Depois do Óscar por 20 Dias em Mariupol, Mstyslav Chernov regressa com uma obra visceral, íntima e arrebatadora sobre o que significa resistir
🎥 O nome Mstyslav Chernov tornou-se sinónimo de coragem documental. Depois do aclamado 20 Dias em Mariupol, vencedor do Óscar, o jornalista e cineasta ucraniano regressa com 2.000 Metros para Andriivka, uma obra que transcende o relato jornalístico e mergulha num cinema de guerra onde a proximidade emocional e física ao conflito é absoluta.
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Estreado nos cinemas dos Estados Unidos, Reino Unido e Irlanda (e já com passagem pelo Festival de Sundance), o novo documentário é uma coprodução entre a Associated Press e a Frontline (da PBS), e propõe uma abordagem inédita à guerra na Ucrânia: ver a guerra como ela é sentida por quem a vive, metro a metro, disparo a disparo.
“Podem destruir uma aldeia, mas não conseguem destruir um símbolo”
O centro desta história não é Kiev, nem Kharkiv, nem Mariupol. É Andriivka, uma pequena aldeia no oblast de Donetsk, com apenas um acesso: uma floresta de dois quilómetros transformada em campo minado e palco de uma das batalhas mais sangrentas da contraofensiva ucraniana de 2023.
Chernov integrou a 3.ª Brigada de Assalto ucraniana para filmar de dentro a reconquista da aldeia — e encontrou ali algo maior do que uma simples posição estratégica: um símbolo.
“São apenas dois quilómetros. Mas nessa floresta está contida toda a guerra”, disse o realizador em entrevista à agência Lusa.
“Podem destruir uma aldeia, mas não conseguem destruir um símbolo.”
O documentário como arma e testemunho
Com imagens captadas por drones, câmaras de capacete, dispositivos portáteis e microfones colados à pele dos soldados, 2.000 Metros para Andriivka adopta uma linguagem estética próxima da ficção científica, mas com brutalidade real.
“Há momentos em que parece um filme de ficção científica… e depois vemos um soldado arrastar-se para uma trincheira com o braço rebentado e percebemos que estamos a ver a guerra em estado puro.”
Chernov e o colega Alex Babenko captaram o medo primitivo, o ruído dos drones, os torniquetes improvisados, os olhos de quem avança sem saber se volta. E ao mesmo tempo, registaram o poder da esperança: o desejo simples e devastador de voltar a içar a bandeira da Ucrânia num solo libertado.
“Os soldados sabem que a guerra moderna também se trava nos media. Hastear uma bandeira sem que ninguém veja… qual é o impacto? Eles queriam que fosse um símbolo de esperança.”
Quando a guerra chega a casa
A aldeia fica a menos de duas horas de Kharkiv, cidade natal de Chernov. O conflito não é uma ideia abstracta para o cineasta — é pessoal. As árvores onde filmou foram as mesmas onde brincou em criança com amigos. As explosões ecoam por ruas que conhece de memória.
“É como se estes homens estivessem a lutar pela minha infância, pelas minhas memórias e vida”, confessou.
“Cada metro conquistado naquela floresta significava algo maior do que território.”
Um cinema de combate — no campo e no ecrã
2.000 Metros para Andriivka não é um documentário tradicional. É um corpo de combate em forma de filme. É uma ode à resistência, à humanidade no meio do horror, e à importância de continuar a olhar, mesmo quando o mundo parece já ter virado a cara.
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A distribuição internacional está a cargo da Dogwoof, e o filme deverá chegar a mais salas europeias nas próximas semanas. Para quem acredita que o cinema pode ser mais do que entretenimento — pode ser memória, denúncia, arte e acto de guerra — esta é uma obra incontornável.



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