Terence Stamp: o ícone dos anos 60 que fez da intensidade o seu maior papel

O cinema britânico – e mundial – despediu-se de uma das suas figuras mais magnéticas. Terence Stamp, o actor de olhar penetrante e presença enigmática, morreu a 17 de agosto, aos 87 anos, deixando para trás uma carreira que atravessou seis décadas, da explosão do Swinging London às reinvenções inesperadas em Hollywood e no cinema independente.

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Nascido em Stepney, no leste de Londres, em 1938, Stamp cresceu num ambiente modesto, filho de um maquinista naval ausente e de uma mãe que o levou, ainda em criança, ao cinema para ver Gary Cooper em Beau Geste – experiência que despertou a vocação que o acompanharia para sempre.

A estrela relutante dos anos 60

Depois de estudar na Webber Douglas Academy of Dramatic Art, e de partilhar palco e casa com Michael Caine no circuito de repertório britânico, Stamp teve uma estreia fulgurante no cinema. Em Billy Budd (1962), adaptação de Herman Melville, interpretou o jovem marinheiro ingênuo condenado à forca, papel que lhe valeu uma nomeação ao Óscar e um Globo de Ouro.

A partir daí, tornou-se símbolo da década: belo, sofisticado e misterioso, tanto ao lado de Julie Christie como de Jean Shrimpton. Encarnou vilões atormentados, como o sequestrador de The Collector (1965), e o sedutor Sargento Troy em Longe da Multidão (1967), onde a célebre cena de esgrima filmada com Julie Christie ficou como um dos momentos mais icónicos do cinema britânico.

Estava em todas as festas, frequentava os nomes da moda e era, como escreveu The Guardian, “o mestre do silêncio sombrio”. Mas recusou papéis que poderiam ter mudado o rumo da sua carreira, como Alfie, que acabou por consagrar Michael Caine.

Entre o declínio e a reinvenção

O final dos anos 60 trouxe desilusões. Filmes que não corresponderam às expectativas e propostas que não vingaram – chegou a ser considerado para substituir Sean Connery como James Bond, mas as suas ideias radicais para reinventar 007 assustaram os produtores.

Desiludido, abandonou Londres e viajou pelo mundo, passando por Itália, onde trabalhou com Pasolini e Fellini, até encontrar refúgio espiritual na Índia. Foi já afastado dos holofotes que lhe chegou um papel inesperado: General Zod em Superman (1978) e Superman II (1980). Stamp abraçou a vilania com gosto, regressando ao grande ecrã em papéis que lhe permitiam aliar presença física a uma aura ameaçadora.

O choque de Priscilla e a consagração tardia

Se havia dúvidas sobre a sua versatilidade, Priscilla – A Rainha do Deserto (1994) dissipou-as. No papel de Bernadette, uma mulher transgénero que atravessa o deserto australiano com duas drag queens, Stamp surpreendeu público e crítica, recebendo uma nomeação para os Globos de Ouro e conquistando uma nova geração de cinéfilos.

Nos anos seguintes, participou em filmes tão diversos como Star Wars: Episódio I – A Ameaça Fantasma (1999), onde interpretou o político Valorum, ou The Limey (1999), de Steven Soderbergh, onde brilhou como um criminoso em busca da filha desaparecida.

Também no cinema independente britânico voltou a ser celebrado, como em Song for Marion (2012), onde deu vida a um marido rabugento a lidar com a doença terminal da esposa, desempenho que lhe valeu nova nomeação aos BAFTA.

Um actor que nunca deixou de surpreender

Casou apenas uma vez, já aos 64 anos, com a australiana Elizabeth O’Rourke, 35 anos mais nova, numa união que durou seis anos. Continuou a trabalhar até tarde, mesmo em papéis pequenos, como em Last Night in Soho (2021), de Edgar Wright.

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Terence Stamp será lembrado como o cometa dos anos 60 que incendiou a tela com intensidade e beleza, mas também como o actor capaz de se reinventar e de desafiar as expectativas. De marinheiro inocente a super-vilão, de símbolo sexual a mulher trans no cinema, deixou um legado rico, imprevisível e marcante.

“Não tenho ambições”, disse um dia. “Estou sempre surpreendido quando aparece mais um trabalho.” E, no entanto, cada papel que deixou prova que era um actor impossível de ignorar.

De Lord Olivier a “Larry”: Como Sleuth  Mudou a Vida de Michael Caine

🎭 Sleuth (1972), realizado por Joseph L. Mankiewicz, é um daqueles raros filmes que coloca duas potências actorais frente a frente — e em pleno duelo psicológico. Mas o que se passou nos bastidores foi tão fascinante quanto o jogo de manipulações entre os personagens na tela. E para Michael Caine, contracenar com Laurence Olivier foi mais do que um marco na sua carreira — foi um momento de transformação pessoal.

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O jovem Caine, já conhecido por The Ipcress File e Alfie, ficou sem saber como se dirigir ao lendário Olivier quando começaram a rodar o filme. A reverência era compreensível. Afinal, estava perante o homem que era não só um ícone do teatro britânico como também… um lorde.

“Como devo tratá-lo?”, perguntou Caine, nervoso.

Olivier respondeu com a elegância descontraída que o caracterizava:

“Bem, sou o Lord Olivier e tu és o Mr. Michael Caine. Claro que isso é só na primeira vez. A seguir, sou o Larry e tu és o Mike.”


De terceira escolha a parceiro de cena

Curiosamente, Caine foi a terceira escolha para o papel de Milo Tindle. Albert Finney foi inicialmente considerado, mas foi descartado por estar “um pouco roliço” para o papel. Alan Bates recusou o convite. E assim, o papel acabou nas mãos de Caine — e que escolha acertada!

Durante uma das cenas mais intensas, na qual o personagem de Caine entra em colapso e chora descontroladamente, Olivier ficou tão impressionado que interrompeu a gravação para fazer um comentário inesperado:

“Pensei que tinha um assistente, Michael. Mas vejo que tenho um parceiro.”

Para Caine, que sempre teve o hábito de guardar elogios com modéstia, este foi “o maior elogio que recebi desde que me tornei actor profissional.”


Quando os papéis se invertem: o remake de 

Sleuth

Décadas mais tarde, em 2007, Caine regressou ao mundo de Sleuth, mas desta vez do outro lado do tabuleiro. No remake realizado por Kenneth Branagh, Caine interpretou o papel que outrora fora de Olivier, enquanto Jude Law assumia o seu antigo papel. Curiosamente, foi a segunda vez que Jude Law herdou um papel de Michael Caine — a primeira foi na reinvenção de Alfie (2004).

Sleuth de 2007, escrito por Harold Pinter, é uma versão muito mais minimalista e cerebral do original. Embora tenha dividido opiniões, foi uma homenagem inteligente ao confronto de egos e à arte da representação — temas centrais do filme original.


Um jogo de inteligência, ego e respeito

Sleuth não é apenas um thriller engenhoso. É uma aula de representação, onde dois actores — um no auge da juventude, outro já imortal — se desafiam mutuamente em cena com inteligência, subtileza e camadas de emoção. Mas é também um testemunho de respeito: o respeito que Michael Caine tinha por Laurence Olivier… e o respeito que Olivier rapidamente desenvolveu por aquele jovem actor que, de “Mike”, se tornou um igual.

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Michael Caine Elogia Tom Cruise como “Uma das Últimas Verdadeiras Estrelas de Cinema”

Michael Caine, com uma carreira de mais de 60 anos no cinema, revelou recentemente a sua admiração por Tom Cruise, a quem descreveu como “uma das últimas verdadeiras estrelas de cinema”. Em declarações no seu novo livro de memórias, Caine recordou o primeiro encontro com Cruise em 1983, quando o jovem ator lhe fez várias perguntas sobre como construir uma carreira sólida. O veterano ator britânico ficou impressionado com a ambição de Cruise, que já então demonstrava uma determinação notável.

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Caine, vencedor de dois Óscares e conhecido por filmes como Ana e as Suas Irmãs e As Regras da Casa, considera que Cruise mantém o estatuto de estrela de cinema, uma figura que atrai público apenas pela sua presença no ecrã. “Hoje, existem poucas pessoas que têm esse magnetismo. Nos tempos de John Wayne e Cary Grant, havia muitas estrelas assim, mas hoje é raro”, refletiu Caine.

O ator também partilhou um episódio tocante em que a sua esposa, Shakira, organizou um jantar surpresa para o seu 90.º aniversário, convidando Tom Cruise, que o emocionou com a sua presença. As palavras de Caine sublinham a admiração que sente por Cruise e reforçam o impacto duradouro que o ator de Missão Impossível tem na indústria cinematográfica.

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