Richard Linklater Abre a 26.ª Festa do Cinema Francês com “Nouvelle Vague”: Uma Carta de Amor à Revolução Cinematográfica de Godard

O aclamado realizador norte-americano Richard Linklater será o responsável por abrir oficialmente a 26.ª edição da Festa do Cinema Francês, com o seu mais recente filme Nouvelle Vague, um tributo cinéfilo ao espírito revolucionário da nouvelle vague francesa. O festival, que este ano ganha uma nova direcção artística e um novo impulso programático, arranca no dia 2 de Outubro no Cinema São Jorge, em Lisboa, com a antestreia nacional do filme, que foi apresentado pela primeira vez em Maio no Festival de Cannes.

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Linklater, conhecido por obras como Before Sunrise, Boyhood e Dazed and Confused, vira agora a câmara para a França de 1959, recriando a produção e rodagem de O Acossado (À bout de souffle), obra seminal de Jean-Luc Godard que viria a transformar para sempre o cinema moderno. Com Jean Seberg e Jean-Paul Belmondo como protagonistas, o filme de Godard encarnava o espírito de improvisação, liberdade narrativa e visual, e a ousadia estética que definiram uma geração inteira de cineastas franceses.

Segundo a organização do Festival de Cannes, Nouvelle Vague não é apenas um retrato do jovem Godard, mas “de toda uma geração de realizadores”, recuperando a poesia do quotidiano e o impulso de ruptura que definiu aquela época.

Uma Festa com Nova Direcção e Novas Secções

Este ano, a Festa do Cinema Francês apresenta várias novidades: a começar pela nova direcção artística, entregue a Anne Delseth, programadora com experiência em festivais de renome como Cannes, Locarno e Marraquexe. Com esta mudança chega também uma reformulação do modelo do festival, que passa a decorrer praticamente em simultâneo em Lisboa e no Porto — entre os dias 2 e 12 de Outubro na capital e de 3 a 10 de Outubro na cidade Invicta. Coimbra também entra na programação, com sessões entre 8 e 11 de Outubro.

Além da já habitual selecção de filmes francófonos, o festival introduz este ano uma secção competitiva dedicada a primeiras e segundas obras — reforçando a aposta no talento emergente — e promove um encontro profissional de coprodução luso-francófona, um gesto estratégico para dinamizar parcerias internacionais. Regressa também a iniciativa “Do Filme à Série”, que continua a explorar as intersecções entre cinema e televisão.

No Porto, a programação dividir-se-á entre o Batalha Centro de Cinema e o Cinema Trindade, com destaque para a nova secção competitiva e um prémio do público, reforçando o envolvimento directo dos espectadores na celebração do cinema francófono.

Uma Mostra Nacional em Expansão

Depois da passagem por Lisboa, Porto e Coimbra, a Festa do Cinema Francês estender-se-á a Almada (14 a 18 de Outubro) e Beja (em Novembro), com outras cidades ainda por anunciar. A itinerância continua a ser um dos pilares fundamentais da Festa, permitindo levar o melhor do cinema francês a diferentes públicos em todo o país.

A produção do festival está agora a cargo da associação Il Sorpasso, que organiza também a Festa do Cinema Italiano e o Luso! – Mostra Itinerante de Cinema Português em Itália. Esta nova direcção promete uma abordagem mais cosmopolita, dialogante e integradora entre os cinemas de expressão latina.

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Com uma programação que homenageia o passado e olha para o futuro, a 26.ª Festa do Cinema Francês promete ser uma edição marcante, abrindo com um filme que é, ele próprio, uma homenagem cinéfila apaixonada ao poder transformador do cinema.

Richard Linklater homenageia Godard em “Nouvelle Vague” — e Netflix paga um recorde por isso


🎬 Uma carta de amor ao cinema… agora nas mãos da Netflix

Richard Linklater, o realizador norte-americano por trás de obras como Boyhood e Before Sunrise, apresentou no Festival de Cannes 2025 o seu mais recente projeto: Nouvelle Vague. Este filme é uma homenagem ao clássico À Bout de Souffle(1960) de Jean-Luc Godard e à revolução cinematográfica da Nouvelle Vague francesa. Após uma estreia calorosamente recebida, com uma ovação de 11 minutos, a Netflix adquiriu os direitos de distribuição nos EUA por 4 milhões de dólares — um recorde para um filme em língua francesa no mercado norte-americano, ficando apenas atrás de Emilia Pérez no ano anterior . 

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🎥 O filme: recriar a lenda em preto e branco

Filmado em preto e branco e no formato 4:3, Nouvelle Vague mergulha no processo criativo de Godard durante a realização de À Bout de Souffle. Guillaume Marbeck interpreta Jean-Luc Godard, Zoey Deutch dá vida a Jean Seberg e Aubry Dullin assume o papel de Jean-Paul Belmondo. O elenco inclui ainda representações de figuras icónicas como François Truffaut, Claude Chabrol, Agnès Varda e Éric Rohmer . 

Linklater descreveu o filme como “uma carta de amor ao cinema”, capturando o espírito rebelde e inovador da Nouvelle Vague, mas com o seu toque pessoal. A produção recria a Paris dos anos 50 com autenticidade, desde os figurinos até à banda sonora jazzística . 

🏆 Cannes aplaude, Netflix aposta

Apesar de não ter conquistado prémios em Cannes, Nouvelle Vague foi amplamente elogiado pela crítica. A Netflix, que já havia adquirido Hit Man de Linklater em 2023, continua a investir em obras de prestígio, mesmo que estas tenham lançamentos limitados em salas de cinema. Espera-se que o filme tenha uma exibição curta nos cinemas para qualificação a prémios antes de chegar à plataforma . 

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🎞️ Uma reflexão sobre o passado e o presente do cinema

Nouvelle Vague não é apenas uma recriação histórica; é uma meditação sobre a arte de fazer cinema, a paixão dos cineastas e a eterna luta entre inovação e tradição. Linklater convida-nos a revisitar um momento crucial da história cinematográfica, lembrando-nos do poder transformador da sétima arte.

Uma Relíquia da Nouvelle Vague: Argumento de “O Acossado”, de Godard, Vai a Leilão

Uma verdadeira peça de história do cinema está prestes a mudar de mãos. O único argumento conhecido de “O Acossado” (À bout de souffle), de Jean-Luc Godard, será leiloado em junho pela Sotheby’s. Mais do que um simples guião, este documento raro contém anotações manuscritas do próprio Godard, revelando o processo criativo por detrás de um dos filmes mais revolucionários da Nouvelle Vague.

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O leilão decorrerá entre 4 e 18 de junho, com lances esperados entre 400 mil e 600 mil euros.

O Argumento Que Não Deveria Existir

Jean-Luc Godard sempre rejeitou a ideia de um argumento convencional. Conhecido pelo seu estilo experimental e improvisado, o realizador francês escrevia diálogos no próprio dia das filmagens ou incentivava os atores a improvisar, tornando o cinema mais natural e imprevisível.

Por isso, a existência deste argumento é uma raridade absoluta. Ele vem diretamente do espólio de Georges de Beauregard (1920-1984), o produtor do filme e uma das figuras-chave da Nouvelle Vague, que desafiou todas as convenções do cinema clássico.

“Este manuscrito raro reúne estas duas grandes figuras da Nouvelle Vague num documento histórico que traça o nascimento de um dos maiores sucessos do cinema francês.” – Anne Heilbronn, Sotheby’s Paris

Uma Obra Revolucionária

Lançado em 1960O Acossado é um marco incontornável do cinema francês, protagonizado por Jean Seberg e Jean-Paul Belmondo. Inspirado nos filmes de gangsters americanos, Godard subverteu as regras do cinema clássico com edição descontínua, cortes abruptos e uma liberdade narrativa nunca vista.

Este argumento, agora a leilão, contém 70 páginas, incluindo descrições detalhadas da lendária cena inicial, em que Jean-Paul Belmondo rouba um carro e foge pelas ruas de Paris, e da icónica sequência onde Jean Seberg vende jornais do New York Herald Tribune nos Campos Elísios.

O Último Adeus a Godard

Jean-Luc Godard faleceu em 2022, aos 91 anos, deixando um legado imensurável no cinema. O leilão deste documento histórico surge como uma oportunidade única para colecionadores e cinéfilos possuírem um pedaço do génio irreverente que mudou o cinema para sempre.

Onde e Quando Acompanhar o Leilão?

📅 Data: 4 a 18 de junho

📍 Onde: Sotheby’s (online)

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📽️ E tu, davas tudo para ter um manuscrito original de Jean-Luc Godard?

François Truffaut homenageado com documentário comovente no 40º aniversário da sua morte

No 40.º aniversário da morte de François Truffaut, um dos mais importantes realizadores da Nouvelle Vague francesa, a televisão francesa presta-lhe uma emocionante homenagem com a exibição de um documentário inédito, intitulado “François Truffaut, a história da minha vida”. O filme foi apresentado em maio no Festival de Cannes, na secção Clássicos de Cannes, e estreia agora na televisão francesa, no canal France 5.

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O documentário, realizado por David Teboul, é baseado em material inédito e cartas pessoais de Truffaut, incluindo correspondência com a sua mãe, o pai adotivo e o pai biológico, cuja identidade o realizador procurou durante grande parte da sua vida. A obra destaca os traumas da infância e adolescência do cineasta, temas recorrentes nos seus filmes mais conhecidos, como “Os 400 Golpes” (1959), que retrata de forma semi-autobiográfica as experiências difíceis que viveu com os pais.

A produção foi possibilitada pela colaboração de Serge Toubiana, biógrafo de Truffaut, que facilitou o acesso aos arquivos pessoais do realizador. O filme é particularmente tocante nas suas revelações sobre a infância solitária e a relação distante que o realizador tinha com a mãe. Truffaut descobriu, durante a adolescência, que o homem que o criara não era o seu pai biológico, um evento que teve um grande impacto emocional no jovem e que viria a ser transposto para a sua obra cinematográfica.

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Além das trocas epistolares e entrevistas raras com o próprio Truffaut, o documentário conta com a leitura de cartas por parte de atores como Isabelle Huppert e Pascal Greggory, conferindo um tom ainda mais pessoal e comovente à obra. O documentário será seguido pela exibição de “Os 400 Golpes”, considerado por muitos como o grande marco da carreira do realizador.