Retratos do Mundo fecha o ano com fotografia, resistência e memória
Para fechar 2025 e abrir 2026 com propósito, o TVCine Edition propõe uma dupla de documentários que usa a fotografia como acto político, gesto íntimo e ferramenta de sobrevivência. “Retratos do Mundo” junta duas obras distintas, mas profundamente ligadas pela urgência de olhar o real sem filtros: Eu Não Sou Tudo o Que Quero Ser e Ernest Cole: Perdido e Achado.
As exibições acontecem em exclusivo nos dias 28 de Dezembro e 4 de Janeiro, sempre às 22h00, no TVCine Edition e no TVCine+. Dois filmes, dois retratos de artistas subversivos, duas formas de usar a câmara como instrumento de liberdade.
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Libuše Jarcovjáková: identidade, desejo e resistência

O primeiro documentário, Eu Não Sou Tudo o Que Quero Ser, exibido a 28 de Dezembro, centra-se na fotógrafa checa Libuše Jarcovjáková, frequentemente descrita como a “Nan Goldin da Checoslováquia”. A comparação não é gratuita. Tal como Goldin, Jarcovjáková usou a fotografia para documentar margens, corpos, noites e identidades fora da norma.
Situado num contexto político sufocante, após a Primavera de Praga de 1968, o filme constrói-se a partir das próprias fotografias da artista, cruzadas com excertos dos seus diários pessoais. O resultado é um retrato profundamente íntimo de uma mulher em permanente busca: de identidade, de liberdade artística, do conhecimento do próprio corpo e da descoberta da sexualidade.
A narrativa acompanha a sua passagem por Praga, a ida para Berlim Ocidental, a fuga para Tóquio e o regresso à Europa, sempre com a sensação de deslocação e inconformismo. Realizado em colaboração com a cineasta Klára Tasovská, o documentário esteve em competição no Festival de Berlim e abriu a edição de 2024 do IndieLisboa, afirmando-se como uma das obras documentais mais relevantes do ano.
Ernest Cole: fotografar contra o silêncio do mundo

Uma semana depois, a 4 de Janeiro, é exibido Ernest Cole: Perdido e Achado, dedicado ao fotógrafo sul-africano Ernest Cole, uma figura central na denúncia internacional do apartheid.
Cole foi o primeiro fotógrafo a expor, de forma sistemática, os horrores do regime sul-africano a um público global. O seu livro House of Bondage, publicado em 1967 quando tinha apenas 27 anos, teve um impacto sísmico — e um custo pessoal elevado. O fotógrafo foi forçado ao exílio, vivendo entre Nova Iorque e várias cidades europeias, sem nunca conseguir verdadeiramente integrar-se.
O documentário é realizado por Raoul Peck, cineasta conhecido pelo seu olhar político rigoroso. Peck constrói um retrato marcado pela inquietação, pela raiva contida e pela frustração de um artista que assistiu, dia após dia, ao silêncio — ou à cumplicidade — do mundo ocidental perante o apartheid. Mais do que um filme biográfico, trata-se de uma reflexão sobre o preço de dizer a verdade quando essa verdade é incómoda.
Dois filmes, uma mesma urgência
Apesar de contextos históricos e estéticos distintos, os dois documentários dialogam entre si de forma poderosa. Ambos mostram artistas que recusaram acomodar-se, que usaram a imagem para desafiar sistemas opressivos — fossem eles políticos, sociais ou morais.
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Retratos do Mundo não é apenas uma programação temática. É um lembrete de que a fotografia pode ser mais do que arte ou memória: pode ser resistência activa, denúncia e libertação pessoal. Uma dupla essencial para quem acredita que o cinema documental continua a ser um dos espaços mais vivos da criação contemporânea.



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