A maior cerimónia do cinema mundial abandona a ABC após meio século e aposta no streaming gratuito para chegar a novas gerações
Os Óscares preparam-se para uma das maiores mudanças da sua história. A partir de 2029, a cerimónia dos Academy Awards deixará de ser transmitida pela televisão tradicional nos Estados Unidos e passará a ser emitida em exclusivo no YouTube, em directo e de forma gratuita, marcando o fim de uma ligação de mais de 50 anos à ABC.
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O anúncio foi feito esta quarta-feira pela Academy of Motion Picture Arts and Sciences, que confirmou a assinatura de um acordo plurianual com o YouTube, garantindo à plataforma os direitos globais exclusivos da cerimónia até 2033. Até lá, a ABC manterá a transmissão das próximas edições, incluindo a gala já marcada para 15 de Março, encerrando assim um ciclo histórico iniciado em 1976.
A decisão representa mais do que uma simples mudança de parceiro de transmissão. É um sinal claro de como Hollywood está a reposicionar os seus maiores eventos numa indústria em profunda transformação, marcada por fusões, vendas de estúdios, cortes drásticos na produção e uma migração constante do público para o streaming.
Em comunicado conjunto, o CEO da Academia, Bill Kramer, e a presidente Lynette Howell Taylor sublinharam o carácter global da decisão. “A Academia é uma organização internacional, e esta parceria permitirá expandir o acesso ao nosso trabalho para a maior audiência mundial possível, o que beneficiará os nossos membros e toda a comunidade cinematográfica”, afirmaram.
A escolha do YouTube não é inocente. Ao longo das últimas décadas, as audiências televisivas dos Óscares têm vindo a cair de forma consistente, reflexo de hábitos de consumo cada vez mais fragmentados. Ainda assim, a edição de 2025 registou uma ligeira recuperação, impulsionada sobretudo por espectadores mais jovens, que acompanharam a cerimónia através de telemóveis, computadores e plataformas digitais.
Para o YouTube, a conquista dos direitos da cerimónia mais prestigiada do cinema é um enorme golpe simbólico. O CEO da plataforma, Neal Mohan, descreveu os Óscares como “uma das instituições culturais essenciais do nosso tempo” e afirmou que a parceria com a Academia pretende “inspirar uma nova geração de criadores e amantes de cinema, respeitando ao mesmo tempo o legado histórico da cerimónia”.
A ABC, por seu lado, reagiu de forma diplomática, garantindo que está entusiasmada com “as próximas três transmissões” que ainda irá assegurar antes da mudança definitiva. Ainda assim, a saída dos Óscares representa uma perda significativa para a televisão generalista norte-americana, que durante décadas fez da gala um dos seus maiores eventos anuais.
Este anúncio surge num contexto particularmente turbulento para a indústria. No mesmo dia, a Warner Bros. Discoveryrecomendou aos seus accionistas a rejeição de uma oferta hostil de aquisição por parte da Paramount Skydance, optando antes por um acordo com a Netflix — uma decisão vista por muitos como mais um sintoma da fragilidade estrutural dos grandes estúdios e canais de cabo face ao domínio crescente das plataformas digitais.
Com o YouTube a garantir os direitos dos Óscares, torna-se cada vez mais evidente que o futuro dos grandes eventos culturais passa pelo streaming, mesmo quando se trata de instituições com quase um século de história. A partir de 2029, a noite mais importante do cinema deixará de depender de um canal de televisão e passará a estar a um clique de distância — para qualquer pessoa, em qualquer parte do mundo.
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Resta saber se esta mudança trará novas formas de interacção, formatos mais flexíveis e, sobretudo, se conseguirá devolver aos Óscares a relevância cultural que já tiveram. Uma coisa é certa: a era da televisão como palco exclusivo do cinema está oficialmente a chegar ao fim.
