hard ainda hoje parecer fresco, intenso e cinematograficamente elegante.
McTiernan ia mais longe: muitas transições no filme ocorrem entre cenas em locais diferentes, mas ligadas por movimentos de câmara idênticos, criando uma sensação de continuidade visual notável.
Explosões Reais e Decisões Que Fizeram História
Outro dado fascinante: a maioria das explosões exteriores do Nakatomi Plaza foram reais. Foram filmadas com cargas controladas no verdadeiro edifício Fox Plaza, em Los Angeles, e não criadas com miniaturas ou efeitos digitais — que, na altura, eram ainda rudimentares. Este compromisso com o realismo e a fisicalidade da ação é parte da magia do filme.
E quanto ao protagonista? Bruce Willis só entrou no projeto depois de Robert De Niro recusar o papel de John McClane — o que soa hoje a uma realidade paralela impensável. O próprio Willis tinha acabado de ser rejeitado para o papel de Charles Grodin em Midnight Run (1988), precisamente com De Niro, e, por coincidência, ambos os filmes estrearam no mesmo fim de semana.
Foi McTiernan quem viu o verdadeiro trunfo de Willis: “Bruce é mais carismático quando está a ser um sacana irreverente”, disse. “Apontam-lhe uma arma à cara e ele responde com um ‘Oops’.” Essa mistura de sarcasmo, vulnerabilidade e coragem tornou McClane uma figura icónica — e Willis numa estrela mundial.
A Oportunidade Perdida de George Takei
Um último detalhe curioso e algo trágico envolve George Takei, o eterno Sulu de Star Trek. McTiernan queria muito que ele interpretasse Takagi, o executivo japonês da Nakatomi, mas um mal-entendido com os agentes de Takei fez com que o papel passasse ao lado. Segundo o próprio Takei, ficou bastante desiludido por ter perdido a oportunidade.
Um Filme Definidor
Hoje, Die Hard é mais do que um clássico de Natal ou um modelo de ação — é uma aula de estrutura narrativa, caracterização e mise-en-scène. McTiernan transformou um argumento genérico e pesado num dos filmes mais influentes do século XX. Desde os corredores claustrofóbicos do arranha-céus, à banda sonora de Michael Kamen pontuada com temas clássicos, passando pelo memorável vilão Hans Gruber (Alan Rickman, absolutamente fenomenal), tudo contribui para o equilíbrio quase perfeito entre espetáculo e humanidade.
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E pensar que tudo isto quase não aconteceu…
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