Actor vai produzir a primeira versão em inglês de O Mestre e Margarida, obra-prima de Mikhail Bulgakov
Johnny Depp continua a dar passos firmes num regresso a Hollywood que permanece tão observado quanto controverso. Depois de anos marcados por batalhas judiciais altamente mediáticas e por um afastamento quase total dos grandes estúdios, o actor prepara agora um novo projecto ambicioso: a primeira adaptação cinematográfica em língua inglesa de O Mestre e Margarida, o romance mais célebre do escritor russo Mikhail Bulgakov.
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De acordo com informações avançadas pelo The Hollywood Reporter, o projecto foi oficialmente apresentado durante a edição de 2025 do Red Sea International Film Festival, na Arábia Saudita, evento onde Depp marcou presença de forma inesperada para promover o filme. A adaptação será produzida através da IN.2 Film, produtora fundada pelo próprio actor, em parceria com Stephen Deuters, Stephen Malit, Svetlana Dal e Grace Loh.
Importa sublinhar um ponto essencial: Johnny Depp não está, para já, ligado ao filme como actor. Apesar de alguns rumores em sentido contrário, não há qualquer confirmação de que venha a integrar o elenco. Até ao momento, não foi anunciado realizador nem elenco, estando o projecto ainda numa fase inicial de desenvolvimento.
Um romance lendário, finalmente em inglês
Publicado postumamente mais de vinte anos após a morte de Bulgakov, O Mestre e Margarida é amplamente considerado uma das grandes obras da literatura do século XX. Escrito entre 1928 e 1940, em plena União Soviética, o romance mistura sátira política, fantasia, crítica social e metafísica, numa narrativa ousada que desafiou durante décadas os limites impostos pela censura.
A história centra-se no reaparecimento do Diabo em Moscovo, acompanhado por um séquito de personagens excêntricas — incluindo o famoso gato falante Behemoth — que espalham o caos entre cidadãos corruptos e hipócritas. Paralelamente, o romance acompanha a trágica história de amor entre o Mestre, um escritor perseguido, e Margarida, numa reflexão profunda sobre arte, poder, liberdade e redenção.
Ao longo dos anos, O Mestre e Margarida conheceu inúmeras adaptações para teatro, ópera, televisão e cinema — sobretudo no espaço russo e europeu — mas nunca teve uma versão cinematográfica de grande escala em língua inglesa, algo que torna este projecto particularmente significativo e arriscado.
Segundo foi anunciado, a produção deverá arrancar no final de 2026, embora ainda faltem muitos detalhes essenciais para compreender que abordagem estética e narrativa será adoptada.
Depp regressa aos grandes estúdios
Este novo projecto surge num momento em que Johnny Depp parece decidido a reaproximar-se do cinema de grande orçamento. Nos últimos anos, o actor protagonizou Jeanne du Barry e realizou Modi: Three Days of the Wings of Madness, mas tem agora vários projectos alinhados com estúdios de peso.
Entre eles estão o thriller Day Drinker, da Lionsgate, onde contracena com Penélope Cruz, a comédia bíblica The Carnival at the End of Days, de Terry Gilliam, e uma nova adaptação de A Christmas Carol, de Charles Dickens, realizada por Ti West, onde Depp interpretará Ebenezer Scrooge.
Este último papel é apontado como um dos mais relevantes da sua carreira na última década, mas poderá não ser o ponto final do seu regresso. Continua a circular em Hollywood o rumor de um eventual retorno à saga Pirates of the Caribbean. O produtor Jerry Bruckheimer já confirmou a existência de um argumento para um sexto filme e admitiu que o objectivo passa por recuperar personagens conhecidas, reacendendo a especulação em torno de Jack Sparrow.
Um projecto ambicioso e simbólico
A escolha de O Mestre e Margarida como projecto de produção não é inocente. Trata-se de uma obra sobre artistas perseguidos, poder arbitrário e resistência criativa — temas que ecoam claramente na trajectória recente de Johnny Depp. Ainda assim, o sucesso desta adaptação dependerá menos do simbolismo e mais da capacidade de traduzir para o cinema anglófono uma obra complexa, densa e profundamente enraizada no seu contexto histórico.
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Para já, o projecto existe sobretudo como promessa. Mas é uma promessa que, pela sua dimensão literária e pelo nome envolvido, já começou a gerar expectativa.
