“Shining / O Iluminado”: O Segredo Gelado duma das Cenas Mais Assustadoras de Jack Nicholson

A imagem icónica de Jack Torrance congelado não nasceu no frio — mas sim no perfeccionismo glacial de Stanley Kubrick.

Há cenas que entram na história do cinema como se tivessem sempre existido. A imagem final de “O Iluminado” (1980) — Jack Nicholson, imóvel, coberto de gelo, perdido para sempre no labirinto do Overlook Hotel — é uma delas. Mas a verdade por detrás daquele momento clássico é surpreendente: não havia frio real, nem neve verdadeira, nem temperaturas negativas. Havia, sim, a obsessão criativa de Stanley Kubrick e uma equipa técnica que transformou um estúdio britânico num pesadelo de inverno.

Sal, espuma e o inverno mais falso da história do cinema

A famosa sequência não foi filmada em montanhas nevadas, mas num estúdio em Londres. Kubrick recusava rodar em ambientes incontroláveis — queria tudo milimetricamente igual de tomada para tomada.

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Resultado: a neve que enchia o labirinto era feita de uma mistura de sal, espuma industrial, plástico triturado e produtos sintéticos usados nos efeitos especiais dos anos 70 e 80. A equipa aplicava camadas e mais camadas dessa pseudo-neve, ajustando cada curva do labirinto para manter a continuidade perfeita.

O ambiente parecia gelado, mas era tudo cenografia meticulosa. E, como mostram as imagens de bastidores, os técnicos tinham de “regar” o cenário com uma espécie de geada artificial antes de cada take, para garantir aquele brilho frio e uniforme.

Jack Nicholson ficou horas imóvel — e o tremor era esforço, não frio

Kubrick era conhecido por testar os limites dos seus actores, e Nicholson não foi exceção. Para alcançar a expressão que faria tremer gerações de espectadores, o actor foi colocado horas sentado, coberto por substâncias pegajosas e geladas ao toque — mas não propriamente frias de temperatura.

Ventiladores industriais sopravam-lhe gelo falso para simular a tempestade, enquanto assistentes corrigiam continuamente pequenos cristais artificiais que escorriam da testa e das sobrancelhas.

Relatos de bastidores contam que Nicholson tremia entre takes — não por causa do frio, mas pelo esforço muscular necessário para manter aquela pose rígida, a respiração controlada e a expressão apática e terrivelmente imóvel. Uma performance física levada ao extremo… mesmo sem neve verdadeira.

O labirinto construído à mão — e à medida da loucura de Kubrick

O labirinto visto no final do filme também não existia antes das filmagens.

Kubrick mandou construir tudo de raiz, no interior do estúdio, com arbustos artificiais cobertos por tecido pintado e camadas de neve cenográfica.

Era um espaço fechado, opressivo, extremamente quente devido aos refletores potentes usados nas filmagens — ironicamente, o oposto do que a cena sugere.

Essa contradição tornou-se parte da lenda: para criar um dos momentos mais gelados do cinema, Kubrick filmou num ambiente onde a temperatura subia tanto que membros da equipa tinham de sair para respirar ar fresco entre takes.

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Um congelamento que ficou na história

Quatro décadas depois, a imagem final de Jack Torrance continua a ser uma das mais reconhecíveis da cultura pop — replicada, parodiada, analisada e reinterpretada infinitas vezes. Mas por trás desse instante há um segredo:

aquilo que parece um congelamento mortal não passa de sal, espuma e o génio obsessivo de Kubrick.

E talvez isso torne a cena ainda mais fascinante.

Nenhuma tempestade real poderia ter criado aquele momento — apenas cinema puro, artesanal e incrivelmente preciso.

Harris Dickinson Estreia-se na Realização com Urchin e Fala Sobre Nicole Kidman, Kubrick e o Futuro do Cinema 🎥

No Festival de San Sebastián, Harris Dickinson não foi apenas o ator conhecido de BabygirlTriangle of Sadness e The Iron Claw: foi também o jovem realizador que apresentou o seu primeiro filme, Urchin. Ao lado do produtor Archie Pearch, parceiro na recém-criada Devisio Pictures, Dickinson partilhou a experiência de se lançar atrás das câmaras e a ambição de continuar a construir histórias arriscadas e pessoais.

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Urchin, rodado com cerca de 3 milhões de dólares e apoiado pela BBC Film e pelo British Film Institute, conta a história de Mike (Frank Dillane), um sem-abrigo em Londres que tenta recompor a vida enquanto luta contra o vício. O filme já tinha estreado em Cannes, recebendo reações entusiásticas, e Dickinson espera que San Sebastián traga o mesmo impacto.

O ator britânico confessou, porém, que a experiência de realizar e atuar no mesmo projeto foi desgastante: “Houve momentos em que estava em dois mundos, a tentar confiar noutros para me dizerem o que não estava a funcionar — não apenas na minha interpretação, mas em todo o enquadramento. Admiro profundamente quem o consegue fazer, de Cassavetes a Fassbinder ou Bradley Cooper. Eu não o voltaria a fazer tão cedo.”

Apesar das dificuldades, Dickinson já tem outro guião em mãos. Mal terminou Urchin, partiu de férias, mas acabou apanhado pela companheira a escrever o próximo projeto. “Não consegui parar. Tenho de escrever. Agora vamos ver se o guião é bom”, disse com humor.

Durante a conversa, não faltaram referências a colegas de peso. Trabalhar com Nicole Kidman em Babygirl levou-o, ao fim de vinte dias de filmagens, a perguntar-lhe finalmente: “Então… como era o Stanley Kubrick?” — aludindo a Eyes Wide Shut, último filme do cineasta. “Não se pode começar por aí, tem de se chegar devagar”, brincou o ator.

Com Pearch, antigo produtor da Working Title e protegido de David Heyman (Harry Potter), Dickinson já soma mais de 20 projetos em desenvolvimento na Devisio Pictures. Ambos acreditam que o futuro do cinema independente vai passar por produções de médio orçamento. “Os financiadores até preferem arriscar em filmes de 7 ou 8 milhões com grandes nomes do que em projetos de 3 milhões sem garantias”, explicou Pearch.

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E quanto a géneros? O terror, pelo menos para já, não está no radar. “Não somos grandes fãs de horror. Claro que se fosse algo extraordinário, pensaríamos nisso, mas não é o que procuramos”, disse Dickinson, antes de sorrir e admitir que abriria exceção se Guillermo del Toro batesse à porta.

Especial Documentários: Showbusiness – Um Olhar Profundo Sobre os Bastidores do Mundo do Espetáculo

O TVCine Edition preparou um ciclo de documentários imperdível para os amantes do cinema, teatro, música e moda. O Especial Documentários: Showbusiness irá para o ar aos sábados, de 22 de fevereiro a 29 de março, sempre às 22h, trazendo um mergulho nas vidas e carreiras de algumas das personalidades mais icônicas do entretenimento.

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Cada documentário revela o outro lado do glamour, abordando as complexidades, desafios e paixões que movem estes artistas. Desde o teatro e o cinema até à música e moda, esta série promete apresentar histórias fascinantes e momentos raros dos bastidores.

Programação Completa

🎭 De Cor(ações) (22 de fevereiro) – Um retrato intimista dos atores Isabelle Huppert e Fabrice Luchini durante os ensaios para suas estreias no Festival de Avignon. Um olhar sobre o processo criativo e a transformação em cena.

🎭 Verdade ou Consequência? (1 de março) – Um documentário sensível que segue Luis Miguel Cintra, explorando a sua vida e memória no teatro, cinema e poesia, numa viagem pessoal e artística.

🎶 Elis & Tom, Só Tinha de Ser Com Você (8 de março) – O encontro lendário entre Elis Regina e Tom Jobim para gravar um dos álbuns mais icônicos da música brasileira. Com imagens raras, revela a tensão e magia desse momento histórico.

🎥 Ingmar Bergman – A Vida e Obra do Gênio (15 de março) – A premiada realizadora Margarethe von Trotta apresenta um retrato profundo do mestre sueco, com entrevistas a cineastas e colaboradores que revelam a sua genialidade.

🎥 Kubrick por Kubrick (22 de março) – Um documentário exclusivo que revela entrevistas inéditas de Stanley Kubrick, narradas pelo próprio realizador. Uma viagem pela mente de um dos maiores mestres do cinema.

👗 Westwood – Punk, Ícone, Ativista (29 de março) – Um olhar revelador sobre Vivienne Westwood, uma das mais influentes designers de moda e a sua luta pela integridade artística e ativismo.

Uma Oportunidade Única

Com acesso a imagens exclusivas, testemunhos marcantes e histórias inspiradoras, esta série de documentários promete ser um verdadeiro deleite para os apreciadores do mundo do espetáculo.

‘Blue Moon’, de Richard Linklater, Ilumina Berlim com Transformação de Ethan Hawke

Não percas o Especial Documentários: Showbusiness, aos sábados, de 22 de fevereiro a 29 de março, às 22h no TVCine Edition e também no TVCine+.

Jack Nicholson e os Bastidores Intensos de “The Shining”

“The Shining”, realizado por Stanley Kubrick, é amplamente reconhecido como um dos maiores clássicos do cinema de terror. Por detrás das câmaras, porém, a realidade das filmagens foi tão intensa e desafiadora quanto a própria narrativa do filme. Jack Nicholson, no papel icónico de Jack Torrance, mergulhou profundamente na personagem, numa experiência que deixou marcas tanto no ator quanto no elenco.

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Um set isolado e meticulosamente construído
Embora o filme se passe no fictício e desolado Overlook Hotel, as filmagens decorreram nos Estúdios Elstree, em Inglaterra. Kubrick, conhecido pela sua obsessão com o detalhe, recriou o ambiente sombrio e opressivo do hotel com uma precisão quase assustadora. Nicholson passou meses a trabalhar nesse cenário claustrofóbico, onde o tempo, a intensidade das cenas e as múltiplas repetições exigidas pelo realizador adicionaram camadas de tensão ao ambiente já carregado.

A famosa exigência de Stanley Kubrick
Kubrick era célebre por empurrar os seus atores ao limite, e Nicholson não foi exceção. As cenas eram frequentemente repetidas dezenas de vezes até que Kubrick capturasse o que considerava perfeito. Este rigor levou a momentos exaustivos, mas também proporcionou interpretações inesquecíveis. Shelley Duvall, que interpretou Wendy Torrance, descreveu o processo como “psicologicamente extenuante”, mas Nicholson, com o seu carisma e humor fora das câmaras, conseguia aligeirar o ambiente quando necessário.

“Here’s Johnny!”: A cena que se tornou lenda
Uma das sequências mais memoráveis é a emblemática cena do machado, em que Jack Torrance destrói uma porta enquanto grita “Here’s Johnny!”. Por detrás do terror visto no ecrã, Nicholson entregou uma performance visceral, exigindo uma combinação de força física e intensidade emocional. Durante esta cena, as portas usadas inicialmente tiveram de ser substituídas por versões reforçadas, uma vez que Nicholson as destruiu com demasiada facilidade.

A fusão entre ator e personagem
Nicholson é conhecido por se imergir completamente nas suas personagens, e a linha entre o ator e Jack Torrance começou a esbater-se à medida que as filmagens avançavam. A intensidade das gravações e o ambiente artificial acabaram por acentuar o isolamento psicológico que Nicholson trazia para o papel, algo que adicionou autenticidade à sua interpretação.

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Um legado imortal
No final, a performance de Jack Nicholson em “The Shining” tornou-se uma das mais icónicas do cinema de terror, representando o equilíbrio perfeito entre loucura e carisma. O filme, apesar de inicialmente receber críticas mistas, transformou-se num clássico intemporal, e a dedicação de Nicholson ao papel cimentou o seu estatuto como um dos maiores atores da sua geração.

“The Shining” não é apenas um marco na história do cinema de terror, mas também um exemplo de como a dedicação extrema por detrás das câmaras pode criar obras-primas duradouras.


A.I. – Inteligência Artificial: Como Kubrick e Spielberg Criaram Juntos uma Obra de Ficção Distinta

Inteligência Artificial (A.I.), um filme lançado em 2001 e dirigido por Steven Spielberg, tem uma história de bastidores que envolve duas das maiores mentes do cinema: Stanley Kubrick e Spielberg. O projeto foi inicialmente desenvolvido por Kubrick, que trabalhou na ideia durante duas décadas, mas, reconhecendo que o tom do filme estaria mais alinhado com a sensibilidade de Spielberg, pediu-lhe que assumisse a direção. Assim, os dois começaram a colaborar no desenvolvimento da obra, numa parceria rara e única na história do cinema.

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Kubrick entregou a Spielberg um tratamento completo da história e vários conceitos artísticos. Spielberg, utilizando este material, redigiu o argumento, mas acabou por fazer várias mudanças que deram ao filme um tom mais sombrio do que muitos esperavam. Ao contrário da perceção popular de que Kubrick seria o responsável pelos elementos mais escuros do filme, Spielberg revelou que as partes mais intensas, como o segmento do “Flesh Fair” (um espetáculo cruel onde andróides são destruídos para o entretenimento humano), foram ideias suas. Kubrick, por outro lado, foi a mente por trás de partes mais “doces” da narrativa, incluindo o início do filme e o famoso urso de peluche, Teddy.

Este processo de colaboração tornou-se complexo e repleto de mal-entendidos. Spielberg, numa entrevista em 2002, explicou que a primeira parte do filme, os primeiros quarenta minutos, o urso Teddy e os minutos finais foram extraídos diretamente do tratamento que Kubrick lhe deixou. Isso incluiu o final criticado por muitos como “demasiado sentimental” para uma obra de ficção científica sombria. Contudo, Ian Watson, escritor do tratamento original de Kubrick, confirmou que o final, muitas vezes associado ao estilo de Spielberg, foi, na verdade, idealizado por Kubrick. “Foi exatamente o que ele escreveu para Stanley, e exatamente o que ele queria”, esclareceu Watson, reforçando que Spielberg foi fiel à visão de Kubrick nesta parte do filme.

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O resultado foi um filme que mistura o toque visual e intelectual de Kubrick com a narrativa emocional de Spielberg, criando uma obra com um tom único. Protagonizado por Jude Law e Haley Joel Osment, A.I. apresenta uma história futurista onde temas de humanidade, amor e existencialismo são explorados de forma inovadora, mas sempre com uma melancolia que reflete o legado de ambos os cineastas. A colaboração entre Kubrick e Spielberg permanece como um exemplo fascinante de como duas visões distintas podem convergir para criar algo especial e inesquecível.