À medida que Stranger Things se aproxima do fim, a série volta também às origens — e não apenas na história. A quinta temporada recorre de forma ambiciosa ao processo de de-aging digital para recriar versões infantis de Will Byers e Eleven, obrigando Noah Schnapp e Millie Bobby Brown a revisitar interpretações que deram aos seus personagens quando eram praticamente crianças.
Nos primeiros minutos da temporada, vemos um Will de 11 anos, preso no Upside Down, refugiado em Castle Byers e com uma espingarda nas mãos enquanto murmura “Should I Stay or Should I Go”. A imagem que o espectador vê no ecrã é uma fusão: o corpo pertence ao jovem actor Luke Kokotek, mas o rosto — rejuvenescido digitalmente — é de Noah Schnapp. A empresa responsável pelo processo, a Lola VFX, aplicou o mesmo método que já tinha utilizado para recriar versões mais jovens de Eleven na temporada anterior.
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Para Schnapp, revisitar o Will de 2016 exigiu mais do que tecnologia. Implicou voltar ao início de tudo, ao modo como se mexia, respirava, reagia e ocupava o espaço quando ainda era um actor mirim. O intérprete explicou que se virou para Millie Bobby Brown, que já tinha passado pelo mesmo processo na quarta temporada, para perceber como orientar o actor infantil que o representava.
“Pedi-lhe ajuda”, confessou Schnapp. “Tentei lembrar-me de como eu próprio me movia, como olhava, como respirava, e transmitir isso ao miúdo que estava ali a fazer de mim. Foi quase como assumir o papel de realizador por instantes. Há sempre qualquer coisa de estranho no resultado, porque é difícil que pareça completamente natural, mas acho que funcionou muito bem.”
Brown, que já tinha trabalhado de perto com Martie Blair — a jovem actriz que interpretou a versão infantil de Eleven em cenas cruciais da última temporada — reconhece que o processo tem tanto de técnico como de emocional. Rever-se aos 11 anos obrigou-a a confrontar a espontaneidade da criança que era quando a série começou.

“É muito curioso olhar para trás”, disse a actriz. “Eu gritava, esticava a mão, fazia tudo aquilo sem a menor vergonha. Hoje temos redes sociais, temos exposição constante, tudo é escrutinado. Na altura não era nada assim. Eu era só uma miúda a interpretar uma personagem, e isso vê-se nos gestos, na forma livre como tudo acontecia.”
Para orientar Martie Blair, Brown fez exactamente aquilo que Schnapp agora descreve: colocou-se ao lado da jovem actriz, criaram um entendimento comum e repetiram juntas os movimentos necessários, mesmo que isso implicasse estar atrás da câmara a gritar ou a projectar gestos dramáticos apenas para ajudar a criança a entrar no ritmo certo da personagem.
“Quis que ela sentisse que estávamos as duas a fazer aquilo, que não estava sozinha”, acrescentou Brown. “É ridículo, claro, porque não estamos realmente a mover objectos com a mente. Mas se acreditarmos por instantes, se entrarmos nesse imaginário, a cena ganha vida.”
A escolha do de-aging em Stranger Things 5 reflecte uma intenção assumida pelos irmãos Duffer: ligar directamente o capítulo final ao mistério que inaugurou a série em 2016. Mas essa ligação não vive apenas no argumento ou na estética — vive também na memória física e emocional dos actores, obrigados a revisitar versões de si próprios que deixaram de existir há quase uma década.
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É talvez por isso que Schnapp e Brown falam deste processo com uma estranha mistura de nostalgia e perplexidade. Para ambos, confrontar o passado não foi apenas uma técnica de produção — foi uma viagem íntima às suas primeiras experiências de representação, antes de a infância ter ficado irrevogavelmente para trás.


