A história de James Bond está cheia de curiosidades, decisões de última hora e jogos de bastidores dignos do próprio MI6. Mas poucas são tão cruéis — e tão pouco conhecidas — como aquela que envolveu James Brolin e que acabou por mantê-lo fora de Octopussy. Um caso raro em que um actor chegou a ser escolhido, começou a preparar-se… e foi afastado simplesmente porque o titular decidiu regressar.
No início da década de 1980, a continuidade de Roger Moore como 007 estava longe de ser garantida. Após For Your Eyes Only (1981), tudo indicava que Moore iria finalmente despedir-se do papel que já interpretava desde Live and Let Die. Os produtores Albert R. Broccoli e Michael G. Wilson começaram, discretamente, a procurar um sucessor.
E foi aí que James Brolin entrou em cena.
Um Bond improvável… mas quase oficial

À primeira vista, a escolha parecia improvável. Brolin era americano — algo que sempre causou resistência dentro da saga — mas vinha embalado pelo enorme sucesso de The Amityville Horror (1979). Tinha presença física, carisma e um perfil mais duro que agradava à equipa criativa, que pretendia manter um tom mais sério após o registo mais leve de Moore.
Segundo o próprio Brolin, em entrevista à People em 2025, o processo avançou de forma surpreendentemente concreta. Voou para Londres, reuniu-se com os produtores, foi integrado em treinos com duplos, recebeu alojamento… e foi, nas suas palavras, escolhido informalmente para o papel. Faltava apenas assinar o contrato.
Chegou mesmo a realizar um teste de câmara com Maud Adams, que viria a protagonizar Octopussy. O realizador John Glen descreveu o ensaio como “excelente”, sublinhando que Brolin levava o papel muito a sério e tinha entendido o tom pretendido para o novo Bond.
O telefonema que mudou tudo
Convencido de que iria passar um ano em Inglaterra, Brolin regressou a Los Angeles para organizar a sua vida. Foi então que recebeu o telefonema fatídico: Roger Moore tinha mudado de ideias.
Após negociações de bastidores — financeiras, criativas e estratégicas — Moore aceitou regressar para mais um filme. A decisão foi imediata e definitiva. Brolin estava fora. Sem contrato assinado, sem margem para contestação, sem direito a segunda oportunidade.
Como o próprio recorda, tudo terminou tão depressa como começou.
Porque é que Moore regressou?
Moore já tinha ultrapassado o número de filmes inicialmente previstos no seu contrato. Depois de The Spy Who Loved Me, passou a negociar filme a filme. Moonraker e For Your Eyes Only foram feitos nessas condições, e Octopussy surgiu num momento particularmente sensível para a franquia.
Em 1983, a saga enfrentava concorrência directa de Never Say Never Again, que marcava o regresso de Sean Connery ao papel, fora da continuidade oficial. Para a MGM, manter Moore era uma forma de assegurar estabilidade e reconhecimento imediato junto do público.
Além disso, como John Glen admitiu mais tarde, Cubby Broccoli nunca esteve totalmente confortável com a ideia de um Bond americano. Mesmo que Brolin tivesse convencido em câmara, a tradição acabou por pesar mais.
Um sucesso… e uma oportunidade perdida
Octopussy não é hoje lembrado como um dos grandes clássicos da saga, mas foi um enorme sucesso comercial e superou o rival protagonizado por Connery. Para Roger Moore, foi mais uma vitória. Para James Brolin, ficou a sensação agridoce de ter estado a centímetros da imortalidade cinematográfica.
É um daqueles casos em que o destino de Hollywood se decide num simples “vou fazer mais um”. Um gesto aparentemente banal que alterou carreiras, histórias e até a memória colectiva de uma das maiores franquias do cinema.
E deixa uma pergunta inevitável: como teria sido James Bond se James Brolin tivesse realmente vestido o smoking?
