A atriz britânica, que deu vida à icónica Sybil Fawlty, morreu aos 93 anos — e estava a rever a série no dia anterior à sua morte
O humor britânico perdeu uma das suas figuras mais queridas. Prunella Scales, a eterna Sybil de Fawlty Towers, morreu em Londres, aos 93 anos, depois de uma vida inteira dedicada à arte de representar — e de fazer rir. A notícia foi confirmada pelos filhos, Samuel e Joseph West, que revelaram um detalhe tão comovente quanto simbólico: no dia anterior à sua morte, Prunella estava a ver Fawlty Towers.
“A nossa adorada mãe morreu pacificamente em casa, rodeada de amor”, escreveram num comunicado. “Embora a demência a tenha forçado a afastar-se de uma carreira notável de quase 70 anos, continuou a viver com alegria e conforto.”
A Sybil que conquistou o mundo
Prunella Scales entrou para a história da televisão britânica ao lado de John Cleese, interpretando a impaciente e irónica Sybil Fawlty, a esposa do desastroso hoteleiro Basil Fawlty. O par era o coração de Fawlty Towers, sitcom transmitida entre 1975 e 1979, cuja ação se desenrolava num pequeno hotel em Torquay, à beira-mar.
A série, escrita por Cleese e Connie Booth, é considerada uma das melhores comédias de sempre — e muito do seu brilho deve-se a Scales. Com o seu timbre cortante e olhar impiedoso, transformou Sybil numa personagem multifacetada, autoritária mas divertida, capaz de equilibrar o caos gerado por Basil com um misto de ironia e pragmatismo.
“Cena após cena, ela era absolutamente perfeita”, recordou John Cleese, descrevendo-a como “uma atriz cómica maravilhosa e uma mulher muito doce”.
Uma carreira de sete décadas
Nascida Prunella Margaret Rumney Illingworth, em 1932, Scales estreou-se nos anos 50 e destacou-se na sitcom Marriage Lines, ao lado de Richard Briers, antes de alcançar fama mundial com Fawlty Towers. Em 1991, brilhou nos palcos do West End em Long Day’s Journey Into Night e, no cinema, recebeu uma nomeação ao BAFTA por interpretar a Rainha Isabel II em A Question of Attribution.
Apesar do talento para a comédia, era uma atriz de enorme versatilidade, igualmente à vontade em papéis dramáticos. Fora do ecrã, era admirada pela sua inteligência e generosidade.
Uma vida de amor e luta
Scales foi casada durante 61 anos com o ator Timothy West, falecido em 2024. Juntos, tornaram-se um dos casais mais queridos da televisão britânica, protagonizando durante uma década o programa Great Canal Journeys, onde navegavam pelos canais de Inglaterra.
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Nos últimos anos, Prunella enfrentou a demência vascular com coragem e dignidade. O próprio West descreveu o processo como “assistir ao desaparecimento gradual da pessoa que se ama”. Ainda assim, o casal manteve a ternura e o humor, mesmo quando a memória começou a falhar.
Um legado eterno
Com a sua voz inesquecível, o seu riso cristalino e o olhar que dizia mais do que mil palavras, Prunella Scales tornou-se uma verdadeira instituição britânica. O diretor de comédia da BBC, Jon Petrie, chamou-lhe “um tesouro nacional”, e o tributo parece curto para quem tanto deu à cultura britânica — e a todos nós que ainda rimos com as desventuras do hotel Fawlty.
Talvez a maior homenagem seja saber que, no seu último dia, Prunella Scales voltou a rir-se de si própria. E, em certo sentido, de todos nós — como só os grandes comediantes conseguem fazer.

