O realizador mexicano fala sobre a restauração do seu clássico e revela detalhes da sua próxima comédia protagonizada por Tom Cruise
Vinte e cinco anos depois de Amores Perros ter abalado o cinema latino-americano, Alejandro González Iñárritucontinua a ser um dos nomes mais ousados e imprevisíveis de Hollywood. O realizador mexicano conversou com o IndieWire sobre o regresso do seu primeiro grande filme — agora restaurado em 4K e pronto para regressar aos cinemas pela plataforma Mubi — e deixou escapar detalhes do seu novo e misterioso projeto com Tom Cruise.
“As pessoas vão ver algo completamente novo. O Tom vai surpreender o mundo”, garantiu Iñárritu.
Um regresso à língua inglesa… e ao humor
O filme, ainda sem título oficial, marca o regresso de Iñárritu ao cinema em inglês desde The Revenant (2015), que lhe valeu dois Óscares, incluindo o de Melhor Realização. A produção, liderada pela Legendary e pela Warner Bros., foi filmada em 35mm VistaVision, com direção de fotografia de ninguém menos que Emmanuel “Chivo” Lubezki, seu colaborador habitual.
O elenco é de luxo: além de Cruise, participam Riz Ahmed, Sandra Hüller, John Goodman e Jesse Plemons. O realizador descreve a experiência como “inesperadamente doce e divertida”:
“Foi a relação mais gentil e colaborativa que já tive num set. Ele é incrivelmente dedicado, vive o cinema há 40 anos. Rimo-nos muito — foi uma comédia selvagem.”
O filme está atualmente em pós-produção e deve chegar aos cinemas no outono de 2026.
“Amores Perros”: a obra que mudou tudo
Mas o motivo principal da conversa foi a celebração de um marco: os 25 anos de Amores Perros. O filme, lançado em 2000 e protagonizado por Gael García Bernal, é hoje reconhecido como o ponto de viragem do cinema mexicano contemporâneo.
Iñárritu contou que só reviu a obra completa este ano, durante a projeção no Festival de Cannes, e ficou surpreendido com a força que ainda tem:
“Fiquei impressionado com o músculo do filme. Não se tornou flácido. É intenso, visceral, ainda pulsa.”
O realizador supervisionou uma restauração minuciosa, que recuperou o negativo original filmado com o exigente processo bleach-bypass — uma técnica que preserva a prata no filme, criando contrastes mais duros e uma textura quase táctil. O resultado é uma versão remasterizada em 4K com som 5.1, pronta para regressar aos cinemas de toda a América Latina este mês e ao streaming da Mubi a 24 de Outubro.
“O filme que o México precisava naquele momento” 🇲🇽
Iñárritu recordou ainda o contexto de produção do seu filme de estreia, rodado numa altura em que o cinema mexicano praticamente não existia fora do circuito governamental.
“Na altura faziam-se cinco, seis filmes por ano, sempre com o mesmo tom nacionalista. Nós queríamos sacudir tudo. Mostrar o México real — o som, o cheiro, o caos.”
Amores Perros acabou por ser selecionado para a Semana da Crítica em Cannes, onde venceu o Grande Prémio e mudou a trajetória de todos os envolvidos. “É uma obra que nos transformou a todos”, diria Gael García Bernal após a exibição do 25.º aniversário.
A nova vida de um clássico
A Mubi adquiriu os direitos globais do filme para os próximos dez anos e acompanha a reedição de um livro — Amores Perros, editado pela Mack Books — com textos inéditos, fotografias de bastidores e um ensaio do próprio Iñárritu. Paralelamente, o realizador apresenta uma instalação artística intitulada “Sueño Perro”, atualmente em exibição na Fondazione Prada, em Milão, que será exibida também no LACMA, em Los Angeles, em 2026.
“Não é uma homenagem, é uma ressurreição”, explica o cineasta. “É ver o filme com outros olhos — libertar as imagens da tirania da narrativa.”
Um realizador entre dois mundos
Dividido entre Los Angeles e a Cidade do México, Iñárritu admite viver “como um cigano”, mas mantém a mesma paixão pelo cinema de sempre. Entre um passado revolucionário e um futuro imprevisível, o seu nome continua sinónimo de risco, rigor e emoção.
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E se Amores Perros foi o filme que revelou o homem, o novo projeto com Tom Cruise promete revelar, finalmente, o seu lado mais leve — e, quem sabe, ainda mais surpreendente.


