Do cortejo a Tom Cruise às ligações à Casa Branca, passando por demissões em massa e ambições de IA: o novo patrão da Paramount quer um império que misture dados, franquias e músculo político. Hollywood treme — e a próxima presa pode chamar-se Warner Bros. Discovery.
Aos 42 anos, David Ellison assumiu a Paramount e acelerou como se estivesse a produzir uma sequela de Top Gun. Em pouco mais de três meses, a nova direcção abriu a carteira, sacudiu organigramas, comprou media, convocou talentos… e, segundo várias fontes citadas no sector, posicionou-se para tentar comprar a Warner Bros. Discovery. O plano é claro: deixar de ser “um estúdio tradicional” e transformar a companhia num híbrido media-tecnologia, com dados no centro e franquias na linha da frente.
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O golpe de teatro na relva da Casa Branca
Enquanto reorganiza a casa, Ellison cultiva relações no poder político. Fontes internas descrevem planos aprovados pelo Presidente Donald Trump para um evento da UFC nos jardins da Casa Branca, sob o guarda-chuva do acordo de 7,7 mil milhões com a liga de MMA — transmissão encabeçada por Trump e Dana White e com data falada para 14 de Junho de 2026 (80.º aniversário de Trump). A Casa Branca vende-o como celebração dos 250 anos dos EUA. Entre a plateia, “dignitários” e câmaras. Entre as linhas, a mensagem: a Paramount quer estar onde está a atenção.
“Mais, não menos”: 8 filmes por ano hoje, 18 até 2028
No lado industrial, a ordem é acelerar a produção: de cerca de 8 estreias anuais para 15 em 2026, 17 em 2027 e 18 em 2028. A lógica é recuperar bilheteira e assinantes com grandes marcas. O estúdio corteja Tom Cruise para novos Top Gun e Days of Thunder, procura um novo fôlego para Star Trek (sem o elenco do reboot de J.J. Abrams) e injeta gasolina em projectos “América-cêntricos”, pensados para o público do meio do país. Ao mesmo tempo, Cindy Holland(ex-Netflix) recebe mandato para robustecer o Paramount+.
O evangelho do “quem tem mais dados, vence”
Ellison define a nova Paramount como “media & tecnologia” e promete que a experiência e o “arsenal” da Oracle (do pai, Larry Ellison) transformarão o Paramount+ numa plataforma competitiva. Fala-se em modelos preditivos, grandes volumes de dados e IA aplicada a desenvolvimento e marketing. Céticos no mercado lembram, porém, que Netflix, Amazon e Apple têm anos de vantagem algorítmica e de infraestrutura. A resposta Ellison? Escala e velocidade.
Aquisições, demissões e a viragem cultural
O sprint veio acompanhado de cortes duros (um primeiro pacote de ~1000 despedimentos a 29 de Outubro, com mulheres entre as mais atingidas em cargos de topo de TV e alguns cortes na redacção de CBS News), e de operações de compra pouco ortodoxas para um estúdio: The Free Press, de Bari Weiss, por cerca de 150 milhões de dólares. A segurança da jornalista e co-fundadora Nellie Bowles terá sido reforçada com uma equipa diária de guarda-costas, e as posições pró-Israel da cúpula ficaram mais visíveis — num contexto em que a empresa diz manter listas de talentos a evitar por comportamento considerado antissemita, xenófobo ou homofóbico. Internamente, há relatos de debate aberto(e quente) sobre estratégia e cultura.
Nem tudo são vitórias: a fuga de Taylor Sheridan
O criador de Yellowstone e Tulsa King, Taylor Sheridan, saltou para a NBCUniversal com novo acordo — duro golpe para uma plataforma onde o “universo Sheridan” pesava fortemente na audiência. Ainda assim, antes de sair, Sheridan escreverá o argumento de Call of Duty, longa de acção patriótica a realizar por Peter Berg — alinhada com a estética que Ellison quer imprimir.
Tom Cruise ao telefone, Mangold na box, Chalamet de viseira
Ellison terá cortejado James Mangold (que desenvolve A Complete Unknown, com Timothée Chalamet) e autorizado até $100 milhões para o high-concept motorizado High Side (o estúdio diz que será menos). Em paralelo, projectos como Winter Games (Miles Teller) foram para turnaround. A palavra de ordem: foco em títulos que metem gente nas salas.
O elefante na sala: Warner Bros. Discovery
“No topo três, não no fundo três.” O mantra de Ellison sustenta duas propostas para a WBD já feitas (segundo fontes do mercado), com Netflix a rondar a jogada (talvez para inflacionar o preço). Se resultar, o grupo herdará HBO, DC, partes de Harry Potter e uma biblioteca de outro planeta. A WGA já avisou: seria “um desastre para os escritores, consumidores e a concorrência” e promete lutar junto dos reguladores. Analistas mais frios deixam a cautela clássica: “quase todos os megamergers de media acabam mal” — integração lenta, sinergias que não aparecem, três anos de digestão.
O risco regulatório… e o trunfo político
Críticos sublinham que a aprovação do negócio Paramount-Skydance pelo actual governo, bem como o conforto com a compra parcial de TikTok por um consórcio onde está Larry Ellison, mostram uma janela política favorável. O próprio Presidente terá dito, em voo de imprensa, que os Ellison “farão a coisa certa”. Mas história e antitrust não costumam ser indulgentes com consolidações gigantes — sobretudo quando noticiários e entretenimento se cruzam.
O que isto significa para o Cinema (e para nós, espectadores)
No curto prazo, mais filmes e mais marcas reconhecíveis: Top Gun, Days of Thunder, Star Trek, Call of Duty e afins. No médio prazo, uma aposta total em dados e IA para calibrar conteúdos e campanhas. No longo prazo, se a WBD cair, duas bibliotecas colossais sob a mesma égide — com vantagens claras de escala… e riscos sérios de concentração, homogeneização criativa e impacto laboral (já visível nos cortes).
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No meio de tudo, Tom Cruise aparece como termómetro do box office (e Ellison sabe isso). Se o actor embarcar em novas missões com a Paramount, a mensagem é inequívoca: as salas ainda mandam — e a Paramount quer voltar a ser a casa dos eventos cinematográficos.


