Num momento em que Hollywood continua a repensar as suas franquias mais icónicas à luz de uma nova sensibilidade social, Helen Mirren surge com uma opinião firme — e nada consensual — sobre o legado de James Bond.

Em entrevista ao The Standard, a atriz britânica, que se prepara para voltar a contracenar com Pierce Brosnan em MobLandafirmou ser contra a ideia de transformar o agente secreto mais famoso do cinema numa mulher. Não por falta de feminismo — bem pelo contrário.

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“O conceito de James Bond é encharcado e nasce de um profundo sexismo”, declarou Mirren com a franqueza que a caracteriza.

🤵‍♂️ Um ícone problemático?

Apesar de elogiar generosamente os seus colegas de profissão, incluindo Brosnan, de quem se diz “uma enorme fã”, e Daniel Craig, que classifica como “um homem gracioso e amável”, Mirren não poupa críticas à franquia que eles ajudaram a imortalizar:

“Nunca gostei de James Bond. Nunca gostei da forma como as mulheres eram tratadas nesses filmes”, afirmou.

De facto, durante grande parte das suas seis décadas de existência, a saga do agente 007 foi marcada por uma imagem de masculinidade hegemónica e um tratamento superficial ou hipersexualizado das personagens femininas. Embora Craig tenha contribuído para uma versão mais introspectiva e emocionalmente complexa do espião, a própria natureza da personagem — um homem sedutor, impiedoso e quase sempre no centro do universo — permanece enraizada num arquétipo masculino tradicional.

👩‍🎤 Uma mulher Bond? Não, diz Mirren

Num tom surpreendente, a atriz revelou que não está de acordo com a proposta de criar uma versão feminina de James Bond, apesar de ser uma das mais respeitadas defensoras da visibilidade feminina no cinema:

“Prefiro ver histórias reais de mulheres que trabalharam como espiãs. Mulheres que existiram e foram incrivelmente corajosas, como as da Resistência Francesa. São essas histórias que deviam ser contadas.”

Mirren não vê numa 007 feminina uma vitória simbólica para as mulheres, mas antes uma forma de reciclar uma estrutura problemática com um verniz progressista. Para a veterana atriz, a solução não está em ocupar lugares desenhados para homens, mas em construir novos espaços narrativos com base na verdade e na autenticidade histórica.

🎥 A identidade de Bond: recomeçar ou reinventar?

Estas declarações surgem numa altura de incerteza sobre o futuro da franquia Bond. Após a saída de Daniel Craig em No Time to Die, os estúdios Amazon MGM assumiram o controlo criativo numa transação avaliada em mil milhões de dólares, prometendo “repensar o futuro da saga”.

Produtores como Amy Pascal e David Heyman foram anunciados como os novos rostos da liderança criativa da série, mas o novo ator (ou atriz?) para o papel continua por confirmar. As especulações têm sido muitas: de Idris Elba a Aaron Taylor-Johnson, passando por nomes femininos como Lashana Lynch, que chegou a interpretar uma agente com o código 007 no último filme da saga.

Será que o futuro de Bond passará por uma reinvenção total? Ou será que, como sugere Mirren, o melhor caminho é deixar morrer o passado — e contar novas histórias sobre heroínas reais e inspiradoras?

A posição de Helen Mirren pode parecer conservadora à primeira vista, mas talvez seja o contrário. Ao rejeitar a ideia de uma “Bond mulher”, não está a defender o status quo — está a exigir mais ambição narrativa para as personagens femininas. Em vez de adaptar um molde masculino, propõe que se criem novas mitologias protagonizadas por mulheres, inspiradas em histórias reais de coragem, inteligência e ação.

É uma crítica ao gesto simbólico fácil — aquele que pinta uma personagem masculina com tons femininos apenas para cumprir uma quota — sem questionar verdadeiramente as estruturas de poder e representação que sustentam essas narrativas há décadas.

E isso, diga-se, é uma verdadeira chamada à ação para os argumentistas e produtores do presente.

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