Sylvester Stallone Quis Destruir o Filme Que o Tornou Uma Lenda de Ação — e Quase o Conseguiu

Antes de ser um ícone do cinema de ação, Stallone acreditou que Rambo: First Blood arruinaria a sua carreira. O que era para ser um desastre acabou por definir toda uma era.

Hoje é difícil imaginar Sylvester Stallone sem o suor, o sangue e a bandana vermelha de John Rambo. Mas, em 1982, o ator quase deitou fora a película que o transformaria num mito. First Blood, o filme que deu início à saga Rambo, foi durante meses o seu maior pesadelo — a ponto de Stallone tentar comprar e destruir as cópias originais antes da estreia.

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O filme, realizado por Ted Kotcheff e baseado no romance de David Morrell, apresentava Rambo como um veterano da Guerra do Vietname marcado por traumas, rejeitado pela sociedade e perseguido por uma pequena cidade americana. No entanto, o primeiro corte tinha três horas de duração e, segundo o próprio Stallone, era “um desastre completo”.

Numa entrevista a Howard Stern em 2005, o ator confessou que, ao ver a montagem inicial, sentiu-se fisicamente mal: “Era um assassínio de carreira. Fiquei uma hora e meia a correr pela floresta a gritar frases horríveis. O meu agente e eu queríamos queimar o filme.”

Do fracasso anunciado ao ícone do cinema

A versão original de First Blood continha tudo o que um bom filme de ação não deve ter: diálogos ridículos, cenas intermináveis e um protagonista tagarela. Stallone recordou linhas absurdas como “take that, you mouse-munching mother”, após abater uma coruja, ou “I’m easy walker”, numa tentativa falhada de trocadilho com Easy Rider.

Desesperado para salvar o projeto, Stallone convenceu os produtores a aplicar o truque mais antigo de Hollywood: cortar tudo o que era desnecessário — sobretudo o diálogo do herói. O resultado foi transformador. O novo Rambo tornou-se silencioso, introspectivo e letal, uma figura trágica em vez de caricatural.

A decisão deu frutos. Rambo: First Blood estreou e foi um sucesso imediato, elogiado pela crítica e pelo público como um dos filmes de ação mais inteligentes da década de 80. Em vez de glorificar a violência, o filme explorava as feridas psicológicas dos veteranos do Vietname e a alienação de um homem que já não encontrava lugar na sociedade que servira.

Um grito contra o esquecimento dos veteranos

O impacto de First Blood foi profundo. Ao contrário das sequelas, que se tornaram progressivamente exageradas, o original é um retrato cru de stress pós-traumático (PTSD) e da indiferença dos Estados Unidos perante os seus ex-combatentes. A cena final, onde Rambo desaba emocionalmente nos braços do coronel Trautman (Richard Crenna), é uma das mais intensas da carreira de Stallone — e uma das raras vezes em que um filme de ação dos anos 80 ousou mostrar vulnerabilidade masculina.

A tensão entre Rambo e o xerife Teasle (Brian Dennehy) funciona como metáfora para o conflito interno dos próprios EUA: um país dividido entre orgulho militar e culpa social. Cada tentativa de capturar Rambo gera apenas mais caos, até que o espectador percebe que o verdadeiro inimigo não é o soldado traumatizado, mas a sociedade que o rejeitou.

O nascimento de uma lenda de ação

Após First Blood, Stallone nunca mais foi o mesmo. O sucesso catapultou-o de estrela de Rocky a ícone global da ação, ao lado de Arnold SchwarzeneggerClint Eastwood e Bruce Willis. O papel redefiniu o herói do cinema americano: musculado, determinado, silencioso e imortal.

As sequelas — mais barulhentas e patrióticas — acabaram por transformar Rambo numa caricatura da própria América dos anos Reagan. Mas o primeiro filme manteve-se intocável, um clássico com alma, onde Stallone prova que a força de um herói está no silêncio e não nas explosões.

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Stallone: o perfeccionista que salvou Rambo

O episódio de First Blood revela uma faceta muitas vezes esquecida de Stallone: o artista exigente e autocrítico. Longe de ser apenas um corpo de ginásio, o ator é também argumentista, realizador e editor, responsável por moldar as suas próprias personagens. Assim como fez em Rocky, Stallone reescreveu a sua própria história — literalmente.

Hoje, Rambo: First Blood é visto como um dos pilares do cinema de ação moderno, e a personagem tornou-se sinónimo de resistência e dor. Ironicamente, o filme que Stallone quis destruir acabou por o imortalizar.

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Quarenta Anos Depois, Ainda Não É Adeus

Mais de quatro décadas após First Blood (1982), Sylvester Stallone não está pronto para pendurar a bandana. Com um projeto de prequela de Rambo em andamento — que poderá ter Noah Centineo como protagonista — o ator revelou, em entrevista ao podcast Bingeworthy da The Playlist, que chegou a propor uma versão de Rambo adolescente interpretada… por ele próprio, rejuvenescido através de Inteligência Artificial.

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“Todos acharam que eu estava louco”, confessou Stallone. “Mas a IA já é suficientemente sofisticada para me colocar em Saigão com 18 anos, usando a mesma imagem. Não é assim tão rebuscado.”

A Passagem de Testemunho (Ou Não?)

A Millennium Media está a preparar o filme, realizado por Jalmari Helander (Sisu) e com argumento de Rory Haines e Sohrab Noshirvani (Black Adam). O estúdio considera Centineo para o papel, mas Stallone deixou um aviso:

“É muito, muito difícil. Ele pode fazer um trabalho brilhante, mas há sempre esse preconceito contra quem tenta substituir um original.”

O ator recordou a sua experiência com Get Carter (2000), sublinhando que recriar personagens icónicas é sempre uma batalha contra a memória coletiva do público.

A Prequela: O Rambo Antes do Rambo

Os detalhes do enredo estão a ser mantidos em segredo, mas sabe-se que a história explorará a juventude de John Rambo durante a Guerra do Vietname, antes dos acontecimentos de First Blood.

Criado por David Morrell no romance de 1972, Rambo tornou-se uma das figuras mais marcantes do cinema de ação, interpretado por Stallone em cinco filmes que somaram mais de 800 milhões de dólares de bilheteira. O mais recente, Rambo: Last Blood (2019), arrecadou 92 milhões em todo o mundo.

Quando Chega e Quem Vai Distribuir

Segundo a Deadline, a rodagem da prequela está planeada para o início de 2026, na Tailândia. A Lionsgate, que distribuiu os dois últimos filmes da saga, é a favorita para assumir também este novo capítulo.

Rambo vs. IA: Uma Nova Guerra?

A proposta de Stallone levanta a questão: será o rejuvenescimento digital uma solução para manter atores icónicos eternamente ligados às suas personagens? Ou estaremos perante uma “guerra perdida” contra o tempo e a necessidade de novas gerações assumirem os papéis?

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Seja qual for a resposta, uma coisa é certa: Rambo não morre facilmente — nem na selva, nem em Hollywood.