The Long Walk: A Distopia de Stephen King Ganha Vida com Intensidade e um Elenco de Luxo

Francis Lawrence volta ao terreno da sobrevivência

Depois de levar milhões de espectadores a arenas letais em The Hunger Games, Francis Lawrence volta a envergar os óculos de distopia para adaptar The Long Walk, romance que Stephen King publicou em 1979 sob o pseudónimo Richard Bachman. O resultado é um thriller distópico tenso, sombrio e surpreendentemente humano, que transforma um simples ato — caminhar — num exercício de resistência física, psicológica e até filosófica.

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O filme transporta-nos para uma América alternativa, marcada pelo trauma do pós-Vietname, onde jovens são selecionados por sorteio para participar numa marcha televisiva sem fim. O objetivo é cruel: andar sem parar até restar apenas um vencedor, recompensado com fama, riqueza e um desejo realizado. Para os restantes, a eliminação é literal, feita sob o olhar vigilante de soldados armados.

Um elenco que dá corpo ao desespero

No centro da narrativa está Ray Garraty (Cooper Hoffman), que se despede da mãe (Judy Greer) antes de enfrentar a 19.ª edição da marcha. Ao longo da jornada, cria laços com outros concorrentes, como o carismático Peter McVries (David Jonsson), o fervoroso Arthur Baker (Tut Nyuot) e o aguerrido Hank Olson (Ben Wang). O Major impiedoso, interpretado por Mark Hamill, lidera o espetáculo distópico como uma sombra constante.

Apesar da premissa minimalista — caminhar ou morrer — o filme surpreende pela variedade visual e pela forma como investe nos personagens. Lawrence, em colaboração com o diretor de fotografia Jo Willems, evita a monotonia através de enquadramentos engenhosos e de uma atmosfera carregada de tensão, enquanto a violência, explícita e inevitável, é sempre enquadrada pela dor e pela consciência da sua futilidade.

Uma parábola sobre fascismo e resistência

Mais do que um jogo de sobrevivência, The Long Walk funciona como metáfora sobre como regimes autoritários moldam indivíduos e sociedades. Alguns caminham por dinheiro, outros por desespero, outros ainda pela necessidade de resistir. No coração do filme está a relação entre Garraty e McVries, marcada por amizade, admiração e um confronto filosófico que oscila entre a esperança e a resignação.

Cooper Hoffman constrói um protagonista com uma determinação quase animal, enquanto David Jonsson rouba a cena com um McVries carismático e compassivo, transformando a dupla na âncora emocional da narrativa.

Entre a brutalidade e a melancolia

Apesar de não atingir plenamente o impacto emocional a que aspira, especialmente no seu final ambíguo, The Long Walkmantém-se fascinante pela maior parte da sua duração. É um filme sobre juventudes condenadas, sobre a violência transformada em espetáculo e sobre como a esperança pode persistir mesmo nas estradas mais sombrias.

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Francis Lawrence pode não ter encontrado o mesmo equilíbrio épico de The Hunger Games, mas entrega aqui uma obra visualmente inventiva e emocionalmente carregada, que mantém viva a chama das distopias de Stephen King.

MOTELX 2025 Homenageia Gale Anne Hurd, Produtora de O Exterminador Implacável

Um arranque apocalíptico com Stephen King

Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa (MOTELX) regressa esta semana ao Cinema São Jorge para a sua 19.ª edição, e fá-lo com pompa e sangue novo. O filme de abertura é The Long Walk, adaptação do primeiro romance de Stephen King, realizado por Francis Lawrence (ConstantineThe Hunger Games).

A narrativa transporta os espectadores para uma América totalitária onde jovens são obrigados a participar numa competição mortal de caminhada: parar significa morrer. Um thriller apocalíptico que promete começar o festival com intensidade máxima.

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Prémio Noémia Delgado e homenagem a Gale Anne Hurd

A grande homenageada deste ano é Gale Anne Hurd, produtora e argumentista de clássicos como Aliens – O Reencontro FinalO AbismoArmageddon e, claro, O Exterminador Implacável.

Hurd receberá o Prémio Noémia Delgado para Mulheres Notáveis no Terror, criado para destacar pioneiras muitas vezes esquecidas e dar visibilidade a novos talentos femininos no género. Além da distinção, a produtora vai conduzir uma masterclass em Lisboa.

O prémio leva o nome da realizadora e poeta Noémia Delgado (1933-2016), referência no cinema português fantástico e no género feito por mulheres.

O terror português em destaque

O MOTELX mantém a tradição de dar palco ao cinema nacional, com três longas-metragens em competição pelo Prémio Méliès d’Argent – Melhor Longa Europeia:

  • Sombras, estreia de Jorge Cramez no terror;
  • A Pianista, de Nuno Bernardo;
  • Crendices, o primeiro filme de terror inteiramente madeirense, realizado pelo grupo humorístico 4Litro.

Na competição de curtas portuguesas, 12 obras exploram temas que vão desde a precariedade habitacional em O Próximo Passo (Pedro Batalha) até à saúde mental em Resut (Mafalda Jacob).

Cinema internacional e descobertas raras

O cartaz internacional é vasto e inclui títulos como A Useful Ghost (premiado em Cannes), Opus (estreia de Mark Anthony Green, com Ayo Edebiri e John Malkovich), o brasileiro Enterre Seus Mortos de Marco Dutra e ainda Freaky Tales (Anna Boden e Ryan Fleck) e The Toxic Avenger de Macon Blair.

Um dos destaques curiosos é Los mil ojos del asesino, thriller ítalo-espanhol rodado em Lisboa antes do 25 de Abril de 1974, agora exibido pela primeira vez em Portugal.

O Japão também ganha espaço na programação com títulos como Chime de Kiyoshi Kurosawa, Hotspring Sharkattack de Morihito Inoue e New Group de Yuta Shimotsu.

Convidados e encerramento

Entre os convidados estão nomes de peso como Ben WheatleyDennis IliadisJulia Kowalski, o produtor Rodrigo Teixeira e o austríaco Norbert Pfaffenbichler, que apresenta a sua trilogia 2551.

O festival termina a 15 de setembro com The Home, novo filme de James DeMonaco, criador da saga The Purge, passado numa casa de repouso para idosos.

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Lisboa como palco do terror

O Cinema São Jorge, a Cinemateca Portuguesa e os Jardins do Bombarda são os principais espaços de exibição e atividades paralelas. Como sempre, o MOTELX reforça-se como um dos grandes festivais europeus dedicados ao género, onde o medo, a memória e a inovação caminham lado a lado.