A Lista de Comédias Que Vai Mexer com os Cinéfilos — e a Variety Assume a Responsabilidade

Quando o riso se torna matéria séria e 110 anos de gargalhadas são postos à prova

A Variety decidiu fazer aquilo que todos nós, secretamente, pensamos que faríamos melhor: escolher as 100 melhores comédias de sempre. E fê-lo com a solenidade quase religiosa de quem segura a História pelas ancas e a abana para ver o que cai. No ensaio que abre este extenso top, a publicação recorda que rir sempre importou — mas que hoje importa mais. A humanidade, diz a Variety, nunca riu tanto como nos últimos 110 anos, e o “culpado” é o cinema. Afinal, foi Charlie Chaplin, o primeiro verdadeiro ícone global, quem ensinou o planeta a pesquisar nos bolsos pela alma do humor. E, assim que Hollywood descobriu que nos podia pôr a rir, nós descobrimos que não queríamos outra coisa.

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A lista organiza-se como uma espécie de viagem arqueológica ao centro exacto do cómico cinematográfico: a anarquia sublime dos irmãos Marx, o caos estudado do SNL, o surrealismo feroz de Mel Brooks, o humor doentiamente cirúrgico de Dr. Strangelove, a loucura improvisada de Jim Carrey. E, em certos momentos, a Variety deixa claro que compilá-la implicou um exercício quase místico: “pensámos longamente no que faz um clássico — mas, acima de tudo, ouvimos os nossos ossos do riso”. Esta frase, retirada do texto original, define o espírito da selecção: uma lista que não pretende agradar a todos, mas que pretende representar tudo.

A contagem decrescente começa com Bridget Jones’s Diary, essa pérola que não se atreveriam a filmar hoje, diz a Variety — não por não poderem, mas por não quererem. E isso seria uma pena, porque parte do encanto desta comédia romântica é precisamente o facto de Bridget ser uma catástrofe ambulante e o filme não pedir desculpa por isso. De seguida, Wayne’s World aparece como a excepção que confirma a regra dos fracos spinoffs do Saturday Night Live, oferecendo duas personagens tão patetas quanto icónicas. Seguem-se Pretty WomanBorn YesterdayI’m Gonna Git You Sucka e, no lugar 95, uma obra querida dos cinéfilos portugueses: Brazil, a distopia de Terry Gilliam que continua a ser, simultaneamente, profética e delirante.

A lista avança como um desfile de memórias e estilos, saltando do caos indie de Clerks para a dança subversiva de Hairspray, do absurdo total de The Jerk ao espartilho moralmente ousado de She Done Him Wrong. A Variety resgata pérolas esquecidas (Hellzapoppin’Born YesterdayThe Tall Blond Man With One Black Shoe), reafirma clássicos inquestionáveis (Dr. StrangeloveSome Like It HotYoung Frankenstein), e dá o devido lugar a obras que só com o tempo encontraram o público que mereciam — como The Big Lebowski, que começou por ser desvalorizado e acabou canonizado.

No top 10, a revista convida-nos a atravessar a História com a reverência de quem entra numa catedral, mas sem tirar os sapatos: Buster Keaton e Sherlock Jr.; o ciclo infinito de Bill Murray em Groundhog Day; o génio louco de Mel Brooks em Young Frankenstein; a falsa verdade de Fargo; a insaciável ousadia dos Monty Python; a sátira política que só Chaplin poderia assinar em The Great Dictator. E, claro, os dois gigantes que fecham a lista: Some Like It Hot, de Billy Wilder, verdadeiro épico do disfarce e do desejo; e The Naked Gun, que a Variety proclama como a comédia perfeita — um hino irreverente ao absurdo, conduzido pelo génio deadpan de Leslie Nielsen.

O grande triunfo desta lista não está apenas nos títulos escolhidos, mas na defesa apaixonada do riso enquanto elemento fundamental do cinema. O humor, neste enquadramento, é tratado como uma força cultural transformadora, capaz de reinventar épocas, desafiar normas, provocar e, acima de tudo, aproximar espectadores de todas as gerações.

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Ao confiar na Variety a tarefa de definir (ou incendiar) este cânone, ficamos com um mapa do riso que é tanto um documento histórico como uma declaração de amor ao cinema. É impossível concordar com tudo — mas é igualmente impossível não sorrir ao percorrê-la.

E vocês quais seriam as vossas escolhas?

Judd Apatow Vai Realizar Documentário Sobre Norm Macdonald e Pede Ajuda da Internet

Quando Norm Macdonald faleceu em 2021, o mundo perdeu um dos grandes nomes da comédia. Com um humor afiado, o comediante conseguia transformar qualquer situação banal, desde conversas em talk shows até a simples observações do quotidiano, em momentos hilariantes. Agora, a sua história está prestes a ser contada num documentário realizado por Judd Apatow para a Netflix — e o realizador quer a ajuda do público para o concretizar.

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Um Convite ao Público

Apatow partilhou no Instagram um pedido de colaboração, solicitando a todos aqueles que tenham fotos, vídeos ou histórias sobre Norm Macdonald que as enviem para a sua equipa. Para além de registos pessoais, o realizador também está à procura de entrevistas e clipes raros que possam contribuir para a documentação da vida do humorista.

O projeto insere-se na linha de outros documentários de Apatow, que já homenageou lendas da comédia como Garry Shandling, George Carlin e a amizade entre Bob Newhart e Don Rickles. Com um trabalho já extenso na exploração do legado humorístico, o realizador procura agora imortalizar Norm Macdonald da mesma forma.

Uma Nova Aposta no Documentário

Nos últimos anos, Judd Apatow tem-se dedicado cada vez mais ao formato documental. A sua última longa-metragem de ficção foi The Bubble (2022), precedida por The King of Staten Island (2020), protagonizada por Pete Davidson. Entretanto, seguiu-se uma incursão pelo documentário, e em 2024 foi anunciado que estava a trabalhar numa série documental de duas partes sobre a vida de Mel Brooks, para a HBO.

Com tantos nomes lendários ainda por explorar, parece que Apatow vai continuar ocupado no mundo dos documentários por bastante tempo. O tributo a Norm Macdonald promete ser uma viagem emocionante e divertida pela carreira de um dos comediantes mais geniais da sua geração.

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