Kate Winslet, que sempre recusou ceder às pressões mais agressivas de Hollywood, voltou a posicionar-se com firmeza num tema que está a dominar tanto a indústria como o quotidiano das redes sociais: a normalização dos fármacos para perda de peso. Em entrevista recente, a actriz de 50 anos descreveu a actual obsessão com injecções como o Ozempic como “frightening” e admitiu que está mais preocupada do que nunca com a forma como a aparência continua a comandar a autoestima, mesmo numa era que se pretende mais inclusiva.
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Winslet assume que a adesão generalizada a estas medicações a deixa profundamente desconfortável, sobretudo porque a maioria das pessoas, segundo ela, não faz ideia real do que está a colocar no corpo. “A falta de cuidado com a própria saúde é aterradora”, afirmou, num dos momentos mais contundentes da conversa. Para a actriz, é como se a cultura visual contemporânea tivesse entrado num estado de caos: por um lado, há mulheres que abraçam a sua identidade e o seu corpo; por outro, há quem corra para alterar tudo quanto possível, numa tentativa desesperada de corresponder a expectativas irreais.
A actriz também falou das pressões para evitar o envelhecimento, rejeitando frontalmente procedimentos como botox e preenchimentos estéticos, que considera retirar algo essencial do rosto — uma espécie de assinatura emocional. Winslet confessou, aliás, que uma das coisas que mais aprecia no processo de envelhecer são as mãos a ganhar marcas, pequenas cartografias de experiências vividas. “As mãos envelhecidas são a minha coisa favorita”, disse, celebrando nelas uma beleza autêntica e profundamente humana. Mas reconheceu que esta visão não é partilhada pelas gerações mais novas, que, segundo ela, “não têm noção do que é realmente ser bonita”.
A actriz não fala do tema a partir de um pedestal distante; fala a partir da memória do que foi crescer sob vigilância global. Aos 19 anos, depois do fenómeno Titanic, Winslet viu-se catapultada para níveis de fama que não soubera antecipar. Hoje lembra que a imprensa pode ser cruel, e que ela própria foi alvo de um escrutínio particularmente agressivo sobre o corpo. “Os media foram vis, atacaram-me de forma contínua”, recorda. Sente que foi demasiado jovem para enfrentar tamanha exposição e admite que se sentiu invadida numa fase em que tentava apenas sobreviver ao sucesso e à pressão.
Nos últimos anos, Winslet tem revisitado esses episódios com uma clareza nova. Em 2022, no podcast Happy Sad Confused, admitiu que gostaria de voltar atrás para enfrentar directamente alguns jornalistas que a diminuíram publicamente. “Eu teria usado a minha voz de outra forma. Teria dito: ‘Não te atrevas a tratar-me assim’.” Esse impulso de coragem traduz-se agora numa presença pública mais firme e militante, sobretudo quando sente que outras mulheres estão a ser condicionadas pelos mesmos mecanismos que a magoaram.
A posição de Winslet não é, portanto, uma reacção moralista ou superficial; é o resultado de uma carreira moldada pela crítica, pelo peso da fama e por uma experiência íntima de corpo e imagem que ela aprendeu a proteger. Hoje, aos 50 anos, a actriz continua a combater aquilo que considera ser uma distorção perigosa sobre o que é beleza, saúde e valor próprio. E fá-lo com a mesma sinceridade que desde sempre lhe marcou a carreira: sem filtros, sem complacência e com um sentido profundo de responsabilidade para com as mulheres que a seguem.
