Uma adaptação ambiciosa com duas épocas em colisão
O Festival de Veneza recebeu de braços abertos In the Hand of Dante, a mais recente ousadia de Julian Schnabel(Basquiat, At Eternity’s Gate). O filme adapta o romance homónimo de Nick Tosches (2002) e coloca Oscar Isaac no centro da narrativa, interpretando duas personagens: o poeta medieval Dante Alighieri e o escritor contemporâneo Nick Tosches.
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Na trama, um manuscrito original da Divina Comédia reaparece através do Vaticano e acaba nas mãos de um chefe da máfia nova-iorquina. Tosches é então arrastado para um perigoso submundo ao tentar autenticar o documento, numa jornada onde se cruzam figuras interpretadas por Jason Momoa, Gerard Butler, Gal Gadot e outros.
O filme também reserva surpresas de peso: Martin Scorsese surge num papel substancial como mentor de Dante, enquanto Al Pacino e John Malkovich reforçam o elenco estelar.
De Johnny Depp a Oscar Isaac: uma longa gestação
O caminho até à tela foi demorado. Os direitos da obra foram adquiridos em 2008 pela produtora de Johnny Depp, que inicialmente planeava protagonizar o filme. Schnabel entrou em 2011, mas só em 2023 o projeto avançou, com Oscar Isaac a substituir Depp no papel principal.
Em conferência de imprensa em Veneza, Isaac admitiu que foi precisamente o caráter “impossível” do projeto que o atraiu:
“Ler o guião e não fazer ideia de como seria possível filmá-lo — foi isso que o tornou tão excitante.”
Entre aplausos e críticas divididas
A receção ao filme foi calorosa, mas não unânime. O Hollywood Reporter descreveu-o como “uma extravagância ambiciosa, cativante e por vezes falhada” e “uma viagem louca que não chega totalmente lá”. Ainda assim, poucos negaram a ousadia da proposta, marcada pela grandiosidade visual e pela carga simbólica.
O momento foi ainda mais especial para Schnabel, que recebeu o Cartier Glory to the Filmmaker Award, distinção entregue a personalidades com contributos originais e relevantes para o cinema contemporâneo — honra já recebida por nomes como Ridley Scott, Wes Anderson e Claude Lelouch.
Schnabel, um “herói local” em Veneza
Apesar de nova-iorquino, Schnabel tem uma ligação profunda a Veneza. Expôs cinco vezes na Bienal de Arte e estreou aqui a sua primeira longa, Basquiat (1996). Com Before Night Falls (2000), venceu o Grande Prémio do Júri e, em At Eternity’s Gate (2018), Willem Dafoe conquistou o prémio de Melhor Ator do festival.
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Com In the Hand of Dante, Schnabel regressa à cidade que tantas vezes marcou a sua carreira, desta vez com um projeto que junta literatura, história, crime e fé num mosaico arriscado — e que já se tornou uma das conversas mais vibrantes da edição de 2025 da Mostra


