O ator de comédia mais imprevisível de Hollywood revela qual é o filme que considera uma verdadeira obra-prima — e não, não é uma comédia
Jim Carrey sempre foi um artista difícil de rotular. Para muitos, é o rei do humor físico e das expressões impossíveis; para outros, é um ator profundamente sensível que sabe explorar as fissuras da alma humana. E talvez por isso não surpreenda que o filme que ele considera “o melhor de todos os tempos” não seja uma comédia, mas sim uma das sátiras mais poderosas e visionárias da história do cinema: Network – Escândalo na TV (1976), realizado por Sidney Lumet
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“O meu filme favorito de todos os tempos é Network”
Carrey fez a revelação no seu livro Memoirs and Misinformation (2020), descrevendo o clássico de Lumet como “um espelho absurdo e profético da nossa sociedade moderna”.
“O meu filme favorito de todos os tempos é Network,” escreveu o ator. “Adoro o trabalho de Paddy Chayefsky [autor do argumento]. É como uma profecia do que aconteceu nos últimos 50 anos. Todos os atores estão brilhantes. É fenomenal.”
O filme, uma crítica feroz ao poder dos meios de comunicação e ao cinismo do capitalismo televisivo, marcou profundamente Carrey — um artista que sempre equilibrou o riso com uma visão crítica do mundo.
De Ace Ventura a The Truman Show: o ator que aprendeu a rir da própria realidade
Nos anos 90, Jim Carrey dominou o cinema de comédia com personagens icónicas como Ace Ventura, O Máskara, Lloyd Christmas em Doidos à Solta e o sinistro Cable Guy. Mas foi com dramas como The Truman Show, Man on the Moon e Eternal Sunshine of the Spotless Mind que o ator mostrou que havia muito mais por trás da caricatura — uma mente inquieta, filosófica e profundamente humana.
É precisamente essa dualidade — entre o humor e a melancolia — que explica a sua devoção a Network.
“Cada cena é um banquete”
Em conversa com o comediante Norm Macdonald, Carrey reforçou o seu entusiasmo pelo filme:
“O meu filme favorito? Network. É fantástico. Cada cena é um banquete.”
O filme, protagonizado por Faye Dunaway, William Holden, Peter Finch e Robert Duvall, conta a história de uma estação de televisão que decide explorar o colapso mental de um antigo pivô de notícias, transformando o seu desespero num espetáculo mediático. O resultado é uma espiral moral onde o lucro vence a empatia — uma previsão assustadoramente atual.
Carrey, hoje mais espiritual e crítico da cultura mediática, vê em Network um reflexo direto da sua própria visão sobre Hollywood e a sociedade moderna.
“Agora que estou mais velho, olho para aquela cena entre William Holden e Faye Dunaway na cozinha… e ele diz: ‘Estou mais perto do fim do que do início’. É devastador. Quem escreve assim? É incrível.”
O filme que previu o século XXI
Lançado em 1976, Network – Escândalo na TV foi nomeado para 10 Óscares e venceu quatro, incluindo Melhor Ator (Peter Finch) e Melhor Atriz (Faye Dunaway). Mais do que um retrato dos bastidores da televisão, o filme antecipou o culto do sensacionalismo e a transformação da informação em entretenimento — algo que Carrey considera “profético”.
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Jim Carrey e o espelho de Network
Para um ator que sempre procurou equilíbrio entre o absurdo e a verdade, Network representa o ponto perfeito entre comédia, tragédia e lucidez. Tal como o próprio Carrey, o filme ri-se do desespero, critica o sistema e convida-nos a pensar.
“Se procuras um filme que represente a comédia, a tragédia e a crítica social de Jim Carrey, Network é esse filme”, escreveu um crítico americano.
E talvez seja por isso que, depois de todos os risos, Jim Carrey escolheu justamente um drama como o seu filme preferido. Porque, como ele próprio ensinou, a linha entre rir e chorar é mais fina do que parece.
