O autor de Titanic e Avatar continua a ser, acima de tudo, um cinéfilo voraz
James Cameron é talvez o cineasta mais identificado com superproduções gigantescas, tecnologias de ponta e mundos inteiros criados de raiz. Mas por detrás do realizador que quebrou recordes com Titanic, redefiniu a ficção científica com Terminator 2 e reinventou o cinema 3D com Avatar, está alguém que cresceu a ver filmes na televisão e que nunca perdeu o fascínio puro pelo acto de ver cinema.
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Ao longo das últimas décadas, Cameron foi partilhando, aqui e ali, os seus filmes favoritos — e o resultado é uma colecção tão ecléctica que parece saída da mente de um devorador compulsivo de géneros, épocas e sensibilidades. Do clássico absoluto The Wizard of Oz a prazeres assumidamente culpados como Resident Evil, passando por Kubrick, Spielberg, Coppola e até Borat, a lista diz-nos mais sobre Cameron do que qualquer entrevista longa.
O encanto eterno de um mundo para lá do arco-íris
Se há título que surge sempre que Cameron fala das suas referências, é The Wizard of Oz (1939). O realizador descreve-o como um filme que o acompanha desde a infância — e que continua a revisitar com a família.
A cena em que Dorothy abre a porta e sai do preto e branco para o Technicolor continua a emocioná-lo profundamente. Cameron vê ali um momento de génio cinematográfico absoluto: uma revelação visual capaz de derrubar fronteiras entre o real e o imaginado. Talvez não seja coincidência que o autor de Avatar tenha encontrado, décadas mais tarde, o seu próprio “momento de abrir a porta para outro mundo”.
Da ternura ao terror: a amplitude de um cinéfilo sem preconceitos
Pode surpreender que alguém associado a máquinas assassinas, naves militares e criaturas subaquáticas diga abertamente que Resident Evil é um dos seus prazeres cinematográficos. Mas Cameron não só admite, como celebra o filme de Paul W. S. Anderson e, em particular, o desempenho físico de Michelle Rodriguez — «uma criatura feroz», descreveu.
A admiração por Alien é já menos chocante: Ridley Scott influenciou directamente Cameron e, como o próprio reconhece, Aliens foi criado em espírito de fã — uma tentativa de honrar e expandir o trabalho do original sem o replicar. É raro ver um realizador do calibre de Cameron a assumir, com tanta humildade, a sua posição na linhagem de outro cineasta.
E depois há Wait Until Dark, thriller de 1967 com Audrey Hepburn, que lhe deixou uma das memórias mais intensas de sempre numa sala de cinema. Segundo conta, o susto provocado por Alan Arkin terá sido o maior sobressalto que testemunhou no grande ecrã — maior, até, do que Alien ou Psycho.
Uma colecção que revela mais do que parece
Entre clássicos indiscutíveis (The Godfather, 2001: A Space Odyssey, Taxi Driver), blockbusters transformadores (Star Wars, Jaws), westerns icónicos (Butch Cassidy and the Sundance Kid) e comédias corrosivas (Borat), a lista de Cameron não segue qualquer lógica óbvia.
E é precisamente aí que reside a sua verdade: o realizador não procura coerência estética, narrativa ou formal. Procura impacto. Procura filmes que mexem consigo, seja através do assombro visual, da tensão, da irreverência ou pura genialidade técnica.
No fundo, Cameron pode ser o cineasta que nos trouxe alguns dos maiores espectáculos cinematográficos das últimas décadas, mas continua a ser, antes de mais, um espectador apaixonado — alguém que nunca deixou de olhar para o cinema como aquilo que sempre foi para si: um poço infinito de maravilhas, sustos, gargalhadas e descobertas.
Os 15 filmes preferidos de James Cameron
- The Wizard of Oz (Victor Fleming, 1939)
- Resident Evil (Paul W. S. Anderson, 2002)
- Alien (Ridley Scott, 1979)
- Close Encounters of the Third Kind (Steven Spielberg, 1976)
- Jaws (Steven Spielberg, 1975)
- Butch Cassidy and the Sundance Kid (George Roy Hill, 1969)
- Wait Until Dark (Terence Young, 1967)
- Borat (Larry Charles, 2006)
- The Woman King (Gina Prince-Bythewood, 2022)
- Star Wars: Episode IV – A New Hope (George Lucas, 1977)
- Inception (Christopher Nolan, 2010)
- Taxi Driver (Martin Scorsese, 1976)
- The Godfather (Francis Ford Coppola, 1972)
- 2001: A Space Odyssey (Stanley Kubrick, 1968)
- Dr. Strangelove (Stanley Kubrick, 1964)


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