O protagonista inesperado
O terror indie Good Boy, que estreia nos EUA a 3 de outubro e no Brasil a 30 de outubro, já está a dar que falar. A razão? O protagonista não é um humano, mas sim Indy, um cão da raça Nova Scotia Duck Tolling Retriever, cuja intensidade no olhar e expressividade valeram-lhe comparações com alguns dos melhores atores da atualidade.
Desde a sua estreia no festival South By Southwest, em março, a crítica não poupa elogios. O IndieWire descreveu Indy como “um dos atores mais emotivos da sua geração… independentemente da espécie”, enquanto o The Hollywood Reporter destacou o seu “poder emocional”.
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Terror visto do ponto de vista canino
Realizado por Ben Leonberg, que escreveu o argumento em parceria com Alex Cannon, Good Boy pega no clássico subgénero da casa assombrada e vira-o do avesso: a história é contada do ponto de vista de um cão.
Indy vive com o dono, Todd (Shane Jensen), que sofre de uma doença grave. Os dois mudam-se para a antiga casa do avô, isolada no campo, onde o cão começa a pressentir presenças sombrias. A narrativa acompanha os seus movimentos, receios e instintos, tornando o espectador cúmplice da frustração de um animal leal que tenta avisar o dono do perigo — e que ninguém ouve.
Como se treina um “ator canino”
Indy é, na verdade, o próprio cão do realizador, escolhido pelo seu “olhar intenso e inabalável”. Ao longo de três anos, Leonberg e a produtora Kari Fischer, sua mulher, filmaram Indy em diferentes situações, captando gestos, expressões e reações instintivas que, depois de editadas, criaram a ilusão de uma performance.
“Se se corta do olhar do cão para o que ele observa, o público completa o sentido. E Indy tinha esse instinto natural”, explica o realizador.
O regresso dos animais ao cinema
Good Boy insere-se numa tendência recente: a de cães que roubam os holofotes. Em 2023, o border collie Messi, de Anatomia de uma Queda, tornou-se sensação internacional e até houve quem pedisse que recebesse um Óscar. Outros exemplos incluem o gato Tonic, que brilhou em Caught Stealing, de Darren Aronofsky, e a cadela Pipa, estrela póstuma do filme espanhol Sirât, premiada em Cannes no Palm Dog, troféu que distingue as melhores atuações caninas.
Para especialistas como Wendy Mitchell, autora de Citizen Canine: Dogs in the Movies, esta “ressurgência” deve-se à forma como os cães conseguem representar emoções humanas de maneira crua e imediata, sem filtros.
Mais do que truques
O treinador Bill Berloni, referência em Hollywood e Broadway, lembra que não se trata de cães a “representar” mas sim de momentos captados e moldados por especialistas: “Os cães não atuam. Jogam. O segredo é respeitar a sua natureza e trabalhar com ela, não contra ela.”
Ainda assim, seja por treino ou instinto, o certo é que Indy já é visto como a nova estrela canina do cinema, a caminho de conquistar plateias em todo o mundo.
Por cá ainda não temos uma data para a estreia!
